Morangos mofados: a humanização da sociedade e a compreensão identitária dos indivíduos, afetadas pelas ideologias conservadoras

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Zootecnia

Documento 1

“Morangos Mofados” é dividido em três partes: “O Mofo”, “Os Morangos” e “Morangos Mofados”. A primeira parte contém nove contos; a segunda, oito; e a terceira e última se constitui de um único conto, que dá nome à obra. Em sua maioria, as personagens do livro são vítimas da sociedade. Vítimas de desprezo, opressão, sofrimento… seja no âmbito sentimental, político ou da sexualidade. Neste trabalho são analisados os contos “Diálogo”, “Os Sobreviventes”, “Terça-feira Gorda” e “Aqueles Dois”. O Livro e a Análise. “Diálogo”. “Os Sobreviventes”. “Terça-feira Gorda”. “Aqueles Dois”. As tramas se passam em um período de repressão político-social e autoritariedade, em que a censura e perseguição política eram uma realidade vívida. Sendo uma obra corajosa para os tempos, a leitura de “Morangos Mofados” é confusa e um pouco sem nexo à primeira vista.

Os contos aparentemente não têm ligação, a não ser pelo fato de que, em sua maioria, apresentam frustração e personagens homossexuais em suas tramas. Uma de suas maiores qualidades é fazer o leitor pensar. E não apenas pensar para esse lado político-social e relações humanas ao qual este ensaio se inclina. Receio de revelar o amor, se abdicam do desejo, da assunção de serem iguais e da coragem de assumirem-se como tal. A: Eu disse que você é meu companheiro. B: ​O que é que você quer dizer com isso? A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso. B: ​Tem alguma coisa atrás, eu sinto. No caso de serem homens homossexuais, ainda representam o receio da assunção daquilo que são, por causa da visão da sociedade sobre as relações homoafetivas, principalmente se analisarmos a época em que o livro foi escrito.

Essa visão da sociedade sobre a sexualidade afeta no autoentendimento dos próprios homossexuais e em suas relações afetivas. Ou seja, aquela visão da sociedade, que é manipulada pelo autoritarismo ditatorial, de que relações afetivas e sexuais devem ocorrer apenas entre pessoas de sexo oposto, acabam por amedrontar e/ou confundir aqueles que são homossexuais, que não se assumem. Medo, receio ou confusão de identidade e sentimentos são causados pela visão conservadora. É como diz uma citação de Freud, “somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Eles procuraram na relação carnal o mesmo que encontravam na relação intelectual, frustrando-se justamente por não serem aquilo que procuravam para essa relação. Eles eram compatíveis no intelecto, mas não no sexo; eram homossexuais, não poderiam se jogar nos ideais da sociedade conservadora.

As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-cial criativo? (Trecho de “Os Sobreviventes”) Então, o conto é uma crítica aos ideais da Ditadura e ao autoritarismo da época, mostrando que os seres pensantes se privavam de seus desejos por serem impedidos de serem o que eram e pensarem como pensavam. Ficavam perdidos em um mundo que não se encaixam. Passavam por uma repressão social e moral. O conto se passa somente nessa festa de Carnaval, e podemos ver que os personagens começam a se conectar, a terem desejo um pelo outro já desde o início: “De repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim.

Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também [. Algo que aparece marcado no texto é o pensamento de que ambos personagens são apenas seres humanos, e não interessa seus gêneros e/ou sexualidades; são apenas dois indivíduos, desejando um ao outro, como vemos no trecho a seguir: O quê, perguntei. Você é gostoso, ele disse. ”; e “Veados, a gente ainda ouviu [. Percebe-se então uma ironia no conto: para a sociedade, mesmo em uma festa como o Carnaval, que é conhecida popularmente por uma postura de maior ousadia e liberdade, não é permitido ferir certos ideais. É uma hipocrisia: alguns ideais podem ser feridos no Carnaval, mas outros não. Ideais esses que são capazes de tirar a nossa própria humanidade, como vemos no trecho a seguir: Mas vieram vindo, então, e eram muitos.

Foge, gritei, estendendo o braço. E seria importante mencionar e ressaltar que essas visões conservadoras reforçadas na Ditadura Militar têm um reflexo na atualidade, afinal, não é à toa que o Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo. Por fim, contrastando com metáforas e lembranças, o protagonista que consegue fugir, nos relata o fim do outro, em um texto doloroso. Fechando os olhos então, como um filme contra as pálpebras, eu conseguia ver três imagens se sobrepondo. Primeiro o corpo suado dele, sambando, vindo em minha direção. Depois as Plêiades, feito uma raquete de tênis suspensa no céu lá em cima. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais - uma mulher, um tio, uma mãe, um amante.

Eles não tinham ninguém naquela cidade - de certa forma, também em nenhuma outra - a não ser a si próprios. Trecho de “Aqueles Dois”) “Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Neste trecho vemos um pouco da frustração de ambos os protagonistas quanto aos seus passados e relações amorosas. A sociedade, levada nessas ideologias conservadoras e autoritárias, acaba por perder a compaixão e agredir, seja moral, sentimental ou fisicamente, os indivíduos que não se encaixam no padrão que é apresentado como o modelo a se seguir. Essas questões apresentadas, por mais que sejam características da época da Ditadura, época essa em que o livro foi escrito, não deixam de fazer-nos pensar na contemporaneidade.

Não podemos nos deixar ser feitos de robôs da automaticidade da elite. Não podemos deixar nossa humanidade de lado. Devemos estender a mão ao próximo para construirmos, juntos, uma sociedade confortável de se viver. pdf https://www. ebiografia. com/caio_fernando_abreu/ https://pt. wikipedia. org/wiki/Caio_Fernando_Abreu https://www.

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