Leitura: múltiplos olhares

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Literatura

Documento 1

Uma visão mais recente, relativista, porém, explica a leitura enquanto interação entre leitor e autor, ou entre leitor e obra. Nessa abordagem, leitura é uma atividade muito mais de construção do sentido e de renovação do texto, único para todo aquele que o recebe. Especialmente nos nossos tempos, as tecnologias em rede oferecem novas possibilidades para estas práticas, e é tomando esse fenômeno em conta, bem como todas as outras nuances teóricas da leitura, que apresentaremos uma proposta de abordagem em sala de aula, ao final do artigo, visando fornecer ferramentas sólidas ao processo de letramento. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Modernidade; Pós-modernidade. ABSTRACT: Reading is a practice that has fascinated linguists and discourse analysts for a long time. Ler, no entanto, não é uma ação simples.

Além de demandar um esforço conjunto entre aluno e professor, bem como das instituições que devem prover os materiais necessários ao processo de letramento, a atividade leitora é rica em nuances na perspectiva do linguista e do analista do discurso. Neste artigo, resumiremos a abordagem de Coracini (2005) sobre as nuances mais “científicas” do fenômeno, desde sua compreensão na pré-modernidade até as suas mais recentes transformações, na pós-modernidade. Veremos que a forma como estudiosos concebiam e concebem a leitura está associada a fatores mais profundos de compreensão da realidade, do sujeito, da autoria, da comunicação, etc. Está imbricada, enfim, ao funcionamento mais geral da sociedade, distinto conforme a época. leitura enquanto decodificação: descoberta do sentido; b. leitura enquanto interação: construção do sentido.

A primeira está mais ligada à pré-modernidade e à modernidade mais tenra. Nestes períodos, a vida humana ainda era muito marcada pela crença em categorias estáveis e absolutas. Era o momento da busca da verdade, da essência das coisas, seja através da religião, da ciência ou da arte. CORACINI, p. O sentido, portanto, não seria único nem dado. A autoridade sobre a sua construção não é mais exclusividade do autor, ela agora está dispersa entre os diversos atores da comunicação verbal de que faz parte a leitura. O sentido já não possui um caráter essencial, verdadeiro. Sendo cada leitor uma subjetividade irrepetível, que compreende a realidade de forma única, que preserva uma memória discursiva única, que está exposto a influências, a acontecimentos de uma forma particular, o sentido que a sua leitura construirá, em conjunção com as pistas que o autor deixa no texto, será também único, irreproduzível.

Também ele supõe, inutilmente, ser capaz de extrair do texto um sentido único e verdadeiro, sendo esta a confirmação de sua competência enquanto leitor. Nessa perspectiva, também a racionalidade na construção do sentido por parte do autor é questionada. O texto já não passa a refletir aquilo que o autor deseja nele transmitir. O produtor material do texto deixa de ser tomado como sujeito racional, estável, uniforme: o texto que produz pode inclusive conter informações vindas do seu subconsciente, cuja natureza é misteriosa mesmo para ele, autor. É avançando nesse aspecto que uma certa vertente de estudiosos radicaliza a noção interativa de leitura. garantia ainda maior do controle do sentido único pelo professor. CORACINI, p. Ainda não é feita, por parte do professor, a necessária ênfase na dispersão dos sentidos apreensíveis na leitura e o papel ativo do leitor.

O ensino de leitura tal como feito atualmente reflete uma postura autoritária da educação, ainda muito perceptível, que concebe o aluno como mero receptor de conhecimento, e o próprio conhecimento como coisa pronta, para ser distribuída aos montes e servir a propósitos meramente utilitários. Um modelo tal tende a intensificar o desinteresse do educando pelo processo de aprendizagem, que se torna, assim, muito mais difícil e ineficiente. Seria, portanto, o leitor do texto distinto do leitor do hipertexto? Elias (2005) afirma que as diferenças existem, mas não são muito grandes. Afinal de contas, a interatividade entre leitor e obra/autor já é visível no texto convencional. Também a leitura convencional pode conter aspectos hipertextuais, se considerarmos que o leitor pode fazer conexões semânticas entre as partes do texto a seu modo, ou mesmo lê-las de uma forma não linear.

E dentro do ambiente virtual, o leitor pode manter uma postura convencional para com o texto. Citando Rosenberg (2002), a autora argumenta que um leitor “holístico” (que procura ter um entendimento mais geral e mais ativo do texto) pode ter uma experiência muito melhor que o leitor “serialista” (aquele que aborda o texto linearmente) (ELIAS, 2005, p. Kleiman, em seu excelente livro “Oficina de Leitura: teoria e prática”, leva em conta aquilo que abordamos anteriormente, a respeito da leitura enquanto ato interativo e individualizado, ao propor as suas estratégias pedagógicas. Segundo a autora, o professor deve focar em ensinar aos alunos estratégias de leitura e habilidades linguísticas próprias do bom leitor, em vez de trabalhar, como comumente ainda se trabalha, a decodificação do sentido do texto, tomado como único e absoluto, ou mesmo a simples leitura repetitiva focada na boa pronúncia (KLEIMAN, 2002, p.

Nesse sentido, Kleiman recomenda incluir nas estratégias de leitura os aspectos que moldam a experiência do leitor proficiente, já nos estágios iniciais do aprendizado. O leitor proficiente, por exemplo, antes mesmo de iniciar uma leitura, tem em mente mais ou menos aquilo que deseja extrair do texto. Aconselha-se ao educador, portanto, trabalhar com o aluno sobre os possíveis objetivos que ele pode ter para o ato de leitura, demonstrando que este ato nunca é isolado, está sempre relacionado a uma necessidade comunicativa: As oportunidades de diversificação e ampliação do universo textual do aluno são ilimitadas, desde que a atividade de leitura seja deslocada de uma atividade meramente escolar, sem outra justificativa a não ser cumprir programa, até uma atividade para cujo desenvolvimento e realização a leitura sirva como instrumento importante.

PROPOSTA DE ABORDAGEM Propomos uma abordagem para o ensino de leitura em uma turma dos anos iniciais do Ensino Fundamental (1ª à 5ª Séries), por acreditarmos que esta é uma fase essencial na formação de bons leitores no futuro. Já bem munidos de ferramentas para a leitura e a escrita, e já iniciados na literatura, de forma mais lúdica, nas fases anteriores, esses alunos podem agora ser estimulados a ler com mais frequência, por conta própria e com uma postura crítica em relação ao que leem. A proposta é dividida em duas atividades, centradas em dois textos distintos, cada uma com objetivos específicos. Inicialmente, apresenta-se à turma o título do primeiro texto “O Menino e o Padre”, bem como uma ilustração, que reproduzimos abaixo. Questiona-se aos alunos o que eles acham do título e da ilustração, através de perguntas como: “O que vocês acham que vai acontecer nesta história?”; “O que o padre está fazendo na imagem?”; “Onde o padre e o menino estão nesta imagem?”; etc.

”   O padre torceu o nariz, não era isto que queria, como não tinha outro jeito, aceitou a cortesia.   Rapidinho o menino, veio trazendo um pote, colocou a garapa na cuia, oferecendo ao sacerdote.   “Ô garapinha boa, me dá só mais um pouquinho?” “Pode tomar seu padre, pois tá melhor que vinho. ”   “Sua mãe vai achar ruim não!?”, pergunta o padre desconfiado. “Ela vai dar Graças a Deus”, responde o menino alvoroçado. Fonte: emartinsfontes. com. br. Depois de andar muitos dias, o Lobo chegou a uma cidadezinha muito tranquila. Estava cansado, com fome e com dor nos pés, mas só tinha um dinheirinho minguado, que ele precisava guardar para alguma emergência. Procura-se demonstrar também que esses sentidos podem variar de leitor para leitor, e isto é normal.

E, enfim, procura-se demonstrar o efeito da prática leitora na vida das pessoas (e dos bichos falantes). CONSIDERAÇÕES FINAIS A leitura foi concebida sob vários aspectos ao longo da história. Desde uma atividade de mera “decodificação” de palavras, sintagmas ou sentidos contidos no texto, até uma atividade interativa, em que o sentido é construído em conjunto com o leitor, a obra e o autor. Essa última concepção nos parece a mais adequada para se compreender o fenômeno nos tempos atuais, em que as tecnologias em rede concedem grande ativismo ao leitor, que se torna um verdadeiro “construtor” do texto. In: CARVALHO, Regina Célia de; LIMA, Paschoal (Org. Leitura: múltiplos olhares. São Paulo: Mercado de Letras; São João da Boa Vista, SP: Unifeob, 2005.

ELIAS, V. M. CRUZ, A. P. O menino e o padre. Recanto das Letras, 2014. Disponível em: <http:// https://www.

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