Freud versus Lacan

Tipo de documento:Monografia

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

Nesta direção, apresenta-se a for­mulação da primeira tópica do aparelho psíquico, que por sua vez faz menção a constituição do recalque. Por conseguinte, aborda-se uma nova concepção do aparelho psíquico, a qual se denomina segunda tópica. Esta por sua vez, possibilita um direcionamento para que Lacan promova uma releitura da originalidade teórica de Freud, intitulando desta forma, a oportunidade da reapresentação de temas em desuso e novamente relembrado por ele no meio psicanalítico. Palavras-chave: Inconsciente; Psicanálise; Linguagem; Denegação, Sujeito; Freud; La­can. ABSTRACT The present work deals with a bibliographical review, carried out based on the theoretical references of psychoanalysis, being composed by the vision of the main theorists as Freud and Lacan, as well as with the contribution of other authors.

Freud, não só escandalizou Viena na época, como propôs novas formas de análise do psiquismo humano, de maneira que, ao evidenciar a sexualidade da criança e ao colocar a possibilidade da escuta dos sentidos, ocasionou uma reorganização da subjetividade de quem fala. Freud conseguiu com sua incansável determinação e estatutos pessoais, transbordar, na época, o escândalo da desconstrução da infância, tida como pura e inocente desde o século XVII, levando naquele momento a sociedade pensar inclusive numa “cura” sem medicamentos e invasões corporais objetivas ou visíveis. Desse modo, a Psicanálise surge de forma imaginativa e parcialmente com a personalidade de seu inventor. Imaginativa, em virtude do desejo de Freud, que embora inicialmente fosse de fazer da Psicanálise uma ciência natural, em que a neutralidade e a imparcialidade foram tidas como tarefas principais do pesquisador, garantindo a probabilidade de desvendar a verdade implícita, conferindo o caráter de descoberta.

Para isso, neste trabalho tratou-se de especificar alguns posicionamentos teóricos acerca dos autores escolhidos para a pesquisa, sendo eles: Sigmund Freud, Jacques Lacan. Freud viveu em Viena e Londres, Lacan nunca residiu fora da França. Nesse distanciamento têmporo-espacial, o que encantou Lacan não foi à pessoa de Freud, mas sua obra, seus escritos. Lacan se dizia freudiano. Opunha-se, com tal declaração, às psicoterapias de base analítica, e principalmente a toda corrente de pensamento que se desenvolveu a partir dos trabalhos de Anna Freud, nas décadas de 1940-1950, sobretudo nos EUA, que se chamou ego psychology. Essa linha de orientação considerava a análise do ego e dos seus mecanismos de defesa prioridades do trabalho analítico, visando com isso a um possível reforço egóico que possibilitaria ao indivíduo lidar melhor com seus impulsos e com as frustrações causadas pelo meio externo (SZAJNBOK, 2010).

CONCEITO DO EU CONFORME FREUD E LACAN [. parece haver consenso de que o próprio de Freud  não é o sujeito. O próprio de Freud é o inconsciente.   E, aí, a primeira conclusão que se impõe é que  enquanto o inconsciente é freudiano, o sujeito é  lacaniano (CABAS, 2009, p. Mecanismos de defesa, de resistência, Freud os alojou no Eu. Ele não tem a intenção de dar conta da descrição do aparelho neurológico, mas de dar conta do desejo. Conforme BARROSO (2012), o conceito de sujeito ganhou, ao longo da teoria psicanalítica, estatuto de discussão central, a ponto de precisarmos de certo esforço para nos lembrar de que ele nem sempre existiu de maneira formal nesse campo de saber. Freud não construiu tal conceito e suas alusões ao termo costumavam ser feitas associando-o à noção corrente de autor da ação, de participante ativo.

No entanto, é possível afirmar que a referência ao que Lacan mais tarde denominou sujeito e sua importância para o avanço da psicanálise reside nas entrelinhas do texto freudiano desde seus primórdios. Para CÂMARA (2010), sobre a construção do EU segundo Freud ele diz que: O Eu tem seu núcleo no sistema perceptivo–consciente. Para estes, então, trata–se de adaptá–lo melhor às exigências da sociedade moderna. Mas o Eu é o lugar dos conflitos, seus mecanismos de defesa são inconscientes, e estes conflitos inconscientes geram efeitos poderosos na vida mental, muitas vezes sem nunca se tornarem conscientes — isso pelo fato de o Eu manter uma força constante de repressão (CÂMARA, 2010). A concepção de um aparelho psíquico que compreende um inconsciente e modifica sucessivamente seus registros altera de maneira crucial a noção do eu como lugar da verdade que imperava até o surgimento da teoria freudiana, embalada pela prevalência da concepção do cogito cartesiano, racional e indivisível.

O cogito freudiano, ao contrário, revela o eu como lugar oculto, demarcando que sujeito e eu são termos que não se recobrem. A questão do sujeito passa claramente por um deslocamento radical a partir da lógica psicanalítica e da concepção de eu (GARCIA-ROZA, 2001). Embora, em seu primeiro ensino, Lacan tenha voltado a atenção para o imaginário e seus efeitos, o avanço gradativo da teoria torna necessário avançar nessa concepção calcada no "moi", na identificação, que se mostra insuficiente para abranger a verdade do sujeito. Tem lugar, então, a concepção de sujeito pelo viés do simbólico, marcado de maneira inevitável pela linguagem, alienado no significante. A castração instaura o sujeito barrado, dividido, da linguagem, do inconsciente, do desejo.

O que Lacan chama de "sujeito" é justamente esse enigma trazido pela barra, pela divisão que funda o inconsciente, que descentra o indivíduo e a razão (LACAN, 1973/1981). O CONCEITO DE DENEGAÇÃO “Em nossa interpretação, tomamos a liberdade de desprezar a negativa e de escolher apenas o tema geral da associação. Para sua análise, será útil passar também por outros conceitos que se ligam ou se opõem a eles. São eles: Ausstossung(expulsão), Vereinigung (incorporação ou introjeção), e Verwerfung (forclusão ou foraclusão), além de Verneinung (negação ou denegação) e Bejahung (afirmação). Na medida em que os objetos que lhe são apresentados constituem fontes de prazer, ele os toma para si próprio, os 'introjeta' (para empregar o termo de Ferenczi); e, por outro lado, expele o que quer que dentro de si mesmo se torne uma causa de desprazer.

FREUD, 1974, p. ” Em A Negativa (1925), Freud indica que "a percepção não é um processo puramente passivo". Como se nota, Freud definiu assim isso como regra; se o analisante determina que “não é isto”, desprezamos a negativo e submetemos como um conteúdo associativo. O destaque na negação denuncia o caráter denegatório da frase. Do mesmo modo o analisante denegando o conteúdo que se lhe apresenta, portamo-nos a escutar essa frase em sua condição positivamente significante: trata-se de uma associação. A Verleugnung tem um sentido linguístico de ser uma negação que permanece ambígua entre a verdade e a mentira, como por exemplo, quando se nega a própria presença: “mandar dizer que não está presente” (HANS, 1996, p. Em outros termos, podemos dizer que a forma como a estrutura significante se movimenta, tal como sugere Lacan (1999 [1957- 1958]), opera apenas pelas vias da metáfora – substituição significante – e da metonímia – combinação significante – mas não pela via da negação.

Lacan (1998d) em um determinado momento da sua obra tentou demonstrar a função e o campo da fala e da linguagem em Psicanálise, apontando as relações constitutivas do sujeito com a linguagem, de forma que a fala do analisante demonstraria tais fenômenos da clínica, confirmando o caráter encarnado do significante. Sendo a psicanálise uma experiência com a fala, o analisante é aí convocado a dispor-se numa outra relação com o significante, de forma que isso tenha efeitos de deslocamentos – metafóricos e metonímicos – em sua fala e em sua vida (DANZIATO, 2012). Continua Danziato, “Negando, o sujeito se constitui, afirmando-se como um significante. Assim, a Verneinung marca os tempos míticos de fundação do Édipo, permitindo ao sujeito um acesso à realidade psíquica da castração e um pensar sobre a realidade de sua própria existência”.

A existência, portanto, implica esse negativo da linguagem e do significante, pois é a partir daí que uma singular, pela marca do “traço unário” (Lacan, 2003 [1961-1962]), produz a identificação do sujeito. A autora diz que: Em La afasia, Freud sustenta que os eventos psíquicos são "concomitantes dependentes" dos eventos nervosos, idéia esta que ele empresta do neurologista Hughlings Jackson. De acordo com a doutrina da concomitância de Jackson, os estados mentais ou conscientes e os estados nervosos ocorreriam paralelamente, mas não haveria interferência de um sobre o outro. Para cada estado mental haveria um estado nervoso correlativo. Citando um exemplo dado por Jackson (1884, p. em uma percepção visual, há um circuito físico da periferia sensorial para os centros superiores e, destes, retornando à periferia muscular.

Segundo Freud, o consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo aquilo de que estamos ciente num dado momento. Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo, ao mesmo tempo, as informações do mundo exterior e as provenientes do interior. Conforme LIMA (2009), na perspectiva de Freud, o pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e funciona como uma espécie de barreira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente. O pré-consciente seria uma parte do inconsciente que pode tornar-se consciente com relativa facilidade, ou seja, seus conteúdos são acessíveis, podem ser evocados e trazidos à consciência. Freud cita que: O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico.

O inconsciente é um dos conceitos fun­damentais da psicanálise e se fosse preciso destacar em uma única palavra a descoberta Freudiana seria esta, uma vez que a maioria dos teóricos em psicanálise concordaria mesmo em muitos momentos terem pontos de vista distintos em relação à sua significação e extensão (LA­PLANCHE apud ROZA, 2001). Para OLIVEIRA (2012) A abordagem lacaniana, por sua vez, preocupou-se com a articulação do discurso, com a fala do indivíduo em decorrência das expressões inconscientes. Lacan partiu do princípio de que o inconsciente, formado daquilo que foi reprimido pelo sujeito, emerge através do discurso do Sujeito na experiência analítica. O conteúdo inconsciente se mantém latente até que transformado em conteúdo manifesto através dos mecanismos de metáfora e metonímia, associados com a dinâmica dos significantes.

Os termos “significante” e “significado”, elaborados por Saussure no Curso de Lingüística Geral (1915), ajudaram Lacan a formalizar os processos de metáfora e metonímia no inconsciente, e a examinar como os indivíduos entram na linguagem e se tornam Sujeitos(OLIVEIRA, 2012). Neste quesito, Freud reconhece a Lei Simbólica como motivação central no inconsciente, onde nomina como complexo de Édipo, sendo através das nominações da parentela e das proibições que o fio das linhagens é acionado, portanto sendo idêntica à ordem da linguagem (CHEMA­MA, 1995). Nesta perspectiva, conforme explica JORGE e FERREIRA (2005), Lacan parte da premissa evidente de que a linguagem determina o ho­mem deste o nascimento até a morte. Através dos progenitores, o bebê vem ao mundo e é marcado pelo discurso deste, onde se inscreve a fantasia, a cultura, a classe social, a língua, entre outros.

Todos esses fatores articulados constituem o campo do outro, onde se forma o sujeito. Segundo os autores acima citados, po­de-se expor que a lógica do significante foi de­senvolvida por Lacan para intitular uma teoria da relação entre o inconsciente e a linguagem, as­sim, o significante é a unidade mínima do simbó­lico e jamais aparecerá isolado, mas sim envolvo na articulação dos demais significantes. DOR, 1989). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nossa proposta original se baseia na busca de argumentos que estariam direcionados na busca das opiniões destes dois autores (Freud e Lacan), diante de alguns conceitos dentro da visão psicanalítica. Este trabalho objetivou em explanar o conceito e a evolução teórica segundo Freud e Lacan, do Eu, da Denegação, do Sujeito e do Inconsciente, apresentando seus elementos, bem como a dinâmica de funcionamento.

A escolha do presente tema fundamenta-se pela importância em tratar-se de conceitos imprescindíveis da psicanálise e seu reconhecimento como principais fatores de descoberta freudiana. A aprendizagem teórica nos possibilitou um entendimento do psiquismo anteriormente a Freud, pois nos estudos referentes ao inconsciente, os filósofos anteriores a Freud já estudavam as forças inconscientes, de forma a explaná-las sem uma divisão qualificada. Por fim, após as determinações Freudianas, viabilizou a constatação que por intermédio da experiência analítica, ou melhor, mediante da fala que o sujeito é comparado com a sua verdade, e desta forma Lacan vem a promover um regresso e restabelecimento dessa originalidade teórica, vindo a expor o inconsciente a obedecer as leis da linguagem, pois é através desta no discurso que se percebe as manifestações.

Dentro dos conceitos de Lacan, a noção de sujeito suporta uma série de transformações de acordo com a evolução teórica deste. Torna-se claro, para o autor, que falta a essa construção qualquer materialidade que tenha sido inicialmente prognosticada. Consuma-se, portanto, de forma desembaraçada e distante de abordar o tema com a extensão e a intensidade que suas variabilidades exigiriam, que a concepção do conceito de sujeito, de Freud a Lacan, prossegue sucessivamente, alcançando o plano principal da teoria lacaniana. Apesar disso, o sujeito não deixa de ser encarado, de acordo com a visão teórica, visto apenas pelas bordas, de forma indireta, pois sua existência é da ordem do efeito, e não da substância. p. ISSN. BARBIO, L.

Jacques Lacan, o psicanalista que repensou Freud e criou sua própria escola 2016. BARROSO, A. As origens do conceito de inconsciente psíquico na teoria freudiana – Natureza Humana v. São Paulo – 2003. CHEMAMA, R. Dicionário de Psicanálise. Tradução Franke Settineri. B. Do Sim e do Não- comentários sobre a denegação – Reverso vol. Belo Horizonte – MG 2011. FREUD, S. A negativa (1925). Sobre o narcisismo (1914).  Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996. FREUD, S. A Negativa. vol. XVII. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. O sujeito e o eu. In: GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. as bases conceituais. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. JORGE, M. A. C. Lacan, o grande freudiano. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005. LACAN, J. “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano”.

LACAN, J. c. Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a “Verneinung” de Freud. In: J. LACAN, Escritos. OLIVEIRA, J. B. – O Inconsciente Lacaniano – Revista Psicanálise Barroco – São Paulo – 2012. QUINET, A. A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma.

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