Fichamento de percepção em musica

Tipo de documento:Fichamento

Área de estudo:Música

Documento 1

The central hypothesis is that the authors do not just work based on an established historiographical concept but they also propose other ways of seeing that moment in the history of Brazil. Palavras-chave Ditadura militar; luta armada; teatro; holandeses no Brasil; historiografia. Key-words Military dictatorship; Guerrilla; Theater; Dutchmen in Brazil; Historiography. Proj. História, São Paulo, (29) tomo 2, p. Para Varnhagen, 500 Proj. História, São Paulo, (29) tomo 2, p. dez. falta a Calado “dignidade histórica”, pois se fia em boatos que possam ajudá-lo em seu objetivo de enaltecer João Fernandes Vieira. Além disso, escreve mal; entretanto, pode ser usado com algum critério. Além disso, proponho a existência de alguns temas nascidos não da bibliografia centrada na presença holandesa no Brasil, mas em outras obras possivelmente conhecidas pelos autores.

Não se trata de um esgotamento desse viés de leitura, uma vez que Calabar tem uma riqueza de detalhes e referências que vai além da bibliografia sobre o período colonial indicada pelos autores, sobretudo se pensarmos que a segunda versão, de 1978, dialoga com outro tempo (que inclui até mesmo a proibição da versão anterior) e, possivelmente, Proj. História, São Paulo, (29) tomo 2, p. dez. com obras historiográficas mais recentes; além disso, somente tive acesso a uma parte dos livros usados por Buarque e Guerra na feitura da peça, alguns em edições diferentes. Esses temas aparecem apenas marginalmente em algumas das obras citadas. A questão é a amplificação de personagens que a historiografia até então produzida mal era capaz de perceber: em Watjen, a prostituição é, como nos pregadores holandeses, um problema moral; em Boxer, havia uma inevitável atmosfera de corrupção em Pernambuco, expressa na frase de Barléu,18 para quem “Não existia pecado além do equador”, e uma diferença cultural – seguindo Calado – entre portugueses e holandeses no trato com as mulheres; Gonçalves de Mello dá 502 Proj.

História, São Paulo, (29) tomo 2, p. dez. maior abertura a esses temas, não tratando a prostituição, por exemplo, do ponto de vista moral, mas nega-lhe autonomia, vinculando-a ao problema sanitário. foi perjuro, desertando delas, e que (. abrindo exemplo à deserção, e prestando serviços na guerra contra a sua pátria e os seus concidadãos, foi ao mesmo tempo traidor” ou, “foi um desertor, que praticava o que a lei chama de crime permanente”. É neste contexto que é escrita a peça, e se retoma o tema da traição. Proj. História, São Paulo, (29) tomo 2, p. Esta descrição poética de Bárbara sobre o marido, se tem um sentido sensual, narrando – segundo os padrões possíveis na época – a exploração do corpo por um amante, parece aproximar-se bastante das referências feitas pelos diferentes autores a Calabar:.

Mameluco mui esforçado e atrevido (. Também lhe cobrou muita afeição o General do mar dos holandeses, que o trazia em sua companhia, para que lhe ensinasse as bocas dos rios navegáveis. Calado, p. Proj. conhecia palmo a palmo toda a região (. Homem muito ativo e inteligente, não poderiam os holandeses ter achado melhor guia e informante para lhes indicar os pontos fracos do inimigo. Era forte como o boi do provérbio, correndo muitas histórias sobre a prodigiosa força física de que dava provas na perseguição do gado, afora outros indícios de grande resistência. Boxer, pp. Todos os textos são unânimes em indicar um profundo conhecimento, pelo mesmo Calabar, da região. dez. morre. Calabar é cobra-de-vidro. E o povo jura que cobra de vidro é uma espécie de lagarto que quando se corta em dois, três, mil pedaços facilmente se refaz” (p.

Na segunda versão (p. Mas nem adianta esquartejar a idéia e espalhar seus pedaços por aí, porque ela é feito cobrade-vidro. E o povo sabe e jura que o cobra-de-vidro é uma espécie de lagarto, que quando se corta em dois, três, mil pedaços, facilmente se refaz. Tal capacidade de Calabar e sua “idéia” de se refazerem coloca como problema o refazer-se da História: trata-se da capacidade dos dominados – afinal, é isto que o mulato Calabar e a mulher Bárbara são – de se rearticularem, e lutarem, em diferentes momentos. Calabar não é necessariamente traidor, ainda que o termo seja aplicado a ele ao longo de todo o texto, mesmo pela guardiã de sua memória, Bárbara. Sua traição é o abandono de uma posição confortável de serviçal dos portugueses – nesse sentido, opõe-se claramente a Henrique Dias e Camarão.

dez. tendência crescente ao engajamento e à radicalização, por diferentes caminhos. Entretanto, a repressão apertava o cerco e as coisas estavam de tal maneira mudadas que nem mesmo a perspectiva da guerrilha enquanto tema artístico conseguia manter-se. O capitão Calabar tem uma forte proximidade com o capitão Lamarca. Uma guerra de guerrilhas, um desertor-herói, cuja perícia incomodava seus antigos superiores – perícia no manejo das armas, perícia nas táticas de guerra, sobretudo quando se trata de um terreno pouco propício: em 1970, Lamarca consegue escapar de um enorme cerco no Vale do Ribeira em São Paulo, com um pequeno grupo de guerrilheiros. A obra busca claramente usar o passado colonial como ponto de partida para uma intervenção no presente. Existem pontos abertamente ficcionais, como a morte de Souto, Proj.

História, São Paulo, (29) tomo 2, p. dez. deslocada da Bahia para o Recife. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1985. Doutor em História Social - FFLCH-USP e da Rede Pública Municipal – São Paulo SOUZA, Sérgio A. A História é uma colcha de retalhos, op. cit. Anteriormente, o compositor musicou Morte e vida severina, de João Cabral de Mello Neto, encenada no Tuca em 1965, seu primeiro trabalho importante, e escreveu Roda Viva, peça encenada pelo Teatro Oficina entre o final de 1967 e o início de 1968 e responsável pela desmontagem do mito de bom moço criado em torno do músico. Quando necessário, indico, antes da citação, que se trata da segunda versão e o número de página em seguida: BUARQUE, Chico e GUERRA, Ruy.

Calabar, o elogio da traição. ed, op. cit. São citadas as seguintes obras: VARNHAGEN, F. Recife, Universidade do Recife, 1954; id. Henrique Dias. Recife, Universidade do Recife, 1954; id. Tempo dos flamengos. Rio de Janeiro, José Olympio, 1947; NETSCHER, P. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1940. Proj. História, São Paulo, (29) tomo 2, p. dez. ed. Recife, BNB/Secretaria da Educação e Cultura, 1979, p. NETSCHER, P. M. Os holandeses no Brasil. Depois de Calabar, escreveria as peças Gota d’água (adaptação de Medéia), Ópera do malandro (adaptação da Ópera dos 3 vinténs, de Brecht, ambientada no Estado Novo) e, em parceria com Edu Lobo, as músicas para O corsário do rei de Augusto Boal e Doutor Getúlio, de Dias Gomes e Ferreira Gullar. A rigor, tal série, caso exista, deve iniciar-se não com Calabar, mas com as versões, também em parceria com Ruy Guerra, das canções do musical O homem de la Mancha, feitas em 1972.

Faço alusão à comentada transformação de Sérgio Buarque de Holanda no pai do Chico. Ver NOGUEIRA, Arlinda Rocha. “Sérgio Buarque de Holanda, o Homem”. cit. pp. XII-XV e XVI-XXIII; BUARQUE, Chico e GUERRA, Ruy. “A Roda Viva de Calabar: Dialética da Traição”. In: id. M. O valeroso lucideno. vol. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1987; RODRIGUES e RIBEIRO, op. cit. BOXER, op. cit. p. BOXER, op. cit, pp. Belo Horizonte/ São Paulo, Itatiaia/Edusp, 1974 (1ª Edição: Amsterdã, 1647). BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo, Hucitec, 1987. É certo que as edições desta obra em francês e italiano, ambas línguas bem conhecidas por Buarque, são anteriores ao texto de Calabar. cit. pp. As indicações para encenação da segunda versão chegam a incluir como necessário que Mathias de Albuquerque e Maurício de Nassau sejam interpretados pelo mesmo ator, sinal de uma absoluta correspondência entre os dois projetos – o que valeria a crítica de que se acabam perdendo especificidades.

Apesar disso, os censores viram na peça uma apologia à colonização holandesa, o que seria uma justificativa para a proibição. Ver PEIXOTO, F. Na tradição artística de esquerda, Reis aparece com a mesma marca de traidor que nos discursos oficiais. Consultar: BOAL, Augusto e GUARNIERI, Gianfrancesco. Arena conta Tiradentes. São Paulo, Sagarana, 1967; Os Inconfidentes, dir. Joaquim Pedro de Andrade, 1972; Para a direita, a caracterização do delator é bastante semelhante, ver O mártir da Inconfidência, Tiradentes, dir. “Do singular ao plural – Palmares, capitães-do-mato e o governo dos escravos”. In: REIS, João José e GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio. Historia dos quilombos no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1996, pp. “Escravos e coiteiros no quilombo do Oitizeiro – Bahia, 1806”. In: REIS e GOMES, op.

cit. p. Um enfoque do problema a partir do viés da maior adequação da cultura indígena para decifrar os segredos da terra aparece em: HOLANDA, Sérgio Buarque. Trad. e adap. Chico Buarque. São Paulo, Global, 1999; Chico Buarque (Trad. e adap. Embora dê mais ênfase à produção dos universos feminino e masculino, tomo por base a análise feita por Marcos A. Silva, que reproduz a história: ver SILVA, Marcos A. Rir das ditaduras – Os dentes de Henfil. Ensaios sobre Fradim – 1971-1980. Tese de Livredocência apresentada à FFLCH-USP. p. Geraldo Vandré. “Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando)”. Gravação ao vivo por Geraldo Vandré no Festival Internacional da Canção, 1968. Fita cassete, Acervo Pessoal; Gilberto Gil. homens o tamanho da tropa burlada por Lamarca.

Em entrevista publicada no Brasil somente em 1980 por Emiliano José e Oldack Miranda, o próprio capitão cita 20. soldados. Segundo Gorender, uma avaliação causada pelo entusiasmo (ou por um erro de impressão ou transcrição?). GORENDER, Jacob. passim. O filme Lamarca, adaptação livre do livro de José e Miranda explora bastante esta situação, com o delegado Flores (Fleury) ridicularizando o exército por sua ineficácia para localizar um homem por ele mesmo criado, enquanto o Major (Nilton Cerqueira) expressa profunda aversão ao homem que “foi um dos nossos, andou no meio da gente, fez os mesmos cursos, os mesmos treinamentos nos mesmos quartéis. Sentou na nossa mesa e tramou contra nós”. Como fundo, há uma diferenciação entre o sadismo imediatista de Fleury e a tática paciente de caçador de Cerqueira, apesar de sua repulsa, repetida diversas vezes ao longo do filme, à traição.

Lamarca, dir. p. Existe gravação feita por Buarque e Milton Nascimento após a liberação da canção pela Censura: Chico Buarque de Hollanda e Gilberto Gil. “Cálice”, gravada por Chico Buarque de Hollanda e Milton Nascimento em Chico Buarque, LP 6349398, Philips, 1978. De acordo com Humberto Werneck, não foi a Censura, mas a própria gravadora que, com medo de represálias, ordenou o corte dos microfones. WERNECK, Humberto. Chico Buarque de Hollanda. Seleção de textos por Adélia Bezerra de Meneses Bolle. São Paulo, Abril Educação, 1980, p. Chico Buarque. Chicocanta, LP, 510008-2, Philips, 1973.

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