E-Book: 50 Grandes Ideias da Humanidade que Você Precisa Conhecer - Ben Dupré

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love ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível. Copyright © Ben Dupré, 2009 Copyright © Editora Planeta do Brasil, 2016 Título original: 50 big ideas you really need to know Todos os direitos reservados. Preparação: Maria Aiko Nishijima Revisão: Clara Diament e Dan Duplat Diagramação: Balão Editorial Capa: Compañía Adaptação para eBook: Hondana CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D947c Dupré, Ben 50 grandes ideias da humanidade que você precisa conhecer / Ben Dupré ; [tradução Elvira Serapicos]. com. br atendimento@editoraplaneta. com. br Sumário Introdução FILOSOFIA 01 Platonismo 02 Aristotelismo 03 A regra de Ouro 04 Altruísmo 05 Liberdade 06 Tolerância 07 Ceticismo 08 Razão 09 Punição 10 Materialismo 11 Relativismo 12 Utilitarismo 13 Existencialismo RELIGIÃO 14 O mal 15 O destino 16 A alma 17 A fé 18 Fundamentalismo 19 Ateísmo 20 Secularismo 21 Criacionismo POLÍTICA 22 A guerra 23 O dever 24 Utopia 25 Liberalismo 26 Democracia 27 Conservadorismo 28 Imperialismo 29 Nacionalismo 30 Multiculturalismo 31 O contrato social 32 Republicanismo 33 Comunismo 34 Fascismo 35 Racismo 36 Feminismo 37 Islamismo ECONOMIA 38 Capitalismo 39 Globalização ARTE 40 Classicismo 41 Romantismo 42 Modernismo 43 Surrealismo 44 Censura CIÊNCIA 45 Evolução 46 Gaia 47 O caos 48 Relatividade 49 Mecânica quântica 50 O Big Bang Glossário Índice Introdução “Resistimos à invasão dos exércitos; não resistimos à invasão das ideias.

” O escritor francês Victor Hugo compreendeu perfeitamente essa combinação de substância e momento oportuno que se juntam para formar uma ideia que consegue abalar as estruturas vigentes – destinada a ser grande. Ao lado do comunismo, são apresentadas aqui outras ideologias seminais, como o conservadorismo, o liberalismo e o republicanismo. Muito mais sombrio é o legado de outras ideias políticas, notadamente o fascismo e o racismo, que marcaram com uma mancha indelével a história da humanidade. Na última parte do livro, ideias transformadoras são extraídas da arte e da ciência. A trajetória artística da humanidade é apresentada por intermédio dos movimentos dominantes, como o classicismo, o romantismo e o modernismo. À primeira vista, ideias científicas como a relatividade e a mecânica quântica podem parecer intrincadas, mas sua arquitetura geral é acessível e maravilhosa.

Entretanto, embora Whitehead possa ter deixado de dar à filosofia ocidental posterior seu devido crédito, é inegável que Platão lançou uma grande sombra sobre os pensadores que vieram depois e que muitos deles desenvolveram e aperfeiçoaram suas ideias por meio de uma interação criativa ou uma reação às suas ideias. Em cerca de 35 diálogos, escritos ao longo de meio século, vemos uma série de doutrinas – ética, política, estética, entre outras – evoluindo e amadurecendo; o termo “platonismo” pode se referir a algumas ou a todas essas ideias. No centro de sua filosofia, entretanto, está uma teoria metafísica admiravelmente original, que pressupõe a existência de um reino de realidades eternas e imutáveis, distinto do mundo mutável das experiências cotidianas.

Essas entidades são tanto a causa de tudo quanto a fonte de todo valor e significado; o exame de sua natureza transcendental e a maneira como adquirimos conhecimento a respeito delas é a característica mais distintiva da filosofia de Platão. Logo, é precisamente esse aspecto de sua obra que podemos chamar de platônico e, por extensão, a partir dessa peculiar concepção de realidade última, é que o termo “platonismo” às vezes é empregado em relação a outras teorias de caráter realista (idealista). Na Idade Média travou-se uma batalha filosófica entre realistas (ou platonistas) de um lado, que acreditavam que universais como vermelho e altura existiam independentemente de uma determinada coisa vermelha ou alta, e de outro os nominalistas, que sustentavam que se tratava apenas de nomes ou rótulos atribuídos aos objetos para realçar determinadas similaridades entre eles.

“Devemos fugir da terra em direção ao céu tão rapidamente quanto possível; e fugir significa tornar-se semelhante a Deus, tanto quanto isso é possível; e tornar-se semelhante a Ele quer dizer tornar-se divino, justo e sábio. ” Platão, Teeteto, c. a. C. Esse reino está povoado por objetos de verdade, perfeitos e eternos – as Formas –, e abrangendo todos eles está a Forma do Bem, representada pelo Sol, que lança sobre os outros sua realidade e seu sentido últimos. A mesma distinção básica continua presente em muitas áreas da filosofia moderna. Uma posição realista sustenta que há entidades no mundo – coisas físicas ou fatos éticos ou propriedades matemáticas – que existem independentemente do nosso conhecimento ou da nossa vivência. Segundo essa visão, a função da matemática, por exemplo, não é descobrir provas que envolvem entidades que de alguma forma estão na mente dos matemáticos, mas descobrir verdades sobre entidades preexistentes.

Opondo-se a essa visão, outros filósofos, conhecidos como antirrealistas, propõem a existência de uma relação ou ligação necessária e interna entre o que é sabido e o que sabemos a respeito. Essa aquiescência servil acabou por provocar reações, e a total rejeição da visão de mundo aristotélica foi uma das principais motivações para a revolução intelectual e científica que irrompeu na Europa no século XVI. Ainda assim, embora a estrela de Aristóteles tenha se eclipsado no período seguinte, sua influência jamais desapareceu completamente, e nas últimas décadas tem havido uma valorização de suas concepções filosóficas. Na área do pensamento moral, em especial, seu legado ajudou a inspirar a abordagem conhecida como “ética da virtude”.

O termo “aristotélico” pode, é claro, descrever todas ou qualquer uma das doutrinas elaboradas por Aristóteles, o famoso filósofo grego que estudou com Platão, foi tutor de Alexandre, o Grande e fundou uma escola filosófica muito influente (o Liceu) na Atenas do século IV a. C. Viver virtuosamente é uma questão de ser ou tornar-se o tipo de pessoa que, pela aquisição de sabedoria através da formação e da prática adequadas, comporta-se habitualmente da maneira apropriada nas circunstâncias apropriadas. Em outras palavras, o tipo certo de caráter e temperamento, natural ou adquirido, produz o tipo certo de comportamento. Essa concepção não perdeu absolutamente nada de sua força ao longo de mais de dois mil anos. Aluno e mestre Às vezes se diz, de forma simplista, que a filosofia de Aristóteles se desenvolveu como reação à de seu professor, Platão.

Na verdade, a relação entre os dois é bastante complexa. mas eram meros estudantes em relação ao velho Aristóteles. ” Charles Darwin, 1882 Ele assimilou a física de Aristóteles (considerações sobre objetos físicos); a dinâmica (análise de lugar e movimento); a epistemologia (conceitos sobre a aquisição do conhecimento intelectual); e a cosmologia (um universo formado por quatro elementos – ar, terra, fogo e água –, com uma terra estacionária cercada por esferas de cristal concêntricas segurando os planetas). Os Cinco Argumentos de Tomás de Aquino (provas da existência de Deus) foram todos baseados em certa medida em argumentos aristotélicos. Acima de tudo, ao formular sua versão naturalista do cristianismo, ele – como Aristóteles, mas opondo-se aos neoplatônicos – ansiava por defender a noção dos seres humanos como agentes verdadeiramente responsáveis por suas próprias ações.

O próprio sucesso da síntese de Tomás de Aquino acabou por se transformar em sua ruína. A simplicidade da regra é também seu ponto fraco, transformando-a aparentemente em alvo fácil para os cínicos ou as pessoas sofisticadas, que questionam o bem ou benefício prático que se pode adquirir com a obediência à regra. Açoita e poderás ser açoitado No cerne da regra de ouro há uma cobrança pela coerência, mas o egoísta pode procurar satisfazer seus próprios interesses sistematicamente e não demonstrar inconsistência recomendando que os outros façam o mesmo. As pessoas obtêm seus prazeres de várias maneiras, e a maioria não masoquista deve estar atenta ao masoquista que adota a regra de ouro.

Contudo, ao tentarmos definir e aperfeiçoar a regra, corremos o risco de enfraquecêla. Podemos querer especificar o contexto e as circunstâncias em que a regra deve ser aplicada, mas, se formos específicos demais, ela começa a perder a universalidade que constitui grande parte de seu apelo. Como tal, a regra de ouro é um antídoto para o tipo de miopia moral que costuma acometer as pessoas quando seus próprios interesses estão em jogo. JFK e a regra de ouro Em junho de 1963 o presidente americano John F. Kennedy recorreu com muita eficiência à regra de ouro. Em um discurso dirigido ao povo americano transmitido pela TV, numa época em que as tensões raciais estavam se transformando em violência generalizada e agitação civil, Kennedy fez uma apaixonada conclamação contra a segregação e a discriminação por questões raciais: “O cerne da questão é se todos os americanos devem ter direitos iguais e oportunidades iguais, se vamos tratar nossos compatriotas americanos como gostaríamos de ser tratados.

Se um americano, pelo fato de ter a pele escura, não puder almoçar em um restaurante aberto ao público, se ele não puder mandar seus filhos para a melhor escola pública, se não puder votar nas pessoas que o representarão, se, em resumo, ele não puder desfrutar da vida plena e livre que todos nós queremos, quem de nós gostaria de trocar a cor da pele e colocar-se no lugar dele?” Compelido pelo apelo de Kennedy em prol da igualdade e, seis meses depois, pelo trauma de seu assassinato, em 1964 o Congresso promulgou a legislação de direitos civis mais radical da história dos Estados Unidos. Com um imperativo categórico, no entanto, não existem “ses” a acrescentar, implícitos ou explícitos.

“Não minta!” e “Não mate!” não são injunções hipotéticas sobre qualquer objetivo ou desejo que você possa ter ou não ter e que devem ser obedecidas por uma questão de obrigação, incondicional e independentemente das consequências. Um imperativo categórico desse tipo, ao contrário de um imperativo hipotético, constitui um princípio fundamental da moralidade, ou lei moral. Faça o que digo, não o que faço A essência da regra de ouro é a consistência moral, e é o desrespeito a essa consistência moral – não praticar o que você prega – o que torna a hipocrisia tão detestável. A objeção básica ao vigário adúltero que louva a santidade do matrimônio, ou ao político que aceita um suborno enquanto ataca as irregularidades financeiras, é a inconsistência: entre as opiniões que expressam e as crenças evidenciadas por seu comportamento; entre a importância que alegam conferir a certas proposições e a indiferença que se pode inferir de suas ações.

M. Hare. Partindo da concepção evidentemente kantiana de que os termos morais têm um elemento prescritivo – eles nos dizem o que fazer ou como nos comportarmos –, a teoria ética de Hare (o prescritivismo) propõe que a essência dos termos morais reside no fato de orientarem a ação; dizer que matar é errado equivale a dar e aceitar uma ordem – “Não mate!”. A característica essencial das decisões éticas, e o que as distingue dos outros tipos de ordens, é, na visão de Hare, sua universalidade: se fizer uma injunção moral, estou me comprometendo a sustentar que essa injunção deve ser obedecida por qualquer pessoa (inclusive eu mesmo) em circunstâncias similares; em outras palavras, devo obedecer à regra de ouro. A ideia condensada: faça o que gostaria que fizessem a você 04 Altruísmo Pouco depois das nove horas da manhã do dia 11 de setembro de 2001, minutos após o impacto letal do voo 175 da United Airlines, um pequeno grupo de sobreviventes aterrorizados se aglomerou no saguão destruído do 78o andar da Torre Sul do World Trade Center.

Além de demonstrar grande coragem, ele foi um extraordinário exemplo de altruísmo: a disposição para colocar o interesse e o bem-estar dos outros acima do seu – a ponto de sacrificar a própria vida. Seria ofensivo para o senso comum de moralidade sugerir que o comportamento do jovem foi de alguma forma motivado pelo interesse pessoal, pois isso reduziria a grandeza de suas ações. Ainda assim, a noção de altruísmo puro tem sido filosoficamente enigmática desde a Antiguidade. Inúmeros sofistas – filósofos que cobravam por seus ensinamentos – que mediam forças com Sócrates pressupunham sem hesitar que a benevolência com os outros era mera aparência e que a verdadeira motivação era sempre o interesse pessoal. Muitos outros pensadores mais recentes argumentaram que as pessoas na verdade são motivadas pela preocupação com seus próprios interesses (egoísmo psicológico), ou que seu comportamento deveria ser guiado por essas preocupações (egoísmo ético).

Em tais circunstâncias é de esperar que os animais se comportem de forma a melhorar suas próprias perspectivas de vida, não a de outros. Nenhuma forma de comportamento poderia ser mais improvável do que o altruísmo e o autossacrifício para melhorar a perspectiva de sobrevivência de um agente, por isso podemos imaginar que os animais dispostos a agir altruisticamente teriam uma grande desvantagem seletiva e seriam rapidamente eliminados da população pelos membros mais egoístas. O próprio Darwin, consciente desse problema, resumiu-o em A descendência do homem (1871): “É extremamente duvidoso que os descendentes de pais mais condescendentes e benevolentes. fossem criados em maior número do que os filhos de pais egoístas e traiçoeiros. Aquele que estava pronto a sacrificar a própria vida, em vez de trair seus camaradas, geralmente não deixava descendentes que herdassem sua nobre natureza.

O problema, naturalmente, é que o altruísmo biológico desse tipo não é o altruísmo “puro” ou “verdadeiro”: é um meio de explicar o comportamento que beneficia os outros em termos do interesse pessoal (final) do agente – ou pelo menos em termos do interesse de seus genes. E, se essa é a única maneira de explicar o comportamento altruísta, é evidente que o “verdadeiro” altruísmo – comportamento que beneficia os outros, independentemente ou em oposição aos interesses do agente – não pode existir em um mundo darwinista. “O fraco e o doente devem perecer: primeiro princípio da nossa filantropia. ” Friedrich Nietzsche, 1888 Instituições arraigadas, para não falar de histórias como a de Welles Crowther, podem nos levar a relutar em aceitar essa conclusão. Como David Hume, podemos dizer que “a voz da natureza e da experiência parecem se opor à teoria do egoísmo” – a ideia de que a benevolência humana pode ser reduzida ao interesse pessoal.

Ainda assim, apesar do amplo consenso quanto à sua importância, é surpreendente que haja tanto desacordo quanto à natureza da liberdade. Os dois conceitos de liberdade de Berlin A análise mais recente e mais influente da liberdade se deve ao grande filósofo político do século XX Isaiah Berlin. A questão central do seu estudo sobre a liberdade é a distinção crucial entre liberdade positiva e negativa. Geralmente pensamos na liberdade como sendo a ausência de qualquer coerção ou restrição externa: você é livre desde que não haja nenhum obstáculo que o impeça de fazer o que quiser fazer. Esse é o tipo de liberdade que Berlin chama de “liberdade negativa”. Enquanto a liberdade negativa é a liberdade da interferência externa, a liberdade positiva geralmente é caracterizada como a liberdade para alcançar certos objetivos – em outras palavras, uma forma de fortalecimento que permite que os indivíduos realizem seu potencial e alcancem um estado de autonomia e domínio pessoal.

Enquanto a liberdade negativa é essencialmente interpessoal, existindo como uma relação entre as pessoas, a liberdade positiva, ao contrário, é intrapessoal − algo que se desenvolve e se fortifica dentro do indivíduo. Isso pressupõe uma espécie de divisão do eu em uma parte baixa e outra elevada, em que a conquista da liberdade é marcada pelo triunfo do eu mais elevado (moralmente, racionalmente). Foi em parte devido a esse conceito de um eu dividido, que para Berlin estava implícito no entendimento positivo de liberdade, que ele se mostrou tão cauteloso. Quando aqueles que estão no poder adotam a visão paternalista de que as pessoas têm “um lado melhor” que precisa ser estimulado – e um lado pior que precisa ser sufocado – rapidamente assumem o direito “de ignorar os desejos dos homens e das sociedades, de perseguir, oprimir, torturar em nome do eu ‘verdadeiro’ das pessoas”.

Não deixa de ser no mínimo estranho que Estados Unidos e França tenham sido elevados à condição de antecedentes históricos e paradigma desses sistemas políticos. A escravidão, antíteses da Liberdade, continuou a ser legal nos Estados Unidos por quase um século após a conquista da independência, enquanto os três pilares ideológicos da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – nunca foram completa ou permanentemente alcançados na França revolucionária propriamente dita. A “liberdade serena e abençoada”, proclamada por um jornal parisiense quando da Queda da Bastilha, em 1789, havia sido transformada, no espaço de apenas quatro anos, no Reino do Terror de Robespierre, quando toda a oposição política foi eliminada e cerca de 17 mil suspeitos de serem contrarrevolucionários foram guilhotinados.

Liberdade intelectual Em seu ensaio Sobre a liberdade, de 1859, John Stuart Mill faz uma defesa apaixonada da liberdade de expressão. Ele alerta para os perigos de uma cultura de preconceito e repressão intelectual em que o questionamento e as críticas são desencorajadas e os “intelectos mais ativos e inquisitivos” receiam adentrar “a especulação livre e ousada dos temas mais elevados”. Apelando para os princípios da liberdade individual e liberdade de pensamento, o escritor francês faz uma afirmação clássica de uma das virtudes mais características do Iluminismo: “Pensa por ti mesmo e deixa que os outros aproveitem o privilégio de fazer o mesmo”, resumiu Voltaire em outra frase. A prática da tolerância está tão enraizada no pensamento liberal que damos como certa sua relevância para o funcionamento de Estados organizados e para as relações entre indivíduos sensatos.

Mas essa suposição não deve nos impedir de ver como a tolerância é pouco aplicada no mundo real. Membros das principais religiões – muçulmanos, cristãos, hindus, judeus – estão se atracando em inúmeros países, demonstrando pouca disposição para tolerar seus adversários ou suas crenças religiosas. A situação melhora um pouco quando se trata de diferenças não religiosas, em que as pessoas se dividem por causa da cor da pele, origens étnicas, preferências sexuais e estilos de vida, entre outras coisas. ” René Dubos, 1981 Uma saída para o paradoxo é clara. Precisamos mostrar que existem razões suficientemente fortes para a tolerância, de forma a superar os argumentos daqueles que clamam pela intervenção; mostrar que seria errado não tolerar o que está errado.

Segundo a tradição liberal clássica, a demonstração mais influente desse tipo foi dada por John Stuart Mill, que assevera que as bases da tolerância que “triunfa” sobre aqueles favoráveis à intervenção são a diversidade humana, inerentemente valiosa, e o respeito pela autonomia humana – a capacidade que permite que os indivíduos façam suas próprias escolhas na vida. Em seu ensaio Sobre a liberdade (1859) ele argumenta que “a maneira como a pessoa dispõe de sua existência é a melhor, não porque seja a melhor em si, mas porque é sua própria maneira. Os seres humanos não são como ovelhas, e nem mesmo as ovelhas são indistintamente parecidas. a virtude que torna a paz possível; contribui para a substituição da cultura da guerra pela cultura da paz.

“Tolerância é a responsabilidade que defende os direitos humanos, o pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), a democracia e a regra da lei. Demanda a rejeição do dogmatismo e do absolutismo. “A prática da tolerância. significa que as pessoas são livres para seguir suas próprias convicções e aceitam que os outros sigam as suas. Mas esse pensamento realista jamais convenceria aqueles que se apoiavam nos princípios religiosos. Uma das contribuições mais conhecidas para o debate da tolerância religiosa é a Carta acerca da tolerância (1689), de John Locke. Nenhum outro documento fez mais para moldar a perspectiva liberal moderna. Locke concorda em que a convicção voluntária exigida por Deus não pode ser imposta pela coação, mas seu principal objetivo é “distinguir o governo civil da religião”.

Ele insiste em que o Estado não deve interferir no “cuidado das almas” e que nessa área a aplicação de suas penalidades é “absolutamente impertinente”. Parece um pesadelo, coisa de ficção científica, mas é claro que isso é exatamente o que você diria se fosse um cérebro em uma cuba. A questão é que é difícil ver como é que você poderia saber com certeza que não é, e, se você não puder descartar essa possibilidade, todas as coisas que acha que sabe passarão a ser falsas. E se isso for possível – apenas possível – você simplesmente não sabe nada, sabe? Cenários do tipo imaginado por Putnam e Bostrom sempre foram armas poderosas no arsenal do cético filosófico. Como posição filosófica, o ceticismo desafia nossa pretensão ao conhecimento.

Achamos que sabemos todos os tipos de coisas, mas como e baseados em que podemos defender essa pretensão? Nosso suposto conhecimento do mundo se baseia na percepção adquirida pelos nossos sentidos, mas essas percepções não estão sempre propensas a erros? Podemos ter certeza de que não estamos alucinando ou sonhando, ou de que nossa memória não está nos pregando alguma peça? Se a diferença entre a nossa experiência do sonho e a experiência da vigília é imperceptível, nunca poderemos ter certeza de que algo que acreditamos ser realmente é – de que aquilo que pensamos ser verdade é de fato a verdade. O francês René Descartes estava na vanguarda da nova ciência que varreu a Europa no século XVII e tinha um plano ambicioso para banir os dogmas batidos do mundo medieval e “assentar as ciências” nas bases mais sólidas.

Para isso ele pretendia fazer com que o ceticismo se voltasse contra os céticos, adotando o mais rigoroso “método da dúvida”. Não satisfeito em tirar a maçã podre (para usar sua própria metáfora), ele esvazia completamente o barril de crenças, descartando qualquer um que estivesse aberto a alguma dúvida, por menor que fosse. Em uma reviravolta final, ele imagina um demônio malvado (evidentemente um ancestral do cérebro de Putnam em uma cuba), cujo único objetivo era enganá-lo, e assim garante que até mesmo as verdades aparentemente autoevidentes da geometria e da matemática já não são certas. Despojado de todas as crenças que poderiam despertar dúvidas, Descartes procura desesperadamente por um ponto de apoio, uma base firme para reconstruir o edifício do conhecimento humano: “Percebi que, enquanto estava tentando pensar em tudo o que é falso, era necessário que eu, que estava pensando isso, fosse algo.

” Assim falou o poeta trágico Sófocles no século V a. C. ecoando uma visão antiquíssima da centralidade da razão e da racionalidade para o entendimento da humanidade a respeito de si mesma e de sua posição no mundo. Os gregos contemporâneos de Sófocles estavam de acordo. Pitágoras, figura sombria do século VI a. O progresso da ciência indicava, de modo geral, que o mundo estava estruturado de forma compreensível e que seus segredos seriam revelados pelo poder do pensamento racional. Uma das maiores figuras do Iluminismo, o filósofo alemão Immanuel Kant, via a nova era como a saída da humanidade de sua infância – um período de imaturidade em que as pessoas careciam de “determinação e coragem para usar [sua razão] sem a orientação de outra”.

“O racionalismo é um monstro horrendo quando reivindica para si a onipotência. Atribuir onipotência à razão é um tipo de idolatria tão ruim quanto a adoração de animais e pedras acreditando que sejam a representação de Deus. Não peço pela supressão da razão, mas pelo devido reconhecimento daquilo que em nós santifica a razão. Na teoria do conhecimento, Kant e Hume estão entre os principais protagonistas desse embate. Em seu Tratado da natureza humana (1739-40), Hume apresenta um relato subjetivista da moralidade. Ele argumenta que você jamais encontrará o vício em um ato supostamente vicioso “até voltar sua reflexão para seu próprio peito e encontrar um sentimento de desaprovação, que surge em você, contra esse ato”. Aqui está uma questão de fato; mas “é o objeto do sentimento, não da razão.

Está em você, não no objeto”. Por isso ele agora sugeria que o pressuposto fosse invertido e que os objetos deveriam se conformar ao nosso conhecimento. Existem certos conceitos ou categorias de pensamento, argumenta ele, tais como substância e nexo de causalidade, que não podemos aprender com o mundo, mas que somos obrigados a usar para entendê-lo. Podemos estar certos de que nossa lógica e nossa matemática, por exemplo, não serão invalidadas à luz da experiência precisamente porque os padrões e as analogias em que se baseiam foram abstraídos de nossa mente e impostos “ao grande florescimento e confusão efervescente” das percepções. E é precisamente essa capacidade de impor ordem e estrutura a esse caos das sensações o que constitui nossos poderes de raciocínio, ou racionalidade.

A atração da matemática Para os racionalistas que acreditavam que a razão é capaz de compreender as verdades que estão além do alcance da percepção sensorial, o campo da matemática sempre teve um fascínio especial. Do ponto de vista filosófico, o problema do castigo está em explicar e justificar o Estado aparentemente descendo ao nível do criminoso com o próprio ato da punição. Ao tratar dessa questão, estudiosos de penologia geralmente seguem duas linhas de argumentação bastante distintas. Alguns enfatizam as consequências benéficas da punição aos malfeitores, como a dissuasão e a proteção da sociedade. Outros argumentam que a punição é boa em si, como forma de retribuição ou como declaração de desaprovação da sociedade, independentemente dos outros benefícios que possa trazer.

Desertos justos Costuma-se dizer que as pessoas devem ter o que merecem: assim como devem se beneficiar pelo bom comportamento, devem igualmente sofrer com o mau comportamento. O apoio da Bíblia para a teoria da retribuição atinge em cheio o cerne do problema que deve resolver: a lex talionis é obra de um “Deus vingativo”, mas, a fim de manter uma base moral elevada, quem retribui deve evitar que a retribuição se transforme em vingança. A ideia de que alguns crimes “clamam” por punição às vezes é “maquilada” com a noção de que a punição expressa o descontentamento ou a indignação da sociedade diante de um determinado ato, mas quando a retribuição é praticamente reduzida ao desejo de vingança raramente parece ser justificativa adequada para a punição.

Um mal necessário A ideia de que a punição no sentido absoluto seja uma coisa boa é negada por aqueles que preferem focar nas consequências sociais. Jeremy Bentham, pioneiro do utilitarismo clássico, não tinha dúvidas de que era algo ruim, e escreveu, perto do fim do século XVIII: “Toda punição é danosa: toda punição em si é má”. Em sua perspectiva, a punição é, quando muito, um mal necessário: ruim porque se acrescenta à soma da infelicidade humana; justificada apenas na medida em que os benefícios que traz superam a infelicidade que causa. Incentivos para que os prisioneiros se comportem bem, como a liberdade condicional, são exemplos desse tipo de pensamento na prática, mas em geral existem sérias dúvidas quanto à capacidade dos sistemas penais – a maioria dos sistemas atuais, pelo menos – de alcançarem resultados favoráveis.

É fácil encontrar furos nas teorias da punição que invocam consequências benéficas específicas – citando casos em que o infrator não representa perigo para o público ou não precisa de reeducação, ou cuja detenção não tem nenhum valor em termos de dissuasão. Os teóricos utilitaristas costumam adotar uma abordagem inclusiva, propondo uma grande variedade de benefícios que podem ser obtidos com a punição, sem sugerir que cada um deles se aplique a todos os casos. Alguns foram ainda mais longe e produziram relatos realmente híbridos, em que também há espaço para algum elemento de retribuição. A pena de morte Os defensores da punição capital argumentam que é correto punir os crimes mais sérios com a pena mais severa.

Ele argumenta que, com o avanço do nosso entendimento científico, a “psicologia popular” – nosso modo de pensar e expressar nossa mentalidade, em termos de crenças, desejos, intenções etc. – perderá importância e será substituída por conceitos exatos e descrições extraídas principalmente da neurociência. Como a maioria dos filósofos e cientistas atuais, o canadense Churchland é materialista (fisicalista). Impressionado com o inegável sucesso da ciência, ele acredita que o mundo e tudo o que há nele, incluindo os seres humanos, é feito de matéria; que o universo é exclusivamente físico e explicável, em princípio, pelo menos, unicamente em termos de processos e leis físicas. Uma das consequências disso é que nada pode ser não físico: não há lugar para o espiritual ou o sobrenatural (inclusive deuses), nem para os fenômenos mentais na medida em que estariam fora do reino físico.

No entanto, a chamada “capacidade de realização múltipla” – o reconhecimento de que um único estado mental pode ser produzido por vários estados físicos diferentes – acabou com tais teorias de identidade ingênuas. Hoje, os materialistas às dependência não vezes apresentam simétrica chamada uma relação de “superveniência”, segundo a qual o mental é superveniente em relação ao físico no sentido de que o primeiro é inteiramente determinado pelo último, ainda que este último possa ocorrer sem o primeiro. Podemos estabelecer um paralelo com as qualidades estéticas dos objetos, determinadas por certas características físicas subjacentes dos objetos, mas que continuam diferentes dessas características. Entretanto, sem uma elucidação maior, parece que a noção de superveniência apenas transfere o problema, em vez de resolvê-lo.

A virada idealista Uma motivação importante por trás do materialismo é a severidade das dificuldades enfrentadas pelo tipo de dualismo mente-corpo proposto por René Descartes, filósofo francês do século XVII. Thomas Nagel, filósofo americano, 1974 “Sem a consciência, o problema mentecorpo seria muito menos interessante. Com a consciência, parece impossível. ” Sobre ser um morcego O persistente incômodo que muitos sentem com as tentativas materialistas de analisar nossa vida mental e nossa consciência em termos puramente físicos foi brilhantemente captado pelo filósofo americano Thomas Nagel em um ensaio de 1974 intitulado “Como é ser um morcego?”. No entanto, por mais que eu me esforce para me colocar na posição de um morcego – ao me imaginar batendo as asas em um lugar escuro, pendurado de cabeça para baixo no sótão, apanhando musgo por meio da ecolocalização etc.

–, jamais consigo ir além “do que seria para mim comportar-me como um morcego. O resultado era uma sensação de liberdade falsa e anárquica que havia se transformado em licenciosidade moral e, especialmente, sexual. “O que é a moralidade em um determinado momento ou lugar? É o que a maioria deseja aí e então; e imoralidade é o que ela não deseja. ” Alfred North Whitehead, 1953 Embora as ideias conservadoras do então futuro papa fossem bastante claras, ele fez um diagnóstico muito preciso do significado social e político de uma forma de pensar que se generalizou particularmente nas democracias liberais ocidentais. Desde a opinião simplista de que “tudo é relativo”, até a conclusão apressada de que “tudo é válido”, nas últimas décadas não têm faltado libertários que adotaram essas expressões como uma espécie de mantra para se opor às forças tradicionais ou reacionárias, tanto na área religiosa quanto nas demais.

A carne de um. Da mesma forma, argumenta o relativista, se nós (como sociedade) aprovamos a pena capital, é moralmente certo (para nós), e não algo a respeito do qual podemos estar errados. E da mesma forma que não tentaríamos convencer as pessoas a gostarem de ostras, nem as criticaríamos por gostarem, no caso moral a persuasão ou a crítica moral seriam impróprias. Discordância moral O problema, é claro, é que nossa vida moral está cheia de argumentos e censuras. Normalmente adotamos posições firmes em relação a temas como a pena de morte, e frequentemente mudamos de ideia com o passar do tempo. O relativista diria que uma coisa é boa para algumas pessoas, mas não para outras, e certa para nós em determinada época, mas não em outra.

Na verdade, a frustração do relativista está no fato de que somente o não relativista pode defender a tolerância e a sensibilidade cultural como verdades universais! Colocando o conhecimento em perspectiva O relativismo radical tropeça rapidamente. A afirmação de que todas as afirmações são relativas é relativa? Bem, tem de ser, para evitar sua própria contradição; mas, se é, significa que minha afirmação de que todas as afirmações são absolutas é verdadeira para mim. E esse tipo de incoerência contamina rapidamente todo o resto, a ponto de o relativista não conseguir, consistentemente e sem hipocrisia, manter a validade de sua própria posição. A natureza autorrefutável do relativismo foi detectada por Platão, que expôs as inconsistências da posição relativista adotada pelo sofista Protágoras no diálogo que leva seu nome.

O ponto crucial é que a discussão racional depende do compartilhamento de alguns pontos comuns; temos de concordar em alguma coisa para podermos nos comunicar significativamente. Seu coração e seus rins são compatíveis com Scottie e Bones, que certamente morrerão antes dele sem o transplante desses órgãos, mas que têm grandes chances de recuperação com o procedimento. Não existem outros doadores compatíveis na Enterprise. Seria certo deixar Kirk morrer – ou talvez apressar sua morte – para salvar Scottie e Bones? Por um lado, parece claro que a morte de Kirk teria um resultado benéfico. Por outro lado, deixar alguém morrer, ou matar essa pessoa, pode parecer errado, por melhores que sejam as consequências. Muitos filósofos foram atraídos pela ideia de que as consequências das nossas ações é que devem ser consideradas quando avaliamos se essas ações estão certas ou erradas (abordagem conhecida como consequencialismo).

“Você se conectaria?”, pergunta Nozick. “O que mais pode ter importância para nós além de como nossa vida é de dentro?” “Muita coisa” é a resposta dele. Apesar da atração evidente, para ele, a maioria das pessoas rejeitaria a oferta. A realidade da vida, sua autenticidade, é importante para nós: queremos fazer certas coisas, e não apenas viver o prazer de fazê-las. Ainda assim, se o prazer fosse a única coisa a afetar nosso bem-estar, se fosse o único elemento da boa vida, é claro que não faríamos essa escolha. Mill, comentando a acusação, era uma doutrina “digna apenas dos suínos”. O próprio Bentham, um igualitário rude, indiferente às arestas mais ásperas de sua teoria, confrontou as críticas diretamente: “Preconceitos à parte”, ele declarou, “um jogo infantil tem o mesmo valor das artes, das ciências, da música ou da poesia”.

Em outras palavras, se um jogo popular era capaz de proporcionar uma grande quantidade de prazer, esse jogo tinha mais valor do que atividades mais refinadas do intelecto. “As ações estão corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas na medida em que tendem a promover o inverso da felicidade. ” J. Também existem diferentes visões sobre como o utilitarismo deve ser aplicado às ações. Segundo o “utilitarismo direto” ou “utilitarismo do ato”, cada ação é avaliada em termos de sua contribuição para a utilidade. Em contrapartida, segundo o “utilitarismo da regra”, o curso apropriado de uma ação é determinado de acordo com vários conjuntos de regras que, se forem seguidas, promoverão a utilidade. Matar uma pessoa inocente, por exemplo, pode contribuir em certas circunstâncias para salvar muitas vidas e assim aumentar a utilidade geral; assim, para o “utilitarismo do ato” esse seria o curso certo de ação.

Entretanto, como regra, matar pessoas inocentes reduz a utilidade, por isso o “utilitarismo da regra” pode sustentar que a mesma ação estava errada, mesmo que possa ter tido consequências benéficas em uma determinada ocasião. E, de repente, lá estava ela, clara como o dia: a existência subitamente se revelara. Perdera o aspecto inofensivo de categoria abstrata, era a própria massa das coisas. a diversidade das coisas, sua individualidade, era apenas uma aparência, um verniz. Esse verniz se dissolvera, deixando massas moles, monstruosas, em desordem – nuas, de uma nudez apavorante e obscena. ” Quase no fim do romance A náusea (1938), de Jean-Paul Sartre, o protagonista, Antoine Roquentin, tem uma horrível epifania ao descobrir finalmente a causa da náusea, do “enjoo adocicado” causado pelo contato com todos e com tudo ao seu redor.

“O homem está condenado a ser livre. pois, tão logo é atirado ao mundo, torna-se responsável por tudo o que faz. ” Jean-Paul Sartre, 1946 Raízes existencialistas O existencialismo sempre foi tanto um estado de espírito ou uma atitude quanto uma filosofia no sentido estrito e sempre se manteve como um feixe mais ou menos solto de ideias e conceitos. O tom emocional que se encontra em seu âmago foi provocado em parte pela percepção da inutilidade da existência humana – seu “absurdo” –, no sentido de que somos empurrados, produtos do acaso sem razão ou propósito, em um mundo indiferente que também está além de qualquer explicação racional. A inquietação existencial estava em perfeita sintonia com o desânimo e a ansiedade que permearam as décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, e por isso é vista como um fenômeno do século XX.

Preocupações semelhantes, aliadas a uma decisiva rejeição de Deus, levaram Friedrich Nietzsche a exaltar o idealizado Übermensch, ou “super-homem”, que se deleita, em vez de temer, com essa liberdade existencial. Heidegger seguiu os passos de Kierkegaard, concentrando-se no fato rico e carregado da existência como a qualidade característica da vida humana (modo de ser que ele chama de Dasein). Não podemos evitar uma preocupação prática com a natureza da nossa própria existência, pois, como disse Heidegger, os seres humanos são os únicos seres para quem ser é um problema. Como Kierkegaard, ele usa o termo Angst para descrever a ansiedade que sentimos quando nos conscientizamos de que somos responsáveis pela estrutura de nossa própria existência. O modo como nos colocamos à altura do desafio dessa responsabilidade determina a forma e a plenitude da nossa vida.

Criamos uma essência para nós mesmos e ao fazer isso também criamos um sentido em nossa vida. É nesse contexto que Sartre introduz a noção de “má-fé” para descrever o modo de existência daqueles que não conseguem reconhecer sua responsabilidade em assumir sua liberdade e criar valor em sua vida moldando a própria essência. Essas pessoas vivem, nas palavras de Heidegger, “sem autenticidade” – passam a vida sem reconhecer ou aceitar o potencial que está disponível para elas e assim subsistem em uma existência despida de propósito e de tudo o que é distintamente humano. A ideia condensada: condenados a ser livres 14 O mal As pessoas ruins fazem coisas ruins, e se as pessoas e as coisas forem muito ruins, podemos usar o termo “mal”.

Também podemos usar outras palavras para descrever esse comportamento: perverso, cruel, corrompido. Em primeiro lugar, existe o conhecido problema de que os vários textos religiosos através dos quais a vontade de Deus se tornou conhecida contêm muitas mensagens conflitantes e/ou desagradáveis. É no mínimo um grande desafio usar os pontos de vista divinos para construir um sistema moral aceitável e internamente coerente. Um segundo problema, lançando dúvidas sobre a natureza da autoridade divina, foi levantado por Platão, cerca de dois mil e quatrocentos anos atrás, no diálogo Eutífron. Suponhamos que o bem e o mal sejam baseados no que Deus considera agradável ou desagradável. O que é mal é mal porque desagrada a Deus, ou não agrada a Deus porque é mal? No primeiro caso, é evidente que as preferências de Deus poderiam ser diferentes – Deus poderia ter gostado de genocídio (digamos), e se gostasse estaria tudo bem com o genocídio; por isso a moralidade é pouco mais do que obediência cega a uma autoridade arbitrária.

C. É evidente que o mundo está cheio de coisas ruins: fome, assassinatos, terremotos, doenças – o futuro de milhões de pessoas arruinado, vidas de jovens tiradas inutilmente, crianças que ficam órfãs e desamparadas, a morte atroz de jovens e velhos. Se você pudesse acabar com tudo isso com um estalar dos dedos, teria de ser um monstro sem coração para não fazer isso. Mas supõe-se que exista um ser que poderia pôr um fim em tudo isso num instante, um ser com poder, conhecimento e excelência moral ilimitados: Deus. Como pode esse mal existir lado a lado com um deus que tem, por definição, a capacidade de acabar com ele? O problema surge como consequência de certas qualidades que aqueles que creem acreditam ser parte da essência de Deus, o qual, para eles, é.

A maior parte do mal que existe no mundo recai sobre os inocentes enquanto os maus continuam ilesos. A defesa do livre-arbítrio A presença do mal no mundo apresenta o desafio mais sério à ideia de que existe um deus poderoso, amoroso, que tudo sabe. Historicamente, o argumento mais influente para enfrentar esse desafio – para mostrar que existem razões suficientes para que um deus moralmente perfeito pudesse permitir a existência do mal – é a chamada “defesa do livre-arbítrio”. Argumenta-se que o livre-arbítrio é uma dádiva divina muito valiosa; nossa liberdade para fazer nossas escolhas permite que vivamos vidas de verdadeiro valor moral, estabelecendo uma profunda relação de amor e confiança com Deus. Mas Deus não poderia nos ter dado essa dádiva sem o risco de que abusássemos dela, usando mal a nossa liberdade para fazer escolhas erradas.

Crédito e culpa parecem não ter lugar em um mundo governado pela mão de ferro do destino. O destino para gregos e romanos Desde o início dos tempos, a ideia de que o destino de um indivíduo já estava determinado no nascimento figurou com destaque no pensamento religioso e popular dos gregos. A palavra grega para destino, moira, referia-se à dádiva mais importante a ser partilhada, o tempo de vida. Ciência: a improvável aliada do destino Diante disso, a ciência moderna pode parecer uma aliada improvável de uma noção antiga e aparentemente primitiva. Na verdade, a regularidade do funcionamento do universo mecânico de Newton sugere uma compreensão determinista de todos os eventos, incluindo aquelas ações e escolhas que normalmente consideramos produtos do livre-arbítrio.

C. foi a primeira autoridade conhecida a representar as Moiras, três velhas que determinavam o destino de uma pessoa no momento do nascimento, tecendo o fio da vida. Cloto (a Fiandeira) segurava o fuso; Laquésis (a Distribuidora) puxava e enrolava o fio tecido; Átropos (a Inflexível) cortava-o com sua tesoura para determinar o momento da morte. As Moiras foram assimiladas pela mitologia romana como as três Parcas (Nona, Décima e Morta), que originalmente eram deusas associadas ao parto. Seu nome alternativo, Fata, derivado de uma palavra latina com o sentido de “falar”, carregava a implicação de que o destino de uma pessoa estava inexoravelmente decretado pelos deuses. A falha dessa abordagem fatalista está no fato de que, se você não fizer nada porque “sua sorte já foi lançada”, estará ignorando a alternativa plausível de que “seu número pode ser sorteado”.

O escritor inglês G. K. Chesterton resumiu esse erro em um ensaio publicado em 1928: “Eu não acredito em um destino que recai sobre os homens independentemente de como agem, mas acredito em um destino que recai sobre eles a menos que ajam”. É nesse sentido que devemos encarar nosso destino, em vez de nos deixar levar para onde quer que soprem os ventos da fortuna. “Destino: autoridade de um tirano para o crime e desculpa do tolo para o fracasso. ” Ambrose Bierce, O dicionário do diabo, 1911 A ideia condensada: a mão de ferro do destino 16 A alma Hoje, como no passado, centenas de milhões de pessoas acreditam que existe uma coisa chamada alma. Cristãos, judeus, muçulmanos, hindus, siques, maoístas, jainistas – para não falar dos antigos egípcios, gregos, romanos, chineses e dezenas de outros povos, vivos e mortos – professam esta crença: almas racionais, cósmicas ou universais, bipartidas ou tripartidas, almas imortais ou almas que se extinguem com o corpo.

Ainda assim, apesar de todo o consenso histórico quanto à mera existência dessa coisa psíquica, há pouca concordância em relação ao que ela realmente é, que tipo de relação tem com o corpo e o que pode ser considerado como evidência de sua existência. A alma, afirma o fundador do baaísmo, é “um sinal de Deus, uma joia celeste cuja realidade nem mesmo os homens mais letrados conseguiram entender, e cujo mistério nem a mente mais perspicaz poderá jamais desvendar”. Por mais que você se esforce, por maior que seja sua introspecção, você só encontrará pensamentos, lembranças, experiências etc. nunca o self ou o “eu” que seria o sujeito desses pensamentos (etc. Talvez seja natural imaginar que exista um self desse tipo, um self que consideremos nossa essência, mas na visão do filósofo escocês David Hume isso é um engano.

Não há nada para encontrar; somos “um feixe ou grupo de percepções diferentes, que se sucedem umas às outras com incrível rapidez”. É como olhar para uma foto e esperar encontrar o ponto de vista do fotógrafo. A imagem da alma imaterial, vivendo no interior do corpo material e puxando as alavancas, foi parodiada pelo filósofo inglês Gilbert Ryle no livro The concept of mind (O conceito da mente, 1949), cunhando a expressão “o dogma do fantasma na máquina”. “Se acreditas em mim, crendo que a alma é imortal e capaz de suportar todos os males, assim como todos os bens, nos manteremos sempre na estrada ascendente e praticaremos a justiça e a sabedoria constantemente e para sempre. ” Platão, A República, séc.

IV a. C. E em um quadro como esse há pouco espaço para a alma. A ideia condensada: um mistério que nenhuma mente pode ter a esperança de desvendar 17 A fé “É pelo coração que percebemos Deus, e não pela razão. Isso é o que a fé é: Deus percebido pelo coração, não pela razão. ” É assim, na obra Pensamentos (1670), que Blaise Pascal – cristão devoto e cientista pioneiro – capta a relação desconcertante entre fé e razão. Para Pascal, o poder da fé não se opõe ao da razão; são diferentes e têm objetivos diferentes: “A fé certamente nos diz o que os sentidos não dizem, mas não o contrário do que eles veem; está acima, não contra eles”.

Com elas alcançamos a divindade. ” John Donne, 1633 “Não falamos da fé que dois e dois são quatro. Falamos de fé somente quando queremos substituir evidências pela emoção. A substituição de evidências pela emoção está fadada a levar ao desentendimento, uma vez que grupos diferentes substituem emoções diferentes. ” Bertrand Russell, 1958 Abraão e Isaque O abismo intransponível entre fé e razão é ilustrado pela história bíblica de Abraão e Isaque. Entre os princípios mais preciosos para o liberalismo secular, defendidos por J. S. Mill e outros, está a liberdade de pensamento e expressão, que fica muito mal acomodada junto à aquiescência acrítica exaltada pelos crentes pios. A devoção incondicional valorizada pelos fideístas pode parecer credulidade e superstição para os que não creem.

A pronta aceitação da autoridade pode fazer com que as pessoas se coloquem sob a influência de seitas e cultos inescrupulosos, que às vezes podem se transformar em fanatismo. A irracionalidade essencial da crença em milagres foi aventada em um famoso argumento proposto por David Hume, filósofo escocês do século XVIII. Essa crença precisa se basear em algum tipo de autoridade, seja ela evidência dos próprios sentidos, seja ela testemunho dado por outra pessoa. Mas, como afirma Hume, “nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que o testemunho seja de um tipo tal que sua falsidade fosse ainda mais miraculosa do que o fato que procura estabelecer. ” Em outras palavras, é sempre mais razoável rejeitar o “grande milagre” (uma violação de uma lei da natureza) e supor que o testemunho é falso (resultado do engano, da ilusão etc.

“A religião cristã não somente foi acompanhada de muitos milagres quando de seu surgimento”, Hume conclui ironicamente, “como até hoje não pode ser objeto de crença de nenhuma pessoa razoável sem um milagre. L. Mencken quando do surgimento do fundamentalismo protestante, não era menos verdadeiro na primeira década do século XXI. Em 1990, o reverendo Pat Robertson, multimilionário televangelista e fundador da Coalizão Cristã, de extrema direita, anunciara: “Temos votos suficientes para governar este país”; ele não estava se vangloriando à toa, e, certamente, nenhum candidato presidencial poderia desconsiderar os direitos religiosos ou ignorar sua agenda profundamente conservadora. Assim, em setembro de 2001, uma superpotência cativa do fundamentalismo cristão entrou em guerra contra as forças elusivas do fundamentalismo muçulmano.

A grande luta “fundamentalista” da é religião aplicado Atualmente, a uma o termo variedade tão disparatada de ideologias e ortodoxias, religiosas e outras, que é difícil identificar suas características definidoras. Os soldados do islã subitamente estavam armados com laptops, além das Kalashnikov, e cafés com internet tornaram-se centros logísticos da jihad anti-Ocidente. “O verdadeiro cientista, por mais apaixonadamente que possa ‘acreditar’. sabe exatamente o que o faria mudar de ideia: evidências! O fundamentalista sabe que nada o fará mudar. ” Richard Dawkins, 2007 O céu ou o inferno na terra Um tema que unifica as diferentes religiões fundamentalistas é a convicção de que existe apenas um conjunto de ensinamentos que contêm a verdade essencial e fundamental sobre Deus (ou deuses) e sua relação com a humanidade.

O texto sagrado é a palavra literal da divindade e não está aberto a interpretações e críticas. Na verdade, pesquisas indicam que a maioria dos suicidas é motivada menos por um dogma religioso e mais por problemas políticos, econômicos e sociais; por isso, em termos de fanatismo puramente religioso, os fundamentalistas americanos podem às vezes estar com a vantagem. De mãos dadas com o conservadorismo religioso está o conservadorismo moral e social, e a maioria dos direitos civis e políticos conquistados a duras penas no Ocidente nos últimos três séculos são categoricamente rejeitados por fundamentalistas de todos os matizes. A crença na autoridade absoluta das escrituras implica o total dogmatismo doutrinário; por isso, na perspectiva de um fundamentalista, visões e opiniões diferentes das suas estão simplesmente erradas; noções caras ao liberalismo ocidental, como pluralismo e tolerância cultural e religiosa, são anátemas.

A liberdade de expressão, a igualdade de gênero, os direitos dos gays e ao aborto – são firmemente condenados. A profundidade dessas convicções foi amplamente demonstrada pelo fundamentalista e fundador da Moral Majority, Jerry Falwell, cuja resposta imediata após os ataques do 11 de Setembro foi colocar a culpa “nos pagãos, nos defensores do aborto, nas feministas, gays e lésbicas. Nunca sei se devo dizer ‘agnóstico’ ou se devo dizer ‘ateu’. Como filósofo, se estivesse falando para um público puramente filosófico, devo dizer que deveria me descrever como agnóstico, pois não acredito que exista um argumento conclusivo com o qual se possa provar que Deus não existe. Por outro lado, para transmitir a impressão correta ao homem comum da rua, acredito que deveria dizer que sou ateu, porque, quando digo que não posso provar que não existe Deus, deveria igualmente acrescentar que não posso provar que não existem os deuses homéricos.

” O tipo de incerteza que Bertrand Russell expressou em 1947 pouco se dissipou desde então. Em termos de uso popular, as coisas mudaram um pouco, mas não se pode dizer que tenham ido no sentido da maior clareza ou precisão. O que deveríamos fazer? Podemos acreditar em Deus ou não. Se decidirmos acreditar e estivermos certos (isto é, Deus existe), alcançaremos a felicidade eterna; e, se estivermos errados, perdemos pouca coisa. Por outro lado, se decidirmos não acreditar e estivermos certos (isto é, Deus não existe), não perdemos nada, mas também não ganhamos muita coisa; mas, se estivermos errados, nossa perda é gigantesca – na melhor das hipóteses, perdemos a felicidade eterna; na pior, sofreremos a danação eterna. Muito a ganhar, pouco a perder: você seria um tolo se não apostasse na existência de Deus.

Esse engenhoso argumento para acreditar em Deus, conhecido como a aposta de Pascal, foi apresentado pelo filósofo e matemático francês Blaise Pascal em sua obra Pensamentos, de 1670: engenhoso, talvez, mas falho. Origens do ateísmo e do agnosticismo Embora a palavra “ateísmo” tenha sido registrada em inglês apenas no século XVI, as ideias filosóficas que seriam descritas atualmente como ateístas estavam em circulação desde a Antiguidade. Na Grécia do século V a. C. muitos dos interlocutores de Sócrates nos diálogos de Platão expressam visões críticas em relação à ortodoxia religiosa, enquanto o próprio Sócrates foi executado no ano de 399 a. C. ” “Meu ateísmo. é verdadeira piedade para com o universo e nega apenas os deuses criados pelos homens à sua imagem para serem servos de seus interesses humanos.

” George Santayana, 1922 Para os ateus empíricos ou fracos, “fraco” não significa “menos apaixonado”. Apesar de aceitarem que poderia, pelo menos em princípio, haver evidências que mudariam sua forma de pensar, afirmam que todas as evidências disponíveis estão firmemente empilhadas contra a suposição de que existem deuses. Por um lado, não existe mais nenhuma necessidade de um “deus das lacunas”, pois o avanço da ciência, desde a geo logia e a mecânica newtonianas até a evolução darwinista, preenchendo completou sistematicamente as nossa compreensão, lacunas do nosso conhecimento a respeito do mundo que nos cerca, para o qual havia antes uma explicação divina. O muro da separação A Primeira Emenda da Constituição Americana, adotada juntamente com o restante da Declaração de Direitos de 1791, afirma que “o Congresso não deverá fazer nenhuma lei com respeito ao estabelecimento de religião ou proibir seu livre exercício”.

Ao proibir o Estado de declarar uma religião oficial e garantir a liberdade de expressão religiosa, os Pais Fundadores dos Estados Unidos lançaram as bases do “muro de separação” (na frase de Thomas Jefferson) que divide as esferas da fé e da política. Essas dezesseis palavras (em inglês) da Emenda foram submetidas a duzentos anos de detalhada interpretação pela Suprema Corte, e até hoje grupos interessados discutem acaloradamente seu significado preciso. Ainda assim, concorda-se, minimamente, em que a disposição evita que Estado e religião interfiram um no outro e garante que os indivíduos sejam livres para escolher e praticar qualquer religião, ou nenhuma. “O despotismo pode governar sem fé, mas a liberdade, não. A autoimagem europeia é baseada em uma narrativa semimítica de secularização que teve suas origens no Renascimento, quando o homem usurpou o lugar de Deus no centro do palco do interesse humano e quando explicações científicas do lugar do homem no mundo começaram a substituir as narrativas de inspiração teológica.

Esse processo culminou em uma crise, segundo a história habitual, com as guerras religiosas que atingiram o auge sangrento no século XVII. Nessa desencadeadas época, pela as paixões Reforma sectárias Protestante, destrutivas, acabaram se acalmando com a transformação secular inspirada por pensadores iluministas, como Hobbes e Locke, e varridas pela onda do progresso científico. Os efeitos cumulativos desses processos foram que a teologia política baseada na revelação divina acabou substituída pela filosofia política baseada na razão humana; a religião foi transferida para sua esfera privada e protegida enquanto se criava uma esfera pública liberal e aberta, na qual prevaleceram a liberdade de expressão e a tolerância das diferenças. Além disso, foi nessa rica compostagem secular que a democracia floresceu e se desenvolveu.

Não existe indicação mais clara da natureza equivocada do secularismo europeu do que o fato de os Bálcãs terem sido devastados por guerras de motivação étnica e religiosa na última década do século XX. Não falamos de Deus A experiência contrastante entre a Inglaterra e os Estados Unidos sugere que o secularismo pode ser o meio mais eficaz de promover a religião. Em uma entrevista para o programa de Alastair Campbell em 2003, o primeiro-ministro britânico Tony Blair disparou contra um jornalista que perguntara sobre suas crenças religiosas: “Não falamos de Deus”. Demonstrações públicas de religiosidade são identificadas com a perda de votos no Reino Unido – apesar de o país ter uma Igreja estabelecida (a Igreja da Inglaterra) e de seu monarca ser não apenas o chefe do Estado, mas também o “Defensor da Fé”.

Em contrapartida, nos Estados Unidos, onde a Constituição impõe a estrita secularidade, os políticos são virtualmente obrigados a usar a “carta religiosa”, e o fato de que nenhum candidato ateu jamais poderia se eleger presidente configura uma platitude política. anos de diferença Atualmente, o termo “criacionista” geralmente é usado em um sentido bastante restrito, referindo-se principalmente aos fundamentalistas evangélicos protestantes dos Estados Unidos. Essas pessoas acreditam que a Bíblia foi inspirada diretamente pela palavra de Deus e por isso deve ser interpretada literalmente como a verdade do Evangelho. Controvertidamente, acreditam que os primeiros capítulos do Gênesis oferecem narrativas corretas e exatas da criação do mundo e de todas as plantas e animais que o habitam (surpreendentemente, a Bíblia contém duas narrativas diferentes), processo que supostamente teria sido concluído em seis dias em um determinado momento nos últimos dez mil anos.

O ano de 4004 a. C. O Julgamento do Macaco (Monkey Trial) Um divisor de águas na história do criacionismo ocorreu em 1925, em Dayton, Tennessee, onde o político antievolucionista William Jennings Bryan procurou “retirar o darwinismo das nossas escolas”, liderando a acusação contra John Scopes, um jovem professor de biologia que ousara ensinar a “hipótese não testada” da evolução, violando uma proibição do estado do Tennessee. Infelizmente para Bryan, no que logo depois ficaria conhecido como o Julgamento do Macaco, ele enfrentou um adversário formidável, o advogado de defesa Clarence Darrow. No clímax farsesco, Darrow forçou Bryan a testemunhar como perito em teoria evolucionista. A única prova de Bryan era sua compreensão deficiente da teoria; por fim, ele foi obrigado a reconhecer que não refletia sobre as coisas que não pensava, ao que Darrow perguntou causticamente: “E o senhor reflete sobre as coisas que realmente pensa?”.

O resultado foi decididamente uma vitória de Pirro para os antievolucionistas: Scopes foi condenado, mas absolvido na apelação. ” William Jennings Bryan, 1924 Relojoeiros preparados De acordo com a determinação da Constituição americana de separação entre o Estado e a religião, uma série de decisões judiciais continuou a frustrar os esforços dos cientistas criacionistas para redefinir o que contava como ciência e assim introduzir suas teorias nas escolas públicas americanas. Uma nova estratégia foi adotada nos últimos anos do século XX. Negando qualquer ligação com o criacionismo (taticamente, na opinião dos adversários) e, por isso, com a religião, uma nova geração de teóricos do desígnio inteligente (DI) começou a apresentar o que era na essência uma versão ressuscitada do argumento do desígnio – argumento que remonta a Tomás de Aquino e que foi memoravelmente exposto pelo filósofo inglês William Paley no início do século XIX.

Se encontrássemos um relógio em um terreno vazio, argumentou Paley, concluiríamos que, pela complexidade e pela precisão de sua construção, só poderia ter sido feito por um relojoeiro; da mesma forma, ao observarmos as maravilhas da natureza, devemos concluir que elas também têm um criador – Deus. Na nova encarnação do DI, a expressão em voga é “complexidade irredutível”: a ideia de que certas características funcionais dos sistemas vivos são organizadas de formas que não podem ser explicadas pelos mecanismos evolutivos comuns. E frequentemente essas disputas estarão além da resolução por outros meios, pacíficos, e conflitos violentos serão a consequência inevitável. Mas nem todas as disputas são igualmente ruins, nem a violência é sempre usada para encerrá-las.

O debate sobre a moralidade da guerra, uma questão tão presente atualmente quanto sempre foi, tem uma longa história. No século V a. C. O motivo pode ser tão persuasivo, a causa tão importante, que o recurso às armas é moralmente justificado. Nessas circunstâncias especiais, a guerra pode ser o menor de dois males: a guerra pode ser a guerra justa. As bênçãos da guerra Nos tempos modernos, não menos do que na história antiga, a guerra não carece de entusiastas. Em 1911, três anos antes do início da “guerra para acabar com todas as guerras”, o historiador militar prussiano Friedrich von Bernhardi escreveu entusiasticamente sobre a “inevitabilidade, o idealismo e a bênção da guerra”. Em um ensaio escrito no início do mesmo conflito, o poeta e crítico inglês Edmund Gosse exaltou a guerra como “o soberano desinfetante” cujo “jorro vermelho de sangue.

Jus ad bellum De modo geral, é preciso que sejam atendidas algumas condições que justifiquem a decisão de iniciar uma guerra. A mais importante delas, a causa justa, é também a mais controvertida. Antigamente, ela se apresentava na forma de uma causa religiosa, que hoje seria desconsiderada (pelo menos no Ocidente secular) como motivação ideológica. Os teóricos modernos tendem a limitar o escopo da causa justa à defesa contra a agressão. Menos controversa, incluiria a autodefesa contra a violação dos direitos básicos de um país – sua soberania política e sua integridade territorial (por exemplo, a guerra do Kuwait contra o Iraque em 1990-91); e a maioria das pessoas a ampliaria de forma a cobrir a ajuda dada a terceiros que estivessem sofrendo essa agressão (isto é, as forças de coalizão que ajudaram o Kuwait em 1991).

Deve haver um equilíbrio entre o resultado desejado e as consequências prováveis para chegar lá: o bem esperado, em termos de corrigir o mal que constitui a causa justa, deve ser avaliado em relação aos danos previstos, em termos de vítimas, sofrimento humano etc. “Subjugar o inimigo sem lutar é a excelência suprema”, segundo o general chinês Sun Tzu, o primeiro grande teórico militar do mundo. A ação militar deve ser sempre o último recurso e só se justifica se todas as outras opções pacíficas fracassarem. Como afirmou o político britânico Tony Benn, em certo sentido “toda guerra representa um fracasso da diplomacia”. Jus in bello O outro aspecto da teoria da guerra justa, jus in bello, procura definir o que é considerado moralmente aceitável e conduta apropriada uma vez iniciado o conflito.

O que você faria se estivesse em uma situação tão medonha? Em termos gerais, teóricos morais costumam adotar duas visões diferentes diante desses dilemas. Alguns acham que deveríamos olhar para os resultados prováveis de cada uma dessas ações: se você concordar, dois membros da Resistência morrerão; se não, dez crianças morrerão. As consequências da sua ação são o que realmente importa, por isso a coisa certa a fazer é obedecer o oficial. Outros acham que o fato de você atirar é que é relevante: você tem um dever – uma exigência moral – de não matar ninguém, por isso deve se recusar, por piores que sejam as consequências. Na vida real, as coisas raramente são tão simples ou difíceis assim.

Cumpra seu dever em todas as coisas. Você não pode fazer mais. Você jamais deveria querer fazer menos. ” Robert E. Lee (atribuído), séc. Suponhamos que você ache que é um direito moral absoluto não matar, mesmo que isso leve à morte de mais pessoas. Nesse caso você tem o dever de explicar por que é tão importante, moralmente, que seja você ou não quem está matando. Afirma-se com frequência que é pior agir de forma a causar a morte de pessoas do que permitir que morram em decorrência da sua inação. Mas a decisão de não agir é uma decisão tanto quanto a decisão de agir; por isso está longe de ficar claro que “não fazer nada” é, no sentido moral, equivalente a “não fazer nada errado”.

Permitir que seus filhos morram de fome pode ser moralmente tão censurável quanto afogá-los na banheira. “O dever não pode existir sem a fé. ” Benjamin Disraeli, 1847 A ideia condensada: não farás. aconteça o que acontecer? 24 Utopia O filósofo austríaco Karl Popper disse: “Aqueles que nos prometem o paraíso na terra jamais produziram outra coisa além do inferno”. Desde a época de Platão, pelo menos, não faltaram visionários, místicos e loucos que evocaram admiráveis mundos novos, que estimularam a esperança e revelaram uma insensatez em medidas mais ou menos iguais. A maior parte desses paraísos terrestres nunca teve muitas perspectivas de existir a não ser na mente de seus criadores, mas os poucos que se concretizaram tenderam a confirmar a confiança de Popper na capacidade da humanidade de transformar sonhos em pesadelos.

Como More, eles acham que o remédio é a eliminação das diferenças e a implementação de algum tipo de sistema igualitário, comunista. Ensaio para um futuro melhor Os ideais utópicos não estão muito em voga entre os filósofos atuais. Uma das críticas feitas às utopias, inclusive literárias, é que são estáticas e sem vida. Diferentemente do mundo real (e ao contrário de suas parentes sombrias, as distopias), faltam-lhes a paixão e o drama dos conflitos; com frequência, são estruturas mortas sonhadas por políticos e economistas. Em resumo, as utopias oferecem o tédio da perfeição – mundos sem as falhas e fraquezas que geram o interesse humano. Embora o tom fosse de maneira geral otimista, e a panaceia habitual fosse o socialismo, inúmeras perspectivas se expressavam.

Em uma das pontas do espectro, o romance Looking backward (1888), de Edward Bellamy, com um herói que acorda no ano 2000 e descobre um mundo sem classes e igualitário, mas altamente industrializado e burocrático. Horrorizado com a visão tecnocrática de Bellamy, o socialista inglês William Morris providenciou um antídoto com seu News from nowhere (1890), que oferece um idílio pastoral em que a sujeira industrial foi eliminada de uma terra onde homens e mulheres são livres e iguais. Os sinais de ansiedade com o insensível avanço da ciência, que começa a aparecer na obra de Morris, intensificaram-se nas primeiras décadas do século XX. Enquanto os vitorianos se mostravam esperançosos e imaginavam utopias igualitárias e inclusivas, os eduardianos eram temerosos e imaginavam utopias elitistas e exclusivas.

“A mente humana é suficientemente inspirada quando se trata de inventar horrores; é quando tenta inventar um céu que se revela grosseira. ” Evelyn Waugh, 1942 “O problema com os reinos do céu na terra é que são suscetíveis de vir a acabar, e então sua fraude fica evidente para todos. ” A horrível verdade das palavras do jornalista britânico Malcolm Muggeridge ficaram evidentes nas décadas que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. O horror da eugenia e do planejamento social foi testemunhado pelo pesadelo teutônico da Alemanha nazista, monstruosidade bucólica de tranças louras e botas de cano alto; e a utopia comunista de Marx e Engels acabou nos gulags da Rússia stalinista e na Revolução Cultural de Mao na China. Um legado positivo dessas perversões totalitárias foram os dois grandes clássicos distópicos do século XX.

Como podem duas ideologias, hoje consideradas (principalmente nos Estados Unidos) polos opostos, ser mencionadas num único fôlego por um homem reverenciado como um semideus pela direita conservadora? A solução para esse enigma reside principalmente na curiosa história do liberalismo. O liberalismo, tanto em sua encarnação clássica quanto na moderna, se concentrou consistentemente em uma única, ainda que complexa, ideia: a importância dos indivíduos como agentes racionais e na defesa de sua liberdade ou liberdades contra os abusos do poder. Mas, para alcançar esse objetivo, os liberais realizaram uma dramática inversão na escolha dos meios. Inicialmente, as dúvidas do “À medida que a humanidade se torna mais liberal, estará mais apta a permitir que todos aqueles que se conduzem como membros dignos da comunidade estejam igualmente habilitados a receber a proteção do governo civil.

” George Washington, 1790 liberalismo quanto à capacidade do Estado de usar seus poderes responsavelmente levou a um chamamento para que o escopo do governo fosse estritamente limitado, principalmente na área do comércio. Os conservadores acreditavam que as pessoas eram basicamente fracas e egoístas, e o objetivo da vida era manter a ordem social e a estabilidade; para os liberais, as pessoas eram basicamente boas e racionais, e o objetivo da vida era ampliar a felicidade humana. Graças à visão essencialmente otimista do liberalismo em relação à natureza humana, seus proponentes eram socialmente progressistas e entusiastas da reforma social e de melhorias. O contraste foi memoravelmente sintetizado pelo maior primeiro-ministro liberal da Inglaterra vitoriana, William Gladstone: “O liberalismo é a confiança das pessoas motivadas pela prudência. O conservadorismo é a desconfiança das pessoas motivadas pelo medo”.

A insistência em limitar o papel do Estado e da fé na racionalidade do indivíduo produziu uma das características mais marcantes do liberalismo clássico: sua associação com o capitalismo e o livre comércio. Entre as mais notáveis conquistas do novo pensamento liberal estão o bem-estar amplo e a segurança social, iniciativas introduzidas pelo New Deal de Franklin Roosevelt na década de 1930. “O liberalismo é a suprema forma da generosidade; é o direito que a maioria concede às minorias e, portanto, é o grito mais nobre que já ecoou neste planeta. ” José Ortega y Gasset, 1930 A nova abordagem neoliberal prosperou nas décadas de crescimento e prosperidade sem precedentes pós-Segunda Guerra Mundial. Mas a partir da década de 1970 a confiança no progresso contínuo esmoreceu e depois caiu com a estagnação econômica, inflação alta e crescimento da dívida nacional.

Na esteira desses problemas econômicos, a “Nova Direita” chegou ao poder tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, onde Ronald Reagan e Margaret Thatcher (às vezes chamados de neoliberais) abraçaram – pelo menos na teoria, ainda que nem sempre na prática) – dogmas importantes do liberalismo clássico: contração do Estado e livre comércio. A antiga Alemanha Oriental, por exemplo – Estado repressivo e autoritário de partido único –, era oficialmente conhecida como República Democrática Alemã. Mesmo descontando falsidades desse tipo, o processo de democratização ocorrido em todo o mundo no último século é impressionante. Estimativas amplas feitas por inúmeros observadores independentes concordam em dizer que no ano 2000 praticamente metade da população mundial convivia com instituições políticas que garantiam historicamente elevados de governos democráticos.

níveis A rápida expansão da democracia no século XX é explicada em parte pelo espetacular fracasso das alternativas. Em um pronunciamento feito na Câmara dos Comuns, em 1947, logo após a completa derrota do fascismo, Winston Churchill observou que “a democracia é a pior forma de governo com exceção de todas as outras formas que são tentadas de tempos em tempos”. “Democracia significa apenas o espancamento do povo pelo povo e para o povo. ” A Grécia e a democracia direta A crítica feroz ao governo democrático remonta à sua infância em Atenas, cidadeEstado grega tida como “o berço da democracia”. A palavra em si é derivada do grego e significa “governo do povo”. O sistema de governo popular posto em prática progressivamente pelo povo ateniense foi talvez a forma de democracia direta mais pura já realizada.

No centro do sistema introduzido por Clístenes em 507 a. calamidade que influenciou a visão compartilhada de que a democracia era cronicamente indisciplinada, corrupta e instável. “A democracia é uma forma de governo fascinante”, comentou Platão, acidamente, “repleta de variedade e desordem e que dispensa igualdade aos iguais e desiguais do mesmo modo. ” Segundo a classificação dos estatutos políticos feita por Aristóteles, democracia é uma forma corrupta ou pervertida de “política”, configuração ideal em que muitos governam em busca do bem comum. Mas em uma democracia aqueles que detêm o controle − o estrato mais baixo da sociedade – governam por interesse próprio e por isso podem se apropriar da riqueza e da propriedade dos cidadãos em melhores condições. Alguns são mais iguais do que outros.

Aperfeiçoada ao longo dos anos, essa teoria – a “grande descoberta dos tempos modernos”, segundo James Mill, pai de J. S. Mill – estipulou uma série de mecanismos políticos, que incluíam eleições regulares e disputa entre partidos e candidatos, para garantir que os governantes continuassem a prestar contas aos governados, e, portanto, estes últimos continuavam detendo a autoridade máxima e o controle sobre o processo político. O mais tirânico de todos os governos Mesmo entre os teóricos modernos mais esclarecidos, a grande preocupação era que o governo da maioria fizesse com que os direitos das minorias fossem pisoteados. Em 1787, John Adams, futuro segundo presidente dos Estados Unidos, revelou a profunda preocupação dos Pais Fundadores ante a perspectiva de todas as divisões do governo ficarem sob o controle da maioria: “Primeiro seriam abolidas as dívidas; impostos pesariam sobre os ricos, e não sobre os outros; e, finalmente, uma divisão absolutamente igual de tudo seria exigida e votada”.

Disposição para preservar A crítica mais comum ao conservadorismo talvez seja a de ele ser meramente reacionário: preso a um passado idealizado e relutante a se adaptar às necessidades presentes e passadas. O moralista vitoriano Matthew Arnold, por exemplo, reclamou que “o princípio do conservadorismo. destrói o que ama, porque não o consertará”. É verdade que alguns conservadores não fizeram muita coisa para se defender, expondo-se ao ridículo ao se permitirem lampejos de devaneios nostálgicos. Um exemplo recente foi dado pelo primeiro- ministro conservador John Major, que em 1993 fez um discurso laudatório à Inglaterra como a terra “da cerveja quente, dos subúrbios verdes invencíveis, dos apaixonados por cães e. Chesterton, com um leve tom de zombaria, é “a democracia dos mortos”, que consiste em “dar votos para a mais obscura de todas as classes, nossos ancestrais”.

Mas, para os tradicionalistas conservadores, “ser desqualificado pelo acidente da morte” não é nenhuma desqualificação. Burke enxerga a acumulada sabedoria da tradição, interpretada amplamente, de forma a incluir a soma dos costumes e práticas que formam nossa cultura como uma confiança a ser reverentemente transmitida de uma geração a outra. Ele concorda, como Hobbes e Rousseau, em que a sociedade é um contrato, mas em sua visão o acordo é honrado não através do medo do poder absoluto do Estado, mas porque é em essência uma harmoniosa “parceria não apenas entre aqueles que estão vivendo, mas entre aqueles que estão vivendo, entre aqueles que estão mortos e entre aqueles que ainda vão nascer”. O progresso constante da sociedade é guiado por essa sabedoria coletiva, que inevitavelmente supera a inteligência de qualquer indivíduo e que invariavelmente sugere a contenção no que diz respeito às mudanças sociais.

As políticas do Estado mínimo e do governo limitado defendidas por gerações de conservadores partem da convicção de que os indivíduos e as instituições locais, autônomas, estão em melhores condições de tomar decisões em seu próprio interesse. Segundo essa visão, a tarefa do governo central – servo do povo, e não seu senhor – é simplesmente fornecer a estrutura jurídica e de segurança que dá aos corpos locais e individuais liberdade e espaço para fazer escolhas por si mesmos. “O ideal conservador de liberdade e progresso: todos têm uma oportunidade ilimitada de permanecerem exatamente onde estão. ” Geoffrey Madan (1895-1947) Um camaleão político Como o conservadorismo é uma posição essencialmente reativa, suas políticas são inevitavelmente determinadas, até certo ponto, pelo que está provocando a reação.

Por essa razão, as ideias associadas ao conservadorismo têm variado enormemente ao longo do tempo. Dada a importância duradoura do Império Romano, parece apropriado que os termos “império” e “imperialismo” sejam derivados de uma palavra latina – imperium. O significado mais básico de imperium é “poder de mandar” e pode se referir tanto à autoridade de um magistrado civil quanto à de um comandante militar. Isso também é apropriado, pois a essência do imperialismo em todas as suas formas é o poder: poder exercido em uma relação desigual, na qual um Estado exerce controle ou influência, direta ou indiretamente, sobre outro. Repetidamente, a história mostrou que os povos que desfrutam de algum tipo de superioridade, especialmente a militar, em relação aos seus vizinhos procuram explorá-la para promover seus próprios interesses.

E, para piorar, essa superioridade física geralmente é projetada através das lentes da “alteridade” racial e cultural, a fim de produzir uma sensação de superioridade moral que possa servir para justificar a mais vergonhosa brutalidade e exploração. somos os gregos neste império americano. devemos executar [as coisas] como os escravos executavam as operações do imperador Cláudio”. Nos primeiros anos do século XXI, o significado pleno dessas palavras e a “relação especial” altamente assimétrica que pressagiaram tornaram-se evidentes para os mandarins britânicos e, acima de tudo, para o “poodle” de Bush, o primeiro-ministro Tony Blair. Pode não ser surpresa saber que líderes fascistas como Hitler e Mussolini trombetearam triunfantemente as glórias do engrandecimento imperialista. Para eles, a dominação imperial fazia parte da ordem natural: os fortes deveriam prevalecer sobre os fracos.

Durante todo esse período, o tom adotado pelos imperialistas foi magnificamente incontrito, absolutamente ateniense, exceto na falta de franqueza. Em 1899, lorde Rosebery, ex-primeiro-ministro britânico e defensor do chamado “imperialismo liberal”, declarou que a atividade colonial era uma extensão natural do nacionalismo popular: “O imperialismo sensato”, ele disse, “diferente do que eu chamaria de imperialismo selvagem, não é nada além disso – um patriotismo mais amplo”. Em um artigo na Contemporary Review desse mesmo ano, J. L. Walton captou precisamente o triunfalismo inadequado da época: “O imperialista sente orgulho profundo da magnífica herança do império conquistado com a coragem e a energia de seus ancestrais e legada a ele com o peso de muitos depósitos sagrados”. S. Mill. “Toma o fardo do homem branco – Envia teus melhores filhos – Vai, condena teus filhos ao exílio Para servirem aos seus cativos; Para esperar, com arreios, Com agitadores e selváticos – Seus cativos, servos obstinados, Metade demônio, metade criança.

” Rudyard Kipling, O fardo do homem branco, 1899 A ideia condensada: escravizar ou libertar? 29 Nacionalismo “Nosso país! No trato com as nações estrangeiras, que esteja sempre do lado certo; mas, certo ou errado, é nosso país!” Esse famoso brinde teria sido feito em um banquete, em 1816, pelo herói da Marinha americana Stephen Decatur. Geralmente abreviada (com algumas distorções) para “Nosso país, certo ou errado!”, a frase é usada até hoje, geralmente sem a menor consideração por suas implicações. O engenho de uma nação Embora o patriotismo possa significar apenas o amor pelo país e a preocupação com seu bem-estar geral, o nacionalismo é mais focado, geralmente combinando o sentimento patriótico com algum tipo de programa político ativo. Geralmente, o objetivo central desse programa é a conquista da autoridade de Estado, o que significa independência e soberania para uma comunidade cujos membros atendem a certos critérios por força dos quais constituem uma “nação”.

Uma vez formado esse Estado autônomo, os objetivos secundários são promover e perpetuar seu bem-estar e defender aquelas qualidades e características que formam sua identidade e senso de nacionalidade. Os nacionalistas afirmam que o Estado formado nessas condições – o Estado-nação – pode exigir a lealdade de seus membros acima de todas as outras lealdades e que seus interesses têm precedência sobre todos os outros interesses. “O patriotismo é um vívido sentido de responsabilidade coletiva. Um fenômeno moderno Segundo a concepção nacionalista, o mundo é uma colcha de retalhos formada por comunidades únicas, cada uma delas constituída de uma complexa rede de fatores históricos, culturais e outros. As duas faces do nacionalismo Desde o início do seu desenvolvimento, o nacionalismo seguiu duas direções bem diferentes: uma liberal e progressista e outra autoritária e saudosista.

Essa separação ajuda a explicar o feio papel do extremismo alimentado pelo nacionalismo no século XX. Os Pais Fundadores dos Estados Unidos eram profundamente patriotas, mas seu sentimento nacionalista era essencialmente liberal e prospectivo, baseado na razão e universal em termos de perspectiva; eles se viam abrindo uma trilha para a humanidade como um todo em sua marcha para conquistar mais liberdade e igualdade. A visão da nova nação americana inspirou diretamente, alguns anos depois, o nacionalismo dos revolucionários franceses, que expressaram suas aspirações universais no famoso lema: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Uma parte importante do folclore nacionalista é a ideia de que a nação acalentada é muito antiga, com raízes culturais e históricas que remontam a um passado imemorial. Mas o consenso dos estudos recentes revela que esse quadro é enganador – que os Estados-nações são em muitos aspectos construções modernas e que a ideia de continuidade desde a Antiguidade é basicamente um produto do “nacionalismo retrospectivo”.

Isso não quer dizer que ao longo da história os povos não tenham se apegado à terra onde nasceram e aos costumes e tradições transmitidos por seus ancestrais. Mas os padrões de lealdade do mundo pré-moderno eram essencialmente diferentes. A lealdade primordial não era ao Estado como tal, mas a um monarca com sanção divina; e abaixo do monarca havia uma complexa hierarquia de lealdades localizadas devidas aos senhores feudais ou às elites da aristocracia. “E pluribus unum. ‘De muitos, um’. ” Lema do brasão dos Estados Unidos linha do tempo Inicialmente uma visão minoritária, o que Kallen chamou de “pluralismo cultural” conquistou apoio no decorrer do século, e na década de 1960 sua abordagem já havia se firmado como a posição ortodoxa nos Estados Unidos.

A imagem do caldeirão cultural foi aos poucos substituída por outras metáforas, como mosaico ou (humoristicamente) tigela de salada, em que o efeito geral é obtido pelas partes ou ingredientes que mantêm seu aspecto, ou sabor, original. O debate sobre o alcance e a conveniência do pluralismo cultural – ou “multiculturalismo” −, como costuma ser chamado atualmente, desde então se transformou em uma das questões mais prementes do nosso tempo. Uma crítica frequente ao modelo francês é que ele pressupõe que a etnicidade e a cultura são aspectos contingentes e destacáveis da identidade de uma pessoa ou grupo, e que conceitos políticos como cidadania podem de alguma maneira permanecer neutros em questões de cor ou cultura. Alguns afirmam que esse domínio político neutro é um mito, e que na verdade estão exigindo que os imigrantes sufoquem sua própria cultura e que se sujeitem aos valores dominantes da nação onde se encontram.

Essa crítica ganhou força com a discórdia social profunda e persistente entre as minorias étnicas na França e com a retórica da direita política francesa (repetida pelo expresidente Nicolas Sarkozy), que costuma dizer aos imigrantes “que amem a França ou que a deixem”. “Quando você vive na França, respeita as regras. Você não tem várias esposas, não faz circuncisão nas suas filhas e não usa sua banheira para matar ovelhas. Você pensa no lugar de onde veio ou no lugar em que está agora?”. O chamado teste Tebbit, muito criticado na época, certamente é falho: a grande maioria dos escoceses, por exemplo, não seriam considerados britânicos. Mas os comentários de Tebbit evidentemente mexeram com muita gente da população branca.

É fácil descartar o medo de que o teste soasse racista, mas a verdade é que ele continua tão presente hoje quanto sempre esteve. Pesquisas posteriores mostraram que a grande maioria de negros e asiáticos que vivem na Grã-Bretanha – alguns imigrantes; outros nascidos no país – considera-se britânica. e da O Leviatã de Hobbes O consentimento racional com um contrato deve envolver uma reflexão sobre como ficariam as coisas se os termos do contrato não estivessem em vigor. Da mesma forma, é uma característica comum das teorias do contrato social começar com uma evocação do “estado de natureza”: uma hipotética pré-condição social da humanidade em que as leis e os limites impostos pelo Estado estão ausentes. O estado de natureza imaginado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes é permanentemente sombrio e pessimista.

A principal motivação das pessoas, ele presume, é “um perpétuo e incansável desejo de poder após poder, que cessa apenas na morte”. Agindo isoladamente, os seres humanos estão preocupados apenas com seu próprio prazer, interesse e preservação. A solução, portanto, é a submissão conjunta à autoridade absoluta do Estado (que Hobbes chama de “Leviatã”) – “um poder comum para manter a todos em respeito”. John Rawls e a justiça como equidade Notável entre os teóricos modernos do contrato social, o filósofo político americano John Rawls é autor de Uma teoria da justiça (1971), considerada a contribuição de maior influência ao debate sobre justiça e igualdade da segunda metade do século XX. Qualquer concepção de justiça social, argumenta Rawls, compreende a noção de imparcialidade.

A menor tendência de os princípios e as estruturas em que se baseia um sistema social penderem para um determinado grupo (uma classe social, por exemplo, ou um partido político) automaticamente torna esse sistema injusto. Então, como os encargos e os benefícios de uma sociedade devem ser distribuídos entre seus membros de tal forma que sejam justos? Para apreender a ideia de imparcialidade, Rawls introduz um experimento mental que é basicamente uma reformulação do estado de natureza. Essa ideia gerou muitas críticas, positivas e negativas, e tem sido invocada por posições ideológicas de todo o espectro político, algumas das quais distantes da posição essencialmente igualitária, mais à esquerda, de Rawls. Para pegar um exemplo extremo, o princípio não exclui uma herança inesperada para aqueles que já desfrutam da parte do leão, desde que seja acompanhada de melhorias (mesmo que pequenas) para os que estiverem em pior situação.

Assim, a teoria de Rawls foi usada para corroborar a chamada “economia trickle-down” das administrações da Nova Direita comandadas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher na década de 1980, quando os cortes nos impostos dos mais ricos foram justificados por uma (alegada) melhoria na sorte dos menos afortunados. Essas alegações foram rejeitadas com desdém por J. K. Dando o que ele acreditava ser “a verdadeira e única definição verdadeira” da palavra, ele caracterizou a república como “um governo em que todos os homens, ricos e pobres, magistrados e súditos, administradores e povo, mestres e servos, os primeiros e os últimos cidadãos, estão igualmente sujeitos às leis”. Outro dos Pais Fundadores, Alexander Hamilton, em uma carta de 1780, joga luz sobre o principal papel da lei no conceito republicano de governo ao comparar favoravelmente “a obediência de um povo livre às leis” à “dos escravos à vontade arbitrária de um príncipe”.

“A obediência de um povo livre às leis gerais, por mais difícil que seja de suportar, é ainda mais perfeita do que a dos escravos à vontade arbitrária de um príncipe. ” Alexander Hamilton, 1780 O significado moderno da palavra “república” é tão vago que se tornou apropriado a praticamente todos os Estados do mundo que não tenham um monarca. Mas as observações de Paine, Adams e Hamilton, três gigantes da Revolução Americana, apontam para um sentido mais rico e mais raro. A Constituição introduzida após a queda dos reis era nominalmente uma república democrática, em que o poder soberano estava nas mãos do povo e todos os cidadãos adultos do sexo masculino poderiam participar da vida política, mas na prática o poder estava nas mãos de uma oligarquia de base ampla, formada por cerca de cinquenta famílias da nobreza, que reservavam para si as principais magistraturas (cargos políticos).

O verdadeiro nexo do poder era o Senado, onde os negócios do Estado eram discutidos e decididos por antigos magistrados, todos membros vitalícios. Mas havia numerosas salvaguardas constitucionais para evitar abusos de poder. Por exemplo, todos os cargos tinham um prazo determinado (geralmente anual), e até os ocupantes dos cargos mais altos, os dois cônsules, eram estritamente limitados pela lei e sujeitos ao veto dos dez tribunos, que eram eleitos apenas pelas pessoas comuns (plebeus) a fim de proteger seus interesses. De Roma a Washington Apesar das inúmeras salvaguardas constitucionais, que evoluíram ao longo de quase quatro séculos, o sistema republicano estava longe de ser perfeito. Uma das consequências, seguindo as premissas da época, era que as mulheres e os trabalhadores sem propriedade (e evidentemente os escravos) tinham de confiar na elite virtuosa (masculina, branca) para sua proteção.

Embora os Pais Fundadores tendessem a se considerar liberais e republicanos, o tipo de republicanismo com espírito público que eles defendiam estava em desacordo com o liberalismo na medida em que este último estava mais preocupado com a proteção dos direitos (egoístas) dos indivíduos contra as demandas (razoáveis) do Estado. Ao mesmo tempo, a austeridade e o conservadorismo social, ambos reforçados pela profunda religiosidade, estavam muito distantes do apreço do liberalismo clássico pelo individualismo econômico e pela criação de riqueza. Essas tensões subjacentes, republicanas e liberais, estavam destinadas a moldar a psique e a cultura dos Estados Unidos nos dois séculos seguintes. “A principal objeção ao governo de uma só pessoa é a queda frequente dos autocratas na megalomania, à qual são acrescentados, quando o posto é hereditário, herdeiros incompetentes.

A ideia condensada: governo das leis, não dos homens 33 Comunismo “Os comunistas se recusam a dissimular sua visão e seus objetivos. Declaram abertamente que os fins podem ser alcançados apenas pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam diante da revolução comunista. Os proletários nada têm a perder senão seus grilhões. Têm um mundo a ganhar. Ímpeto de mudança O espectro do comunismo mencionado no Manifesto não foi criação original de Marx. Na primeira metade do século XIX a sociedade europeia passara por uma grande transformação, provocada por uma revolução tecnológica e industrial sem precedentes. Essa transformação levara a um aumento impressionante da produtividade econômica e gerara ganhos extraordinários que elevaram a riqueza geral das nações industrializadas; essa riqueza recém-criada, no entanto, foi canalizada para os bolsos da elite capitalista.

Assim, o enriquecimento dos que já eram ricos havia sido alcançado, pelo menos aos olhos dos críticos, à custa dos trabalhadores, cujas condições nesse mesmo período haviam se deteriorado ainda mais. Essa mudança social maciça (e, ao que parecia, maciçamente injusta) provocou uma reação política. A vanguarda indicaria o caminho para a construção da “ditadura do proletariado”, a fase temporária e de transição (de acordo com Marx) que culminaria finalmente no estabelecimento do comunismo. O problema do comunismo, em suas várias manifestações do século XX, é que nunca foi além da fase de transição: o poder político se concentrou nas mãos da vanguarda e aí ficou; não foi a ditadura do proletariado, mas do partido comunista cada vez mais centralizado.

O paraíso comunista e o fim da história teriam de esperar. A história como luta de classes Os dois pilares do pensamento marxista são uma teoria econômica própria aliada a uma compreensão do progresso histórico igualmente própria. De acordo com Marx, a força que impulsiona a história inexoravelmente para a frente é o desenvolvimento econômico. De acordo com as leis científicas (como eram vistas por Marx) que controlavam o sistema capitalista, o processo de industrialização levaria inevitavelmente ao empobrecimento cada vez maior do proletariado. Finalmente, haveria uma crise quando ficasse claro para a classe operária que a distância entre seus interesses e aqueles da burguesia era intransponível. levantariam e Nesse derrubariam ponto, a os trabalhadores burguesia, assumiriam se o controle dos meios de produção e aboliriam a propriedade privada.

Então proletariado”, estabeleceriam para defender uma seus “ditadura do interesses da contrarrevolução burguesa. Mas o poder desse estado de transição “definharia” e seria substituído – no fim da história – pelo comunismo plenamente realizado: uma sociedade sem classes, estável, em que haveria liberdade para todos e na qual os meios de produção pertenceriam a todos e seriam usados para o bem de todos. Um modelo de fanatismo articulado, o ensaio registra precisamente as características mais proeminentes do pensamento fascista, entre as quais se destaca o papel do Estado abrangente e santificado (como na passagem citada acima). O Estado tão venerado, objeto de um sentimento nacionalista obsessivo e calcado no extremismo do “sangue e solo”, continuou a ser para todos os regimes fascistas o totem simbólico que era a justificativa máxima para as terríveis atrocidades cometidas em seu nome.

Um coquetel mortal Uma das ironias da ascensão do fascismo na Europa nas décadas de 1920 e 1930 é que em grande parte ele foi motivado pelo medo dos acontecimentos, e não pelos acontecimentos em si; o fascismo foi, como observou o escritor italiano Ignazio Silone, “uma contrarrevolução contra uma revolução que nunca ocorreu”. Na esteira da Revolução Russa de 1917, a ameaça do socialismo internacional foi sentida em toda a Europa, e esse medo foi explorado incessantemente pelos líderes fascistas, cuja retórica e propaganda pintavam o quadro mais sinistro do Perigo Vermelho que assomava no Leste. A visão marxista ortodoxa não era mais favorável em relação ao fascismo, interpretado como o último e desesperado lance do jogo de dados do capitalismo autoritário; “o fascismo no poder”, declarou o secretário da Internacional Comunista, Gueorgi Dimitrov, em 1935, “é a ditadura aberta e terrorista dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas, mais imperialistas do capital financeiro”.

Na Itália, onde o fascismo teve seu primeiro sucesso em 1922, com a Marcha sobre Roma de Mussolini, a ascensão da ditadura de partido único foi em parte uma resposta ao descontentamento popular com as instituições democráticas liberais do país e especialmente com o fracasso do governo em garantir ganhos territoriais nas negociações do pós-guerra. Na Alemanha, a humilhação da derrota e as queixas pelo confisco de territórios foram exacerbadas por uma crise econômica provocada pelas reparações de guerra, que o país foi obrigado a custear, e pela hiperinfalação que rapidamente arruinou a capacidade da subsistência da população. O selo da nobreza A essência do governo fascista era o poder irrestrito. É esse o sentido do próprio nome, derivado do latim fasces, um feixe de varas e um machado que precedia a passagem dos magistrados romanos para simbolizar seu poder.

O sistema totalitário não era igualitário – Mussolini escreveu a respeito da “desigualdade imutável, benéfica e frutífera, da humanidade”: era antidemocrático (as eleições foram proibidas e apenas um partido político era tolerado); e exigia a completa subordinação do indivíduo ao Estado. O fascínio do governo fascista ultranacionalista era a promessa de que apagaria a mácula da vergonha. O orgulho seria restaurado por meio do renascimento nacional, uma regeneração alcançada pelo povo unido em uma luta comum. Os inimigos internos e externos, como os socialistas, os liberais e os judeus, seriam eliminados, e para isso era preciso uma disciplina de ferro e o sacrifício popular sob um líder forte e resoluto: um homem como Mussolini ou Hitler.

A ideia condensada: uma síntese tóxica de direita e esquerda 35 Racismo Um dos fatos mais extraordinários da história é que os Estados Unidos da América – a autoproclamada “terra dos homens livres” e bastião da liberdade, da igualdade e dos direitos humanos – tenham sido, durante os primeiros oitenta e nove anos de sua existência, uma sociedade cuja economia e prosperidade geral dependiam do trabalho escravo. Na verdade, a escravidão havia sido legalizada nas colônias americanas por mais de um século antes do nascimento dos Estados Unidos como nação, em 1776, e muitos aspectos do tratamento discriminatório que acarretava persistiram por centenas de anos após sua abolição formal, em 1865. e essa hostilidade e esse desprezo comportamento podem ser agressivo ou evidentes, violento.

na O forma alvo de desse comportamento pode ser mais ou menos definido, mas esse tipo de racismo não costuma ser racionalizado e não se baseia em justificativas teóricas. O segundo significado de “racismo”, distinto do primeiro, pode se referir a uma determinada forma de enxergar as coisas no mundo; um conjunto sistemático de crenças e atitudes que compõem uma visão de mundo ou ideologia. A parte fundamental dessa visão é a crença de que todo mundo pertence a um, e apenas um, de vários grupos, chamados “raças”, cada uma das quais é biologicamente distinta das outras. Os membros de uma determinada raça compartilham certas características de sua identidade racial, em especial as características físicas, visíveis, como a cor da pele e os traços faciais.

Nesse segundo sentido, ideológico, o racismo poderia explicar ou mesmo justificar o comportamento (provavelmente préteórico) do racista no sentido popular. Mas os pressupostos da visão de mundo racista podem ser, e têm sido, usados por políticos e legisladores para justificar instituições e políticas discriminatórias na sociedade em geral. O exemplo mais notório foi o sistema existente na África do Sul, até sua abolição, no início dos anos 1990, chamado apartheid, ou “desenvolvimento separado”, que sancionou formalmente uma série de medidas discriminatórias contra a maioria da população, formada por não brancos, que foi segregada e isolada em determinadas áreas, limitada a empregos de nível mais baixo e sem acesso a oportunidades e privilégios econômicos e políticos.

Ciência e raça Até a década de 1970, a ideia de que a humanidade poderia ser dividida em categorias raciais ainda era sustentada por muitos cientistas; eles pressupunham que tais categorias eram biologicamente determinadas e que sua tarefa era estudar as diferenças e relações entre elas. Estavam basicamente arando o mesmo solo científico que seus predecessores haviam lavrado mais de um século antes. Atualmente, a universalmente concepção biológica rejeitada pelos de raça cientistas. é quase Existe o entendimento de que o conceito de raça é uma construção social, relativamente recente, que só pode ser compreendida no contexto de circunstâncias históricas, culturais e políticas específicas. As variações físicas humanas, inclusive a cor da pele, em que inteiramente adaptações se basearam explicáveis, relativamente em as categorias termos superficiais raciais, evolutivos, às mudanças são como das condições ambientais.

Entre cientistas e intelectuais, a noção de raça como categoria biológica desmoronou sob o peso das evidências. Infelizmente, se não inevitavelmente, vai demorar muito mais para erradicar da imaginação popular uma ideia que causou tanto sofrimento a indivíduos e sociedades inteiras. O lugar da mulher era na casa – apesar de lhe ser negado o direito à propriedade dessa casa. Votos para as mulheres Cerca de um século após a morte de Wollstonecraft, ocorrida em 1797, o clamor pela mudança tornara-se ainda mais alto. Em meados do século XIX, o movimento conquistara o apoio ativo de John Stuart Mill, que em sua obra A sujeição da mulher (1869) argumentou que “a subordinação legal de um sexo ao outro. deveria ser substituída por um princípio de igualdade perfeita, sem admitir nenhum poder ou privilégio de um lado, nem a incapacidade do outro”.

Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa a causa da emancipação feminina adquiriu novo ímpeto com a luta pela abolição da escravidão, pois deixou clara para as abolicionistas uma desagradável ironia – os direitos e o status político que exigiam para os negros eram em muitos aspectos superiores aos que elas mesmas desfrutavam. Mas esse ativismo renovado e generalizado fez com que viessem à tona diferenças e divisões existentes havia muito tempo no feminismo. Tradicionais, ou liberais, as feministas tenderam a seguir uma linha pragmática, visando à igualdade com os homens em todas as áreas. Para elas, a principal tarefa era a reforma que impedisse qualquer forma de discriminação: a remoção de barreiras formais ou informais que impedissem as mulheres de romper “o teto de vidro” no local de trabalho; a garantia da licença-maternidade e de creches para as crianças; a garantia de oportunidades iguais de educação e formação para homens e mulheres.

Sempre existiram vozes mais radicais no movimento feminista. Já em 1868, Emma Goldman zombara da ideia de que a liberação pudesse ser conquistada apenas com o direito de votar; a mulher só conquistaria a verdadeira liberdade “recusando o direito de qualquer outra pessoa sobre seu corpo; recusando-se a ter filhos, a menos que os desejasse; recusando-se a ser uma serva de Deus, do Estado, da sociedade, do marido, da família”. Mas havia substância por baixo do gloss. Talvez a falha mais permanente da segunda onda − majoritariamente branca e relativamente bem de vida − tenha sido a incapacidade de compreender as necessidades e incluir as aspirações das feministas negras e do Terceiro Mundo, apesar da pretensão de criar uma “irmandade global”. A terceira onda alcançou um nível de inclusão e pluralismo maior do que tudo o que fora alcançado antes, estendendo assim a promessa de um feminismo verdadeiramente global.

Subjacente a essas preocupações, havia um extenso debate teórico sobre a natureza e as origens da opressão feminina. Uma questão fundamental era a distinção entre sexo e gênero com base na ideia de que a feminilidade é uma construção social; a noção, prefigurada por Simone de Beauvoir em O segundo sexo (1949), de que “não se nasce mulher, torna-se” e de que ela é o “Outro” – uma pessoa que é definida, assimetricamente, em relação às normas masculinas. Para piorar as coisas, o retrato do fanatismo islâmico foi elaborado com detalhes medonhos fornecidos pelo Taleban, grupo muçulmano fundamentalista que abrigava as bases da Al-Qaeda no Afeganistão, onde havia tomado o poder em 1996, impondo um governo teocrático altamente repressivo sobre o povo afegão.

As atrocidades terroristas, a repressão social quase medieval, os bombardeios suicidas, as decapitações televisionadas – tudo conspirava para pintar o quadro mais sinistro do fundamentalismo islâmico e, por uma implicação equivocada, do próprio islã. O objetivo primordial da maioria dos radicais islâmicos é, segundo uma transmissão da Al-Qaeda feita em 2008 pela internet, estabelecer “o Estado Islâmico da Xaria que unirá os muçulmanos da Terra na verdade e na justiça”. O atual estado de opressão dos países muçulmanos é visto como a consequência do desvio do verdadeiro caminho do islã, e a solução envolve a estrita observância dos ensinamentos do Alcorão e a implementação da xaria, a lei islâmica revelada por Deus. O islamismo é a verdadeira fé e seu escopo é universal, por isso o novo califado compreenderá toda a humanidade, em todos os lugares da terra.

Para o Ocidente, “progresso” significa um movimento no sentido dos seus próprios valores liberais, seculares, mas para muitos muçulmanos a ocidentalização não é bem-vinda, além de ser uma marca de arrogância pós-colonial. Jihad Assim como a palavra “cruzada” tem todas as conotações erradas para os muçulmanos, também o conceito de jihad fez mais do que qualquer outro para consolidar nas mentes ocidentais o elo entre o islã e a violência. A interpretação da palavra é bastante controvertida entre os próprios muçulmanos. Para o islamita radical, jihad significa “guerra santa” e é usada para justificar uma série de ações que incluem ataques suicidas, bombardeios em estradas e ataques a civis. Mas o significado literal de jihad é “luta ao modo de Deus”, e os muçulmanos moderados consideram que se refere principalmente ao conflito espiritual interior; pode se referir à guerra exterior, mas somente na defesa da fé.

A ideia condensada: um choque de civilizações? 38 Capitalismo Na primeira década do século XXI, as economias mundiais foram fustigadas por uma turbulência de severidade praticamente sem precedentes. Queda da confiança dos consumidores; colapso dos investimentos e vendas; falências generalizadas e execuções de hipotecas; desemprego em espiral; forte queda das ações e dos preços das casas: o consenso de todos os indicadores financeiros apontava para uma contração das economias, antecipando uma profunda recessão mundial. Na raiz desse turbilhão econômico estava uma terrível “crise de crédito” – um enorme aperto do crédito disponível para os negócios e os consumidores. E essa crise era em si produto de uma farra creditícia anterior – obra principalmente de banqueiros inchados, mal regulados e viciados em risco, cuja arrogância e ganância aparentemente ilimitadas viram mais de dois trilhões de dólares de dívida “tóxica” se acumularem nas artérias do sistema financeiro mundial.

Por ganância, entenda-se “lógica do lucro”; por falta de regulação, entenda-se “livre iniciativa”: então fica claro que a crise financeira do início do século XXI colocou em xeque os princípios mais básicos do capitalismo, sistema econômico dominante em muitas regiões do mundo na maior parte dos últimos dois séculos. Não é virtuoso. E não entrega as mercadorias”. Insistindo em que os mercados não eram perfeitos nem autorreguladores, Keynes defendeu a intervenção do Estado na forma de aumento de gastos governamentais, o que elevaria a demanda na economia e aumentaria o nível de emprego, superando as pressões recessivas. As ideias keynesianas dominaram o pensamento econômico nos Estados Unidos e na Europa nas décadas posteriores à Grande Depressão de 1930, mas a partir dos anos 1970 foram substituídas pelo monetarismo, doutrina creditada ao economista americano Milton Friedman.

Retomando a visão clássica da perfeição do livre mercado, os monetaristas afirmaram que a intervenção (interferência, segundo eles) keynesiana simplesmente aumentaria a inflação e perturbaria o equilíbrio natural dos mercados. Reconheceu que em um mercado livre, em que o ímpeto para o ganho pessoal era contrabalançado pelas forças da concorrência, os produtores teriam um incentivo natural para fornecer os bens e serviços que os consumidores desejassem comprar, por um preço que oferecesse ao seu investimento um lucro razoável, mas não excessivo. Os mecanismos do mercado trariam assim a eficiência ideal, coordenando de perto a oferta e a procura, e a relação dinâmica entre essas duas forças garantiria níveis apropriados de custo (na produção, nos salários, na distribuição etc.

e lucro. Laissez-faire Um aspecto crucial do capitalismo clássico na concepção de Smith e seus seguidores era o fato de ser naturalmente autorregulador, ou seja, suas próprias variáveis (custo, preço, demanda etc. eram determinadas de dentro do sistema, como funções do sistema como um todo. Mas esse também foi um período de industrialização maciça, e os críticos do capitalismo sugerem que “a sujeição das forças da natureza ao homem”, por intermédio da mecanização, da máquina a vapor e das estradas de ferro, entre outras coisas, foi a principal causa do crescimento econômico, e não as forças do mercado enquanto tais. Adam Smith observou que o desejo de acumular riqueza, preocupação principal do capitalismo, tendia a estimular os empreendedores a expandir seus negócios.

Isso permitiu uma divisão progressiva do trabalho (dividindo o processo de fabricação em tarefas menores, mais simples) e outras medidas eficientes que contribuíram para a economia de escala. Embora esses avanços tenham sem dúvida colaborado para o crescimento – e ajudado a encher ainda mais os bolsos dos capitalistas financeiros –, críticos como Marx rapidamente denunciaram o tipo de crescimento envolvido. Smith havia afirmado que “a mão invisível” do mercado guiaria os indivíduos que estivessem agindo em seu próprio interesse, fazendo inconscientemente, um com bem que maior, promovessem, coletivo, mas a experiência não corroborou essa esperança. Sua mensagem é a Mudança Total, acabando com o paroquialismo psíquico, social, econômico e político. Vivemos em um mundo novíssimo do tudo-de-uma-vez.

O ‘tempo’ cessou, o ‘espaço’ desapareceu. Agora vivemos em uma aldeia global. ” O “circuito eletrônico” que McLuhan tinha em mente na época (1967) era basicamente a televisão, mas todas as inovações sonhadas na revolução da tecnologia da informação das décadas seguintes serviram apenas para confirmar suas previsões. Não é preciso tirar muito do verniz do quadro róseo pintado por Fukuyama para ver que ideias deverão dominar a agenda em uma reunião do conselho da aldeia global. Na companhia de muitos outros pró-globalização, Fukuyama baseia seu argumento em uma suposição em grande medida inquestionável do impacto benigno das economias de mercado liberais do tipo desenvolvido no Ocidente nos dois últimos séculos. O movimento rápido e irrestrito de mercadorias e dinheiro pelo mundo, possibilitado pela inovação tecnológica, trará grande eficácia e benefícios para todos: mercadorias mais baratas e em maior quantidade para países que já são ricos; mais emprego, com melhor remuneração, para países carentes.

No caso destes últimos, o aumento da prosperidade acabará por levar à melhoria da educação e a maior sofisticação política; e, se a história é nosso guia, isso por sua vez levará à liberalização e à democracia – em resumo, um avanço que ultrapassa o paroquialismo ancestral para chegar a uma ordem mundial mais colaborativa e harmoniosa. Nós somos o que comemos? A comida sempre foi um poderoso veículo de transformação e transmissão cultural. A cultura popular degradada e mercantilizada dos Estados Unidos e de outros países ocidentais estaria afundando práticas e costumes locais. Na marcha irrefreável desse imperialismo cultural, as cozinhas locais são rudemente enxotadas por Ronald McDonald e pelo Coronel Sanders; as afirmações autênticas de cineastas locais são abafadas pelo barulho estridente do último blockbuster de Hollywood; a vibração do vestuário tradicional é eclipsada pelas cores berrantes da Benetton e da Abercrombie.

E por trás do consumismo superficial está uma formação desumana de corporações multinacionais cínicas e agressivas: empresas gigantescas “enganam o Ocidente e exploram o restante”, tirando empregos de trabalhadores ocidentais e substituindo- os pelo trabalho escravo em fábricas do Terceiro Mundo. Cultura híbrida A verdade sobre a globalização não é tão sombria nem tão animadora quanto afirmam seus críticos e seus defensores. A cultura global que é bem recebida de um lado e desacreditada do outro é em grande parte fictícia. Embora o Renascimento tenha sido a grande expressão desses valores desde a Antiguidade, não foi a última, e o termo “classicismo” foi empregado em relação a muitos outros movimentos artísticos e estéticos ocorridos posteriormente. Apesar de na teoria o cânone classicista compreender apenas as obras dos antigos gregos e romanos, na prática foi constantemente revisto e aperfeiçoado por obras que se tornaram elas mesmas canônicas.

Foi assim que artistas pertencentes procuraram a tradições emular as posteriores obras dos do grandes classicismo mestres do Renascimento, como Michelangelo, Rafael e Bramante. Às vezes, o termo “neoclássico” é usado em referência ao ressurgimento do interesse por modelos clássicos, marcado pelo desejo de reexaminar ou reinterpretar a herança canônica. Na prática, porém, não é fácil distinguir essas motivações daquelas do classicismo, de forma que os termos geralmente são usados com pouca ou nenhuma diferença no significado. A flagelação de Cristo, de Piero, é uma das mais famosas e impressionantes demonstrações da ilusão de profundidade obtida com o uso da perspectiva. Classicismos posteriores Houve um segundo florescimento do classicismo no século XVII, especialmente na Itália e na França.

O francês Nicolas Poussin foi a figura dominante em um grupo de artistas, trabalhando principalmente em Roma, que se opunham ao drama emocional e à licença formal do barroco. Em vez disso, eles combinavam as cores do barroco com um ressurgimento das formas antigas. Poussin foi fortemente influenciado pelo pintor bolonhês Domenichino, criador de um classicismo austero que apresentava composições estáticas e simplificadas, figuras grandiosas e detalhes arqueológicos precisos. Natureza vestida com vantagem Na literatura, os atrativos dos autores antigos eram essencialmente os mesmos das artes visuais: a precedência da razão sobre a emoção; a expressão de ideias de validade universal; um estilo marcado por clareza, controle e dignidade. O deleite na expressão aparentemente fácil, mas engenhosa, sem desperdiçar uma palavra, foi captado (precisamente, é claro) por Alexander Pope em Ensaio sobre a crítica (1711), quando ele observou: “A verdadeira sagacidade é a natureza vestida com vantagem,/o que foi muitas vezes pensado, mas nunca tão bem expresso”.

Em Pope também encontramos a insistência do classicismo na fidelidade à natureza, alcançada pela observância de regras consagradas pelo tempo. “Essas regras, há muito descobertas, não inventadas, Ainda são a natureza, mas natureza sistematizada; A natureza, como a liberdade, é comedida Pelas mesmas leis por ela primeiro decididas. ” Pope foi um dos principais representantes da era augustana na Inglaterra, assim chamada em homenagem ao imperador romano Augusto, cujo reinado constituiu-se na era de ouro para poetas como Horácio e Virgílio. O cavaleiro obscuro cavalgando heroicamente para uma batalha sem nome anunciava a chegada de uma nova sensibilidade. A meticulosa maestria neoclássica de formas convencionais seria substituída por realizações mais ásperas e rudes. “Talento é o fogo de um vulcão que deve e irá irromper”, proclamou Géricault, “porque o artista verdadeiramente criativo é limitado por uma lei que impede seu ser de brilhar, iluminar e surpreender o mundo.

” Rebelde e impetuoso; obcecado pela morte e pelo macabro (pintou uma série de naturezas-mortas com membros e cabeças decepadas de criminosos); tendo ele próprio morrido após uma tempestuosa carreira de apenas onze anos: Géricault era tudo o que David não era; era tudo o que se poderia pedir de um artista imbuído na nova estética que os críticos depois chamaram de romantismo. A mudança profunda de atitude e perspectiva, da qual Géricault foi um pioneiro, tomou conta da Europa antes e após a virada do século XIX. Mas Goethe deu as costas para sua juventude rebelde e adotou uma maturidade clássica, observando pesarosamente, três anos antes de sua morte, ocorrida em 1832, que “o classicismo é a saúde, o romantismo é a doença”.

E a doença frequentemente foi fatal, tendo Géricault, Shelley, Byron e Keats entre suas vítimas. Uma raça à parte A objeção dos românticos ao (neo)classicismo foi fundamental. Como afirmou o crítico inglês William Hazlitt em seu ensaio On taste (Sobre o gosto): “Regras e modelos destroem o talento e a arte”. Eles também se opunham ao ancien régime, ao qual o classicismo estava inextricavelmente ligado; foi o entusiasmo pelos ideais republicanos dos revolucionários franceses que inspirou a famosa frase do poeta inglês William Wordsworth: “Felicidade em tal alvorecer era estar vivo, mas ser jovem era o paraíso”. É nesse nexo sutil de ideias que tem início o caso amoroso do romântico com ele mesmo – com a força criativa de sua própria mente.

A percepção romântica do divino na natureza (o que Thomas Carlyle chamou de “supernaturalismo natural” em 1831) foi a justificativa para a elevação do poeta ao status de herói – ou deus. Glória desaparecida da terra Friedrich von Schelling, o principal filósofo do romantismo alemão, acreditava que “o temperamento clássico estuda o passado, o temperamento romântico não lhe dá atenção”. Ainda assim, embora o classicismo pudesse ser subserviente às tradições do passado, o romantismo foi atravessado por uma profunda nostalgia, tanto pela inocência perdida da infância quanto pela nobreza perdida do passado. Nas obras de William Blake e de Wordsworth, profundamente influenciados por Rousseau, o puro poder comparação da imaginação com da criança a vergonhosa e é exaltado na corrompida falta de autenticidade do adulto.

Em parte pela concordância, ou pela oposição, com a nova visão de mundo pintada por essas figuras transformadoras foi que muitas formas dinâmicas de modernismo surgiram nas primeiras décadas do século XX. A eclosão da mais terrível e traumática guerra da história, em 1914, foi outro catalisador vital para o pensamento modernista. De modo geral, progressista essa e fase da história esporadicamente é considerada revolucionária. Os modernistas costumam se ver, com bastante frequência, como a vanguarda cultural; inovadores, radicais, desafiadores, experimentais. O modernismo também tende a ser autorreferenciado e às vezes introvertido, considerando seus próprios esforços e conquistas como absolutamente válidos e dignos por si mesmos, independentemente de um contexto mais amplo. Ele pode dizer ‘Como diria Barbara Cartland, eu te amo loucamente’.

Nesse ponto, tendo evitado a falsa inocência, ele terá dito o que queria dizer para a mulher: que a ama, mas que a ama na era da inocência perdida”. Em direção à abstração Nas artes visuais, as forças do modernismo geraram uma impressionante variedade de movimentos e estilos vanguardistas antes e depois do início do século XX, como o pós-impressionismo, o expressionismo, o cubismo, o simbolismo, o vorticismo, o dadaísmo, o futurismo e o surrealismo. Esses grupos tinham inspirações tão diversas e seguiram rumos tão variados que não chega a ser muito esclarecedor agrupá-los como modernistas. Todos os artistas modernistas, em maior ou menor medida, tendiam a subverter ou a ignorar as normas e as convenções do passado.

O romance de Joyce usa o monólogo interior e técnicas de fluxo de consciência para conduzir uma sondagem inédita das percepções, lembranças e pensamentos interiores de seu personagem. Posteriormente, em Finnegan’s wake (1939), Joyce combinaria o fluxo de consciência com trocadilhos multilíngues e uma desconcertante “linguagem de sonho”, estendendo assim os limites da complexidade e da dificuldade que renderam tantas críticas à literatura modernista. “A modernidade é o transitório, o fugidio, o contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável. ” Charles Baudelaire, 1869 Além da tonalidade Entre os compositores, assim como entre os pintores, as forças do modernismo foram sentidas, mas sem nenhuma direção certa ou unanimidade de perspectiva. A única realização mais significativa, pelo menos em retrospecto, ocorreu na primeira década do século XX, quando a experimentação de Arnold Schoenberg com a atonalidade representou uma ruptura com as noções de consonância e dissonância que durante séculos foram aceitas como a base da música.

Conformista e homogeneizada em mãos sem criatividade, a arquitetura modernista acabou se distanciando cada vez mais das verdadeiras necessidades humanas. O número de edifícios modernistas demolidos na segunda metade do século é um reflexo de que o movimento não conseguiu fazer jus às promessas de seus profetas. A ideia condensada: o choque do novo 43 Surrealismo Entre os anos de 1868 e 1869, um poema em prosa sombrio e de humor negro chamado Les chants de Maldoror (Os cantos de Maldoror) foi publicado em Paris sob a enigmática autoria do Conde de Lautréamont. O herói – na verdade um anti-herói – dessa colagem de misantropia e tortura sádica é o demente Maldoror, que lança injúrias contra Deus e despreza profundamente todas as convenções sociais. Perto do fim do livro, essa força medonha de natureza pervertida, cobiçando um inocente de 16 anos de cabelos brilhantes, lascivamente compara sua beleza ao “encontro casual de uma máquina de costura e um guarda-chuva em uma mesa de dissecação”.

O primeiro produto dessa técnica – Les champs magnétiques (Os campos magnéticos), coescrito com seu amigo Philippe Soupault – foi publicado em 1920. O automatismo continuou a ser uma preocupação fundamental para os surrealistas, e é essencial para a definição de surrealismo dada por O toreador alucinógeno Em 1929, o surrealismo ganhou seu expoente mais pitoresco, que com o tempo acabaria por se tornar sua face pública em todo o mundo: o espanhol Salvador Dalí, então com 25 anos. As “fotografias de sonhos pintadas à mão”, como Dalí as chamava, eram particularmente perturbadoras, pois o hiper-realismo da descrição se chocava violentamente com a qualidade quase alucinógena das imagens. O método “crítico-paranoico” que ele desenvolveu tentava reproduzir a capacidade paranoica de interpretar o mundo de acordo com uma única ideia obsessiva.

Também apresentava as famosas imagens duplicadas, que eram um elemento de destaque em sua obra – as formas ambíguas que podem ser interpretadas de várias maneiras simultaneamente, como parte da paisagem, por exemplo, ou como parte de um corpo humano. parece carregada de toda a carga emotiva que o poeta guarda dentro de si”. Xícaras peludas e outros objetos O objeto é uma das formas mais características da arte surrealista. Feitos ou encontrados (objet trouvé), essas obras geralmente produzidas em pequena escala eram muito variadas e um desafio à classificação – embora os surrealistas alegremente tentassem, produzindo uma lista de categorias estranhas que incluíam o “pronto” (“ready made”), o “poema-objeto” de Breton e o “objeto de funcionamento simbólico” de Dalí. Dalí se empenhava bastante na promoção do objeto como uma forma de arte diferenciada e, em 1931, propôs que suas características essenciais deveriam ser “a inutilidade absoluta do ponto de vista prático e racional, criado inteiramente para se materializar de maneira fetichista, com o máximo de realidade, ideias e fantasias tangíveis, tendo um caráter delirante”.

Talvez o mais celebrado desses objetos seja Xícara, pires e colher de pele (1936), de Meret Oppenheim, também conhecido simplesmente como Object. Instantâneos do impossível Em 1930, muitos surrealistas, sentindo as limitações do automatismo como forma de explorar o subconsciente, voltaram-se para outras técnicas. Uma influência importante foi exercida pelo italiano Giorgio de Chirico, que, uma década antes do lançamento do primeiro Manifesto surrealista, havia pintado praças rígidas e despovoadas, onde foram estranhamente introduzidos trens, manequins de alfaiate e outros elementos incongruentes. O artista belga “instantâneos René do Magritte começou impossível”: cenas a pintar seus meticulosamente detalhadas e aparentemente naturalistas que se justapõem de modo surpreendente e perturbador ao banal e ao bizarro. A ideia condensada: a onipotência dos sonhos 44 Censura Em seu último grande romance, O amante de lady Chatterley, o romancista inglês D.

H. “Sempre que livros são queimados, no fim os homens também são queimados. ” Heinrich Heine, 1821 “Se todos os impressores decidissem não imprimir nada até se certificarem de que não ofenderia alguém, haveria muito pouca coisa impressa. ” Benjamin Franklin, 1731 A principal defesa da Penguin no julgamento foi que o romance de Lawrence tinha “méritos literários”, fato que E. M. Forster e uma procissão de outros luminares literários vieram atestar no tribunal. Ao longo de toda a história – e até os dias de hoje em algumas partes do mundo –, a imposição da ortodoxia religiosa foi usada para justificar a censura mais radical. A Igreja Católica, por exemplo, instituiu a Inquisição no século XIII para erradicar aqueles que tinham ou expressavam visões heréticas.

O Index Librorum Prohibitorum (lista de livros proibidos) foi criado pelo papa Paulo IV em 1559 e só foi abolido em 1966; sua vítima mais ilustre, em 1663, foi Galileu, um “prisioneiro da Inquisição”, nas palavras de John Milton, “por pensar a astronomia de modo diferente do dos franciscanos e dominicanos”. Em seu Areopagitica, de 1644, Milton faz um dos ataques mais articulados e apaixonados da história contra a censura. Ele ataca a política de licenciamento de livros do governo – na verdade, censura pré-publicação, ou o que hoje chamaríamos de “censura prévia” – e pede que lhe seja dada “a liberdade de saber, proferir e argumentar livremente de acordo com sua consciência, acima de todas as liberdades”. Em seu Areopagitica, de 1644 – talvez o mais famoso de todos os ataques literários à censura –, Milton argumenta que a qualidade dos livros bons só fica totalmente evidente para um leitor que pode comparálos aos ruins.

A verdade, ele protesta, sempre prevalecerá sobre a falsidade “em um encontro livre e aberto”; se o mal for banido, é impossível “elogiar uma virtude fugitiva e enclausurada”. “Nossa liberdade depende da liberdade de imprensa, e essa não pode ser limitada sem ser perdida. ” Thomas Jefferson, 1786 Liberdade ou segurança? O compromisso liberal com a liberdade de expressão é garantido pela Primeira Emenda (1791) da Constituição dos Estados Unidos, que inclui uma disposição afirmando que “O Congresso não deve aprovar uma lei. imprensa”. Ele já estava profundamente impressionado com tudo o que havia visto, mas ficou admirado com a geologia, a flora e a fauna únicas das ilhas Galápagos, cujas maravilhas incluíam tentilhões e tordos, iguanas que comiam algas marinhas e tartarugas gigantes. Esses encontros extraordinários, nas ilhas Galápagos e em outras regiões, inspiraram Darwin a formular uma teoria que propunha uma solução convincente para o que continuava a ser o “mistério dos mistérios” para a maioria dos biólogos: a origem das inúmeras espécies de vida na Terra e uma explicação para sua impressionante diversidade.

A teoria da evolução pela seleção natural formulada por Darwin se firmou como pedra angular e princípio unificador das ciências biológicas. E sua importância se estende até muito além dos confins da ciência. Nenhuma outra teoria científica obrigou os seres humanos a fazerem uma reavaliação tão radical de sua própria posição no mundo e de sua relação com as outras coisas vivas. A demora em geral é atribuída à ansiedade do autor quanto à reação pública às suas ideias. É verdade que, segundo a visão científica ortodoxa na época de Darwin, cada espécie era imutável e produto de um ato independente da criação divina. Mas a própria ideia de evolução – ou de “descendência com modificação”, como dizia Darwin – não era nova.

Muitos, incluindo seu avô, o naturalista Erasmus Darwin, haviam especulado sobre a ideia de que vários tipos de plantas e animais deviam ser derivados de formas anteriores, compartilhando ancestrais comuns. Esse pensamento foi amplamente condenado por motivos religiosos, pois parecia retirar de Deus seu papel primordial na criação, mas sem nenhuma explicação sobre como essa modificação poderia ocorrer, a ideia continuou a ser mera especulação. A mais perniciosa foi o darwinismo social, desenvolvido por teóricos como o filósofo britânico Herbert Spencer. Após a morte de Darwin, em 1882, Spencer, um ativo e eficiente propagandista do evolucionismo, defendeu a ideia de aplicar (ou aplicar mal) os princípios da seleção natural a um alegado processo de evolução em grupos, raças e sociedades humanas.

A “sobrevivência do mais apto” (frase cunhada pelo próprio Spencer) tornou-se um dogma usado para justificar, em nome do aperfeiçoamento humano, desigualdades “naturais” em termos de classe, riqueza e bem-estar; a intervenção do Estado para dar assistência àqueles que eram castigados pela pobreza ou que não eram “aptos” em outros aspectos foi criticada como interferência na necessária “capina” biológica dos elementos fracos e desmerecedores. No auge da deturpação do conceito, o darwinismo social poderia ser usado para sustentar as ideologias imperialistas e racistas dos regimes fascistas. Esse acontecimento extraordinário para a área biológica se resumiu à combinação de algumas ideias simples: variedade, hereditariedade, competição e seleção. Entre a grande maioria dos cientistas, entretanto, a teoria é inquestionável e sua importância está acima de qualquer dúvida.

Como afirmou o biólogo evolucionista Theodosius Dobzhansky: “Nada na biologia faz sentido a não ser à luz da evolução”. A ideia condensada: a sobrevivência do mais apto 46 Gaia “Este livro. é sobre a busca da vida, e a procura por Gaia é uma tentativa de encontrar a maior criatura viva da Terra. Nossa jornada talvez não revele nada além da infinita variedade de formas vivas que proliferaram na superfície da Terra sob a cobertura transparente do ar e que constitui a biosfera. Uma característica geral dos organismos vivos é a capacidade de reverter ou reduzir a entropia – em outras palavras, afastar seu ambiente do equilíbrio químico. Análises da atmosfera de Marte e Vênus mostraram que ambos estavam próximos do equilíbrio e por isso esses planetas provavelmente não tinham vida.

Quando ficou claro o quanto nosso planeta é diferente desses vizinhos sem vida, a mente de Lovelock se “encheu de indagações a respeito da natureza da Terra”. A Terra está em um estado extremo de desequilíbrio químico. Ao contrário das atmosferas de Marte e de Vênus, compostas quase inteiramente de dióxido de carbono, a atmosfera da Terra é composta por pouco mais de um quinto de oxigênio e quase nada de dióxido de carbono (cerca de 350 partes por milhão). O que parecia estar faltando eram caminhos evolutivos plausíveis que pudessem explicar como os necessários mecanismos de feedback regulatórios haviam surgido antes de mais nada. Essa crítica definiu grande parte da agenda para o desenvolvimento da teoria de Gaia nas décadas seguintes.

O primeiro produto desses esforços foi o Daisyworld, um ecossistema simulado que consistia inicialmente de apenas duas espécies de margaridas, brancas e pretas. Cada espécie tem uma característica diferente de modificação do ambiente – as margaridas brancas reduzem a temperatura do ambiente, as margaridas pretas a elevam; e assim cada uma determina sua própria abundância relativa. Apesar da entrada crescente de energia solar (como na Terra), o modelo indica que a temperatura da superfície pode se manter próxima do nível ideal apenas com a interação dos dois tipos de margarida. Isso implica que a Terra provavelmente sobreviverá, por mais que seja maltratada por nós, mas não significa necessariamente que estaremos incluídos nessa sobrevivência. O legado de Gaia A mensagem de Gaia por vezes foi obscurecida pela retórica e pelo lobby de adeptos e opositores.

Um pouco da animosidade em relação ao simbolismo de Gaia, em especial o próprio nome, permanece, mas as sérias implicações da teoria deixaram sua marca. No passado, cientistas, climatologistas e outros especialistas, cada um em sua disciplina, tendiam a abordar a complexidade do meio ambiente como algo a ser analisado e reduzido a partes mais simples, mais viáveis. Agora, essa complexidade é amplamente reconhecida como fundamental para o sistema. Mas fizera. Uma diferença mínima nas condições iniciais havia provocado uma grande diferença no resultado. Modelos científicos É em resposta à enorme complexidade da natureza – sendo o clima um excelente exemplo – que os cientistas desenvolvem modelos. Os modelos são aproximações simplificadas do mundo real para que as regularidades possam ser reconhecidas e descritas matematicamente (isto é, através de equações matemáticas).

Supõe-se que tais modelos tenham um comportamento determinista: que um estado futuro do modelo possa ser completamente obtido, pelo menos em princípio, com a aplicação de equações adequadas aos dados que descrevem o estado presente. Segundo essa visão, a razão para que fenômenos como as condições meteorológicas fossem tão difíceis de prever devia-se apenas ao fato de serem extremamente complicados; mas a previsão seria possível, pelo menos em princípio, se todos os processos físicos relevantes fossem inteiramente compreendidos e se todos os dados necessários estivessem disponíveis. Como consequência disso, supôs-se prontamente que a confiabilidade de uma previsão ou outro resultado refletiria a qualidade dos dados iniciais (input). Esse tipo de suposição foi completamente destruído com o aparecimento do caos.

Uma das propriedades das equações não lineares é que elas exibem o tipo de sensibilidade às condições iniciais que causaram o choque em Lorenz em 1961. Ele demonstraria que a sensibilidade desse tipo não era apenas consequência da complexidade, mostrando que também ocorria em um modelo muito mais simples (de convecção) que poderia ser descrito por apenas três equações não lineares. Ordem na desordem “Acontece que um tipo sinistro de caos pode se esconder atrás de uma fachada de ordem”, observou o cientista e escritor americano Douglas Hofstadter em 1985, “e, ainda, no fundo do caos se esconder um tipo ainda mais sombrio de ordem. ” Os sistemas caóticos podem ser imprevisíveis, mas não são indeterminados. Também não são desordenados ou caóticos no sentido popular.

Já em 1963, o modelo simples de convecção de Lorenz, elaborado em três dimensões, revelou um impressionante padrão abstrato em meio ao caos: uma complexa espiral dupla – não muito diferente das asas de uma borboleta – na qual as linhas nunca seguem o mesmo caminho nem se cruzam. O atractor de Lorenz, como seria chamada a imagem, foi o primeiro de muitos modelos topológicos dos sistemas caóticos em que os diagramas se dobravam e se estendiam no espaço para reproduzir o destino ou a trajetória imprevisível de um sistema não linear. Então, em 1905, ficou evidente que a concepção de tempo de Rosalinda estava quase correta. A ideia de mudança de paradigma é superutilizada atualmente, mas pode ser aplicada, precisa e literalmente, às teorias gêmeas da relatividade desenvolvidas nos primeiros anos do século XX pelo físico alemão Albert Einstein.

O insight central dessas teorias é que vivemos em um universo quadrimensional em que massa, espaço e tempo são relativos, e não absolutos, no caráter. As consequências decorrentes dessas ideias revolucionaram a prática da física. A investigação das partículas elementares das quais toda matéria (inclusive nós) é feita seria impossível sem as ideias da relatividade. metros por segundo. Em 1887, Albert Michelson e Edward Morley realizaram uma experiência muito divulgada que mostrou, surpreendentemente, que as medidas da velocidade da luz permaneciam constantes e inalteradas pela velocidade da rotação da Terra – aparentemente desafiando a mecânica newtoniana. Teoria da relatividade especial Imagine que você está em um trem, viajando a uma velocidade constante em linha reta (imagine, também, que é um trem idealizado, sem solavancos ou vibrações causadas pelo movimento).

Se você não puder ver nada do que está do lado de fora, será como se estivesse em um trem parado. Se, por exemplo, decidisse brincar com uma bola, seria exatamente como se o trem estivesse parado. Uma das consequências da dilatação do tempo é que a simultaneidade também se torna relativa – os eventos que são simultâneos em um referencial podem não ser em outro. E idêntica linha de pensamento leva à contração do espaço: o comprimento de um objeto se contrai na direção do movimento. Assim, com tempo e espaço tornando-se fluidos e maleáveis, eles se entrelaçam e perdem sua identidade individual. Ocorre então uma união de espaço e tempo: um espaço quadrimensional – um continuum de espaço-tempo em que o tempo é a quarta dimensão.

E = mc2 Outra consequência da teoria especial de Einstein é a equivalência de massa e energia. Para desenvolver um novo sistema satisfatório, Einstein formulou sua teoria geral da relatividade, indo além da teoria especial por levar em consideração referenciais não inerciais, isto é, referenciais que estão acelerando em relação um ao outro. Nesse contexto, seu grande insight foi o princípio da equivalência, que reconhece que os efeitos físicos devidos à gravidade não se distinguem daqueles devidos à aceleração. Imagine que você está em um elevador quebrado caindo livremente em direção à Terra. Você não vai sentir seu próprio peso, porque tanto você quanto o elevador estão caindo na mesma taxa de aceleração. Assim, a menos que você tenha um referencial – ou seja, algo no mundo fora do elevador –, será impossível para você dizer que está em um campo gravitacional.

O gás mortal escapará e matará o gato. Se a caixa for aberta depois de uma hora, existe 50% de chance de o gato estar morto. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem, pois a física moderna diz que o comportamento da matéria e da energia nas escalas atômica e subatômica – inclusive o material radioativo que está na caixa com o gato – é descrito de forma mais precisa em termos de mecânica quântica. E, de acordo com a visão do mundo quântico mais movimento e difundida a interação pelos das físicos atualmente, partículas atômicas o e subatômicas são essencialmente indeterminados até que sejam medidos. No caso do gato, o átomo está em uma “sobreposição” de dois estados possíveis – decomposto e não decomposto – e continua nesse estado não resolvido até que seja feita uma observação.

Como, então, devemos conciliar o mundo quântico e o mundo da nossa experiência cotidiana? O comportamento bizarro dos átomos e das partículas subatômicas nos obrigaria a reavaliar nossa compreensão da realidade? Do desespero à esperança No início do século XX, o entendimento dos físicos a respeito do mundo pouco divergia do caminho clássico iniciado mais de duzentos anos antes por Isaac Newton. Em relação à luz, era quase consenso que seu comportamento poderia ser mais bem interpretado em termos de suas propriedades com onda. Apesar de isso funcionar com fenômenos como difração e interferência, falhava com outros, incluindo a absorção e a emissão da luz. Foi principalmente em resposta a essas falhas que foram dados os primeiros passos no mundo quântico.

Uma falha notável da visão clássica foi sua incapacidade para explicar a chamada “radiação dos corpos negros”: o modo como corpos quentes irradiam calor, com um brilho vermelho, depois amarelo e finalmente branco, à medida que ficam mais quentes. Entre os físicos, a visão ortodoxa é a chamada interpretação de Copenhague, atribuída principalmente a Bohr, que morava na capital dinamarquesa. Equivale à alegação de que a indeterminação que observamos na natureza é fundamental: basicamente, devemos aceitá-la como tal e ver aonde os cálculos nos levam. Einstein, por exemplo, não estava preparado para assumir uma visão tão otimista. Sustentou que a mecânica quântica deve ser incompleta e que, se as “variáveis ocultas” fossem conhecidas, uma realidade clássica e determinista se tornaria mais evidente.

Dualidade onda-partícula Assim, a luz apresentava um enigma e um desafio. É verdade que a ignorância total envolve apenas o primeiro milionésimo de segundo (aproximadamente) da existência do universo – cosmólogos têm muitas teorias sobre o que aconteceu nos 13. anos seguintes. Ainda assim, nossa falta de conhecimento a respeito do momento exato em que teria surgido o universo – o Big Bang – é profunda. Não apenas desconhecemos o que aconteceu nessa fração de segundo inicial, como sequer temos clareza de que tenha realmente acontecido! Entre os cientistas atuais, a cosmologia do Big Bang é a visão mais amplamente aceita da origem e da evolução do universo. Segundo essa teoria, o universo surgiu em um evento catastrófico em que toda a matéria, infinitamente comprimida nesse instante em um ponto adimensional, começou a se expandir e esfriar com extrema rapidez.

Enfrentando o teste do tempo Não há dúvida de que o universo atual parece ter passado por uma explosão do tipo Big Bang, e existem evidências convincentes de que isso tenha ocorrido. A mais importante delas é a expansão, que ficou implícita nas equações da relatividade geral publicadas pela primeira vez por Einstein em 1916. O próprio Einstein reconheceu essa implicação, mas, para preservar sua crença de que o universo era estático, ele introduziu uma pressão compensatória chamada “constante cosmológica” – que depois descreveria como sua “maior tolice”. As evidências observáveis da expansão, acumuladas esporadicamente durante as décadas de 1910 e 1920, culminaram em 1929 com a formulação da Lei de Hubble-Hu-mason, do astrônomo americano Edwin Hubble, em colaboração com Milton Humason.

Eles observaram que a luz que emanava das galáxias próximas tinha um “desvio para o vermelho” – tinham se aproximado da extremidade vermelha do espectro de cores. Mas a questão em si não tem sentido, porque tanto o espaço quanto o tempo foram criados no momento do Big Bang. Na analogia usada pelo físico britânico Stephen Hawking, é como perguntar o que há acima do polo Norte – pergunta reconhecidamente sem lógica. Em seu celebrado livro de 1988, Uma breve história do tempo, Hawking explica melhor os conceitos: “Pode-se dizer que o tempo teve um início no Big Bang, no sentido de que tempos anteriores simplesmente não seriam definidos. Deve-se enfatizar que esse início do tempo é muito diferente daqueles que haviam sido considerados anteriormente.

Em um universo imutável, um início no tempo é algo que tem de ser imposto por um ser fora do universo; não existe a necessidade física de um início. Esta, como outras teorias rivais, foi incapaz de fornecer uma explicação satisfatória para as várias evidências empíricas. A teoria do Big Bang, tendo até agora refutado todas as principais concorrentes, continua a ser a pedra angular da cosmologia moderna. A ideia condensada: o início do tempo e do espaço Glossário Absolutismo Na ética, a visão de que certas ações estão certas ou erradas sob quaisquer circunstâncias; na política, o princípio de que o poder e os direitos de um governo são ilimitados. Clássico Relativo à antiga cultura ou civilização grega ou latina; na arte e na arquitetura, influenciado por formas ou princípios gregos ou romanos; na física (= newtoniano), relativo às teorias vigentes antes do desenvolvimento das teorias da relatividade e da mecânica quântica.

Consequencialismo Na filosofia, a visão de que a retidão das ações deve ser julgada unicamente em relação à sua eficácia para produzir os resultados desejáveis. Empírico Conceito ou crença baseado na experiência (evidência dos sentidos). Empirismo Visão de que todo conhecimento se baseia na experiência dos sentidos ou está inextrincavelmente ligado a ela. Estética Ramo da filosofia preocupado com as artes, incluindo a natureza e a definição das obras de arte, e justificativa para a crítica e o julgamento artístico. Fatalismo Visão segundo a qual o que quer que seja será e por isso não importa como agimos. Fisicalismo ver em Dualismo Humanismo Qualquer visão em que se confira aos assuntos humanos importância primordial; em particular, o movimento do Renascimento, em que a dignidade humana foi colocada acima do dogma religioso.

Naturalismo Em filosofia, visão de que tudo (inclusive conceitos morais) pode ser explicado como “fatos da natureza” que em princípio podem ser descobertos pela ciência; na arte, estilo de representação que enfatiza a exatidão da descrição. Newtoniano Relativo à obra de Isaac Newton (1642-1727) e, por extensão, à física clássica em geral; ver em Clássico. Objetivismo Em ética e estética, visão de que valores e propriedades como bondade e beleza são inerentes aos objetos e existem independentemente da apreensão humana. Pragmatismo Em filosofia, a visão de que crenças ou princípios deveriam ser avaliados pela comprovação na prática. Racionalismo Visão de que o conhecimento (ou algum conhecimento) pode ser adquirido de outra forma que não pelo uso dos sentidos, mas pelo exercício dos poderes da razão.

encontrando-se fora do âmbito da Índice 11 de setembro de 2001, ataques de 20, 76, 79, 117, 124, 152, 154, 160 A aborto 48, 78, 79, 85, 88 Abraão e Isaque 73 absolutismo 30, 97, 135, 208, 209 abstração 174 absurdo 56, 57, 59 Adams, John 111, 133 agnosticismo 80, 82 alcorão 153 alma 7, 9, 11, 13, 31, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 129, 170, 171, 208 Al-Qaeda 77, 152, 153, 155 altruísmo 20, 21, 22, 23 apartheid 144, 146 aquecimento global 191 Aristóteles 12, 13, 14, 15, 36, 68, 71, 109, 110, 167, 174 aristotelismo 12, 15 assimilação 125, 126 ateísmo 7, 80, 81, 82, 83, 84 automatismo 177, 178, 179 B behaviorismo 44, 46, 47 bem, o 60, 61, 63, 68, 70, 72 Big Bang 204, 205, 206, 207 C caos 20, 39, 192, 193, 194, 195 capitalismo 106, 118, 137, 139, 141, 150, 156, 157, 158, 159 células-tronco, pesquisa com 85, 88 censura 102, 180, 181, 182, 183 ceticismo 32, 33, 34, 35, 46, 114 ciência e raça 146 Cinco Argumentos, Os 15 circuncisão feminina 49 Civil Americana, Guerra 92 Civil Inglesa, Guerra 100, 103, 110 classicismo 164, 165, 166, 167, 169, 170, 171 Clístenes 109 comunismo 7, 108, 113, 136, 138, 139, 140, 141, 209 consequencialismo 52, 208 conservadorismo 7, 78, 79, 104, 105, 112, 113, 115, 135 Constituição dos Estados Unidos 84, 86, 91, 134, 148, 180, 183 contrato social 105, 128, 130 Copenhague, interpretação de 202 cosmológica, constante 205 cosmológico, princípio 207 craniometria 147 criacionismo 88, 89, 90, 91 cristianismo 15, 31, 66, 79, 89 D dadaísmo 174, 176, 177, 179 Daisyworld 190 Darwin, Erasmus 185 darwinismo 90, 187, 208 social 102, 186 David, Jacques-Louis 164, 167, 168 Declaração de Independência 24, 26, 132, 135 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 24, 26 democracia 26, 30, 76, 79, 87, 108, 109, 110, 111, 113, 117, 124, 161, 162 democracias liberais 26, 27, 48 Design Inteligente 187 destino 31, 58, 64, 65, 66, 67, 190 desvio para o vermelho 204, 205 determinismo 65, 202, 208, 209 Deus e o início do tempo 206 dever 96, 97, 99 direito divino 24, 97 direitos humanos 24, 27, 30, 123, 144 dogmatismo 15, 30, 33, 79, 208 Domenichino 166 dualismo 9, 70, 71, 208 substância 70 duplo efeito 98 E efeito borboleta 194, 195 efeito estufa 190 efeito fotoelétrico 200, 202 Eisenhower, Dwight D.

Eliot, T. S. Emerson, Ralph Waldo 121 empirismo 36, 208 Engels, Friedrich 103, 136, 209 Epicteto 64, 66 Ernst, Max 176, 179 Escavadores 100, 103 Escolástica 12, 14 escravidão 24, 27, 49, 144, 149 Estátua da Liberdade, Nova York 26, 124 Estilo Internacional 175 estoicismo, estoicos 64, 66, 134 eudaimonia 13 eugenia 103, 143 eutanásia 85, 98, 143 evolução 20, 22, 23, 78, 83, 90, 91, 184, 185, 186, 187, 208 existencialismo 7, 56, 57, 58, 59 F Falwell, Jerry 79 fascismo 7, 108, 140, 141, 142, 143 fé 7, 31, 48, 72, 73, 74, 75, 77, 78, 79, 85, 106, 141, 142, 152, 153, 154 feminismo 148, 149, 150, 151 formas 9, 10, 70 fractal 192, 194 Franklin, Benjamin 181, 183 Frente Islâmica Internacional 152 Freud, Sigmund 172 Fry, Elizabeth 40, 42 Fukuyama, Francis 161, 162 funcionalismo 44, 46, 47 fundamentalismo 48, 76, 77, 78, 79, 153 G Gaia 188, 189, 190, 191 Galápagos, ilhas 184 Galbraith, J. K. West, Rebecca 149 Whitehead, Alfred North 8, 48 Wilde, Oscar 40, 101, 109, 181 Wollstonecraft, Mary 148, 149, 150 Wordsworth, William 112, 168, 170, 171 X Xaria 153 Z Zangwill, Israel 124, 125.

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