DESENVOLVIMENTO E LITERATURA CANÓNICA A busca pela quarta liberdade africana através da literatura presente nos manuais escolares

Tipo de documento:Revisão integrativa de literatura

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

Análise dos textos canónicos constantes dos manuais de Língua Portuguesa da 11ª e 12ª classes do ensino público moçambicano………………………………………. … 07 CONCLUSÃO ………………………………………………………………………………. … 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………………. DESENVOLVIMENTO E LITERATURA CANÓNICA A busca pela quarta liberdade africana através da literatura presente nos manuais escolares INTRODUÇÃO Este trabalho, que será apresentado como avaliação da cadeira de Pensamento Africano no âmbito do Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos da Universidade Pedagógica – Beira, tem como objectivo discutir e analisar a relação entre os textos canónicos moçambicanos (recomendados pelo Ministério da Educação para a utilização no sistema de ensino público) e a geração de um pensamento crítico que seja motor do desenvolvimento e emancipação político-social e, consequentemente, económica.

Devido à impossibilidade temporal, optámos por delimitar esta pesquisa aos textos constantes dos manuais de Língua Portuguesa da 11ª e 12ª classes do Ensino Secundário Geral. Ao final do trabalho, tentaremos responder à questão “Em que medida os textos constantes dos manuais de Língua Portuguesa da 11ª e 12ª classes do ensino público moçambicano são instrumentos de fomento da criticidade em relação à sociedade em que os alunos estão inseridos e consequente fonte de pensamento emancipatório?”. A BUSCA DA LIBERDADE COMO PARADIGMA DO PENSAMENTO AFRICANO – SEVERINO NGOENHA (Este capítulo é um breve resumo da Aula-palestra concedida ao curso de Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos da Universidade Pedagógica da Beira, 05 e 06 de Dezembro de 2015. De acordo com Severino Ngoenha, o substrato de base do pensamento africano é a busca da liberdade.

Esta busca divide-se em quatro momentos ou buscas por liberdades que, apesar de terem características próprias, confundem-se e interinfluenciam-se: 1. Liberdade como emancipação da escravatura – século XV ao século XIX: os negros, na diáspora, longe de suas culturas e de suas línguas, identificam-se com a condição de negros, escravos e oriundos de uma terra a que o europeu/branco chama continente africano. Em 1945, no Congresso Pan-africano sedeado em Manchester, passa a liderança do movimento para Kwame Nkrumah. Este congresso, sob o corolário da reivindicação da autodeterminação política do continente africano, representa a passagem para a terceira busca pela liberdade. Liberdade como autodeterminação política – século XVIII até 1979: a reivindicação lançada por Du Bois e Nkrumah no 5º Congresso Pan-africano, na verdade, tinha o ideal macrocósmico de uma África livre e unida.

Esta terceira busca pela liberdade, porém, foi caracterizada pela luta de libertação dos países, individualmente. Apoiadas pelas grandes potências que almejavam os mercados africanos, as colónias africanas foram uma a uma adquirindo a sua libertação face ao colonialismo. Desta maneira, neste “desvendamento do mundo”, o escritor leva outros homens (leitores) a assumirem a sua responsabilidade em face das suas vidas e da sua relação com a sociedade e condições humanas. Alargando a visão sartreriana, pode-se dizer que a literatura, pelo seu carácter essencialmente humanista, foi sempre um instrumento de partilha de sentimentos e aspirações das sociedades e do tempo em que foi produzida. Deve, portanto, ser entendida com base nas dicotomias literatura/sociedade, literatura/ética, literatura/política e literatura/utopia (Manjate, 2014) 3.

Esta relação estreita da literatura com a sociedade, a ética, a política e a utopia é patente em um dos principais instrumentos de validação da literatura como instituição: o sistema de ensino e o ensino da língua apoiado nos textos literários canónicos. Reis (2011) define o cânone literário como “o elenco de autores e obras incluídos em cursos básicos de literatura por se acreditar que representam o nosso legado cultural” (p. ANÁLISE DOS TEXTOS CANÓNICOS CONSTANTES DOS MANUAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA DA 11ª E 12ª CLASSES DO ENSINO PÚBLICO MOÇAMBICANO Dentre os objectivos gerais da disciplina de Português no Ensino Secundário Geral do Ministério da Educação de Moçambique, no seu Programa de Português para esta modalidade de ensino, podemos destacar os seguintes: a) Usar a língua portuguesa para adquirir e divulgar conhecimentos sobre os deveres, direitos e liberdades; e b) Usar a língua portuguesa para manifestar amor patriótico e orgulho de ser moçambicano; manifestar atitude moral e civicamente correctas; contribuir para a resolução pacífica de conflitos na família, na escola e na comunidade; participar na preservação e conservação do meio ambiente; divulgar as regras de saúde e higiene; divulgar e manifestar atitudes responsáveis em relação à Saúde Sexual e Reprodutiva e em relação ao HIV/SIDA; discutir formas de prevenção da gravidez precoce; manifestar atitudes contra o assédio sexual; adquirir conhecimentos e divulgar informações sobre a prevenção e combate ao uso de drogas; divulgar a importância da agro-pecuária e da pesca como actividades importantes para a subsistência familiar e desenvolvimento económico do país; formular opiniões sobre potencial da hotelaria e do turismo para o desenvolvimento socioeconómico do país; explicar a importância da indústria para o desenvolvimento socioeconómico do país.

Estes objectivos são complementados com os objectivos gerais para a disciplina de Português conforme a classe. Para a 11ª classe, encontramos, dentre outros: julgar as características essenciais da cultura e civilizações; e avaliar princípios e procedimentos característicos da sua própria cultura e de outras civilizações. A par desta, dos objectivos gerais para a 12ª classe, podemos sublinhar: compreender e usar a língua portuguesa como meio de organização cognitiva da realidade para constituição de significados, expressão, comunicação e informação; usar a língua portuguesa para manifestar o amor patriótico e orgulho de ser moçambicano; usar a língua portuguesa para manifestar atitudes moral e civicamente correctas. Os autores moçambicanos recomendados para este nível de ensino são: Rui de Noronha, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Rui Knopfli, Marcelino dos Santos, Orlando Mendes, Luís Bernardo Honwana, Rui Nogar, Sérgio Vieira, Armando Gueguza, Albino Magaia, como representantes do período anterior à independência, e Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa, LíliaMomplé, Paulina Chiziane, Eduardo White, Suleimane Cassamo, Aníbal Aleluia, Calane da Silva, Heliodoro Baptista, Sebastião Alba, José C.

Ainda neste âmbito, os poemas Surge et ambula, de Rui de Noronha, Se me quiseres conhecer, de Noémia de Sousa e O meu preço, de José Craveirinha, servem somente de introdução a um exercício de produção escrita de um poema que exalte a pátria moçambicana. Finalmente, o manual traz a crónica Carta entreaberta do corrupto nacional, de Mia Couto. A temática da corrupção é apenas mencionada e a discussão política que poderia ser gerada a partir daí deixada de lado para dar lugar ao estudo da linguagem empregada no texto. No manual da 12ª classe ocorre uma situação semelhante. Um excerto do texto de Mia Couto O Alfabetizador de palmo e meio introduz, juntamente com outro de autor estrangeiro, a temática da importância da alfabetização e do estudo e serve como base para um debate sobre como possibilitar a alfabetização em um país com realidades linguísticas diversificadas.

Não estão contemplados neste capítulo em virtude da delimitação deste trabalho, que visa analisar somente os textos literários canónicos moçambicanos. CONCLUSÃO A relação entre a literatura canónica e a geração de pensamento crítico passa, primeiramente, pelos macro-objectivos divulgados pelo poder central, no caso, o Ministério da Educação. Ao analisar os objectivos dos Programas escolares elaborados pelo Ministério da Educação, podemos encontrar um certo afastamento entre as recomendações para o ensino da literatura no Ensino Secundário Geral e os objectivos gerais da disciplina de Português e específicos de cada classe. As recomendações afirmam que a literatura deverá ser uma ferramenta que desperte, entre outros valores, o raciocínio crítico. Em contrapartida, os objectivos gerais da disciplina e específicos de cada classe, além das competências linguísticas a serem alcançadas, visam principalmente à obtenção e manutenção de valores patrióticos, humanitários e sociais como deveres, direitos e liberdade, atitudes morais e civicamente correctas6, resolução pacífica de conflitos, temas ligados ao planeamento familiar e à saúde e (re)conhecimento da sua e de outras culturas.

Esgotado o tema da exaltação à independência nacional, Mia Couto surge com Vozes Anoitecidas e Cada homem é uma raça, apoderando-se da língua portuguesa e buscando afirmar uma diferença linguística e literária no interior da língua do colonizador. Era outra busca pela liberdade, desta vez da liberdade de criação. Utilizando a ironia como característica de seus textos, este autor faz crítica social e tem sido um formador de opiniões influente na sociedade moçambicana. Poderíamos citar outros autores e outros momentos representativos da literatura moçambicana, porém pensamos que estes exemplos são suficientes para que se demonstre que a literatura moçambicana sempre esteve de braços dados com a busca da liberdade. Ao retomarmos a pergunta-base deste trabalho,8 podemos, então, concluir que todos os textos analisados têm potencial para despertar o pensamento crítico nos estudantes, porém a forma como são trabalhados nos manuais não deixa muito espaço para o debate de ideias e geração de novos conceitos em relação à sociedade em que os estudantes estão inseridos.

Literatura: Neutra ou Engajada?. Maputo, Escolar Editora, 2014, p. Cadernos de Ciências Sociais) 4. MOÇAMBIQUE. Ministério da Educação e Cultura. Lisboa, Almedina, 2011. SARTRE, Jean-Paul. Que é Literatura? 3. ed. São Paulo: Ática, 2004.

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