CULTURA POLICIAL

Aborda-se inicialmente os conceitos acerca da cultura de modo geral e todo seu percurso histórico diante das diversas interpretações e contextos em que se é utilizado esse termo. Após análise inicial, abordaremos as características e conceituação da cultura policial e as consequências da absorção dessa cultura pelos agentes de segurança. O processo de socialização e absorção dessa cultura ocorre inicialmente no decorrer dos cursos de formação e torna princípios e ritos institucionais frequentes na rotina policial. PALAVRAS-CHAVE: Cultura. Cultura Policial. Essa vasta interpretação no campo semântico do vocábulo “cultura”, deve-se principalmente ao desenvolvimento histórico do termo. De acordo com Williams (2007) apud Canedo (2009), A palavra cultura vem da raiz semântica colore, que originou o termo em latim cultura, de significados diversos como habitar, cultivar, proteger, honrar com veneração Até o século XVI, o termo era geralmente utilizado para se referir a uma ação e a processos, no sentido de ter “cuidado com algo”, seja com os animais ou com o crescimento da colheita, e também para designar o estado de algo que fora cultivado, como uma parcela de terra cultivada.

A partir do final do século passado ganha destaque um sentido mais figurado de cultura e, numa metáfora ao cuidado para o desenvolvimento agrícola, a palavra passa a designar também o esforço despendido para o desenvolvimento das faculdades humanas. Em conseqüência, as obras artísticas e as práticas que sustentam este desenvolvimento passam a representar a própria cultura. Mais adiante, por volta do século XVIII a XIX, Denys Cuche traz em sua obra A noção de Cultura nas Ciências Sociais, a consolidação do uso figurado desse vocábulo nos campos artísticos e intelectuais, demonstrando que nesse período tal termo era utilizado como um mero complemento a fim de demonstrar o assunto que estava sendo tratado, a exemplo das expressões “cultura das artes”, “cultura das letras”, entre outras.

CANEDO, 2009) Para além desses conceitos, é possível que se pense ainda em uma cultura política específica que abranja o grupo dos agentes policiais, em que existem algumas características gerais que informam o modelo da atividade policial em diferentes contextos, o que será apresentado no tópico a seguir. CULTURA POLICIAL As policiais representam um grupo específico burocrático do Estado que exerce poder na sociedade concebido pelo poder de polícia¹, dessa forma é necessário que, para que se compreenda o papel e funcionalidade desses agentes, haja uma reflexão do exercício dessa atividade na sociedade. Como meio de se compreender as características dessa instituição, deve-se levar em consideração os meios pelos quais seus agentes são socializados e como assimilam a reprodução de si mesmo quanto agentes da ordem (BARREIRA & VIEIRA, 1998) O processo de socialização dos policiais inicia a partir dos cursos de formação, onde se é apresentado princípios e costumes institucionais.

De acordo com Barreira e Vieira (1998), na polícia militar, por exemplo, esse processo ocorre de maneira formal e informalmente, onde o policial deve ser tido como disciplinado para o exercício da sua profissão e para o poder sobre a vida. Essa metodologia pode sugerir a existência de um processo de internalização em que os agentes policiais absorveriam os códigos de conduta e moralidade de seu grupo profissional. Nesse sentido, observa-se que a formação policial no Brasil ainda é vista como uma cultura autoritária do emprego da polícia e que os agentes não estão contrários a valores culturais de uma sociedade fortemente preconceituosa e hierarquizada. Assim, não se trata apenas de modificar a formação dos policiais que ingressarão futuramente na instituição, mas sim “reformar” aqueles que já estão ali presentes, pois, talvez assim, alguns paradigmas poderiam ser desconstruídos e construir-se-ia uma nova concepção na sociedade de que os policiais são “sujeitos de direitos e destinatários da proteção da polícia.

” (LIMA, 2008) Assim, a formação policial deve ser vista por uma ótica democrática devendo-se levar em consideração que: a polícia é um serviço público que visa garantir a proteção e defesa da sociedade; a polícia deve ser empregada como uma parte política de exteriorização da cidadania e universalização dos direitos; e, o princípio da autoridade policial é justamente a capacidade de resolução de conflitos. No entanto, de acordo com Barreira e Vieira (1998) os policiais articulam representações e princípios como: A sociedade possui a polícia que merece. A polícia é o termômetro que mede o grau de civilização de um povo: A violência policial é apenas o reflexo da violência sociaL A cultura machista do Nordeste é fonte de violência.

GHIBERTO, 2013, p. tradução nossa) Com isso, a suspeita é uma das características que aparecem com constância na rotina policial, tendo em vista que diariamente o agente passará por situações em que ele deverá tomar as atitudes elencada pelo autor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas das características citadas no decorrer deste ensaio nos permitem enumerar uma série de valores bastante representativos que os policiais absorvem no decorrer de sua carreira que são tidos como úteis para o desempenho de suas funções institucionais. Em primeiro lugar ressalta-se o aprendizado adquirido nos cursos de formação onde se tem o primeiro contato do agente com os princípios da instituição. As academias e centros de formação são os setores que estão mais relacionados com o aprendizado de como “devem ser” os policias e, logo após, o contato com seu trabalho na prática onde os indivíduos desse grupo social se dão conta do que realmente é “ser polícia” e as múltiplas dificuldades e limitações que existem no desempenho de suas funções.

CANEDO, Daniele. “CULTURA É O QUÊ?” - REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE CULTURA E A ATUAÇÃO DOS PODERES PÚBLICOS. Disponível em: http://www. cult. ufba. MICELI, Sergio. A FORÇA DO SENTIDO. São Paulo: Perspectiva, 1992. LIMA, Roberto Kant de. DIREITOS CIVIS, ESTADO DE DIREITO E "CULTURA POLICIAL": A FORMAÇÃO POLICIAL EM QUESTÃO.