CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NOS POEMAS DE FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS

Tipo de documento:Artigo cientifíco

Área de estudo:Literatura

Documento 1

Jocineide Catarina Maciel de Souza. JUARA-MT 2017 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO DIRETORIA DE GESTÃO DE EDUCAÇÃO A DISTANCIA SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UAB LICENCIATURA E M LETRAS PORTUGUÊS/INGLÊS SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO. OBJETIVOS. JUSTIFICATIVA. Fernando Pessoa foi um dos maiores escritores da literatura universal e um dos mais aclamados e respeitados poeta da língua portuguesa e língua inglesa. A figura misteriosa, cuja genialidade fez nascer diversos heterônimos com estilos e biografia próprios, é sinônimo de multiplicidade e versatilidade literária. Até hoje pesquisadores analisam sua vida e obra para entender como era possível um homem ter várias formas de escrita vivendo vários personagens e, colocar sua obra como objeto de estudo é nosso objetivo fazendo com que seu talento não seja esquecido.

Fernando Pessoa tinha uma forma única de escrever o que torna seus poemas singulares e análise de seus heterônimos enriquece nossa forma de analisar o mundo. Observar a maneira como ele se reporta a mulher em seus poemas é relevante, ao fato de que há muito tempo a mulher é retratada em poemas e poesias como um ser inalcançável e distante, digna de uma beleza sem igual e sombria. Além de analisar o perfil dessas mulheres mostraremos como foi crescendo a escrita feminina no decorrer das décadas, como isso fez a mulher tornar - se forte e independente, mostrando que o feminino foi ganhando cada vez mais voz no mundo, e por meio desse artigo mostrar como a mulher deixa de ser somente representada pelo discurso masculino e passa também a representar, ela mesma, seus próprios personagens e ideologias.

Ao verificar a construção da identidade feminina, nos poemas dele podemos também observar e analisar a representação da mulher na literatura brasileira e portuguesa e como foi feita representação feminina, na obra dele. Para tanto inicialmente escolhemos três (03) poemas do autor, sendo dois (02) sonetos, estilo clássico de poemas muito popular dos autores da época de Pessoa, e outro mais extenso, porém traz uma história de amor dos clássicos, da mitologia grega. Os poemas foram escolhidos como norteadores do trabalho, podendo posteriormente ser trocados, para melhor adaptação do tema, mas a saber: “Dá a surpresa de ser”, “Ela ia, tranqüila pastorinha” e “Eros e Psique”; são poemas famosos do autor e em cada um deles representa uma mulher em um contexto diferente, mas com algumas singulares que percorrem as três heroínas de Pessoa.

Portanto, através da leitura e análise deles será estrutura qual a representatividade da mulher na literatura, com o enfoque em um dos mais célebres poetas, reconhecido mundialmente, claro que ao retratar Pessoa também iremos mostrar seus heterônimos, mais conhecidos. O livro contém uma nova leitura do intrincado poema cujo fac-símile vem reproduzido no prefácio, em sua obra, importante contribuição sobre a teoria e a história da heteronímia. Em entrevista ao Blog Ateliê ele explica que estuda a obra de Pessoa a décadas, demonstrando que além de um estudioso, é um apaixonado pelos escritos do poeta: Na verdade, eu estudo a obra de Pessoa desde o princípio dos anos 80, quando comecei a dar aulas de literatura portuguesa na Universidade Nova de Lisboa.

Antes disso, já era um leitor, com toda a paixão de leitura de Pessoa que era comum a tantos amigos meus, paixão que estava nesses anos num especial crescendo, com a publicação, tão longamente esperada, do Livro do Desassossego em 1982. Mas é verdade que só a partir dos anos 90 comecei a publicar mais regularmente sobre Pessoa e o Modernismo português. Hoje, o que me parece de maior importância é analisar e integrar a ficção narrativa que tem surgido nos últimos anos, bem como os seus múltiplos escritos de filosofia. Seus heterônimos não são meras criações; cada um deles detém uma psique própria e um comportamento definido, os quais se reafirmam autenticamente por meio de sua expressão artística intrínseca e distinta da maneira de agir do autor Fernando Pessoa, o qual é considerado, em sua produção literária, o hortônimo, ou seja, a personalidade primitiva.

E por ser tão próximos nos desdobramentos dos seu heterônimos, acaba por se confundir com eles em alguns momentos. Um quarto nome significativo pode ser adicionado a esta lista, o de Bernardo Soares (1982), criador do célebre “Livro do Desassossego”, mas Bernardo não é visto exatamente como as demais faces de Pessoa, pois tem muitas características similares às do poeta e não tem uma história pessoal; assim, é classificado pelos estudiosos como um semi-heterônimo. O vasto conhecimento da língua inglesa permitiu que Pessoa traduzisse vários autores, entre eles, Lord Byron, Shakespeare e as principais histórias de Edgar Allan Poe, entre elas “O corvo”. Além de poeta e tradutor, Fernando Pessoa foi jornalista, editor e empresário. Pessoa escreveu sobre os temas mais distintos.

Um dos mais explorados foi Portugal, sua terra natal. Contudo, como é comum a muitos poetas, ele também se debruça sobre a figura feminina e o faz de modo muito peculiar. O presente trabalho visa estudar profundamente o papel do feminino nas obras de Fernando Pessoa. Para tal, faremos uso de poemas que envolvam esta temática, contando com o auxílio luxuoso de textos de estudiosos acerca de sua obra. Trabalhou durante boa parte da vida como tradutor de cartas comerciais para empresas estrangeiras, e publicou apenas dois livros enquanto vivo: “35 sonnets” (livro de poemas, em inglês) e “Mensagem”, a obra mais conhecida dele, na qual apresenta o glorioso passado de Portugal e tenta encontrar um sentido para a antiga grandeza e a decadência existente no seu país na época em que o livro foi escrito ( Idem, p.

Um livro que revisita e também cria uma mitologia do passado heróico de Portugal, repleta de símbolos. Um livro que apresenta proximidade com o que propunha o modernismo quando no seu surgimento: dar maior visibilidade e vida à história e à cultura de Portugal, evitando continuar deixando-a para trás perante o cenário europeu da época ( Ibidem, p. A revista Orpheu – considerada um marco do modernismo português – traz em sua primeira edição, lançada em 1915, os poemas Ode triunfal e Opiário, assinados com o pseudônimo de Álvaro de Campos. Como Pessoa mesmo, publica O marinheiro ( QUEVEDO, 2015, p. Só que sua imaginação é pueril e equipara a estrutura feminina a montes, barcos e frutos. Isto demonstra sua ingenuidade, seu distanciamento. Embora ele imagine a mulher deitada, não esboça desejo ou fascínio.

Talvez um certo medo peculiar a um menino. A beldade loira não parece estar por perto, uma vez que o poema transmite tamanha frieza. notaríamos quase uma indiferença do primeiro ao avistar a figura feminina ao passo que o segundo nutre um misto de sentimentos – paixão, entusiasmo, idolatria, desejo, sofrimento - por outra que por ele passa. A segunda mulher atordoa o poeta e deixa nele uma marca perene; a primeira certamente será esquecida e sequer ocupará o lugar do sonho. Ela ia tranquila pastorinha Neste poema de temática campestre, Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Pessoa, imprime sua perspectiva bucólica e ingênua do mundo. A vida é para o poeta como uma espécie de dia no campo, ambiência que, como se recorda, é o lugar onde Caeiro mora.

Nesse local, ele se sente como um pastor que tem como rebanho não as ovelhas, mas seus próprios pensamentos. É bem provável que ele fala de uma mulher falecida, desconhecida de todos, mas próxima de seu coração. Em seguida, pede ele a Deus que lhe dê lírios em vez ‘desta’ hora. Os panteístas buscam na Natureza a essência da sua individualidade e existência, por isso a vida de Caeiro tem o egoísmo natural das flores e segue o percurso dos rios, sem se preocupar com o destino. A sua missão no Mundo é apenas de viver, assim como a natureza existe e é admirada pela sua profundeza. MENEGUSSO, s/d, p. Para o presente trabalho, analisaremos o texto sob o viés mais comum – do poema de amor – por ser o que mais se adequa ao objeto deste trabalho.

Este poema trata de uma narrativa mitológica e foi publicado especificamente neste livro por tratar-se de uma canção. Ele figura entre as poesias ocultistas por possibilitar uma interpretação de cunho esotérico. A angústia existencial e a inquietação perante os enigmas do mundo, marcas do poeta, são contempladas em alguns versos. Já no começo do poema, “Pessoa usa o sonho, o saudosismo de uma infância idealizada e de um tempo passado perfeito e perdido. Enquanto o príncipe enfrenta o mal, a princesa adormecida continua inconsciente. A grinalda de hera que enfeita sua fronte representa alegria e juventude e geralmente ornava a cabeça dos mortos na Grécia Antiga. Destino, com inicial maiúscula, remete-nos à religiosidade dos poemas de Pessoa, a algo a que se está predestinado.

Apesar de tanto esforçar-se, O Infante parece alheio ao que busca e o propósito divino mostra-se obscuro. Finalmente, ele encontra a si mesmo ao encontrar o outro. O poema de Fernando Pessoa parece reunir todo o sentido da vida: a procura milenar para o preenchimento de uma falta reunida à certeza de que a estrada existe para a realização de uma ataraxia, portanto, a síntese final das dicotomias humanas, mas síntese que gera tese, dando ao homem o amadurecimento para uma nova aporia, um novo começo, uma nova síntese - esta é a procura para consertar uma imperfeição que é do homem (ARAÚJO ,1998, p. CONSIDERAÇÕES FINAIS A obra de Pessoa é vasta e, por isso, para nos atermos ao propósito deste trabalho, elencamos três poesias.

Todos os poemas escolhidos versam sobre uma figura feminina. O sentimento que perspassa o primeiro poema é a indiferença. O eu-lírico demonstra-se inexperiente e inseguro. É, antes disso, uma mulher que fica delegada a um segundo plano. Em contrapartida, a mulher portuguesa e as mulheres do mundo, de modo geral, estão cada vez mais atentas as causas feministas, à conquista de um lugar de fala, de melhores condições profissionais. As mulheres do milênio buscam igualdade. Fernando Pessoa não execrava a figura feminina. O que experimentava pelas mulheres era um misto de temor e alguma admiração. br/2017/02/fernando-estuda-fernando-pessoa/#. WiCBZ9NSzIU. Acesso: 11/01/2018. ARAÚJO, Orlando Luiz de. Eros e Psiquê ou dos caminhos navegáveis. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2006. CASTRO, Ivo (Org. Edição Crítica de Fernando Pessoa: Poemas de Fernando Pessoa.

Brasil: Imprensa Nacional - Casa Da Moeda, 2004. p. ebc. com. br/cultura/2013/06/conheca-a-biografia-de-fernando-pessoa-e-de-seus-heteronimos. Acesso:11/01/2018. FAGGIANI, Nádia; Costa, Gilberto. Disponível em: http://memoria. ebc. com. br/agenciabrasil/noticia/2013-06-13/os-heteronimos-aperfeicoaram-fernando-pessoa. Acesso:12/01/2018. Fernando Pessoa. Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho. Lisboa: Ática, 1982. LOBO, Luísa. p. MENEGUSSO, Gustavo. Estilo de mestre: objetividade e culto à natureza nos poemas do heterônimo Alberto Caeiro, de Fernando Pessoa. In: Darandina Revisteletrônica– Programa de Pós-Graduação em Letras/ UFJF – vol. n. Destramando o texto: leitura de Eros e Psique, de Fernando Pessoa. In: Revista de Literatura Itinerários, 2003. Disponível em: < http://seer. fclar. unesp. As múltiplas faces de Fernando Pessoa. ed. Brasil: Editora Núcleo, 2013.

p. PESSOA, Fernando. Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor): Eros e Psique. Disponível em: <http://arquivopessoa. net/textos/4265>. Acesso em: 12 jan. PESSOA, Fernando. PUCCINI, Italo. O modernismo português e Fernando Pessoa. Disponível em: <https://periodicos. ufsc. br/index. In: Revista Latinoam Psicopat. v. n. Disponível em: < http://www. scielo. pdf> Acesso em: 21/02/2018. SILVA, Vitor Manuel de Aguiar. Teoria da Literatura. Martins Fontes, 1976. ANEXOS Poemas pré - escolhidos Dá a surpresa de ser Dá a surpresa de ser. Só sua sombra ante meus pés caminha. Deus te dê lírios em vez desta hora, E em terras longe do que eu hoje sinto Serás, rainha não, mas só pastora _ Só sempre a mesma pastorinha a ir, E eu serei teu regresso, esse indistinto Abismo entre o meu sonho e o meu porvir.

Eros e Psique Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera.

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