Análise do fantástico entre Bárbara de Murilo Rubião e Dona Redonda de Dias Gomes

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Letras

Documento 1

Agradeço minha filha Lavínia que mesmo sentindo minha falta todos os dias sabe que fiz mais essa faculdade por amor a ela. Agradeço minha mãe e meus sogros por terem cuidado da minha filha quando eu precisei. Agradeço muito a todos os professores que são maravilhosos e souberam dividir seus conhecimentos com muita dedicação. Em especial agradeço minha orientadora Dra Rosa Maria pela paciência e dedicação em direcionar esse trabalho e por suas aulas inspiradoras. Agradeço a Prof. Tenha medo de ficar parada. ” Anita Garibaldi RESUMO GOLVEIA, Simone Losada. Análise do fantástico entre Bárbara de Murilo Rubião e Dona Redonda de Dias Gomes. f. Monografia – Licenciatura em Português e Inglês – SANTOS, 2018. Esse TCC faz uma comparação entre duas personagens desse universo: Bárbara, de Murilo Rubião e Dona Redonda, de Dias Gomes.

Aqui discutimos as semelhanças e diferenças das duas personagens, cada qual em seu mundo, com seus coadjuvantes, e comparamos os tipos de literatura (narração e drama) usados para apresentá-las ao mundo. Palavras Chave: Literatura. Fantástico. Crítica. Os contos de Murilo Rubião e as novelas de Dias Gomes estão dentro dessa categoria. Suas histórias se passam num mundo que segue as regras da normalidade, até que deixa de segui-la e, o que é peculiar, os personagens aceitam essa transgressão com estranha naturalidade. O absurdo entra na vida deles sem causar espanto. O presente trabalho pretende compreender um pouco desse estranho mundo, através da análise de duas personagens: as insaciáveis Bárbara, de Murilo Rubião, e Dona Redonda, de Dias Gomes.

Vamos estabelecer semelhanças e diferenças entre as duas, analisando seus anseios, sua relação com as realidades em que estão inseridas, e também, a construção das personagens considerando o meio de comunicação utilizado por cada autor. Em 1969 assume a chefia do Departamento de Publicações e Divulgação da Imprensa Oficial. Em 1975 foi eleito presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais. Sua primeira publicação aconteceu em 1940 com o conto Elvira, Outros Mistérios. Em 1947 publica seu primeiro livro O Ex-Mágico, ganhador do prêmio da Academia Mineira de Letras. Também publicou os livros A estrela vermelha (1953), Os dragões e outros contos (1965), O pirotécnico Zacarias (1974), O convidado (1974), A Casa do Girassol Vermelho (1978) e O homem do boné cinzento (1990). Essa peça, apesar de nunca ter sido encenada, foi premiada no Concurso do Serviço Nacional do Teatro (SNT) em 1939.

Teve sua primeira peça encenada em 1942 por Procópio Ferreira, denominada Pé de Cabra,censurada no dia de sua estreia pelo Estado Novo (regime ditatorial instituído pelo presidente Getúlio Vargas)2, por ser considerada como tendo conteúdo marxista. Mais tarde foi liberada, com o corte de algumas cenas, e foi sucesso de público e crítica. Uniu-se a Procópio Ferreira, para quem escreveu diversas peças, mas essa parceria acabou devido a desavenças políticas e isso o levou ao rádio, onde trabalhou por cerca de 10 anos, adaptando radionovelas. Em 1950 Dias Gomes casa-se com a também dramaturga, Janete Clair. Apesar do contexto realista de seu trabalho, não deixou de explorar o fantástico em suas criações. Em 1991 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras e, em 1993, lança, pela editora Record, o romance Derrocada.

Em 18 de maio de 1999, Dias Gomes morre em um acidente de carro, aos 76 anos. CAPÍTULO 2 - CONTO E NOVELA 2. O texto literário Antes de mais nada, queremos falar um pouco sobre a literatura: (. CAMARA & GOMES, p. A telenovela seriada brasileira é considerada uma obra aberta. Ao longo de sua apresentação, ela vai sofrendo influências do público, dos acontecimentos nacionais e internacionais, dos patrocinadores, etc. Gêneros Literários - Diferentes formas de contar histórias As obras literárias podem ser divididas em três gêneros: narrativo (ou épico), lírico e dramático. Alguns consideram essa divisão muito artificial, uma vez que há textos que podem ter características de mais de um gênero. Podemos encontrar uma classificação de romance, novela e conto que leva em consideração apenas o número de páginas.

Um conto é uma história mais curta, com menos de 50 páginas; a novela seria uma história que teria entre 50 e 100 páginas e o romance seria uma narração com mais de 100 páginas. Edgar Allan Poe considerava o conto uma narrativa que podia ser lida dentro do intervalo de meia hora à uma hora e meia. Seguindo essa linha, um romance seria uma narrativa que ocuparia um tempo mais considerável. Essa classificação, entretanto, é muito simplista porque não leva em consideração características específicas de cada tipo de narrativa. No romance, normalmente, há a narração de diversos acontecimentos, com um número maior de personagens e estes são caracterizados mais detalhada e profundamente. Nesse estudo consideraremos um conto como uma narrativa curta, com poucos personagens e uma história concisa.

Bárbara (RUBIÃO, 1974) é um texto curto e centra-se em dois personagens (o filho tem uma participação pequena e secundária), um dos quais é o narrador. Sua narração concentra-se em apontar uma característica marcante de um personagem e na forma como isso afeta o outro personagem/narrador. Bárbara é inegavelmente um conto, por todas as classificações conhecidas. O autor era conhecido por reescrever seus contos diversas vezes. Dada sua brevidade e a necessidade de condensar toda a história dentro desse espaço/tempo restrito, cada palavra é importante e colabora com a clareza da escrita que é uma característica marcante de seus textos. Segundo Grando (2013) essa especificidade acaba por exacerbar as peculiaridades das histórias do autor: O que pode surpreender no estilo de Murilo Rubião é a presença de uma linguagem clara, objetiva, contrastando com os enredos desconcertantes.

Essa mescla de situações absurdas com uma linguagem sóbria, acessível, amplifica a sensação de estranhamento na leitura dos contos (GRANDO, 2013)5. Essa linearidade temporal é também uma característica da novela televisiva. Segundo Desidério (2015) uma característica que distingue a telenovela de outros gêneros literários é a de incorporar elementos de não ficção em sua estrutura, mesmo tendo sido “fundada na ficção”: Na tensão entre real e ficcional que marca a telenovela como produtos da teledramaturgia estão presentes influências de gêneros literários como o romance e o folhetim, de estruturas narrativas como o melodrama e de tendências artísticas como o realismo e o naturalismo. Fundada na ficção, a telenovela incorporou o não ficcional como elemento de sua estrutura narrativa; e tal incorporação se tornou uma característica central para análises da teledramaturgia, assim como de outras linguagens mais tradicionais que a telenovela, como a do teatro e da literatura, cuja construção narrativa apresenta essa problemática (DESIDÉRIO, p.

Assim sendo, a telenovela tenta apresentar a realidade, mas, ainda assim, pode tornar-se uma obra literária criativa, pois há a intermediação do autor nessa apresentação. Os acontecimentos da novela, de um modo geral, não são a representação de fatos históricos, mas sim a representação de fatos ficcionais que tentam reproduzir acontecimentos banais do dia a dia, com o intuito de fazer com que o telespectador se identifique com a situação e com os personagens fictícios. Embora a ideia de não ficção venha dessa ligação com a realidade, a telenovela cria novas realidades, sem estar presa aos signos característicos da narrativa literária, onde essa representação acaba sendo limitada pelos recursos específicos desse tipo de produção, que a sujeitam a interpretações diversas, em que os signos estão sujeitos mais ao significante do que ao significado.

FRAGOSO, 2013) 6 No Brasil, a telenovela pode ser considerada uma obra literária que atinge um número gigantesco de “leitores” e interfere diretamente em nossa cultura. Tradicionalmente, a novela, na maior parte das vezes, tenta ser uma representação realista do homem contemporâneo e do seu cotidiano, usando uma linguagem coloquial, fugindo, assim, de certos padrões convencionais da literatura. O objetivo é fazer como que os telespectadores se identifiquem com os personagens e os acontecimentos. Saramandaia (GOMES, 1976), apesar de seu caráter fantástico, apresenta de forma caricata e exagerada, temas contemporâneos, como a repressão sexual (da personagem Marcina, que, literalmente, põe fogo na cama) e o preconceito como no caso de João Gibão, que tinha receio de mostrar suas asas. A telenovela brasileira baseia muitas de suas histórias, tanto a história mais completa quanto as pequenas histórias que a acompanham, em contos, romances e novelas literárias.

Além da construção feita pelo ator, também é necessária a construção feita pelo figurinista, as roupas, os acessórios, a maquiagem, os pequenos detalhes que transformam Wilza Carla na Dona Redonda de 1976 e Vera Holtz na Dona Redonda de 2008, cada qual utilizando técnicas específicas de cada período para produzir os efeitos especiais que chamam a atenção para as proporções exageradas da personagem. Outro recurso cinematográfico importante para a composição dos personagens e da história é, segundo Caremlino & Carvalho, a câmera: Quanto aos recursos que constituem o que se convencionou chamar de linguagem cinematográfica, merece destaque a câmera: “agente ativo de registro da realidade material e de criação da realidade filmica” (MARTIN, 2003, p. Esse aparelho de registro dos aconteci­mentos é capaz de materializar, no espaço, a trajetória das palavras; as inúmeras possibilidades de olhar, e as múltiplas formas de aproxi­mação e distanciamento que vão dos enormes planos gerais ao close-up.

Ressalte-se, ainda, que a câmera ganhou extrema importância na história do cinema, pois sua mobilidade fez com que se tornasse o olho humano do espectador ou da personagem (CARMELINO & CARVALHO, p. Com relação à câmera, os autores destacam alguns recursos importantes como enquadramento (o diretor determina o que deve ou não aparecer em determinada cena, dando ênfase à presença ou, até mesmo à falta de determinado elemento), plano (é a determinação da distância entre a câmera e o objeto a ser mostrado), ângulos (podem ser utilizados como um fator psicológico para causar uma sensação de superioridade, quando a filmagem ocorre de cima para baixo, ou de inferioridade, quando esta ocorre de baixo para cima, como é o caso de D. A princípio tudo segue normalmente, de forma natural, até que o sobrenatural interfere na narração.

Distopias com 19847 e Admirável Mundo Novo8, encaixam-se nessa classificação. O mundo funciona como o nosso, as pessoas vivem como vivemos, até que surge uma situação que rompe com essa realidade, como os dragões de Murilo Rubião9, o um homem que tem um formigueiro no nariz de Dias Gomes10 ou o funcionário público que se transforma paulatinamente em um inseto, de Kafka11. Em todos os casos citados, nem os personagens nem o autor demonstram qualquer hesitação ante a mudança entre o natural e o sobrenatural. Essas situações aproximam-se da concepção de Fantástico de Jean-Paul Sartre. Para Todorov “a literatura deve ser compreendida na sua especificidade, enquanto literatura, antes de se procurar estabelecer sua relação com algo diferente dela mesma” (TODOROV, 1979, p.

A análise estrutural terá sempre um caráter essencialmente teórico e não descritivo; por outras palavras, o objetivo de tal estudo nunca será a descrição de uma obra concreta. A obra será sempre considerada como a manifestação de uma estrutura abstrata, da qual ela é apenas uma das realizações possíveis; o conhecimento dessa estrutura será o verdadeiro objetivo da análise estrutural. O termo “estrutura” tem pois aqui um sentido lógico, não espacial (TODOROV, 1979, p. Bella Jozef (1986) define a criação literária como um processo de transfiguração e seu resultado é uma plenitude de sugestões e associações, na alternância do fantástico e do real. KRISTEVA in OLIVEIRA et all. – Metodologia das Ciências Humanas. p. A literatura fantástica apresenta uma ambiguidade nas relações entre o indivíduo e a realidade, isto é, as coisas que estão a sua volta.

O escritor reconhece o absurdo do mundo que está criando ,mas há no texto um desdobramento da lógica do ilógico, pois sempre há o desenrolar de situações inusitadas como as mais comuns. Mas, ao cabo de alguns minutos, respirei aliviado. Não pediu a lua, porém uma minúscula estrela, quase invisível a seu lado. Fui busca-la (RUBIÃO, p. Bárbara). Essa mesma falta de espanto diante do bizarro aparece na obra de Dias Gomes: Dona Redonda explode e os pedaços de seu corpo são espalhados por toda a cidade. Realismo Mágico Na América Latina, a literatura fantástica teve características particulares. O Realismo Mágico, também chamado de Realismo Fantástico, refere-se a um movimento literário surgido na América Latina, nas décadas de 1960 e 1970.

Não coincidentemente, esse período foi muito conturbado nessa região, dominada por ditaduras. Esse movimento funcionava como um ato de rebeldia, uma não aceitação da (triste) realidade e uma forma de confundir a censura. Como diria Antônio Candido: “Como conjunto de obras de arte a literatura se caracteriza por essa liberdade extraordinária que transcende as nossas servidões” (CANDIDO, p. Mas será essa uma comparação justa? A narrativa literária e a dramaturgia são duas formas de contar uma história. Duas formas de apresentar uma ideia, duas formas literárias com características específicas e distintas, com códigos distintos. O drama tem um limite de tempo e espaço que a narrativa literária não tem. Por outro lado, tem recursos que os textos escritos não têm: a imagem, o som, a empatia despertada por um personagem “de carne e osso”.

Mas há quem diga que os personagens literários são tão “vivos” quanto os que são vistos nos dramas. Um personagem muito “chato” pode ter sua participação reduzida na trama, assim como um personagem mais interessante pode passar a participar em mais situações. Uma telenovela pode ter sua duração aumentada ou diminuída, conforme a reação do público. A telenovela brasileira tem, ainda, características específicas na sua forma de apresentação. Nela, a trama é acompanhada por uma trilha sonora, geralmente, criada especificamente para a novela, muitos dos personagens têm sua própria música, e essa música também interfere em nossa percepção: Os ícones, como as imagens e os ruídos, mobilizam os sentidos visual e auditivo.

Os signos linguísticos atuam na narrativa com a função de esclarecer o mundo visual pelo recurso da palavra. Em 1976 conhecemos a Dona Redonda da exótica cidade de Saramandaia. Ambas são movidas pelo desejo: Bárbara em possuir algo impossível e Dona Redonda pela gula exagerada e as duas apresentam uma forma física elástica e agigantada que as transporta do realismo para o fantástico. Esse período (meados da década de 70) representa o final do Governo Médici15 e início do Governo Geisel16. No Governo Geisel ocorreu o chamado “Milagre Econômico” marcado por investimentos nos meios rodoviários de transporte e consequente desenvolvimento das indústrias, diminuição do desemprego etc. Esse período culminou com o surgimento da maior dívida externa adquirida pelo Brasil até então, dívida essa que ocasionou um entrave no desenvolvimento do país que durou décadas.

RODRIGUES, 2007)18 A história de uma mulher egocêntrica e cruel é narrada pelo marido, carente e conformado que tem necessidade em satisfazer os desejos absurdos de sua esposa. Uma dupla perfeita; um se alimenta da doença psíquica do outro, ela que cresce engordando com o tamanho do seu ego e ele franzino do tamanho de sua insignificância e o filho que nasce no meio do conto é rejeitado por Barbara, pois ela não desejou “aquilo” então o bebê vai se tornando um ser irrelevante, O conto mostra um tema muito atual, o consumismo das pessoas em querer algo para satisfazer seus próprios ego sem precisar, e isso mostra a sociedade que chamamos de modernidade , termo usado pelo filosofo ZygmunT Bauman,do mesmo jeito que desejam esquecer e se interessam por algo que possa nutrir ainda mais esse sentimento vazio da alma.

O marido de Dona Redonda é “Seu” Encolheu. Igualmente subserviente, cede a todos os desejos da mulher, ajudando-a inadvertidamente, a chegar a seu dramático fim. Ambos fogem ao estereótipo do homem dominante imposto pela sociedade. Não a atraem os frutos nem os ninhos de passarinho; contudo, Bárbara exige do narrador — à época, o fiel companheiro de infância —que os apanhe, vendo-o trepar a árvores altíssimas, de galhos frágeis, tão somente para assistir com avidez à sua queda; isso quando não lhe pedia para agredir gratuitamente os moleques na rua, regozijando-se, depois, ao acariciar lhe “a face intumescida, como se as equimoses fos­sem um presente” oferecido a ela (IANNACE, p. Figura 3 – Bárbara, seu marido submisso e seu filho “raquítico e feio””19 Fonte: Folha Macieira O autor também aponta o agigantamento do corpo de Bárbara como uma representação do consumo desenfreado e nunca saciado da sociedade moderna: É que o corpo da protago­nista de Rubião, figura hiperbólica de formato circular (a “sua excessiva obesidade não lhe permitia entrar nos beliches e os seus passeios se limitavam aos tombadilhos”), parece ilustrar um conflito de extensão mundial (veja-se no corpo de Bárbara, se se quiser, a circunferência do globo terrestre) — conflito que nada mais é que a obesidade e o consumo insaciável que atingem inúmeras populações (IANNACE, p.

A maior parte dos contos de Rubião é precedida por uma epígrafe. Ele usava muitos trechos da Bíblia, mas sem atentar para o caráter religioso dos mesmos. A epígrafe de Bárbara é um exemplo disso: “O homem que se extraviar do caminho da doutrina terá por morada a assembleia dos gigantes”(Provérbios, XXI, 16). Além do corpo deformado, é caracterizada como egoísta, fútil, gananciosa e é retratada como uma mãe desnaturada, que rejeita o filho. A mulher seduz o homem e se aproveita dele, levando-o à destruição. Também podemos perceber essa caracterização mordaz em Teleco o coelhinho, onde a mulher invade a vida de Teleco, desfazendo sua amizade com o narrador e levando-o a não aceitação de sua própria natureza.

O filho de Bárbara “raquítico e feio” é a antítese da mãe. Não recebe amor nem cuidados da progenitora, o pai deixa o filho passar fome para atender os anseios da esposa. Sob a “máscara” do Fantástico, Dias Gomes se vê livre para alinhar-se com a “resistência”. Figura 4 - Dona Redonda: 1976 (Wilza Carla) e 2018 (Vera Holtz)20 Fonte: Site Noveleiros – Foto de Divulgação (TV Globo) Gomes é um pouco mais gentil que Rubião ao caracterizar sua personagem. D. Redonda é gulosa, fútil e preconceituosa, mas é uma boa mãe, ama e é amada pelo marido e este não só aceita como incentiva sua gordura, apesar de temer uma possível explosão. “A mulher é minha e eu gosto dela assim. Redonda tem tudo enquanto que Seu Encolheu não tem nada.

O mesmo contraste aparece, com menor ênfase, entre Bárbara e seu marido e, de forma mais gritante, entre Bárbara e seu filho: São importantes imagens corporais, no momento em que os movimentos feministas brasileiros fortaleciam-se como instâncias de debate político e social, imagens que poderiam deslocar representações de gênero fortemente caracterizadas, dicotomicamente, numa sociedade patriarcal, em suas assimetrias econômicas e de sexo (JULIANO, p. Apesar de não ter desejos tão absurdos e descomunais quanto os de Bárbara, a gordura de D. Redonda também remete ao fantástico: D. Redonda sobe em uma balança na farmácia de Seu Cazuza e o ponteiro aponta 250 kg. Os detalhes da forma e aparência de D. Redonda contrastam com o de Bárbara, onde a representação “visual” fica por conta do leitor.

Rubião aponta a forma descomunal, mas não entra em mais detalhes. Nessa comparação fica evidente as diferenças entre os códigos utilizados nas duas formas de literárias. Na década de 70 o padrão de beleza feminina era exigente. não me leve a mal, mas balança pra senhora tem que ser de pesar gado” (GOMES, 1976). Ela buscava unicamente, seu próprio prazer. Essa inconformidade social levou-a a seu trágico fim. Coronel Rosado, representante da sociedade burguesa sentencia: “Sua desgraça foi justamente essa, ser grande demais”. GOMES, Saramandaia, 1976) A explosão D. Esse consumismo, nas duas personagens, caracteriza-se pelo ciclo de insatisfação, satisfação temporária e o retorno à insatisfação. A comparação das duas histórias também nos remete à comparação de duas formas artísticas de comunicação, a literatura escrita e a dramaturgia.

Apesar de toda dramaturgia surgir da literatura escrita, ao ser encenada, ela escapa às restrições linguísticas e se apropria de novos códigos para apresentar-se ao espectador. Bárbara e D. Redonda, cada qual com sua linguagem específica, servem como representações políticas, como formas de apresentar críticas sociais de forma indireta. Esperamos que, ao conhecer melhor essas duas personagens, possamos desenvolver por elas uma visão mais carinhosa, compreender e respeitar seu anseios e, finalmente aceitá-las. Também esperamos ter aguçado no leitor a curiosidade pelas obras de Murilo Rubião e Dias Gomes, gênios desbravadores da literatura fantástica brasileira que, além de nossas duas heroínas, têm uma gama de personagens absurdos e maravilhosos. REFERÊNCIAS ACADEMIA Brasileira de Letras - Informativo.

Biografia: Dias Gomes. Disponível em: http://www. GOMES, Márcia M. Narrativa e Ficcional Seriado: Os ajustes realizados na adaptação do texto literário para a telenovela. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Recife. CANDIDO, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. ano XII, nº 1. DOS SANTOS, Bruna Carla; BORGES, Erinaldo. Realismo Mágico e Real Maravilhoso: um anseio de afirmação da literatura da América-Latina. Belo Horizonte: Cadernos CESPUC, n. DUCLÓS, Miguel, O conto: dificuldade de definição do gênero e abordagem de alguns teóricos. Comparação Semiótica entre o Cinema e a Literatura. DIÁLOGOS: Revista do Grupo de Estudos do Neo-estruturalismo Semiótico – 2007. Disponível em: http://docplayer.

com. br/17180220-Dialogos-comparacao-semiotica-entre-o-cinema-e-a-literatura-luciana-lima-alves-da-silva-garrit. br/educacao-e-emprego/vestibular/noticia/2013/05/conheca-as-caracteristicas-dos-contos-de-murilo-rubiao-4125985. html (Acesso em 15/10/2018) IANNACE, Ricardo. As excentricidades de Bárbara – Murilo Rubião e o Feminino. Suplemento G - Suplemento Literário de Minas Gerais. Ed. São Paulo: Itaú Cultural. Biografia: Dias Gomes. Disponível em: http://enciclopedia. itaucultural. org. Revista Contexto, n. EDUFES. MOFO TV. Saramandaia (1976): Dona Redonda briga com a balança. Publicado em 2009. São Paulo: Hucitec/UNESP. ORIONE, Eduíno José. A revisitação do amor cortês no conto Bárbara, de Murilo Rubião. Disponível em: http://www4. pucsp. RODRIGUES, Selma Calasans. O Fantástico. Ática. São Paulo, 1988 RODRIGUES, Jeferson Vasques. O Fantástico e a Fantasia. itaucultural. org. br/pessoa6474/murilo-rubiao. Acesso em: 09/08/2018). RUBIÃO, Murilo. Brasília, 2014 TODOROV, Tvetan. As estruturas narrativas. ª ed. ª Ed.

– São Paulo: Perspctiva.

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