ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO : LIXO EXTRAORDINÁRIO

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Artes cênicas

Documento 1

É possível contemplar este movimento em diversos pontos da experiência humana. O fazer artístico presuspõe um emissor, o artista, que propõe uma experiência ao observador. Não há, de fato, um controle absoluto sobre quais serão as interpretações do receptor(observador) em relação a sua obra. Existe, no entanto, direcionamentos estéticos e artisticos que tem a capacidade de direcionar o olhar deste receptor para uma narrativa sugerida pelo autor. Este é o movimento da arte. Feita pelo homem e para o homem, o conteúdo artístico tem, portanto, capacidade de gerar consequências reflexivas e mudar as formas de perceber o mundo nos indivíduos que entram em contato com este tipo de produção. É sob estre prisma que o documentário Lixo Extraordinário pode nos trazer reflexões importantes acerca das possibilidades da arte em responder questões dentro da educação ambiental.

A utilização do lixo como matéria-prima pode ser encarada na História da Arte como uma evolução. Simplifi cadamente, na arte clássica, notamos a busca e a procura por retratar o ser humano em sua máxima perfeição. Havia um contexto religioso em muitas dessas primeiras manifestações artísticas, e o homem era tratado como obra de arte da divindade. Como primeiro ponto, é possível observar que toda a construção da obra de Muniz é baseada em uma tentativa de dar visibilidade aos catadores de Gramacho. Como o próprio artista revela ao longo do documentário, desde sua primeira obra de projeção internacional com as crianças filhas de trabalhadores da indústria da cana-de-açucar, seu trabalho sempre foi orientado para a elaboração de objetos artísticos alinhados com políticas sociais.

Desta forma a ideia por detras da intervenção no Jardim Gramacho está a ressignificação do núcluo formador daquele espaço: o lixo. Este material contém a contradição em si, ou seja, familiar a todos indivíduos e, portanto, presente no cotidiano de todas as pessoas, o lixo, no entanto, é o material que deve ser invisibilizado, escondido e escamoteado da sociedade. Esta contradição escorre para os trabalhadores do aterro, que, ao darem visibilidade ao lixo invisível, tornam-se eles próprios marginais dentro das hierarquias sociais das cidades grandes. No entanto, a arte das grandes galerias são espaços que possuem uma imensa clivagem de classes. É claro que estas perspectivas estão atreladas à questões econômicas e geográficas. O acesso aos museus e exposições tem valor alto e sua localização privilegia os bairros que possuem um alto poder aquisitivo.

Porém, e talvez mais importante, o acesso as manifestações artísticas legitimadas pela elite, pressupoe também um acumulo cultural para que tais obras sejam desvendadas. Isto significa que as clivagem de classe transbordam as barreiras econômicas e atingem camadas mais profundas da sociedade, ou seja, na própria capacidade de interpretação destas obras. Ao ter a sua foto comprada pelos participantes do leilão, há um momento de redenção em sua trajetória de vida, como se aquele valor fosse a compra de sua liberdade enquanto cidadão. De todo modo, o documentário esclarece as possibilidades de intervenção em espaços marginalizados na busca de melhorias nas condições de vida dos trabalhadores, mas sobretudo, para dar visibilidade ao público amplo destes mesmo espaços que são escamoteados pelo poder público.

Como uma espécie de processo contínuo de educação ambiental e cidadã, os trabalhos artísticos que tem como premissa o desvelamento de espaços marginais para o indivíduo urbano possuem um grande potencial educativo, no sentido de não apenas promover uma crítica a um sistema de brutal desigualde social, mas também em tornar visível os processos sociais que envolvem toda a dinâmica da cidade, sua forma de urbanização e suas contradições. Neste sentido, Lixo Extratordinário nos incita a reflexão sobre os possíveis caminhos da arte engajada com cidadania e democracia. Não apenas mostrando o caminho percorrido pelo lixo e todos os processos que envolvem seu tratamento e descarte, o documentário revela a extensão dos problemas ambiental e o descaso do poder público em dar conta das históricas questões ambientais que permeiam todo nosso país.

Disponível em: http://www. ufjf. br/revistaipotesi/files/2011/05/14-Estamira-e-Lixo-Extraordin%C3%A1rio-Ipotesi-1521. pdf (Acesso em: 11/11/2019) DUARTE, José B. VASCONCELOS, Constança. março/ 2003 Cadernos de Pesquisa, n. p. março/ 2003. Disponível em: http://www. scielo. scielo. br/pdf/ciedu/v22n4/1516-7313-ciedu-22-04-1045. pdf (Acesso em: 11/11/2019) TROJAN, Rose Meri. A arte e a humanização do homem: afinal de contas, pra que serve a arte?. Educar, Curitiba, n.

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