Análise de 8 12, de Federico Fellini

O carro de Guido Anselmi já não se movimenta mais. Tem-se a sensação de que Guido está finalmente indo de encontro a um desfecho, andando lentamente em direção aos seus medos, frutos de uma agonia. Ele possui a consciência deles, pois só ele os sente. É chegado o momento de contemplar o pesadelo. Há ônibus com pessoas penduradas em janelas, há pessoas estáticas dentro dos carros. A princípio tem-se certa dificuldade de entender o contexto da obra de Fellini, pois ela aparenta possuir traços autobiográficos, em que a situação experienciada pelo protagonista se envolve com a própria vida e realidade do diretor em questão. Na obra de Fellini, Guido Anselmi é um cineasta que está em constante movimento de uma possível nova produção cinematográfica.

São realizados encontros com atores e atrizes, testes e discussões, no qual nada é jamais definido. Ao que tudo indica, Guido não possui um projeto de filme e tenta sempre contornar a situação caótica e a ansiedade dos atores e produtores. Percebe-se uma inquietação constante e uma incapacidade de solução por parte do protagonista: o bloqueio criativo o toma dos pés à cabeça. Enquanto existe uma intimidação da mídia, dos produtores e dos fãs para a criação do filme, os mesmos se divertem com a inação e o sofrimento de Guido, ou melhor, do próprio Fellini. Gostaria ainda de atentar para algumas questões secundárias também expostas, que para mim foram de imensa importância para a construção de um bom filme.

As trocas temporais de presente para passado, sendo o passado de grande influência no presente, através de sonhos e visões, foram as melhores partes para a compreensão e imersão na obra. Estas trocas de cenas davam, muitas vezes, a impressão de estarmos em outra dimensão, em outro ambiente. Precisava-se relacionar constantemente aquilo refletido nos sonhos e fantasias do passado de Guido, com o momento presente. A inserção de vocábulos da língua inglesa nas falas dos personagens cria uma atmosfera descontraída, já que, é justamente em conversas alegres que os personagens os usam. Fazendo uma rápida pesquisa, obtive a informação de que, a metalinguagem no cinema, possui a tarefa de conectar ainda mais o espectador com a obra, e, consequentemente, com a arte do cinema em si.

Em relação ao desfecho do filme, para mim ficou bastante incompreensível a cena dos personagens reunidos em dança. Acredito que possa fazer uma alusão à conquista do próprio Fellini em ter conseguido criar uma peça artística inovadora. Fazendo esta análise bastante superficial e limitada de alguns dos elementos e temas que o filme compõe, provavelmente deixei várias impressões afora.