A RELEVÂNCIA DO ESTUDO DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

Também, o que deveriam ser determinados conceitos, mas principalmente, o que são. Filosofia não é contemplação, reflexão ou comunicação. Ela não se baseia fundamentalmente no ato de refletir sobre o mundo ou aprender a pensar: estas são consequências da filosofia. Desta forma, Filosofia é conhecimento adquirido através do questionamento e criação de conceitos que permitem a especulação avançada. A necessidade de novos conceitos como, por exemplo, o de “classe” exigiu da Sociologia o empréstimo de certos métodos da própria Filosofia, de onde surgiu. Primeiramente é necessário promover a investigação e determinação do que são estas áreas do conhecimento, visto que estas noções são perpassadas pelo mau entendimento, senso comum e vieses ideológicos.

Filosofia, segundo o senso comum, é a reflexão, contemplação da realidade. Já a Sociologia é a contemplação e reflexão da realidade humana coletiva. Com estas definições fragmentadas e imprecisas, não é possível determinar a relevância destas áreas com a precisão almejada. Por meio de perguntas simples como “que horas são?” há um conjunto de crenças e conceitos estabelecidos que estão funcionando para construir uma noção de realidade. Ou ainda, adicionar camadas além da realidade, formando novos alicerces para o conhecimento além da realidade. Chauí segue afirmando que a Filosofia serve para que as coisas não tenham aceitação imediata, “sem maiores considerações”. CHAUÍ, 2000:09). Esta atitude filosófica, segundo a autora, tem um lado negativo e positivo. Ela explica: A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada sei”.

À Filosofia, o filósofo Prado Jr afirma, tampouco cabe a resolução de questões, mas sim, a proposição de problemas cujas respostas não são de relevância para os que a fazem (PRADO JR, 1981). A filósofa e socióloga Marilena Chauí, no entanto, afirma que a Filosofia é “a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. ” (CHAUÍ, 2000:09). Desta forma, para Chauí, a compreensão e, portanto, as respostas aos questionamentos promovidos pela Filosofia são, de fato, relevantes, contrariando o autor Prado Jr. O questionamento constante e incansável, mas também a busca por respostas, é o que permite o desenrolar do conhecimento.

É claro que muitas das questões que mais tarde vieram a ser incorporadas na Sociologia já eram pensadas pela Filosofia. Em um esforço conjunto de pensadores para compreender as transformações sociais em curso, estas questões foram estruturadas e continuadas pela Sociologia. “O sociólogo tenta ver o que existe. Poderá alimentar esperanças ou temores em relação ao que irá encontrar. Mas tentará enxergar, a despeito de suas esperanças e temores. Ainda atualmente cientistas voltam-se à Filosofia para buscar direções e esclarecimentos metodológicos, comunicadores voltam-se à Filosofia para buscar técnicas e inspiração. Atualmente, onde a realidade é determinada por dinâmicas globalizantes, há a necessidade de criar novos e atualizar velhos conceitos toma proporções inimagináveis. Em vista da catástrofe ambiental no horizonte e avanços médicos, definições de “pós-humanismo”, “transhumanismo” e “antropoceno” são fundamentais para que se possam expandir o pensamento e possibilidades cada vez mais longe.

Ainda, conforme se conhece as filosofias - no sentido de conjunto de definições - de cada pensador, o indivíduo tem suas perspectivas em constante ampliação e por consequência “aprende a pensar”, ou seja, desenvolve o pensamento crítico esperado de um detentor de autonomia intelectual. Esta expansão de horizontes torna o sujeito primeiramente tolerante, depois compreensivo e por último, curioso em relação à outridade ou alteridade. “O fascínio da sociologia está no fato de que sua perspectiva nos leva a ver sob nova luz o próprio mundo em que todos vivemos. Isto também constitui uma transformação da consciência. Além disso, essa transformação é mais relevante, do ponto de vista existencial, que a de muitas outras disciplinas intelectuais, porque é mais difícil de segregar em algum compartimento especial do espírito.

” (BERGER, 2001:31). Desta forma, a Filosofia e Sociologia têm relevância fundamentada na capacidade de estabelecer conceitos e definições para uma sociedade em constante mudança, promovendo novos alicerces para que o pensamento se amplie. e LIMA, J. G. S. A. A Relevância do ensino de sociologia e de filosofia para a formação dos jovens no Século XXI. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? São Paulo: Editora 34.