A POESIA NORDESTINA: SUAS PECULIARIDADES E SUA EVOLUÇÃO NA OBRA DE JESSIER QUIRINO

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Literatura

Documento 1

Para isso, fizemos uso de pesquisa bibliográfica onde figuram grandes pensadores tais como Ariano Suassuna, Antonio Candido, Massaud Moisés, dentre outros. Alguns dos resultados dessa pesquisa indicam que, atualmente, o espaço ocupado pelo poeta é bastante distinto do que era antes, já que sua literatura atinge um maior número de leitores/espectadores, o que concede à população de modo geral um maior apreço pela poesia do Nordeste. PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Nordeste; Cordel; Jessier Quirino. INTRODUÇÃO Originária do trovadorismo, a literatura de cordel foi trazida, em meados do século XIX, para território nacional pelos portugueses. Rapidamente difundida no Nordeste brasileiro, fez com que a região se tornasse uma referência no assunto. Em setembro de 1989, foi fundada a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), na cidade do Rio de Janeiro, e essa modalidade literária passou a ser reconhecida como patrimônio cultural imaterial.

Inicialmente, a cultura do cordel disseminou-se de forma oral, uma vez que as histórias eram cantadas em praças públicas com a finalidade de que todo o povo, sem exceção, pudesse ter acesso a elas. A difusão dessa cultura deu-se por intermédio dos repentistas que, inseriam melodias em histórias repletas de rimas, apresentando seus enredos com o suporte de um violão ou outro instrumento musical. Leandro Gomes de Barros, pioneiro na autoria de cordéis, e João Martins de Athayde foram extremamente conhecidos neste meio. Atualmente alguns nomes tais como Jessier Quirino e Braulio Bessa destacam-se no ambiente virtual com sua poesia que remete a elementos do cotidiano, transmite um forte sentimentalismo e o orgulho de ser nordestino, além de encarregar-se de alertar à população a respeito de alguma questão social, alguma patologia ou temor que a todos aflige.

A literatura de cordel nasceu na época do Renascimento a partir do romanceiro luso-holandês. Na segunda metade do século XIX, o cordel, já introduzido no Brasil, já retratava o cotidiano nordestino, seu folclore, temas religiosos e fatos históricos. Redigidos em prosa ou em estrofes, os textos representavam autos ou farsas e histórias curtas para serem narradas ou entoadas. As narrativas comumente traziam elementos fantásticos, estrangeiros ou nacionais e podiam ser concluídas com uma moral, à moda das fábulas. Os autores podiam ser desconhecidos ou grandes expoentes da literatura vigente. O cordel pode ser facilmente confundido com o repente devido as suas semelhanças. Contudo, tal forma de expressão popular tem base na poesia oral e improvisada. O repentista costuma apresentar-se utilizando um instrumento musical, enquanto o cordel apresenta traços da linguagem falada impressos em livretos.

Ainda conforme Suassuna, A poesia popular do Nordeste pode se classificar em dois grupos bem caracterizados: a literatura de cordel e a poesia improvisada dos cantadores. O nosso romanceiro é, sem dúvida, originário do ibérico, mas tem hoje fisionomia própria, inclusive pela riqueza e variedade das formas de estrofes usadas. Além disso, é de suma importância que um poeta imprima em seus versos o folclore de sua região, o que faz com que o conhecimento transmitido pelos anciãos seja preservado e transmitido à população mais jovem, de forma lúdica e interessante. À título de curiosidade ou de adiantamento para uma futura pesquisa, Antonio Cândido (1985, p. fala-nos sobre uma espécie de poeta palaciano de Moçambique denominada mbongi ou arauto. Estes indivíduos cantarolavam odes a figuras ilustres, onde enalteciam suas qualidades e exaltavam sua genealogia.

Na sequência, ele relata a existência de primitivos a quem se refere como legítimos “embriões de artistas profissionais”. Procura dizer de forma diferenciada o que pensa. De senso de humor muito peculiar, o paraibano publicou seu primeiro livro, Paisagem do interior, em 1996. Com suas metáforas muito bem elaboradas, arranca boas risadas e faz as pessoas refletirem acerca das agruras do cotidiano brasileiro, e não somente nordestino. No seu Prosa Morena, destacam-se alguns poemas, dentre eles Vou-me embora pro passado. Releitura da poesia de Manuel Bandeira, Vou-me embora pra Pasárgada, Quirino enumera programas de televisão, artigos de moda, marcas de carro e outros produtos que marcaram sua infância e adolescência. BANDEIRA,1986, p. Neste mesmo poema também deparamos com o fantasioso na estrofe em que ele diz que, quando cansar-se, chamará a presença da mãe- d´água para lhe narrar as histórias que Rosa lhe contava.

Além disso, no trecho em que há mais tensão, o poeta coloca que é capaz de tirar a própria vida, o que denota que o eu-lírico está acometido pelo desespero e pretende migrar para um local imaginário onde sente-se seguro e feliz, fugindo assim da realidade que lhe enfastia e desgasta. De modo que, feita essa rápida análise, pudemos verificar que o poema original e sua releitura guardam muitas semelhanças. Quirino ainda faz uma releitura da composição Águas de Março, de Tom Jobim, de nome Secas de Março (QUIRINO, 2001, pp. No primeiro poema em questão, a linguagem é polida, ainda que seja bastante simples e compreensível, ao passo que no segundo encontramos o registro do falar do nordestino que torna os versos ainda mais saborosos e lúdicos.

As palavras são grafadas de forma “errada” propositalmente e são perfeitamente inteligíveis. O poeta matuto descortina ao leitor uma rica paisagem interiorana em que é testemunha de todos os fatos, presenças, tradições e da gastronomia local e o faz com imensa maestria que nós, como leitores, conseguimos contemplar através de seus olhos morenos e experientes toda essa vida exuberante e, simultaneamente, simples. A fim de respaldar o que foi dito anteriormente, transcrevemos aqui os dizeres de Freitas. Com uma influência marcadamente visível da literatura de cordel, da cantoria, da embolada, da “cultura popular” nordestina, das tradições e oralidade sertaneja, o autor leva pra todos os cantos a figura do matuto. É todo um tato presente pra evitar a queda na vulgaridade, isso também é particular em Quirino, usar toda uma simplicidade, todo um modo de dizer, pra falar sem levar a baixaria ( FREITAS, 2008, p.

Com a finalidade de encerrar este capítulo, pensamos na figura de Braulio Bessa, ativista, cordelista, poeta e palestrante do Ceará, que também costuma trazer aos seus leitores/ espectadores poemas de viés motivacional além de versos de advertência, como os publicados pelo poeta em seu Instagram, no Setembro Amarelo, mês em que o Brasil luta contra a prevenção da depressão. Que o “Setembro Amarelo”/ lhe transforme em girassol. Repare, quem busca luz/ um dia vira farol. Sua luz pode cuidar. Cabia ao poeta exprimir em palavras o que ia em seu âmago, uma angústia passageira ou que demorava a lhe deixar, um coração partido, uma paixão avassaladora. Muitos poetas eram acometidos por uma melancolia profunda e ficaram célebres pelos seus suspiros de amor.

Massaud Moisés fala destes, em seu Criação Literária, no seguinte fragmento: Não tendo por onde fugir, e querendo apreender a emoção, porque para ele se trata de uma questão vital, o poeta opta pela palavra: caso contrário, a saturação interna poderia comprometê-lo enquanto artista e homem, e conduzi-lo à desintegração (. pela impossibilidade de comunicar-se. Daí vem que o poeta seja desgraçado porque poeta, não poeta porque desgraçado (MOISÉS, 1973, p. Sendo assim, podemos entender que o poeta atualmente vem ocupando cada vez mais o posto de influenciador digital do que de poeta. Este é seu papel social em tempos modernos. Quirino é, sem sombra de dúvida, uma figura muito admirada pelo que diz, não somente por suas palavras, mas pelo ritmo que adota em seus discursos, com inflexões de voz e expressões que fazem dele um grande intérprete nordestino.

Moisés fala-nos algo sobre isso no trecho a seguir: (. daí também que nasce algo importante para a poesia: o ritmo, que vem desse caráter especial assumido pela palavra poética. O poema que nasce do repente, em uma fração de segundos, não perde seu valor porque fora elaborado em pouquíssimo tempo. Não é isso que legitima o que é poesia e o que não é. A literatura de cordel não pode e nem deve ser considerada menor por ser impressa em papel de qualidade mais simplória. A esse respeito, fala-nos Moisés: O mesmo poema (. pode ser impresso em corpos tipográficos diferentes, em cores diferentes, em papel diferente, pode ser manuscrito, datilografado, etc. O Cordel, portanto, se coloca na interface da oralidade e escrita, permitindo uma relação simbiótica entre as duas modalidades, contribuindo, desta maneira, à preservação e ao enriquecimento, tanto da tradição oral quanto da literatura escrita ( GADZEKPO, 2004, P.

Gadzekpo trata de uma recepção imediata por parte do ouvinte/leitor, que absorve aquela leitura ou o improviso feito para deleite da sociedade. A plateia vibra com o que há de hilário e inusitado e, de vez em quando, indigna-se com o que carrega um tom mais crítico, porém não deixa de sentir-se envolvida pela impressão que as palavras causam quando pronunciadas em altos brados, com a musicalidade típica do declamador nordestino. A leitura que fazemos, enquanto espectadores, é uma leitura em conjunto, ou seja, a fruição se dá de forma coletiva. Esse fenômeno literário não é privilégio do nordestino, embora muitos possam pensá-lo como criador e detentor das leituras ou declamações improvisadas. Em suma, o poeta de hoje em dia é uma figura pública, um artista performático capaz de surgir nas mais diversas mídias e dizer a plenos pulmões o que o povo gostaria de dizer, de reclamar, de sentir.

O poeta é um tradutor de sentimentos que canta, encanta e promove a reflexão de todos. O poeta é um signo do coletivo e não mais do singular. Ele escapou das gavetas e da materialidade dos livros físicos para um espaço em que todos conhecem seu rosto, sua vida e suas opiniões. O poeta pertence ao coletivo e é uma peça-chave para pensar o cotidiano. O poeta encerrava seus escritos em uma gaveta e, quando ousava publicá-los, demorava a receber algum reconhecimento pois a poesia nunca recebeu tamanha visibilidade em território nacional, em detrimento das narrativas em prosa. O poeta agora está ao alcance de todos e – por que não dizer? – ao alcance do mundo. Sendo assim, esperamos que muitas pesquisas sejam realizadas abordando não apenas Quirino, mas outros autores, a fim de que seus nomes jamais sejam esquecidos e que haja uma nova floração de talentos nordestinos, traduzindo à população, presencial ou virtualmente, a pureza de sua raça, de suas tradições e seus costumes.

O Nordeste certamente tem muito a dizer e este saber precisa tornar-se acessível a todos. REFERÊNCIAS BANDEIRA, Manuel. intercom. org. br/papers/regionais/nordeste2008/resumos/R12-0264-1. pdf> Acesso em: 25/08/2019. GADZEKPO, Jonh Rex Amuzu. Rio de Janeiro,7Letras, 2008. MELO, Fabiana Pinheiro de. A poesia de Jessier Quirino: a variação que vemos e a variação que esquecemos de ver. Disponível em:<http://dspace. bc. MININE, Rosa. Poesia em barbantes e cordéis. In: A Nova Democracia. Disponível em: <https://anovademocracia. com. Recife: Ed. Bagaço,2001. SUASSUNA, Ariano. Violeiros e cirandas: poesia improvisada. In: Estudos Avançados 11 (29), 1997.

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