A PERÍCIA MÉDICA E SEU RELEVANTE PAPEL NA PREVENÇÃO DE SUICÍDIOS NAS FORÇAS ARMADAS

Como resultados encontrou-se que os comportamentos que sugerem indícios de suicídio no público-alvo estudado estão relacionados às categorias: transtornos mentais, questões sociodemográficas, psicológicas e condições clínicas incapacitantes. Concluiu-se ao final do estudo que o Perito Médico é o profissional apto a identificar, tratar e prevenir o suicídio, por ter conhecimento dos indícios que o potencial suicida militar pode manifestar quando está com o propósito de atentar contra sua própria vida, além de auxiliar na definição de campanhas preventivas que podem contribuir para mitigar o estigma que impede que um grande número de militares a buscar por ajuda. Palavras-chave: Suicídio. Forças Armadas. Prevenção. INTRODUÇÃO O índice de suicídio no Brasil é elevado.

Segundo o Centro de Valorização da Vida, a cada hora uma pessoa coloca fim em sua própria vida enquanto outras duas no mesmo momento também tentam se matar e não logram êxito. A cada ano, 11. pessoas morrem por suicídio sendo esta a quarta maior causa de morte entre jovens com idade compreendida entre 15 e 29 anos (CVV, 2017). As taxas de tentativas de suicídio não-fatais e mortes por suicídio entre os soldados das forças armadas têm crescido em uma proporção preocupante no Brasil (SILVA, 2018). A ligação entre TEPT e pensamentos e comportamentos próprios de suicidas está bem documentada entre as amostras militares (Bryan; Corso, 2011; Guerra; Calhoun, 2011; Ramsawh et al. e o suicídio é atualmente uma das principais causas de morte entre os militares da ativa nos Estados Unidos (AFHSC, 2014).

  De acordo com o mais recente Relatório de Evento de Suicídio do Departamento de Defesa (DoDSER), o TEPT estava entre os diagnósticos psiquiátricos mais comuns para indivíduos com histórico de tentativa de suicídio; dois terços do pessoal da ativa com uma tentativa de suicídio documentada recebeu pelo menos um diagnóstico de saúde mental, 20% dos quais receberam um diagnóstico de TEPT (PRUITT et al. Um mecanismo potencial pelo qual TEPT e suicídio podem estar ligados é através do funcionamento prejudicado.  O modelo de diátese-estresse tem sido aplicado a vários diagnósticos psiquiátricos ao descrever como fatores biológicos, históricos e ambientais afetam a funcionalidade antes e depois de eventos adversos. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, descritiva, com análise qualitativa dos dados.

A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida com base em material já elaborado, constituído de artigos científicos. Descritiva por descrever as características de determinadas populações ou fenômenos. A pesquisa foi desenvolvida na base de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) via PubMed, utilizando-se dos seguintes descritores: “Militares”, “Suicídio”, “Ideações” e “Perícia Médica” buscados de forma combinada. Nesta pesquisa foram incluídos artigos de periódicos publicados em formato completo na língua inglesa, disponíveis no período de 2014 a 2018, que identificam os riscos psicossociais que os profissionais das forças armadas estão expostos. Suicide Rates and Methods in Active Duty Military Personnel, 2005 to 2011: A Cohort Study. Anglemyer,  Miler, Buttrey, e Whitaker (2016) Calcular as taxas de suicídio do pessoal militar da ativa e identificar aqueles que estão em risco de suicídio específico por arma de fogo 1.

Maior número de suicídio entre o pessoal do exército e fuzileiros. Fácil acesso a armas de fogo. Sex Differences in Suicide-Related Symptoms in a Large Military  Sample Rogers, Campainha, Michaels (2017) Examinar as diferenças sexuais em fatores de risco relacionados ao suicídio em uma grande amostra militar 1. Suicide attempts among activated soldiers in the U. S. Army reserve components Naifeh, Ursano, Kessler et al. Examinar os preditores de tentativas de suicídio entre os soldados componentes da reserva 1. Histórico de diagnóstico de saúde mental. Dificuldades com o trabalho. Fonte: Pesquisa elaborada pelo autor (2019) 4 DISCUSSÃO Retomando o objetivo deste estudo - identificar na literatura de sinais e sintomas compatíveis com ideações suicidas do periciando, que poderiam auxiliar o Médico Perito na emissão de seu parecer sobre certa patologia em saúde mental e, consequentemente, preservar a vida – passa-se a apresentar os resultados encontrados na literatura.

O fenômeno do suicídio durante o serviço militar é uma ocorrência global, investigada por pesquisadores de vários exércitos (Ramchand et al. Reisch et al.  Existem vários elementos conhecidos que contribuem para a elevação da taxa de suicídio. TEPT (Kopacz et al. RIBEIRO et al. ansiedade (Kopacz et al. uso de álcool e outras drogas (Kopacz et al. RIBEIRO et al. entre outros.  Os demais fatores relacionam-se às condições do serviço militar, a saber: estresse (Shelef et al. disponibilidade de armas (Jakupcak et al. Shelef et al. pertencer ao exército ou ser um fuzileiro (Shelef et al. É importante que o Perito Médico seja um componente integrador da unidade, como um oficial familiarizado com os militares da unidade, seu corpo de comando e suas características únicas.

 A eficácia das ações desenvolvidas por este profissional deriva do entendimento de que a acessibilidade ao profissional aumenta a conscientização entre os soldados, facilita as consultas e reduz o estigma na busca de sua ajuda (Reisch et al. Comportamento suicida é um conjunto de espectros não contínuos e heterogêneos de comportamentos e indícios, tais como: ideação suicida; abuso do álcool e outras drogas (KNOX et al. acometimento por doença grave/incurável ou rompimento de relacionamentos acompanhados por depressão e/ou transtornos psicológicos e de comportamento; esquizofrenia; transtornos de personalidade; comportamento retraído e isolamento social; pensamento rígido e/ou dicotômico; mudança repentina na personalidade tendendo a apatia, pessimismo e irritabilidade (CVV, 2017); sinais de incapacidade para lidar com problemas (BILSEN et al.

vivências de eventos estressantes associados ao suicídio, a exemplo do bullying, endividamento, problemas disciplinares, entre outras (Klomek et al. Consoante a revisão integrativa de literatura realizada constatou-se que os fatores conhecidos que contribuem para elevar as taxas de suicídio nas forças armadas são: Idade ≥ 25 anos; estresse; disponibilidade de armas; ser do gênero feminino; pertença frustrada; insônia; depressão ou histórico de diagnóstico de doença mental; TEPT; ansiedade; uso de álcool e outras drogas; maior índice entre soldados alistados do que em componentes da reserva; menor índice de escolarização; pertencer ao exército ou ser fuzileiro; desajuste social; e dificuldades com o trabalho. Complementando estes achados da revisão integrativa, outros indícios foram encontrados, a saber: ideação suicida; acometimento por doença grave/incurável ou rompimento de relacionamentos acompanhados por depressão e/ou transtornos psicológicos e de comportamento; esquizofrenia; comportamento retraído e isolamento social; pensamento rígido e/ou dicotômico; mudança repentina na personalidade tendendo a apatia, pessimismo e irritabilidade; sinais de incapacidade para lidar com problemas; vivências de eventos estressantes associados ao suicídio, a exemplo do bullying, endividamento, problemas disciplinares, entre outros; ameaças suicidas; auto-mutilação; comentários frequentes sobre morte e suicídio; tentativas de suicídio de baixa letalidade; tentativas de suicídio interrompidas; tentativas de suicídio quase fatais; histórico familiar de suicídio; desesperança.

Em face dos resultados encontrados concluiu-se que o Perito Médico é um profissional indispensável na identificação, tratamento e prevenção do suicídio, sendo conhecedor dos indícios que o militar pode manifestar quando está com a intenção de atentar contra sua própria vida, além de auxiliar na definição de campanhas preventivas que podem, adicionalmente, contribuir para a redução do estigma que obsta um grande número de militares a buscar por ajuda. REFERÊNCIAS Amitai M, Apter A.  Social aspects of suicidal behavior and prevention in early life: a review. Armed Forces Health Surveillance Center – AFHSC. Surveillance snapshot: Manner and cause of death, active component, US Armed Forces, 1998–2013.  MSMR, v. n. Bergman, B. Bilsen, J. Suicide and Youth: Risk Factors.  Front Psychiatry, v.

n. Brasil. Exército Brasileiro. Setembro amarelo: Prevenção do suicídio. Disponível em: <http://www. eb. mil. p. E122, Oct. Bryan CJ, Corso KA. Depression, PTSD, and suicidal ideation among active duty veterans in an integrated primary care clinic.  Psychol. Acesso em: 20 Fev. Department of Veterans Affairs, Veterans health administration. Office of Mental Health and Suicide Prevention: Veteran Suicide Data Report, 2005–2016; September 2018. Guerra, V. S; Calhoun, P. p.   Klomek, A. B; Sourander, A; Niemela S. et al. Childhood bullying behaviors as a risk for suicide attempts and completed suicides: A population-based birth cohort study. G. Association Between Trust and Mental, Social, and Physical Health Outcomes in Veterans and Active Duty Service Members With Combat-Related PTSD Symptomatology. Front Psychiatry, v. n. Naifeh, J. Jan. Organização Mundial da Saúde – OMS.

Prevenção do suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra, 2006. Disponível em: <https://www. Calendar Year 2015 Annual Report. Disponível em: <http://t2health. dcoe. mil/programs/dodser>. Acesso em: 28 Fev. Disord.   v. p. Ramchand, R; Acosta, J. Burns, R. et al. The Link between Posttraumatic Stress Disorder and Functionality among United States Military Service Members Psychiatrically Hospitalized Following a Suicide Crisis. Healthcare (Basel). Aug 7;6(3). pii: E95. Emerg. Tehran, v. n. p. Schoenbaum, M; Kessler, R. et al. Suicide and deliberate self-harm in Pakistan: a scoping review.  BMC Psychiatry, v. n. p. Disponível em: <https://www. terra. com. br/noticias/dino/o-aumento-de-tentativas-de-suicidio-entre-os-militares-das-forcas-armadas-em-razao-de-episodios-depressivos,e2ee4 a68077 a94920fe3c468b5ef9a71ldax2ep4. html>. p.