A Moral do Espelho Negro - Uma Crítica Sobre a Ética do Jornalismo na Sociedade do Espetáculo

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Jornalismo

Documento 1

Alguns dos autores que contribuem para a discussão são Debord, Kellner, Moretzsohn e Foucault.   PALAVRAS-CHAVE: jornalismo; espetáculo; ética; noticiabilidade; Black Mirror. INTRODUÇÃO A televisão britânica tem produzido nos últimos anos uma nova fórmula de apresentar histórias de ficção: são séries com temporadas curtas e episódios que oscilam entre 45 e 90 minutos de duração que contam histórias autônomas (BROOKER, 2012). Dentro dessas produções foi veiculada a série Black Mirror, que significa “espelho negro” em português. Criada por Charlie Brooker em 2011, ela foi transmitida pela Channel 4 e conta histórias acerca de um futuro “violento e enlouquecido” (BROOKER, 2012, p. Durante a trajetória, todos os esforços dos assessores do primeiro ministro são inúteis. Entre as ideias sugeridas, houve a de contratar um ator pornográfico para fazer a cena e, através de recursos de edição, colocar o rosto do primeiro ministro.

Um ponto importante que deve ser destacado é de que o sequestrador estipula como o vídeo deve ser feito, nos mínimos detalhes. Todavia, após vazar um vídeo no qual o sequestrador corta um dedo da princesa, a opinião pública é revertida drasticamente. No Twitter, mais de 80% da população diz que o primeiro ministro deve atender ao pedido do sequestrador - opinião essa que antes do vídeo estava com apenas 22%. DESENVOLVIMENTO Para que possamos compreender de maneira profunda sobre o que vêm a ser a questão da ética jornalística no primeiro episódio da série Black Mirror, é preciso conceituar a ética em si. “Podemos definir a ética como um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar as ações de um grupo em particular (moralidade) ou, também, o estudo sistemático da argumentação sobre como nós devemos agir (filosofia moral)” (CAMPOS, MICHLGREIK, VALE, 2002, p.

No Brasil, em 1949 foi criado o Código de Ética do Jornalista Brasileiro que busca regulamentar os direitos e deveres dos profissionais. Apesar de já ter passado por diversas mudanças, a versão mais recente do texto é de 2007 e é através dela que iremos construir nossa argumentação em relação ao objeto de pesquisa. Este documento normatiza a prática jornalística através de alguns princípios como: comprometimento com a verdade, apuração precisa dos acontecimentos, divulgar informações/notícias que sejam de interesse público, denunciar a corrupção, principalmente quando esta envolver controle de informação, “não divulgar informações visando o benefício próprio ou vantagem econômica, não produzir conteúdo sensacionalista ou contra os valores humanos, entre outros” (CÓDIGO, 2007 apud APARECIDA SANTOS, 2018).

Essa confiança no trabalho jornalístico é discutida por Sylvia Moretzhon (2002) em seu artigo intitulado “Profissionalismo e objetividade: o jornalismo na contramão da política”, nele, ela sita a competência do profissional e que esse profissionalismo é positivo e inquestionável. Imerso neste pensamento filosófico é possível avaliar o descaso com a questão política do episódio. A trama envolve duas pessoas influenciadoras no meio político, o ministro e a princesa. Portanto, a princípio, era possível observar que este caso de sequestro era uma manifestação política, um caso que envolvia alguma ação do governo e que o objetivo do sequestrador era gerar visibilidade para os personagens. Porém, em momento algum isso é questionado pela mídia, não importa para eles o motivo que havia por trás do sequestro, ou qual seria a real intenção do sequestrador em expor de tal forma o ministro britânico, os jornalistas deixaram de lado esses quesitos e focaram apenas no questionamento se o personagem principal iria ou não atender ao pedido do sequestrador para “salvar” a princesa.

Essa espetacularização, ainda de acordo com o autor, é baseada em questões sociais enraizadas (DEBORD, 1997). Por isso, o único motivo dos jornas é conquistar a maior audiência. Com o desenvolvimento do capitalismo, o tempo irreversível unificou-se mundialmente. A história universal toma-se uma realidade, porque o mundo inteiro está reunido sob o desenvolvimento desse tempo. Mas esta história, que em todo lugar é a mesma, ainda é apenas a recusa intra-histórica da história. Portanto, para a autora, o sensacionalismo é o contrário da ética jornalística e “também podem se configurar numa estratégia de comunicabilidade com seus leitores através da apropriação de uma Matriz cultural e estética diferente daquela que rege a imprensa de referência”. A autora (2005) ainda diz que o sensacionalismo distorce o e intensifica o jornalismo popular.

Tendo em vista essa conceituação, fica perceptivo que o episódio apresenta características sensacionalistas através da retratação de profissionais antiéticos. Um exemplo dessa falta de ética jornalística é não apuração do vídeo enviado a uma rede televisiva. O sequestrado, justamente por ter conhecimento do poder que a mídia possuía, mandou diretamente a ela um pen drive com um vídeo onde supostamente o sequestrador estaria arrancando um dedo da princesa. Segundo Karam (2001) não se pode exigir do jornalista conhecimento em todas as áreas, visto que ele nunca terá mais conhecimento que uma fonte qualificada para tal. Portanto, a falta de apuração jornalística sobre o vídeo gerou uma pressão injusta sobre o personagem principal. Essa injustiça é replicada pelos telespectadores que atribuem credibilidade com a informação transmitida.

Lisboa (2012, p. salienta que que essa credibilidade jornalística foi conquistada e “se a narrativa jornalística visa ser conhecimento, ela também não pode ser apenas uma interpretação qualquer, mas tem que ser uma interpretação plausível e com elevado poder explicativo da informação veiculada”. Miquel Alsina (2009) afirma que a “construção social da realidade” é uma prática que envolve o cotidiano, ou seja, é estabelecida através de fatores sociais. E, para selecionar o conteúdo que será veiculado a fim de construir uma narrativa jornalística televisiva, o jornalista exerce a função de gatekeeper, ou seja, é dele a responsabilidade por filtrar a informação e oferecê-la com qualidade a seus telespectadores. Essa Teoria de Gatekeeper, proposta do Kurl Lewin, um psicólogo social, diz que o jornalista é um porteiro ou vigia das notícias, onde ele é responsável por escolher quais informações serão fornecidas aos leitores (WHITE, 1993).

De acordo com Sonia Serra (2004) antes da notícia ser transmitida pelos canais de comunicação “essas têm que passar por uma série de gates e que certos setores dessas guaritas ou funcionam com regras imparciais ou dependem de indivíduos ou grupos com o poder de decisão sobre quais entram ou ficam do lado de fora”. E é nessa etapa de seleção de informação que entram em questão os critérios de noticiabilidade. WOLF: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas envolvidas e relevância quanto à evolução futura. ERBOLATO: proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência, aventura/conflito, consequências, humor, raridade, progresso, sexo/idade, interesse pessoal, interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial, oportunidade, dinheiro, expectativa/suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas/invenções, repercussão e confidências.

CHAPARRO: atualidade, proximidade, notoriedade, conflito, conhecimento, consequências, curiosidade, dramaticidade e surpresa. LAGE: proximidade, atualidade, identificação social, intensidade, ineditismo e identificação humana. No caso do episódio em questão, eles usam o critério de que como o vídeo já foi publicado em uma plataforma aberta, o YouTube, e está tendo um número significativos de visualizações, então é porque o mesmo é de interesse popular e eles têm direito de o veicular, mesmo que para isso, não houvesse esse filtro para avaliar a veracidade do conteúdo veiculado. Eu acho que a desvantagem é que a gente vai está cada vez mais botando um jornalismo descritivo e não investigativo [. existe muito esse empobrecimento, até porque, as emissoras como são concorrentes, têm jornais fortes nos horários, elas têm que dar logo.

Porque se elas segurarem muito, a outra vai dar na frente [. Hoje em dia você não tem mais tempo. Ou você dá, ou você vai ser furado por uma emissora concorrente, ou às vezes até pela internet, até por uma rede social, um blog vai te furar. E é a partir desta conceituação de objetividade que o jornalista deve nortear suas notícias, expondo de forma exata e minuciosa da observação do fato ocorrido no dia a dia. Este critério jornalístico de se fazer notícia de forma transparente conduz o telespectador a produzir seu próprio julgamento e buscar a sua própria verdade através da extração dos fatos que foram oferecidos pelos meios de comunicação de massa, como a televisão, por exemplo.

Argumentar que ‘os fatos falam por si’, apesar do que haja de contradição lógica (pois obviamente os fatos não falam, quem fala é quem os identifica como importantes e os traduz como notícia), é uma forma de apresentá-los como ‘neutro’ e, assim, inversamente, utilizá-los politicamente contra quem os quer silenciar” (MORETZHON, 2002, p. Por outro lado, Tuchman (1993) defende que essa objetividade é advinda da organização dos repórteres em estruturar os fatos de modo imparcial, impessoal e desinteressado, respeitando os prazos de apuração e ouvindo as duas partes da história, diferente do que pôde ser percebido na cobertura jornalística do sequestro da princesa no episódio analisado. A responsabilidade social da atividade jornalística deve ser distanciada dos interesses políticos e econômicos estabelecidos pela empresa, essa característica da profissão jornalística reitera que não deve haver interesses e conflitos ideológicos intraprofissionais.

Levando em consideração que o jornalista tem capacidade de influenciar o receptor, o produto propôs a influência positiva para a construção de uma sociedade mais consciente e crítica em relação ao que é transmitido, principalmente, pelos telejornais. Ao final, avalia-se que os objetivos foram alcançados, permitindo responder ao problema em questão por meio das hipóteses traçadas, confirmando que o jornalista pode auxiliar ou atrapalhar na tomada de decisão de uma pessoa pública e de forte influência social. REFERÊNCIAS ALSINA, Miquel Rodrigo. A construção da notícia. Petrópolis: Vozes, 2009. CAMPOS, M. C. GREIK, M. VALE, T. História da Ética. org. br>. Acesso em: 07 de nov. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. br/papers/nacionais/2005/resumos/R0797-1.

pdf>. Acesso em: 14 de nov, 2019. GOULART DE ANDRADE, Ana Paula. Da Ficção à Realidade: O Filme “O Abutre” e as semelhanças com a espetacularização do telejornalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Graal, 1980. McCOMBS, Maxwell; REUNOLDS, Amy. How the News shapes our civic agenda. In: BRYANT, J. OLIVER, M. Compós: Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Disponível em: < http://www. compos. org. br/data/biblioteca_1434. Monografia de graduação (Jornalismo) apresentada no Centro Universitário Toledo. Araçatuda, 2018. SERRA, Sonia. Relendo o “gatekeeper”: notas sobre condicionantes do jornalismo. Contemporânea, v. Florianópolis: Insular, 2008. TUCHMAN, Gaye. A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questões, teorias e estórias.

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