A MÍSTICA DA JUREAMA SAGRADA: UMA ANÁLISE ESPACIAL/TERRITORIAL DOS TERREIROS NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Geografia

Documento 1

A história da Jurema Sagrada é marcada por pluralidades semânticas e misticismos que vão desde o divino ao sobrenatural, que por sua vez são responsáveis por enriquecer sua trajetória que vai muito além do significado da árvore cultuado pelos indígenas, ou da bebida que é feita com a planta e possui poder curativo, e até mesmo da prática religiosa em si; essa pesquisa contempla os conceitos mencionados e suas posteriores ressignificações, afinal os cultos e rituais sofreram influências de outras religiões ao longo dos anos e hoje podemos perceber que o culto indígena e o culto de terreiro, que são praticados ao longo do Brasil, assumem características diferentes. Através de uma pesquisa bibliográfica e documental foi possível construir a narrativa da mística da Jurema Sagrada e entendermos suas multidefinições e simbologias; destacando o levantamento de dados realizado na cidade de Natal a fim de mapear aonde as práticas religiosas são realizadas e posteriormente numa pesquisa in loco compreender os impactos sociais e geográficos causados pelas mesmas.

Palavras-chave: Jurema Sagrada, Mística, Terreiros, Geografia; Natal. INTRODUÇÃO 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA A árvore Jurema, espécie conhecida cientificamente como Acacia Jurema mart. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Investigar a origem da Jurema Sagrada no município de Natal-RN • Observar espacialmente onde se distribuem os territórios dos praticantes dessa religião localizadas na capital potiguar; 1. JUSTIFICATIVA Por participar e ser simpatizante dos cultos à jurema sagrada, alguns eventos me intrigaram no cunho pessoal e como pesquisador me despertaram o interesse em desenvolver uma pesquisa acadêmica de cunho geográfico referente a essa problemática. Ao longo da minha trajetória no curso de licenciatura em geografia angariei conhecimentos que me proporcionam uma visão diferenciada de espaço, ou seja, um olhar crítico que me leva a observar, refletir e indagar sobre alguns fenômenos que se manifestam no espaço geográfico.

Através da vivência nos terreiros de jurema percebi que a família espiritual de um padrinho ou madrinha de jurema se ramifica e se distribui espacialmente em diversas escalas, sejam elas locais, regionais ou até globais. Desse modo, a cultura popular nordestina e a cultura popular potiguar é difundida e atinge diferentes países, diferentes regiões e diferentes municípios. O mito é cantado em algumas linhas do catimbó. ” Jurema é minha madrinha/ Jesus é meu protetor/ A Jurema é um pau sagrado/ Aonde Jesus orou A crença ao poder de transmissão ao divino através do consumo de sua bebida, vem desde a era pré-colonial, contudo, Farias (2016) nos relata que através de sua experiência de campo foi possível perceber que o conceito da bebida teve uma resignificância nas diferentes modalidades dos cultos, a saber, ainda que atualmente esteja que presente nos cultos de terreiros, não possui mais a característica mística creditada pelos índios, mas sim tem uma mesma serventia de uma outra bebida de “boas-vindas” aos integrantes do culto, já nos cultos indígenas, mantêm-se a crença endógena à bebida.

A última personificação que ressaltamos, é a Jurema enquanto manifestação religiosa. Já foi mencionado que a Jurem é uma religião de matriz indígena, no entanto, ao decorrer dos anos muitas foram as influências que a afetaram enquanto ritual religioso (como já citada a influencia do cristianismo), e isso lhe deu aspectos que hoje já é possível classificar os cultos entre rituais de terreiros, os que passaram por várias ressignificações, e os cultos indígenas, onde de fato está presente a origem da Jurema enquanto religião. Segundo Motta (2005 apud Farias 2016) A configuração da atual jurema de terreiro como sendo uma acumulação de elementos europeus, africanos e neo brasileiros em torno de traços indígenas. O espaço material é o espaço físico, ou seja, engloba o espaço natural e o espaço produto do trabalho humano.

O espaço social é o espaço imaterial, embora dependa da materialidade para existir (SOUZA, 2013)6. Assim sendo, o espaço social é o espaço das interações espaciais, dos territórios e das territorialidades, dos lugares e das representações sociais. É no espaço geográfico onde se desenrola as práticas, as relações, as interações e manifestações sociais. Com base nisso, devemos analisar as representações religiosas, espirituais ou de origem africana com um olhar clínico de cunho geográfico. grifos meus) A manifestação religiosa por sua vez, ocupa um espaço territorial de interação social presente cotidianamente na vida do sujeito que, independente de crença ou de suas influências, carrega uma responsabilidade social que vai além da crença no divino ou no místico, passa a ser uma questão socioespacial e precisa ser tratada com a devida significância, para isso existem discussões que tratam da geografia do sagrado, ou seja, geografia da religião.

GEOGRAFIA DA RELIGIÃO A geografia da religião, nos permite interpretar os diversos espaços onde ocorrem essas expressões religiosas e por sua vez podem nos desvendar contradições inerentes ao nosso processo de colonização e ao processo de produção da cidade. Aparentemente, são dois lemas que não apresentam ligações. No entanto [. Geografia e Religião são, em primeiro lugar, duas práticas sociais. Dessa forma, concordamos com o autor quando ele decide definir a não manifestação religiosa como o não-sagrado, ao invés de profano, uma vez que a negativa de algo confirma exatamente o que se está tentando negar, não desprezando a narrativa oposta mas sim concordando que para discordar é preciso afirmar sua existência, se não, como nega-lo? Dentro dessa perspectiva, é possível concluir que o profano seria apenas um espaço de transição entre o Sagrado e o Não-Sagrado, não há autonomia para esse.

A difusão da fé, tornou-se objeto de estudo interessante para alguns geógrafos uma vez que a relação homem e apropriação de um espaço geográfico por motivos de culto a uma fé religiosa, ainda não conseguia ser explicada. A migração espontânea das pessoas no seu cotidiano para lugares onde podiam manifestar sua fé através de interações culturais com o outro, vem desde o cristianismo e esse foi o responsável por difundir a ação missionária que hoje é praticada por diversas religiões, entre elas as de matrizes africanas e indígenas. O deslocamento a fim de contemplar lugares sagrados, trata-se de uma manifestação de fé religiosa e cultural que pisa no palco da espacialidade; se deslocar de um lugar para outro e muitas vezes com frequência, é algo para além de uma peregrinação religiosa (ROSENDAHL, 1995).

Se trata de ocupar espaços geográficos, ocupar um território delimitado ao Sagrado, sejam eles espaços fixos e em menores distâncias onde é possível construir uma interação frequente e presente no cotidiano do indivíduo, como é o caso dos terreiros, ou espaços fixos longínquos onde o indivíduo daria início a um fluxo migratório sagrado, conhecido por peregrinação. Utilizou-se a técnica de pesquisa documental, onde a coleta de informações foi realizada durante todo o desenvolvimento das ideias, tópicos e discussões propostas nesse trabalho, com a preocupação de utilizar uma linguagem simples para facilitar o aprendizado acerca do tema exposto considerando que o mesmo não é de familiaridade comum; e se deu através de fontes secundárias como pesquisas na internet, artigos científicos publicados, dissertações de outras autorias e capítulos de livros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho tem como objetivo analisar os terreiros da Jurema Sagrada presentes territorialmente na capital do Estado do Rio Grande do Norte, Natal; no entanto, sabendo que a temática não seria de fácil entendimento, foi necessário abordar algumas assuntos pertinentes a compreensão do que representa a Jurema Sagrada no campa da religião e do misticismo. A fim de possibilitar uma compreensão maior, acreditou-se na relevância de pontuar e conceituar alguns termos comuns aos geógrafos mas que não seriam de familiaridade do leitor, foi decidido abordar temas como geografia de lugar e geografia da religião iniciando com uma distinção semântica de ambas; percebemos ao longa da discussão que a geografia assume diversos palcos onde é possível desenvolver-se em termos de lugar, espaço e território; sendo que nenhum esta completamente dissociado do outro.

A geografia de lugar nos permitiu concluir que toda a interação do homem com a natureza, se dá através de um espaço geográfico, e esse está pré-definido através de um delimitação de área territorial, entendendo esses preceitos abordamos a temática da geografia da religião, pois essa já não poderia se limitar a definições pontuais, precisaria ser compreendida em sua significância enquanto experiência religiosa. A partir de toda a narrativa construída ao longo dessa pesquisa, concluímos que os cultos a Jurema Sagrada, sejam eles os praticados por indígenas ou por simpatizantes em terreiros, foram enxergados com uma perspectiva mais conceitual e dada a sua devida significância de pluralidade que bebe de fontes religiosas e místicas.

O catimbó-jurema do Recife.  Encantaria brasileira. Rio de Janeiro: Pallas, p. DE ALMEIDA, Mara Zélia.  Plantas medicinais.  Elementos de epistemologia da geografia contemporânea, v. p. ROSENDAHL, Zeny. Geografia e Religião: Uma proposta. Departamento de geografia UERJ. SOUZA, André Luís Nascimento de. A mística do catimbó-jurema representada na palavra, no tempo e no espaço. f. Dissertação (Mestrado em História) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016. VAZ, Maria da Penha de Carvalho et al.

75 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto

Apenas no StudyBank

Modelo original

Para download