A Metamorfose de Kafka

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Física

Documento 1

Kafka e Marx 9 4. Alienação e Desumanização em “A Metamorfose” 11 Conclusão: 15 Referências bibliográficas: 16 1. Introdução: O presente trabalho pretende analisar criticamente o personagem Gregor Samsa, do livro “A Metamorfose” do tcheco Franz Kafka, segundo o viés da crítica sociológica. Com o intuito de realizar uma crítica sociológica desta obra, utilizaremos a corrente sociocrítica, que é aquela que se organiza a partir da composição da própria narrativa, entre as variadas questões diegéticas e os personagens. Dentre os principais pensadores da sociocrítica, destaca-se Jérôme Roger ao declarar que os principais fundamentos teóricos da crítica da obra literária como um produto social, são derivados diretos dos pensamentos de Comte e Marx. O livro explora temas bem característicos da sociedade contemporânea, como o pessimismo, a ausência de resposta, impotência e solidão.

O modo de construção de personagem utilizado na presente obra pode ser chamado de “narrador como uma câmera”, como bem explicita Brait (1985) a respeito, A personagem está restrita a um espaço mínimo, a cela escura e o pátio, e não tem noção de quem é, de por que está ali e de quanto tempo encontra-se nessa situação. A composição do espaço, o desenho do ambiente, a caracterização da postura física da personagem e a utilização do discurso indireto livre para expressar os pensamentos e as emoções dessa criatura combinam-se de forma harmônica, construindo progressivamente o saber da personagem e do leitor. BRAIT, 1985, p. Kafka, ao narrar à trajetória de Gregor Samsa, não apenas está abordando um individuo que vive um dilema de ter se metamorfoseado em inseto, mas, contextualiza através de suas metáforas, a condição psíquica e dramas humanos na sociedade, embora o cenário principal seja o quarto do protagonista, sua influencia social está para além dos lugares mencionados, explorando o contexto psicológico dos personagens.

sua eficiente atuação profissional lhe proporcionava significativas comissões em dinheiro, que colocava sobre a mesa da sala, sob o olhar admirado e jubiloso da família. …) À medida que tudo isso foi se tornando costumeiro, a surpresa e a alegria inicial arrefeceram e, assim, Gregor entregava o dinheiro com prazer espontâneo e a família, de bom grado, recebia. KAFKA, 1997, p. algo passou raspando sua cabeça e rolou até um pouco mais à frente: era uma maçã, logo seguida de outra. Temeroso, Gregor deteve-se, considerando inútil continuar correndo, pois o pai havia decidido bombardeá-lo (. Gregor ficou paralisado de susto; continuar correndo era inútil, pois o pai tinha decidido bombardeá-lo. Da fruteira em cima do bufê, ele havia enchido os bolsos de maçãs e, por enquanto, sem mirar direito, as atirava uma a uma.

As pequenas maçãs vermelhas rolavam como que eletrizadas pelo chão e batiam umas nas outras. Uma maçã atirada sem força raspou as costas de Gregor, mas escorregou sem causar danos. Uma que logo se seguiu, pelo contrário, literalmente penetrou nas costas dele. KAFKA, 1997, p. Portanto, é possível estabelecer diversas ligações com a obra de Kafka, desde a de natureza sociológica ou até mesmo psicológica. Neste presente trabalho, enfatizaremos as questões sociais implícitas na obra e que, portanto, permitem um olhar com base na sociologia para se realizar uma analise sociocrítica de “A Metamorfose”. Neste presente trabalho dividimos os capítulos com o objetivo de construir uma ordem de compreensão. Inicialmente contextualizaremos a época da obra sociologicamente, em seguida realizaremos uma relação entre a obra de Kafka e Marx e por fim dialogaremos a obra “A Metamorfose” com os conceitos de desumanização e alienação.

O final do século XIX foi marcado por grandes mudanças no mundo, modificando suas características iniciais, alterando aspectos das sociedades industriais, e, sobretudo, no convívio social das sociedades. Tudo isso, acrescido de uma imensa euforia e otimismo, com as descobertas científicas e políticas. No entanto, esta época trouxe consigo a evidência das consequências negativas que tais transformações promoveram na vida dos individuos. Ao contrário do prometido, a segunda revolução industrial não promoveu melhores condições de vida, mas, surgiu uma espécie de capitalismo ainda mais intenso, o capitalismo liberal deu lugar ao monopolista, modificando o status político mundial e criou as condições para os conflitos ocorridos no inicio do século XX, indubitavelmente, tais questões gerariam consequências também no campo da arte.

Nesse contexto, toda a estrutura romancista sofreu significativas alterações, que refletem no século XX, e nesse ínterim, Kafka surge como um dos maiores inovadores da linguagem literária, tornando-se um dos escritores mais significativos da literatura de sua época. Assim, podemos comparar a situação de Gregor, com a própria síntese que Marx realiza a respeito da imposição social que o capitalismo estabelece na sociedade, nos pondo como meros insetos transformados na qual a condição é dificilmente revertida ou entendida: Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado (MARX, 1989, p. Como se pode notar, Marx discursa que os operários estão sujeitos a uma condição maior, e a todas as vicissitudes que esta lhe impõe, não podendo controlar seus próprios movimentos, pois eles lhe são estranhos, impostos e de difícil compreensão, são sujeitos de tal condição, como semelhantemente Gregor esteve no quadro de inseto.

Ou seja, a metáfora aqui presente apresenta de modo gradativo, o modo pelo qual o homem foi perdendo contato com sua condição humana, tendo em vista, que no modo de produção pré-capitalista, o operário percebe que seu trabalho é aquele responsável pela produção, mas, que apenas seu corpo é explorado, o que pode ser comparado à situação de Gregor antes da metamorfose. No sistema capitalista industrial, o trabalhador não se identifica com o produto, ele passa a ser parte de uma lógica maior, o patrão compra sua mão de obra, mas, este não evoca a nada. É o salário que passa a ser a medida de seu reconhecimento e o trabalho o fardo para sua sobrevivência. Desumanizar-se é se tornar estranho a realidade social, é ser destituído de sua figura humana através da alienação.

Parece que Kafka se interessa por essa indefinição, essa linha tênue entre o humano e o animal. A própria transformação de Gregor Samsa em inseto está diretamente conectada com a família do personagem e seu emprego, Kafka em determinado ponto do livro, enfatiza o fato de Gregor se sentir explorado pela empresa que trabalha e por seu próprio pai. Sendo umas das primeiras reações do protagonista, reclamar do trabalho, até mesmo quando se viu na figura de um inseto, se viu mais preocupado em não se atrasar para o trabalho. Tão alienado Gregor estava, que não importava inicialmente sua figura assustadora, mas, muito mais importante era não estar atrasado para o trabalho. Se eu não me contivesse por causa de meus pais, já teria pedido as contas há muito tempo; teria me apresentado ao chefe e lhe exposto direitinho o que penso, do fundo do meu coração.

Ele teria de cair da escrivaninha! É um jeito bem peculiar o dele, de sentar-se sobre a escrivaninha e falar do alto a baixo com seu empregado, que além do mais tem de se aproximar bastante por causa das dificuldades auditivas do chefe. Bem, a esperança ainda não está de todo perdida; quando eu tiver juntado o dinheiro a fim de quitar a dívida de meus pais com ele – acho que isso demorará ainda uns cinco ou seis anos –, eu encaminho a coisa sem falta. Aí então terá sido feito o grande corte. Por enquanto, em todo 6caso, tenho de levantar, pois meu trem sai às cinco (KAFKA, 2006, p. O mais intrigante neste cenário é como diante de toda aquela atmosfera, o inseto era o mais humano dos personagens, o próprio pai, guardava uma quantia em dinheiro capaz de pagar as dividas, mas, mesmo assim, oprimiu seu filho, obrigando-o a estar em um emprego que ele odiava.

Em essência Gregor era humano, pensava e sentia como um. Os demais membros da família apresentam uma desumanização desconfortante. Demonstrando assim toda sutileza de Kafka em demonstrar que o verdadeiro humano neste cenário era Gregor, destacando assim, todo o processo desumano que os trabalhadores se veem em seu cotidiano, e aqueles que se acham em posição superior são tão alienados ao sistema que consideram muito mais o ter em detrimento do ser. O próprio ângulo aqui empreendido de alienação e desumanização na obra “A Metamorfose”, leva-nos necessariamente a problemática da questão da ideologia. Em apenas uma sacada revela problemas do cotidiano de diversas famílias, que têm em um de seus membros o esteio financeiro, ora em estado de exploração, ora por completa dependência, figuras genitoras “falidas” e relações familiares desconfortáveis.

Revela ainda toda antipatia com o trabalho contrastando com a necessidade de fazê-lo, a opressão nos ambientes profissionais, o ar de superioridade de um chefe autoritário. Tudo isto, ainda conseguindo apresentar uma crítica velada ao sistema capitalista que ascendia com mais ênfase em sua época, que corresponde ao período das grandes disputas imperialistas da Europa na África e Ásia, e, portanto, engloba um momento mais exploratório da mão de obra em todo o mundo do trabalho. Kafka faz isso tudo com extrema maestria e ainda conseguindo dialogar com outros pensadores, como Marx (aqui apresentado) ou até mesmo Weber, Durkheim, Lukács ou Lucien Goldmann. A leitura de “A Metamorfose” ao mesmo tempo em que apresenta uma linguagem simples, o faz, revelando conteúdos e reflexões de complexa profundidade e inquietude.

 Trad. Gabriel Cohn. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005. KAFKA, Franz.  A metamorfose /e/ O veredicto.  Trad. Maximiano Augusto Gonçalves. Rio de Janeiro: Livraria H. Antunes, s/d. SILVA, Marisa Corrêa.

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