A LITERATURA FANTÁSTICA

Tipo de documento:Projeto

Área de estudo:Literatura

Documento 1

Tzvetan Todorov, autor de Introdução à Literatura Fantástica, coloca o seguinte: A hesitação do leitor é pois a primeira condição do fantástico (. O leitor não se identifica pois com qualquer personagem, e a hesitação não está representada no texto. Diremos que se trata, com esta regra de identificação, de uma condição facultativa do fantástico: este pode existir sem satisfazê-la; mas a maior parte das obras fantásticas submete-se a ela ( TODOROV, 2007, p. Para ele, obras de literatura fantástica – sobretudo a prosa, já que o autor não admite que a poesia tenha vez neste gênero - costumam causar uma espécie de estranhamento ou estupefação no leitor. Essa sensação dá-se pela falta de identificação daquele que lê com o personagem, da experiência de desnortear-se quando apresentado a uma situação sobrenatural e, naturalmente, desconfortável ao que ele está acostumado.

Esta ruptura com o que é tradicional nada mais é do que uma disposição diversa dos elementos do cotidiano. Estes são expostos de uma forma mais complexa e profunda. Esta ordenação nada tem de previsível. Acerca das características do gênero, ainda na visão de Todorov, Este exige que três condições sejam preenchidas. Primeiro, é preciso que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo das personagens como um mundo de criaturas vivas e a hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados. Outra divergência entre o pensamento de ambos os teóricos é que Todorov contempla uma dissociação entre o alegórico e o poético, ao passo que Barrenechea os consideram categorias de sistemas que se entrecruzam e não são excludentes ( BARRENECHEA, 1972, p.

A autora crê em um esquema onde há três subclasses: o fantástico apresenta problematizações ou dúvidas em virtude das manifestações sobrenaturais; o maravilhoso evoca o real despido de problematizações e, portanto, sem estranhamento e, por último, há o real onde há a ocorrência de fatos possíveis e nada de anormal (BARRENECHEA, 1972, p. Apesar de respeitar suas opiniões, ela critica o conservadorismo do russo no seguinte trecho: A las primeras oposiciones propuestas por Todorov: LITERATURA FANTÁSTICA / POESÍA y LITERATURA FANTÁSTICA / ALEGORÍA, les encontramos el inconveniente de que no parecen categorías exclusivas sino cruzadas. Quizás en ciertas épocas de la historia de la literatura lo han sido, pero no en todas. Es verdad que la literatura fantástica debe tener como soporte indispensable un arte representativo, puesto que si la hemos basado en el contraste de hechos anormales y normales, necesita ser representativa de esos hechos.

Em seu entendimento, este modo pode bipartir-se em maravilhoso e mimético. No primeiro polo encontram-se os livros em que a versão do narrador para os fatos é inquestionável enquanto, no segundo caso, histórias que refletem uma realidade externa são englobadas. A estudiosa opõe-se ao escritor russo que separa o maravilhoso do estranho. Ela não concebe estas categorias como elementos díspares, mas como elementos que engendram o seu modo literário fantástico. Es mejor, tal vez, definir lo fantástico como un modo literario antes que un género, y ubicarlo entre los modos opuestos de lo maravilloso y lo mimético. Num segundo momento, quando ela discorre acerca de sua profissão, notamos a aproximação que ela deseja ter do universo infantil em termos de faixa etária e afinidades.

Tal período revela-nos o período da infância como o refúgio na vida da autora. Essa ternura pelo universo infantil torna-se desencanto com muita celeridade. Este conto é muito bem urdido pois a autora compreende muito bem em que ponto deve prender a atenção do leitor, tornando o ambiente mais tenso e quando deve afrouxar a trama, a fim de que seu interlocutor possa respirar. Ocampo, ao trabalhar com padrões e cores ao longo de toda a narrativa, faz com que atentemos para cada cena como se fossem quadros. Repentinamente, ela torna a falar de contrastes, de seu desejo infantil, mesclado ao medo e ao desprezo, de casar-se com um homem negro. Este fragmento parece desconectar-se do restante da narrativa; é como alguém que segue por uma estrada reta e repentinamente faz uma curva ou propositalmente desvia-se para não cair em um assunto incômodo.

Tais são os artifícios empregados pela narradora com a finalidade de tocar o âmago do leitor, de tirá-lo do prumo, atordoá-lo. A filha de Ana Maria, Porfiria Bernal – que empresta seu nome ao conto – tem um nome que representa uma enfermidade que debilita o sangue. A mãe, que faz uma série de recomendações a professora, a alerta da doença da filha: pleurite, uma inflamação na pleura, membrana que reveste o pulmão. Esta indagação suscita a dúvida no leitor, a hesitação, elemento marcante do gênero literatura fantástica. A leitura do diário de Porfiria Bernal é restrita apenas a Antonia Fielding, a professora. Isto ocorre no meio do conto. A primeira ocorrência é de 03 de janeiro de 1931. Assim como Silvina, a menina alega que sua felicidade estaria em esconder-se entre folhas e pássaros noturnos.

Já em seu relato sobre amigas imaginárias, é possível sentirmos a maturidade de sua solidão. Num dado momento, a menina vê a professora como um felino que a arranha. O leitor confunde-se pois não sabe se isto trata-se somente da imaginação da aluna ou se realmente ocorreu, dentro das possibilidades da literatura fantástica. A menina demonstra-se uma grande estrategista, assim como é Silvina Ocampo, e revela sua tirania pois a professora caiu em sua armadilha e não consegue deixar de ler as páginas tecidas por ela. Ocampo, habilidosa como é, sabe que o leitor encontra-se excitado demais e deseja saber qual será o desfecho da trama. Na cena final, Porfiria está acamada e a professora, paulatinamente, vai se transformando em gato. Talvez esta aversão aos gatos seja algo real e característico de Silvina.

O final é eletrizante, totalmente inesperado e aterrador. Este conto de literatura fantástica cumpriu seu papel ao deixar o leitor estupefato e enredado pela trama. REFERÊNCIAS BARRENECHEA, Ana Maria. Introdução à literatura fantástica. Editora Perspectiva: São Paulo, 2007.

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