A COMPREENSÃO DO TEMPO NA FILOSOFIA ANTIGA

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

Palavras-chave: Tempo. Eternidade. Número. Movimento. Alma INTRODUÇÃO O presente artigo apresenta uma breve explanação do problema do tempo a partir de alguns filósofos antigos. Já a segunda concepção vinculará o conceito de consciência, com o qual o tempo é identificado. E a terceira tratará de abordar a derivação da subsistência da filosofia existencialista, a qual possui - em sua análise de tempo - algumas inovações conceituais. A primeira concepção de tempo é a mais antiga, pois considera o movimento como parte mensurável do tempo. Os Pitagóricos concebem uma definição sobre o tempo como “a esfera que abrange tudo”3, ou seja, é a esfera celeste; à medida que vai se relacionando com o céu, o seu movimento irá proporcionar sua medida perfeita.

O filósofo Platão, antes de entrar nos problemas sociais e políticos, quis contudo, em primeiro momento, investigar o lugar que o homem ocupa em torno do universo. Somente logo após a criação do céu é que o Demiurgo lembrou-se de criar esses elementos. Os dias, as noites, os meses e os anos são elementos de tempo; o passado e o futuro são unidades geradas do tempo. Segundo Timeu, o passado e o futuro são coisas ignorantemente criadas por nós para a substância eterna. Sendo assim, as expressões relacionadas a ‘o que era’, ‘o que é’ e ‘o que será’7, são empregadas por nós enquanto é, pois esses são os únicos termos que realmente nos convém. No entanto, essas expressões são utilizadas de maneira errônea, isso por que à medida em que elas se encontram aprisionadas ao “é” não indicam movimento, e por isso não é possível avançar no tempo; somente as expressões “era” e “será” que são expressões adequadas para aqueles que avançam no tempo, pois essas expressões, sim, indicam movimento.

Platão parte do conceito de dualismo entre o mundo sensível e o mundo inteligível com o objetivo de poder dizer que o tempo é uma aparência mutável e perecível de uma essência imperecível e imutável da eternidade. Enquanto que o tempo (chrónos) tem de ser uma esfera tangível [e] móvel, a eternidade é a esfera intangível da imobilização. O tempo para Platão é considerado na leitura de Brague como uma ordem comensurável em constante movimento; o tempo se encontra em um estado de alteridade permanente sendo o seu domínio um devir constante dos fenômenos de contínua mudança. Platão coloca o tempo como uma imagem que, por sua vez, não deixa de ser uma cópia da eternidade, isto é, o tempo como uma cópia imperfeita de um modelo perfeito que é a eternidade.

Para o comentador Remi Brague, o conceito de tempo platônico é uma ilusão, o tempo é visto como uma espécie de sombra da eternidade e que ele só se permite ser real à medida em que faça parte da essência da eternidade. Todavia, mesmo que o tempo venha ser algo invisível, sempre existirá uma parte do tempo a qual já se tenha passado e outra que está na esperança de chegar. Com efeito, Aristóteles considera que tanto uma parte como a outra, são coisas que não existem; ele também pondera o ‘agora’ como algo que também não faz parte dos estereótipos do tempo; e ainda, no pensamento dele, se refere à medida do todo, sendo que o todo só existe na medida em que existam todas as partes.

O Estagirita, todavia, percebe que não é simples analisar o AGORA para afirmar que seja o determinador da existência do passado e do futuro, em ambos se encontra a sensação de que são sempre um, mas que também são coisas diferentes. Caso seja distinto e caso as partes sejam simultâneas, Aristóteles pontua que o agora não pode se corromper em si mesmo para que ele possa existir. Entretanto o agora anterior pode corromper o agora existente, e sendo assim, os ‘agoras’ não podem ter relação uns com os outros. Pero el tiempo no es definido mediante el tiempo, tanto si se lo toma cuantitativamente como cualitativamente. Es, pues, evidente que el tiempo no es un movimiento (de momento no hay ninguna diferencia para nosotros entre 20 decir «movimiento» y decir «cambio»).

Em Aristóteles, a mudança e o movimento coexistem. O movimento só existe na medida em que existe algo que esteja sofrendo alguma espécie de mudança. Contudo, Aristóteles em seu livro IV da física, adverte-nos que mesmo que exista o movimento e a mudança, o tempo sempre estará presente em todas as partes e em todas as coisas. Segundo Aristóteles, todo mundo notam a existência do tempo quando se percebe a sua movimentação dentro do movimento, isto é, todos notam a existência do tempo a partir de sua maneira de passar. O tempo quando ele passa pelo movimento que é percebido pela alma. O tempo não é o movimento, mas certamente é algo pertencente ao movimento, pois tanto o passado quanto o presente e o futuro, ambos movimentam-se pelo ‘movimento’, é o futuro que vira presente e é o presente que se torna passado.

Essa transladação é feita pelo movimento, o ‘agora anterior’ e o ‘agora posterior’ fazem o tempo, quando não percebemos a passagem do tempo não o temos, mas quando percebemos a sua passagem, o tempo logo passa a existir. Aristóteles, contudo, entende que o tempo é definido por um número de movimento que é sempre oriundo do anterior ao posterior. Em contrapartida, Aristóteles conceitua o tempo como algo que só pode ser percebido a partir da alma, pois a alma é vista como o princípio que enumera o tempo, se tornando a condição necessária para que se possibilite a enumeração do tempo. Aristóteles, ao longo de seu estudo sobre o tempo, conclui que o movimento não depende diretamente da alma, mas que o tempo, este sim, depende dela; caso não houvesse a alma na terra ligada a uma memória, e a recordação do passado, a espera do futuro, não existiria o tempo e sim um eterno presente e desta maneira o tempo não existiria.

Mas será que isso é correto para se afirmar? Será mesmo que o tempo é dependente da alma? Será mesmo a alma que enumera os tempos? Essas e outras questões é o que veremos a seguir em Plotino. O TEMPO E O MOVIMENTO DA ALMA EM PLOTINO Embora tenhamos visto a explicação da teoria do tempo em torno do pensamento grego, o tempo ainda continua sendo obscuro para a sua compreensão na idade antiga, pois existem muitas lacunas em que tanto Platão como Aristóteles ficaram em suspensos. A filosofia de Plotino também tem a preocupação de tentar resolver o problema do tempo, extirpando as lacunas que Platão e Aristóteles não erradicaram. Para Plotino, o movimento é apenas uma seta que indica a presença do tempo28.

Plotino, com poucas palavras, busca também analisar a segunda concepção de tempo dado pelos filósofos antigos. Plotino ao deixar claro que o movimento dos astros não podem ser o tempo, deixa também claro que o astro tampouco pode ser o tempo, já que nele também existe movimento e o tempo não possui a mesma identidade do movimento. Com efeito, Plotino, depois de ter analisado as duas concepções de tempo, delimita a terceira para melhor análise, e é em cima desta terceira concepção que ele irá mais tarde desenvolver sua teoria de tempo. Nesta terceira visão, Plotino confronta a hipótese de que o movimento é, por ventura, alguma coisa do tempo, pois tudo indica que o movimento é algo que está sempre presente no tempo, mesmo descartando a hipótese de que o tempo seja o movimento.

Com a ideia de que o tempo seja o espaço, a ideia de que o tempo é o movimento ou coisa movida é anulada por Plotino. Com a ideia de que o movimento percorre no tempo, é descartada a ideia de que o tempo seja alguma propriedade do movimento sendo intervalo ou extensão, visto que o instantâneo também ocupa um pedaço de tempo. Depois de Plotino ter analisado as questões acima, ele continua questionando as outras definições do tempo dadas por Aristóteles. Contudo, Plotino questiona: pode se dizer que o tempo é o número ou a medida do movimento? Em todo caso, esse pensamento abre a hipótese do tempo ser algo anterior ao movimento, pois se o tempo é considerado o medidor do movimento, isso só pode ocorrer à medida que seja antes do movimento, o tempo aqui também será visto como independente do movimento.

Desta maneira, o tempo é compreendido por intermédio do número, o tempo é o número do movimento, assim, ele é número, mas enumerante, em outras palavras, o tempo é o número, quando esse número for sobreposto a um objeto determinado. Plotino também discorre sobre a divisão do tempo. Para ele, o agora é o divisor do tempo em passado e futuro. O agora se torna, no pensamento de Plotino, uma parte mais elevada do tempo, pois é ele o responsável pela medida do tempo, ele se torna uma peça fundamental para medir o tempo. Falar que o agora é o medidor do tempo, faz com que surja outro problema, uma vez que dizer que o agora é o medidor do tempo insinua a dizer que o instantâneo é a peça mais elevada do tempo Desse modo, Plotino compreende que na visão de Aristóteles o instantâneo é sempre momentâneo e, sendo assim, o agora é uma peça que não possui tempo, embora Plotino insista em pensar que se o tempo mede o movimento, logo o tempo deve ter em si alguma coisa que tenha relação com ele, pois o tempo não é algo que não se move, o tempo sempre está em movimento, mesmo que meça o movimento, o tempo sempre continuará em movimento Em outros termos, Plotino entende que o tempo em si não pode ser algo que esteja ausente de movimento, mas o movimento que existe no tempo também não pode ser um mero movimento sensível.

Em Plotino, o antes e o depois são coisas que ocorrem nas propriedades do movimento, e eles não podem dizer o que é o tempo, mas podem nos mostrar que o tempo é algo que continuamente está passando. De fato, quando este estiver em contemplação ao Uno, a inteligência neste exercício conservar-se-á em si e para si mesmo, a fim de se conservar em estado de repouso. Na concepção de José Reis, Plotino quer dizer que a Alma possui em si o movimento mais perfeito. Só a Alma pode medir o tempo, em vista de ela possuir um movimento perfeito, o movimento da alma é o próprio tempo39. Contudo, Plotino não se contenta apenas com essa resposta. Ele começa a procurar e tentar outras respostas em torno do tempo, e por isso, Plotino começa investigar o tempo para fora do primeiro movimento que consiste a alma.

Plotino entende que a imagem da eternidade e a propriedade da alma são coisas que não estão sujeitas a serem divisíveis. Assim como a eternidade é continua, idêntica e uniforme, assim é com o tempo, embora ele acontece de maneira imperfeita, pelo fato de a eternidade ser um todo e o tempo ser algo mais disperso e extenso. É dessa forma que surge a relação do tempo com o espaço e o movimento. Todavia esse pensamento era uma aporia que o filósofo Aristóteles já tinha apresentado em seu livro IV da Física, que Plotino contesta com o argumento de que se algo é medido, então não pode ser medido pelo tempo em si, essa análise apenas acontece em função dos acidentes que ocorrem no tempo.

Para Plotino, a Alma é responsável por criar tanto o dia como a noite e é na primeira diferença entre o antes e o depois que irá abrolhar o número, fazendo com que tal número possa contar o tempo, porém esse número se apresenta ao tempo de uma maneira acidental - o número não é o tempo é apenas um acidente que permite contar o tempo. Aristóteles, Física. Uruguay: Libera los Libros, 1995. BRAGUE, Rémi. O Tempo em Platão e Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2006. REIS, José. O Tempo em Plotino. Revista Filosófica de Coimbra, Coimbra, vol. N°12, out. uv.

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