Resenha do livro A queda do céu

Tipo de documento:Projeto de Pesquisa

Área de estudo:Antropologia

Documento 1

A representação logo no começo da importância do nome é significativa. Para o nativo o nome é algo de extrema importância e significado, não é nem prudente e recomendado chamarem uns aos outros pelo nome verdadeiro, fazendo uso apenas de apelidos, o branco quando chega ao ambiente do nativo uma das primeiras iniciativas é catalogar os indivíduos atribuindo nomes próprios, desrespeitando não só a sacralidade nominal da tribo, como vulgarizando os nomes, como se colocando nomes comuns aos brancos, fosse de alguma forma uma mediação de civilidade. Outra representação contrária ao pensamento do branco, é com relação ao uso da escrita. Entende-se a escrita como um instrumento de progresso, uma forma de decodificar e registrar os fatos e acontecimentos históricos, o homem evoluiu ao ponto de produzir seu própria código de comunicação e registro, a própria noção de civilização está intimamente ligada a essa descoberta.

O fato da importância da escrita para humanidade não justifica pensar que ela nos fez pessoas melhores, ou seja, aqueles indivíduos que não a usam, não são necessariamente inferiores ou ilegítimos Essa visão diversificada da escrita está intimamente ligada ao enaltecimento da oralidade, a maioria dos povos que não possuem um código de escrita usual, tem um respeito significativo do uso da fala. Os xapiri eram espíritos da floresta, os xamãs conseguiam visualizar esses espíritos. Davi os enxergavam desde criança nos seus sonhos. Essa situação transformava ele como uma pessoa “especial”. Os xamãs podiam ver os espíritos das florestas, eles maximizavam essas visões usando uma espécie de pó alucinógeno. É importante pensar que o indivíduo que conseguia ver, conversar ou ter qualquer tipo de contado com os xapiri, eram vistos como membros diferenciados da tribo.

Em dado momento Davi Kopenawa, faz um relato minucioso de sua iniciação a xamã, esse episódio é duplamente importante, primeiro porque expõe a maneira como um indivíduo pode se tornar um líder espiritual, e ao mesmo tempo coloca a experiência empírica de quem participou efetivamente do evento. O começo da iniciação se dá com o uso abusivo do pó que nasce da seiva do urucum, segundo Davi esse pó tem atributos diretos dos xapiris, é comum pessoas da tribo usarem esse tipo de pó, inclusive o própria já havia usado várias vezes, só que no ritual de iniciação, o uso é extremamente exagerado, o pó causa um efeito entorpecente e de alucinógeno. O relato diz que foi uma semana sofrendo com os efeitos e inspirando o pó constantemente.

Uma interpretação racional disso é que através do acumulo do uso do pó, Davi, conseguia ficar em um estado de transe e efetivamente via e sentia aberrações da natureza, que para ele são interpretadas como as mensagens dos xapiris. Outro aspecto importantíssimo de interpretar é o caráter de hereditariedade do processo de iniciação para xamã, são os pais xamãs que iniciam seus filhos xamãs, só que no caso de Kopanawa foi o seu sogro, um xamã antigo que fez a sua iniciação, já que Davi não tinha pai xamã. As vezes eles se tornam violentos, causando mutilações no espírito do indivíduo. Após todo esse tormento, o iniciado torna-se um xamã iniciante, com habilidades espirituais, que podem fazer com que o mesmo converse e entre em contato direto com os xapirirs.

Devido a essa habilidade, os xamãs são vistos como benfeitores e líderes, com propriedades superiores aos demais. Os espíritos vão morar junto com os xamãs, é como se construísse uma casa no campo espiritual ou no céu, e esse local é onde o xamã pode entrar em contato com os seus xapiris, após aspirar o pó pelas narinas. Então cria-se um local específico e exclusivo aonde os espíritos moram, quanto maior e melhor esse ambiente, mais espíritos viveram com o xamã e consequentemente, mais forte e preparado ele se tornará. Quando solicitado, o xamã fazia uma conexão com seus espíritos, para que o mesmo começasse o processo de cura do indivíduo. É importante identificar que só os xapiris, por si só não poderiam efetuar nenhuma cura, os xamãs junto com os membros da tribo, precisavam usar de ervas, plantas, água para que o enfermo seja constantemente recuperado.

É trabalho conjunto entre os indivíduos terrenos e os xapiris, no campo espiritual, caso um dos dois falhem a cura, consequentemente falhará. Os males que acometiam as pessoas eram frutos de espíritos malignos, logo, a cura dessas doenças também eram promovidas pelos xapirirs. Isso, reafirma a ideia de que só os xamãs poderiam fazer a função de “médico” na tribo, pois eram eles que poderiam entrar em contato e de alguma forma ter a confiança dos espíritos. Essas sociedades nativas que vivem na floresta, acabam tendo um contato muito profundo com a natureza. Todos dependem dos recursos providos pela terra, só que os nativos de yomanani tinham uma aproximação muito mais profunda com a mesma. A dependência dos recursos naturais, faziam com que existisse uma necessidade de entende-la.

É por isso que as manifestações naturais, para eles tinham explicação lógica, que estava sustentada nas manifestações dos xapiris, os espíritos das florestam davam ou tiravam os recursos necessários. Quando ocorria um grande período de estiagem ou de catástrofes naturais, isso era relegado aos conflitos entre os espíritos da terra, quem nunca ouviu falar em dança da chuva? Pois é, essa prática nada mais é que uma forma de os xamãs conversarem com os espíritos para que eles acabem com o período de seca. O relato trazido por Kapenawa deixa claro os tipos de objetos que eram usados pelos nativos. A cultura material é uma das características principais da sociedade, desde os primórdios quando o homem adquiriu o mínimo de habilidade na feitura de ferramentas e objetos não parou mais.

Isso é importantíssimo, pois, entender quais eram os materiais usados por uma sociedade, faz com que a compreensão do modo de vida dessa sociedade seja mais clara. Tudo que a tribo precisa era construído através de recursos naturais. Utensílios eram feitos de madeira, tiras de plantas, uso do barro cozido e etc. A crítica de Kopenawa, é que as crianças começaram a imitar os brancos, essa observação pode ser entendida de maneira inocente, mas, a interpretação feita é que essas imitações dos brancos são o início de um rompimento com as tradições da tribo. No primeiro contato de Kopenawa com o branco ele deixa claro sua insatisfação e medo de conviver com os eles, isso ocorre, pois, o contato com o branco se deu através de ignorância, a falta de conhecimento e de entendimento sobre aquele povo, ocasionou um sentimento de espanto na tribo.

O medo é um sentimento confuso de ser interpretado, nesse caso, o desconhecido foi o mote provocador dessa realidade. Aos poucos os brancos foram se instalando na região aonde os índios moravam, essa migração do branco se dava por interesses, queriam se apropriar da terra e das riquezas proporcionadas pelas as mesmas, foram construindo postos e casas ao longo de toda floresta. Gradativamente o branco adentrava cada vez mais no espaço da floresta. Então as tradições da tribo foram aos poucos sendo deixas de lado, já que eram consideradas malignas O próprio discurso cristão foi paradoxalmente o motivo que fez com que os nativos voltassem a praticar e dá ênfase ao seu modo de vida, pois, os missionários não cumpriam os mandamentos e as regras que eles mesmo impunham, ou seja, o discurso deles era contraditório, por exemplo, houve casos de missionário copular com as mulheres da tribo, visão essa condenada pelos próprios missionários e nada acontecia com eles.

Sendo assim, gradativamente a narrativa cristã foi perdendo força dentro da sociedade Yanomami. O discurso repassado dos cristãos com relação a Teosi, criava no imaginário do nativo uma figura grandiosa que merecia respeito e tudo, o problema era que o nativo nunca conseguia ver o Deus do branco, isso por motivos óbvios, mas, a comprovação era necessária, afinal os espíritos da floresta eram vistos, essa comprovação não era possível por parte da narrativa do branco. Davi através de suas visões criou uma própria representação cosmológica da existência de Teosi, para ele ocorreu um confronto entre Teosi e Omama, os dois deuses se enfrentaram por inveja e poder. Teosi foi derrotado e foi proteger os brancos e Omama ficou na floresta.

A construção de postos da Funai, casas para os brancos, pistas e estradas, estão intimamente ligadas a destruição da floresta. A tentativa de colocar uma estrada nos caminhos dos índios, gerou efeitos colaterais profundos, não apenas para os habitantes, mas, também para a natureza e geral. O ideal do branco em colocar o progresso em primeiro lugar, gerou mudanças ocasionadas no meio ambiente, que infelizmente nem sempre são de características positivas. A floresta sendo realmente ameaçada pela investida branca, ocasionou um êxodo dos índios, esses acabavam fugindo para ambientes, cada vez mais afastados da mata conhecida, adentrando em locais inóspitos até para eles mesmo, tudo na tentativa de se distanciarem desse processo civilizatório. Outro tópico importante do livro é a narrativa de Davi, contando sua experiência de convívio com os brancos.

Interpreta-se essa visão de duas formas. A primeira é uma maneira do povo manter suas origens e tradições preservadas. A segunda é uma ideia xenofóbica, onde, o contato com o estrangeiro poderia ser imaginado negativamente. Um profundo momento de reflexão, é com a perda das terras dos índios. Os índios sempre viveram na floresta, sendo assim, imaginavam aquelas terras como sua morada e deveriam ser suas, a noção de propriedade privada não era usada como temos na realidade capitalista, ou seja, a terra era da natureza e os povos que ali viviam tinham por obrigação viver e respeitar o ambiente.

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