Artigo não publicado sem risco de constar plágio Memória e História Fontes orais Literatura e cinema Ditadura Militar brasileira Consciênc

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Estatística

Documento 1

Ao analisar qualquer fonte histórica em sala de aula o professor deve ter no horizonte de seu planejamento que qualquer discurso, produzido em qualquer esfera social, é portador, implícito ou explicitamente, de um posicionamento político e ideológico (FOUCAULT, 1998), não há mais como sustentar a ideia de neutralidade. Porém, as narrativas da memória são fontes históricas importantes para a análise em sociedades que passaram por regimes autoritários, nas quais a violência fez calar e marginalizou os discursos e as posições políticas que não condiziam com as práticas desse Estado. As fontes para a produção e debate histórico sobre a Ditadura Militar brasileira, por exemplo, são os testemunhos e memórias dos cidadãos que viveram aquele período histórico, já que as fontes e documentos oficiais são sigilosos ou inexistentes, pois as instituições de repressão do Estado e a resistência agiam na ilegalidade.

Ou seja, as únicas fontes disponíveis são relatos de “sobreviventes” que se envolveram na luta contra a Ditatura e por ela foram perseguidos, sequestrados, presos e torturados. Ainda mais, para colaborar com a escassez de fontes, há o silêncio e o não julgamento dos envolvidos na agência desse Estado e o fato de que os arquivos oficiais que sobreviveram terem ficado em sigilo por muito, impossibilitando o confronto dos fatos. A escrita de si é, ao mesmo tempo, constitutiva da identidade do seu autor e do texto que se criam, simultaneamente, através dessa modalidade de “produção do eu”. Em outras palavras, a memória é um teatro. O professor deve, então, estar atento para não ser encoberto pelas fontes testemunhais. Deve analisá-las como portadora de um posicionamento político e ideológico.

Não como portadora da verdade, porque pode acabar caindo em uma discussão maniqueísta entre o bem versus o mal, o herói versus o vilão, ou mesmo reproduzindo o sofrimento ou acobertando fatos históricos. Afinal, somos todos vítimas porque sofremos com a estrutura autoritária internalizada em nossa sociedade. Tanto é verdade que não podemos explicar o sucesso do filme Tropa de elite e seu apelo à tortura sem remetermos a isso. Temos que rememorar para ressignificar. Temos que testemunhar de forma séria, sem melindres. Temos que abrir os arquivos e ‘fazê-los falar’ em paralelo aos relatos da memória. ” (CANCELLI, P. Além disso, esse revanchismo gera um discurso que apenas legitima e impõe outra memória oficial que procura compor uma história heroificada e vitimizada, obliterando a emersão de outras memórias individuais subterrâneas e impedindo uma discussão mais fecunda do processo político-histórico que possibilitou a ascensão e legitimação de tal regime totalitário.

Também, como coloca Janaina A. Teles (2012), esse esforço das “forças de transição” pelo silenciamento, provocou uma ausência da memória, que possibilitou a ascensão de testemunhos idealizados e sacralizados, gerando os heróis. Isso porque os “sobreviventes” pintaram a sua memória sob um “quadro branco”, sob um vazio, no qual idealizaram o passado e o sacralizaram, heroificando as vítimas. O historiador tem que perceber que essas memórias se tocam, disputam espaços e a oficial nada mais é do que a vencedora num dado contexto. Aceitar a existência de uma história oficial e a idéia de que os testemunhos vêm preencher lacunas do que ela não contou é aceitar que existe verdade no discurso e não um jogo político.

Não se deve ser conivente e trabalhar com essas polaridades, as memórias se entrecruzam a todo instante, as ideologias disputam esse espaço oficial. Como afirmou Pollak (1989), quando disse que a memória coletiva encobre outras memórias individuais subterrâneas, sendo a coletiva não uma coisa dada, mas uma construção. Isso posto, deve-se partir para a análise dos documentos testemunhais dos marginalizados por um regime autoritário, como propõe E. São Paulo: USP, mimeo, 2011 FOUCAULT, M.  A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola, 1998. GOMES, A. C. In SELIGMAN-SILVA, M; GINZBURG, J. HARDMAN, F. F. Escritas da violência, Vol. II. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

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