O ENSINO DA VIRTUDE PARA PLATÃO NO DIÁLOGO "PROTÁGORAS"

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

O tema pode mesmo levantar várias questões. Poderíamos perguntar: todo mestre é virtuoso? Um homem simples pode ser virtuoso? O que é ser virtuoso? Mas ao final de todas as perguntas parece que recaímos sempre na velha e boa pergunta socrática: o que a virtude? Por esta razão seguiremos o diálogo Protágoras, de Platão, no qual Sócrates discute a questão da virtude e demais questões relacionadas ao tema. Para uma melhor compreensão, faz-se necessário um breve esclarecimento do contexto histórico. Para tanto utilizaremos o texto Os Sofistas, da obra Paidéia, de J. Werner. O mito, transmitido pelos poetas e utilizado pelos pais na educação das crianças, já não basta para a formação da nova arete.

Faz-se necessário um novo sistema de ensino capaz de transmiti-lo. Em decorrência desta necessidade surge um movimento que influenciaria de forma definitiva o pensamento ocidental e ficaria conhecido como sofista. A PROBLEMÁTICA QUESTÃO DO ENSINO DA VIRTUDE PARA PLATÃO A transformação sócio-econômica da Grécia Antiga traz, de forma inevitável, a transformação política que, durante o governo de Péricles, atinge o ápice. Ao extinguir-se a distinção entre os cidadãos atenienses e declarar que todo ateniense é livre e digno de governar seu povo, decreta-se, conseqüentemente, que todo cidadão participa, queira ou não, das decisões políticas. No sentido que ora buscamos no diálogo Protágoras – a educação oferecida pelos sofistas – o homem virtuoso seria a justa medida de todas as coisas.

Portanto, tal homem precisa ser dotado de técnica capaz de mediar, moderar ou administrar as atividades humanas de tal forma a compatibilizar seu modo de vida particular com os demais homens, evitando o conflito e influenciando seus concidadãos. Tal técnica ou arte seria a política e ele (Protágoras) afirma ser capaz de ensiná-la. Pois para Protágoras, se as coisas ou situações mudam, o homem deve saber agir de tal forma a harmonizá-la sempre ao todo. Isto seria o bem viver e o ensinamento dado pelo sofista4. É claro que o filósofo, ao afirmar que pensa como os demais atenienses, está se valendo claramente de sua ironia para instigar seu opositor. Bem sabemos que Sócrates não dava grande valor a opinião popular, logo, por mais que os atenienses, de forma geral, compreendessem intimamente o que é sábio, de fato não saberiam com exatidão o que expressavam quando diziam serem sábios.

Também a questão da assembléia só ouvir profissionais na arte necessária para resolver o problema de uma construção ou outra necessidade semelhante, não serve como argumento válido para a afirmação de que todos podem opinar a respeito do caminho que a cidade deve seguir. E ainda, que o viver em comunidade, de uma forma ou de outra, acaba por educar os cidadãos, não é uma verificação com a qual se possa afirmar a impossibilidade do ensinamento da virtude. Portanto, todo o argumento tem por objetivo maior convencer Protágoras a expor mais e mais questões que envolvam a proposição inicial: é possível ensinar virtude? Protágoras, tão convencido da possibilidade de defender sua posição inicial, pergunta a Sócrates se prefere que explique através de um mito, como se faz com as crianças ou com um discurso racional.

É um todo feito de partes. Caso contrário, será ensinado que participe e se ainda assim se recusar, então será castigado para que aprenda a ser melhor. Algo semelhante ocorre no ensinamento da língua materna. As crianças aprendem em casa as primeiras palavras e depois, convivendo com os demais continuam a aprender, por fim a sociedade, com seus mestres, lhe ensina o bom uso das palavras. O ensinamento da virtude preocupa também a todos e todos ensinam, sejam os pais ou os professores. Porque, mesmo aceitando as mesmas virtudes (justiça, sensatez, piedade, e outras), para Sócrates há a exigência da reflexão. Não basta saber como fazer, é preciso saber o que fazer16. Deve haver comprometimento, para tanto o homem precisa entender o que fazer, pois só assim age por razões, age racionalmente.

A vida deve ser a constante busca pelo saber. Por isso, logo após elogiar Protágoras, Sócrates abre novamente a questão da virtude, mas agora exige que a discussão adquira uma forma dialética com perguntas e respostas curtas e passa a examinar cada uma das partes (como disse Protágoras) da virtude: a justiça, a sensatez e a piedade. Depois é preciso fazer disso uma escolha de tal maneira que as virtudes ajudem o homem a ter uma vida boa e voltada para a busca do bem. Assim, o homem compreende o que deve ser e que existe um dever ser, uma forma de agir capaz de melhorar sua existência. Caso contrário, haverá apenas uma virtude habitual, desqualificada de entendimento; um agir virtuoso que acontece sem saber porque.

É claro que há um lugar certo e definitivo para a educação na vida do homem para Platão. A educação é necessária e Platão não negligencia este papel, tampouco diminui. Ao colocar na boca de Sócrates a opinião de todos os atenienses a respeito da sabedoria que possuem, Platão esclarece que a base para uma comunidade política está na opinião correta que o povo carrega consigo. E ainda, uma segunda vez no diálogo Protágoras, Sócrates verifica o que diz a opinião popular: “dirijo minha argumentação a eles ou a ti? Se preferes – disse – discute primeiro a opinião da maioria”21. Ora, na opinião da multidão é possível que o homem tenha uma virtude e não outra, ou não outras.

Portanto, a comunidade reconhece a existência da virtude e a necessidade de buscá-la, mas reconhece também a possibilidade do erro no agir. Talvez esteja aqui nosso habeas corpus. Paidéia: a formação do homem grego, São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. SCOLNICOV, S. Platão e o Problema Educacional, São Paulo: Edições Loyola, 2006 BENOIT, H. Sócrates: o nascimento da razão negativa, São Paulo: Moderna, 1996.

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