Transições não normativas podem causar menos prejuízos que transições esperadas
Tipo de documento:Artigo acadêmico
Área de estudo:Psicologia
Observou-se a diferenciação acerca da normatividade dos marcos quanto à sua expectativa e as implicações da passagem efetuadas pelos jovens adultos. Caracterizou-se, acompanhando a literatura levantada, como ‘adultez emergente’ o período de sucessivas crises de transição vivenciado em geral pelos jovens adultos entre os 18 e 29 anos. A análise bibliográfica dos estudos aventados não mostrou base empírica para sustentar a refutação da hipótese. Prosseguiu-se com a tentativa de refutação pela via analítica, que também mostrou-se infrutífera. Por fim concluiu-se que a pesquisa corrobora a conjectura testada, assim como a ampla literatura disponível na área de Psicologia da Educação. Nesse percurso foram variadas as formas de classificação quanto à duração, a sequência e as características psicossociais que evidenciam os períodos de crise inerentes à transição para a idade adulta.
Alguns fenômenos da vida social foram se incorporando à teoria e se consolidaram como marcos que representam um momento no qual o indivíduo abandona parte da fase anterior, a adolescência, e se direciona para a próxima, o desconhecido. A observação, por meio da Psicologia da Educação, destes marcos de transição estabeleceu uma normatividade para o percurso, ou seja, uma ordem esperada para cada etapa do processo. Da mesma forma foi observado que alguns marcos de transição não ocorrem de forma esperada, estes são os marcos não-normativos. Neste artigo buscaremos refutar a hipótese de que as transições esperadas causam menos prejuízos psicológicos do que as transições não-normativas. Segundo Carvalho (2017, p. esta fase representa uma continuidade da moratória de Erikson, ou seja, é um período no qual o jovem toma a liberdade de vivenciar experiências alternativas, sem assumir o nível de comprometimento necessário para o autorreconhecimento enquanto adulto.
Ocorre também uma potencialização das forças disponíveis para o avançar sobre as adversidades da vida social, permitindo a edificação progressiva da identidade pessoal. Marcos de transição Até o início do século XX havia uma expectativa em torno da determinação e da cronologia dos momentos da história pessoal do indivíduo que caracterizariam a transição para a idade adulta. Levinson (1977) tratou tais fenômenos como eventos marcadores (marker events), indicando categorias de transição que se cristalizaram na literatura na forma de 5 episódios: fim dos estudos; primeira saída da casa dos pais; primeiro emprego; primeira coabitação e primeiro filho (citado por Agudo, 2008, p. Neste contexto a questão pertinente é: em que níveis os marcos de transição afetam a construção da identidade do indivíduo durante a fase de adultez emergente? Autores como Gove, Perun, Bielby, Levinson e Bee em algum momento sustentaram, conforme Agudo (2008, p.
que as transições normativas antecipadas tem o potencial de causar menor stress, sendo por isto menos perigosas para a saúde mental, do que aquelas não programadas ou inesperadas. Esta perspectiva, hegemônica no final do século XX e início do XXI, foi sintetizada na seguinte hipótese: as transições esperadas causam menos prejuízos psicológicos do que as transições não-normativas. Cumpre-nos testar a mesma, recorrendo para tanto ao método científico, a fim de sustentá-la ou descartá-la enquanto parte do estilo de pensamento do coletivo de pensamento da Psicologia da Educação, conforme as categorias epistemológicas de Popper (1935) e Fleck (1979). Justificativa, Objetivo e Método Justificativa Durante as últimas duas décadas pudemos observar uma crescente ampliação das crises de transição para a idade adulta causadas pela protelação da entrada dos jovens no mercado de trabalho, fenômeno este decorrente de uma sociedade que exige a cada dia maior especialização e tempo dedicado aos estudos para incluir as novas gerações nos processos produtivos.
Posição esta defendida por diversos estudos apontados anteriormente. Elencamos também como objetivo secundário corroborar a hipótese concorrente: algumas transições não-normativas podem causar menos prejuízos que transições esperadas. Método Karl Popper (1935) propunha que fazer Ciência consiste em solucionar problemas. Além disto desenvolveu um método para tanto, que ficou conhecido como hipotético-dedutivo (citado por Lakatos & Marconi, 2003, p. Este método se fundamenta no fato, derivado do problema da indução de Hume, que enunciados gerais (leis) não podem ser deduzidas a partir de enunciados empíricos. Além disto, sabe-se que a passagem do jovem por quaisquer marcos de transição tem um potencial depressivo para o indivíduo, uma vez que implicam no abandono de uma fase confortável a fim de assumir a disposição para uma experiência que exige novos níveis de comprometimento psicossocial.
Tais experiências, embora indispensáveis para a construção da identidade adulta, causam em maior ou menor grau algum tipo de sofrimento que pode vir a prejudicar a saúde mental do indivíduo. O problema que segue é: Quais marcos provocam maior potencial de sofrimento psicológico, os marcos esperados, ou os não-normativos? Hipótese passível de teste empírico para resolver o problema. As transições esperadas causam menos prejuízos psicológicos do que as transições não-normativas. Esta hipótese já foi defendida em várias pesquisas, como mostra Agudo (2008), Carvalho (2017) e outros. Ou seja, se houver apenas um dos entrevistados que não passaram por marcos não-normativos e ainda assim estiver com a pontuação CES-D acima da média (>20), isto implica na refutação da hipótese de trabalho.
Observando os dados apresentados por Agudo (2008) percebemos que os grupos de sujeitos que apresentaram sintomatologia depressiva, com valores médios de CES-D superiores a 20 são constituídos por 5 pessoas que não passaram por nenhum marco de transição e outras 8, que passaram pelos 5 marcos, somando 13 indivíduos. Nosso cisne negro começa a aparecer quando comparou-se a pontuação CES-D dos indivíduos que não realizaram um marco de transição não-normativa: Tabela 1: Média de valores na CES-D de sujeitos que realizaram um marco de transição não normativo Fonte: Agudo (2008, p. Embora o resultado refutasse completamente a hipótese de trabalho, o teste de significância da amostra concluiu que a mesma não é significativa, de modo que os resultados por hora não são suficientes para a refutação, uma vez que não são passíveis de generalização e precisam ser confirmados por nova pesquisa empírica.
Seguindo a metodologia, continuamos procurando uma base para a refutação da hipótese. A utilização de diversos métodos complica, entretanto a sua capacidade de formular conjecturas sustentáveis. De fato não encontramos trabalhos que se aprofundassem na análise empírica dos marcos de transição para a idade adulta, fato que dificultou pormenorizar a tentativa de refutação da hipótese de trabalho. Na ausência de dados empíricos mais detalhados prosseguimos a pesquisa no campo analítico, percebendo que, segundo Greene et al. a neurociência tem colocado as crises típicas da transição em termos de conflitos entre as influências emocionais e cognitivas sobre a formulação do juízo moral. Não seria a formulação de tais juízos, no contexto dos marcos de transição, que produziriam a emoção de desconforto psicossocial que leva à amplificação da sintomatologia depressiva nos marcos de transição? Apriori se poderia argumentar que nas transições normativas estão envolvidos principalmente juízos da ordem do conhecimento, enquanto as transições reversas, inesperadas, etc.
Não encontramos quaisquer dados que corroborem de forma definitiva a hipótese oposta, ou seja, que a passagem por marcos não-normativos seja, por qualquer motivo, positiva ou desejável em detrimento da transição normativa, quando se tem em vista a saúde mental do jovem adulto. Inferiu-se ainda que a robustez epistemológica da conjectura testada a recomenda como parte constituinte do conhecimento consolidado pelo coletivo de pensamento da Psicologia da Educação. Discussão. Vivemos um momento de forte reflexão sobre o papel da família na transição para a idade adulta. Historicamente, o indivíduo sentia-se adulto e era percebido como tal pela sociedade muito mais jovem do que podemos observar nos últimos vinte anos. Esta fase foi percebida historicamente como um momento de experimentação do jovem no sentido de adquirir progressivamente a autonomia psicológica, emocional e financeira necessária para que venha a assumir os compromissos da vida social adulta.
Durante a transição, a adultez emergente enfrenta marcos de transição que caracterizam a atitude do jovem face à construção da própria identidade. São laços de comprometimento psicossocial e experimentação inerentes ao processo de formação do self. Diversos pesquisadores consultados nos levantamentos bibliográficos apontam uma normatividade fluída e flexível na progressão da adultez emergente. Se convencionou entender que as transições que seguem próximas à norma são menos traumáticas e implicam em fatores que potencializam a saúde mental, principalmente quanto à autoimagem e a sintomatologia depressiva. Carvalho, Joana Helena A. M. A Adultez emergente e a indecisão Vocacional: um estudo com alunos do ensino superior português. Dissertação de Mestrado não publicada. Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal.
Greene, J. D. Nystrom, L. E. Engell, A. i. Lakatos, Eva M. Marconi, Marina de A. Fundamentos de Metodologia Científica. ed. Tese de doutoramento não-publicada, Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil. Piaget, Jean. Seis estudos de Psicologia. ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
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