OS ELEMENTOS SACROS E PROFANOS NA POESIA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
Tipo de documento:Revisão Textual
Área de estudo:Literatura
Diante de tanta beleza e riqueza, deveríamos afirmar sim que a Idade Média não foi um período de trevas. Assim, nossa pretensão neste artigo é investigar a obra poética presente em São Tomás de Aquino, tanto no aspecto sacro, na busca do Eterno em seus textos, como no aspecto profano, ao analisarmos a sua filosofia, principalmente a introdução de Aristóteles no pensamento Cristão. Este projeto intenta criar a possibilidade de compreender a poética medieval em São Tomás de Aquino. O presente artigo tem por objetivos específicos analisar os elementos filosóficos principalmente os aspectos aristotélicos, que Tomás introduziu em suas obras, os poemas eucarísticos, ao passo que visa compreender adicotomia entre fé e razão, percebidas na relação antitética entre o sagrado e o profano.
Muitos afirmam que não há poesia nas obras de São Tomás, iremos perceber os elementospoéticos na abordagem de suas obras, trabalhando com teóricos que há muito se aprofundam nas características do tomismo. A partir desta compreensão, descobrimos o homem que não joga fora nem convive com a ideia de não ser racional, voltado para a ciência e as questões empíricas. Logo,podemos ver que fé e razão, não são inimigas, mas pelo contrário,“[. a fé não teme a razão, mas solicita-a e confia nela. Como a graça supõe a natureza e leva-a a perfeição, assim também a fé supõe e aperfeiçoa a razão. ”( AQUINO, 1263, p. TORREL, 1999, p.
como ele mesmo destaca somos “criatura racional”, ou seja, seres pensantes. Podemos, então, perceber que a Fé, consideradacomo uma das três virtudes teologais, seguida da Esperança e Amor;para os cristãos católicos, se trata de um movimento, ou seja, a fé é uma ação que leva a criatura a reconhecer a necessidade de sair de si mesmo, para correr ao encontro daquele que é o sentido da existência humana, em que o homem tem o seu principio e fim, sua plena significação. Se a fé, Tomás define como um movimento, uma espera não ociosa, a Razão ele conceitua, como “. um princípio mais nobre do que o hábito da virtude moral gerado na potencia apetitiva por atos rotineiros, e o intelecto dos princípios é mais nobre que a ciência das conclusões” ( AQUINO, 1263, questão 51).
CEREGATTI, 1993, p. Percebemos, então, que a presença de sacralidades e a presença de mundanismos na humanidade são entendidas com elementos quase inseparáveis, pois mesmo que não professe nenhuma fé, nenhum credo de confissão religiosa, o homem é capaz de guardar em si este fenômeno. É um sentimento profundo que, mesmo de maneira indireta, no inconsciente, ou socialmente,a pessoa pode ser levada a negar que tenha esta pertença, isto é, ainda há, nos atrevemos a dizer, a persistência no homem de uma “ Nostalgia do Paraíso”, que em um encontro entre estas duas realidades, foi perdida e este mesmo individuo dicotômico, de uma maneira ou outra, o quer recuperar, busca esta que leva o homem a dizer: “Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!Tu que me penetras a alma.
E qual turbilhão invades minha vida” (apud. BARBOSA DIAS, 2008, p. “Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo “de ordem diferente” – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo “natural”, “profano”. Este elemento misterioso é o objeto de busca de muitos desde o inicio da sociedade, das civilizações. Neste encontro do sacro e do profano, podemos observar a beleza expressada pelos lábios do ser humano quando extremamente contente com a descoberta do sagrado, vendo a presença de Deus, tomado pela força do conhecimento, como única maneira de amá-lo de modo tãoprofundo, exercendo as faculdades mentais, pode exclamar como Santo Agostinho, neste poema de clareza misteriosa e de uma riqueza literária que surpreende e prende a atenção: Portanto, assim como não há hora alguma ou instante em que não frua dos vossos bens, assim não deve haver instante em que não vos tenha ante os olhos da minha memória e em que vos não ame com todas as forças da minha alma.
Porém, nem isto mesmo posso, se não me conceder com a sua graça Aquele de quem procede todo o bem, e todo o dom excelente que desce do Pai das luzes, em quem é impossível toda a mudança e o indecoro de qualquer vicissitude. Portanto, assim como não há hora alguma ou instante em que não frua dos vossos bens, assim não deve haver instante em que não vos tenha ante os olhos da minha memória e em que vos não ame com todas as forças da minha alma. Foram compostos seis poemas dedicados ao mistério do Cristo que dá o seu Corpo e Sangue como alimento. O mais conhecido entre todos é o Adorote Devote, em que se resume toda a história da salvação cristã ese tributa belíssimos louvores, utilizando-setemas da vida de Cristo.
Poesias musicais que, até hoje, são executadas em templos católicos de todo o mundo, em apresentações de corais de canto sacro. O que não é verdadeiramente conhecido por todos é que foi o próprio Tomás que os compôs, justificando-se assim o fato de o filósofo poder guardar em si, um verdadeiro poeta. A poesia é um elemento que leva a comparação entre o poeta e filosofo, um trabalha o exercício do intelecto para descobrir as coisas e o outro para admira-las. O estar voltado para uma produção perfeita das obras o enquadra nesta integração do belo, nas mais variadas composições e atributos a que o Aquinate se permitiu, levando a um grandioso e valioso resultado daquilo que produzia. Ao retornarmos o título deste capítulo, colocamo-nos diante de uma interrogação formidável, cuja resposta é positiva.
São Tomás se permitiu não apenas compor poemas como tambémser um verdadeiro poeta da contemplação das realidades divinas; sua composição poética foi rara, mas precisa e profunda no que se refere a dar uma beleza da mesma sem retirar o sentido real, daquilo que era tida como objeto de sua poesia: A Eucaristia. Nesta perspectiva, podemos voltar ao que se diz sobre um Tomás contemplador, já que no entendimento de Santos: a poesia de Tomás de Aquino é mística, ética e humanística. Uma poesia que apresenta a síntese do mistério da Eucaristia e, ao mesmo tempo, clama para que Deus conceda ao ser humano inteligência e sabedoria. Livre de rigores métricos, contudo, não deixava de observar os elementos necessários para adentrar numa profunda concepção de poesia.
“O entendimento desse aspecto do fenômeno poético avançará se recordarmos que a palavra poética estrutura-se com base numa tensão múltipla, de natureza rítmica, emotiva e conceptual ou semântica” (MOISÉS, 2003, p. Podemos agora nos debruçar numa profunda contemplação de um dos poemas mais conhecidos de São Tomás de Aquino. Faremos a exposição da versão original na língua latina e sua tradução para o português. No que se refere à beleza e expressão do Canto, Santo Agostinho nos diz: “Inclino-me a aprovar o costume de cantar na igreja, para que os espíritos mais fracos possam, através do prazer dos ouvidos, elevar-se na devoção” (Conf. Aqui, faz-se um paralelo entre a figura de Tomé, que é conhecido como o apóstolo que duvidou que Cristo havia ressuscitado, dúvida presente no coração do ser humano que busca verdades para dar credibilidade àquilo que lhe é manifestado; ao afirmar que não teve oportunidade, tal como São Tomé, para tocar as chagas, mesmo assim, isto em nada prejudica a sua crença.
Termina expondo que tem fé, mas pede ao Senhor que lhe dê acréscimos da mesma, para que não possa desfalecer na dúvida. O memoriale mortis Domini, Panis vivus, vitampraestans homini, Praestameae menti de te vivere, Et te illisemperdulcesapere. Na tradição Católica, a Missa é a Renovação do Sacrifício de Jesus, por isto, em concordância com o ensinamento da Igreja, Tomás reafirma o valor sobrenatural da Eucaristia e pede a graça da doçura do encontro com a verdadeira Sabedoria, suplicando a graça de sempre buscar o autor das criaturas. Pie pellicaneIesu Domine, Me immundummundatuosanguine, Cuius una stillasalvumfacere Totummundumquitabomniscelere. E pede-se a graça da Visão Beatífica, que é para os católicos os céus. Retomando a temática proposta, entendemos uma profunda relação entre o sagrado e o profano.
Na obra poética de São Tomás percebemos certos simbolismos, como a carne, o que para muitos pode soar como elemento negativo, que pode representar o pecado, já outros veem o corpo como uma prisão para a alma. Prisão que deve, na concepção de algumas correntes de pensamento, ser destruída aos poucos para levar à perfeição do ser (CHESTERTON, 1947). São Tomás vai contra todas estas afirmações que até mesmo, depreciam a carne, inclinando-se reverentemente a compor em poesia a fé que guarda no coração, do Cristo que assume a condição de auto-doação e dá a sua Carne, revelando o seu corpo místico para aqueles que o buscam. O poeta não se esquece de chamar atenção para a sensibilidade humana ao mesmo tempo em que reafirma a necessidade da crença no que é divino.
Concluímos que na poesia de São Tomás de Aquino há a dualidade entre o que é sacro e o que é profano, uma vez que o poeta chama atenção para o que é físico (carne) e o que é divino. REFERÊNCIAS AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. In: Livraria Apostolado da Imprensa. Augustine’s Press, 1992. JOÃO, Evangelho. Bíblia Fácil, centro Bíblico Católico. São Paulo Brasil. tradução Frei Paulo Avelino. MIRCEA, Eliade. LE SACRÉ ET LE PROFANE, O sagrado e o profano; [tradução Rogério Fernandes. – São Paulo: Martins Fontes, 1992. MOISÉS, Massaud. A criação Literária - POESIA. São Paulo. TORRELL, J-P. Iniciação a Santo Tomás de Aquino. Sua pessoa e obra. Trad.
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