Investigações Filosóficas: As ideias da Razão Pura de Kant
Os princípios da razão. As ideias da razão teórica. Os princípios transcendentais da função reguladora. Esquemas das ideias da razão. Os dois tipos de esquemas das ideias da razão: princípios da razão e objetos imaginários. Palavras – chave: Kant, Ideias da Razão Pura de Kant , esquemas da razão, estáticos, dinâmicos. INTRODUÇÃO. Kant encerra a Dialética Transcendental da Crítica da Razão Pura com um apêndice que se divide em duas seções, a primeira das quais intitulada "Sobre o uso regulador das ideias da razão pura". Este apêndice está longe de ser um mero acréscimo ou desenvolvimento marginal. De fato, ele levanta questões fundamentais relacionadas ao status epistêmico das ideias da razão pura e seus princípios, bem como o uso válido essencial daqueles, de modo que constitui antes a culminação da Dialética e a realização e de seu propósito mais significativo.
Esta é a única maneira de entender a afirmação de que "todo conhecimento humano começa com intuições, daí passa para conceitos e termina em ideias". A passagem do domínio do conhecimento próprio do entendimento ao da razão é uma passagem do conhecimento objetivo a um nível de conhecimento que, como alguns sugeriram, poderia ser melhor chamado de pensamento, em vista de sua autonomia em relação aos objetos. Com efeito, esse conhecimento se deve à satisfação de uma necessidade intrínseca da subjetividade, ou seja, se deve à autossatisfação de uma necessidade e exigência da razão por si mesma, e não a uma questão imposta a partir dos objetos. Kant expressa isso claramente na seguinte passagem: A razão pura, na verdade, diz respeito apenas a si mesma, e também não pode ocupar-se de outra coisa, porque não são dados os objetos para [levá-los] à unidade do conceito de experiência, mas o conhecimento do entendimento para [conduzi-los] à unidade do conceito de razão, isto é, [à unidade] de interconexão no início.
A unidade própria da razão é a unidade do sistema, e essa unidade sistemática não serve à razão objetivamente, como princípio, para estendê-la sobre os objetos, mas subjetivamente, como máxima, para estendê-la sobre todo o conhecimento empírico possível dos objetos. Não se pode aceitar hipóteses transcendentais do uso especulativo da razão, nem a liberdade de empregar hipóteses hiperfísicas para suprir a falta de fundamentos físicos de explicação, em parte porque a razão não vai mais longe com isso, sendo antes interrompida toda continuação de seu uso, e em parte porque essa licença acabaria por fazê-la perder todos os frutos do cultivo de seu solo próprio, qual seja, a experiência.
O objetivo mais geral da razão, com respeito ao conhecimento do entendimento, é produzir um sistema deste. Um sistema pressupõe um conceito racional que determina a forma de um todo. De fato, por meio desse conceito racional, estabelece-se a extensão das partes do sistema e o lugar que cada uma delas ocupa nele. Tais conceitos racionais são chamados por Kant de "ideias da razão". Essa operação é regida por uma tendência a chegar a uma primeira proposição, cujo sujeito é, portanto, um termo que, por um lado, não é mais predicado de outra coisa e, por outro, é o substrato de todos os predicados. O conceito deste sujeito último e incondicionado é a ideia de alma. Recuar pelas pré deduções, aplicados às deduções hipotéticos, leva a um pressuposto que já não pressupõe mais nada e, aplicada às deduções disjuntivas, tende a um agregado dos membros de uma divisão que envolve integralmente a extensão de um conceito abrangente.
O primeiro retrocesso dá origem ao conceito de mundo, enquanto o segundo produz o conceito de Deus. Por isso existem três ideias de razão de objetos imaginários: alma, mundo e Deus. Esse uso é sistematicamente analisado no "Apêndice à dialética transcendental". Em suma, tal uso consiste em orientar o entendimento para uma unidade absoluta de seu conhecimento. Tal unidade absoluta não pode, se dar na experiência, para a qual serve apenas como um ponto ideal para o qual se orienta a atividade sistematizadora do conhecimento do entendimento. Os princípios transcendentais da razão e sua função reguladora Neste ponto, é hora de nos apresentarmos a outra das funções da razão. Até agora tínhamos focado em sua função ordenadora, ou talvez devesse ser dito em suas funções ordenadoras, já que a ordenação da razão unifica e sistematiza.
Kant explica isso por meio da metáfora óptica do focus imaginarius: um ponto focal para o qual se orientam as diretrizes de todas as regras de compreensão e para o qual convergem, isto é, suas perspectivas heurísticas, mas que não deixa de ser imaginário por isso. A ilusão é dupla, pois ao mesmo tempo em que todos os saberes e regras de entendimento parecem convergir nesse ponto, também dá a impressão de que essas diretrizes se originam nesse mesmo ponto ideal, que aqui passa a significar o mesmo que imaginário. Agora, esta ilusão é absolutamente inevitável e necessária. Não desaparece com o trabalho crítico porque obedece a uma necessidade da razão. O que não é necessário, nem inevitável, e de fato devemos evitar, é o erro de acreditar que esse ponto de confluência, que está fora dos limites de toda experiência possível, é um objeto real e que, portanto, podemos conhecê-lo; porque nesse caso estaríamos objetivando, de forma transfenomenal, uma coisa em si.
Nesse sentido, a ilusão é tão funcional quanto a do espelho. ESQUEMAS DAS IDEIAS DA RAZÃO 3. Os dois tipos de esquemas das ideias da razão: princípios da razão e objetos imaginários O objetivo desse trabalho é analisar As Ideias da Razão Pura de Kant. O cumprimento deste objetivo pressupõe uma exposição prévia do conceito de esquema análogo ou esquema das ideias da razão, ora exposto nesta seção. Os esquemas da razão são "análogos" aos únicos esquemas em sentido estrito, a saber, os do entendimento. Como as ideias da razão são em número de três objetos imaginários que lhes correspondem como esquemas: a alma, o mundo e Deus. Tais objetos imaginários, embora não sejam realmente reais, servem para nos representar, por referência a eles, os objetos empíricos existentes em unidade sistemática.
Por exemplo, pode-se considerar todas as coisas no mundo como se foram originadas por uma inteligência suprema, a fim de lhes conceder a máxima unidade sistemática possível. Essa concepção dos esquemas da razão poderia ser chamada de estática. Segundo a interpretação de Caimi e Allison o esquema estático seria uma condição para a aplicação do esquema dinâmico na medida em que, como objeto imaginário, nos permite representar a unidade sistemática da razão de forma 13 condizente com nosso entendimento e, assim, determinar ou especificar o princípio da sistematização do nosso conhecimento (esquema dinâmico). Finalmente, o princípio da continuidade leva o entendimento a buscar uma transição contínua entre todos esses poderes da mente.
A aplicação desses três princípios não seria possível se, graças ao esquema estático da ideia de alma, há uma unidade sistemática da experiência interna, que surge ao considerá-la como se a mente era uma substância simples. Aliás, os próprios esquemas dinâmicos já exigem 14 um pressuposto de unidade sistemática. Mas essa pressuposição não implica necessariamente que uma unidade sistemática de toda experiência interior possa ser encontrada. Essa suposição adicional, que, por assim dizer, orienta os esquemas dinâmicos em sua aplicação à experiência interna, é possibilitada pelo esquema estático. Com efeito, o esquema estático imporia aos esquemas dinâmicos o requisito de nunca parar na pesquisa para frente ou para trás.
de mudanças de estados que permitem descobrir uma lei natural, ou fornecem evidências a favor ou contra sua validade. Assim, por exemplo, o princípio da homogeneidade levaria o entendimento a formular uma lei causal baseada na busca de identidade entre mudanças de estados atualmente percebidas e mudanças de estados documentadas no passado. Da mesma forma, o princípio da especificação levaria o entendimento a buscar indefinidamente mudanças de estados que permitam diferenciar uma lei natural em duas ou mais leis naturais subordinadas a esta. Por fim, o princípio da especificação levaria o entendimento a tentar, considerando incessantemente novas mudanças de estado, produzir uma transição gradual entre aquelas leis naturais subordinadas. De fato, o esquema estático da ideia de Deus fornece ao esquema estático da ideia do mundo, e também da ideia da alma, uma orientação adicional para uma unidade mais perfeita.
Esta unidade mais perfeita é a unidade dos fenômenos de acordo com as leis teleológicas. É com relação a este último que é necessário fazer o segundo esclarecimento; Kant não considera que a unidade total da experiência possa ser alcançada substituindo as leis mecânicas naturais por leis teleológicas. Pelo contrário, a conformidade aos fins é um pressuposto regulador necessário graças ao qual o entendimento se aproxima de uma unidade sistemática máxima segundo leis mecânicas naturais. Por exemplo, um anatomista pode pressupor que um órgão animal foi criado por Deus para um determinado propósito e, guiado por esse suposto propósito, descobrir as leis mecânicas naturais que regem sua atividade. Os dois tipos de esquemas das ideias da razão especificam conjuntamente as condições sob as quais o entendimento deve ligar sistematicamente seu conhecimento.
Foi apresentado duas hipóteses próprias sobre as relações entre esses dois tipos de esquemas. Primeiro, argumentamos que os três esquemas dinâmicos são aplicados juntos por cada um dos três esquemas estáticos. Em segundo lugar, foi afirmado que a aplicação dos esquemas dinâmicos por meio do esquema estático da ideia de Deus é condição da aplicação dos esquemas dinâmicos por meio dos dois esquemas estáticos restantes. BIBLIOGRAFIA 1. n. p. BECK, L. W. A Commentary on Kant´s Critique of practical reason Chicago: Chicago University Press, 1966. Valério Rohden e Antônio Marques. Ed - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. KANT, Immanuel. Crítica da Razão pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão; Introdução e Notas de Alexandre Fradique Morujão.
Goldberg. Geografia Conceitual Kantiana. Oxford University Press; 1ª edição (2 de janeiro de 2015) 11. PASCAL, Georges. O pensamento de Kant. II. Santiago: Edições Universitárias Diego Portales, 2005, p. SMITH, Norman Kemp. A commentary to Kant's "Critique of pure reason". New York: Humanity Books, 1918.
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