ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA: UM OLHAR ACERCA DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Tipo de documento:TCC
Área de estudo:Enfermagem
RESUMO A dependência química é um fenômeno analisado como um problema de saúde pública, visto que, além de impactar o sujeito acometido pela doença em seus aspectos fisiológicos, psicológicos, emocionais, cognitivos e comportamentais, afeta também o sistema familiar e promove a degradação de laços e vínculos sociais. Na atuação de tratamento desses sujeitos, de forma geral, múltiplos profissionais, atuam para garantir a retomada do estado de saúde, considerando saúde um estado pleno biopsicossocial de bem estar. Assim, na frente de linha do acolhimento e tratamento estão os profissionais de enfermagem psiquiátrica que, em primeira instância, se constituem como os profissionais mais habilitados para abarcar todas as implicações advindas neste contexto de terapêutica interventiva.
Nesse sentido, o presente estudo buscou compreender aspectos elementares da atuação do profissional de enfermagem frente ao tratamento de pacientes em situação de dependência química. E desse modo, se fez necessário à interlocução dos temas, através da apresentação de considerações gerais a respeito da dependência química e da atuação do profissional de enfermagem em contextos psiquiátricos. Nessa perspectiva, este estudo utilizou-se do modelo de revisão bibliográfica, caracterizando-se pelo viés exploratório e qualitativo, na busca de artigos publicados entre os anos de 2010 a 2020. De acordo com Gil (2008) esse método científico possibilita identificar e analisar artigos de uma determinada área da ciência, visto que esse tipo de pesquisa nos permite ter uma visão mais ampliada do tema, confrontar ideias ou concordância existentes entre os autores.
Assim, estabeleceram-se como critérios de inclusão trabalhos científicos publicados no intervalo dos últimos 10 anos; artigos publicados em revistas científicas, disponíveis na íntegra e para acesso público com download gratuito em língua portuguesa. E para exclusão, foram escolhidos os seguintes critérios: publicações em línguas estrangeiras; trabalhos que não estavam do período de publicação estabelecido e artigos duplicados. Dentro dos critérios, buscaram-se material de interesse na base de dados: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google acadêmico A coleta de dados foi iniciada e finalizada no decorrer do mês de agosto de 2020. Ainda, segundo a Organização Mundial da Saúde (1993) para o diagnóstico de dependência química2, é necessário que o sujeito contemple no mínimo três dos seguintes requisitos: forte desejo de compulsão para consumir a substância; dificuldade de controlar o comportamento de consumo; abstinência fisiológica quando cessou o uso da substância; evidência de tolerância crescente ao consumo; abandono progressivo de prazeres em função do uso da substância e persistência no uso da substância.
De modo, a apresentar danos manifestos na saúde fisiológica, psicológica e funcional. À vista disso, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, indica que os sujeitos que fazem uso de substância psicoativa, geralmente podem apresentar comorbidades com outros transtornos psicopatológicos, tais como: o transtorno bipolar, esquizofrenia ou transtorno de personalidade antissocial (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Assim, uma das formas de conceitualização de drogas está ligada a definição segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que a caracteriza como qualquer substância natural ou sintética que, administrada por qualquer via no organismo, atua sobre o cérebro, modifica seu funcionamento, altera as sensações, o humor, o grau de consciência, o estado emocional, bem como outras funções psicológicas e comportamentais , e algumas possuem indicação médica e são comercializadas de forma controlada, outras não (REIS; BASTOS, 2017).
Quanto maior o envolvimento com a droga, mais acentuadas são as perdas que o indivíduo sofre, como problemas afetivos, familiares, financeiros, profissionais e judiciais. Ainda de acordo com o referido autor, as estimulantes que fazem o cérebro funcionar de forma acelerada e produzem aumento da atividade pulmonar, diminuem a fadiga e aumentam a percepção, ficando os demais sentidos ativados ex: cocaína, crack e anfetaminas. E as Perturbadoras que alteram a percepção em maior ou menor grau - algumas espécies de cogumelos, maconha, ecstasy e outros. De modo que, Diehl et al (2011), no contexto do comprometimento cognitivo, por exemplo, afirma que é natural o paciente apresente dificuldades para acompanhar o processo terapêutico, devido ao acentuado comprometimento neurológico pelo período prolongado de exposição as drogas.
Os autores supracitados ainda reforçam que, os episódios recorrentes de recaídas, provocam mecanismos neurológicos que de acordo, com estudos, apontam para alteração cerebral no campo do reforço positivo para uso de drogas, ocasionando assim mudanças nos estados mentais que regulam o humor; comportamentos; funcionalidade sexual; percepção sensorial, de aprendizado e memória; e, sobretudo, afetando as emoções (DIEHL et al, 2011). Vale salientar que, o uso não indica necessariamente uma dependência. Em estudo realizado por Agrawl e Lynskey (apud Diehl et al, 2011) os níveis de herdabilidade para dependência química em estudo de gêmeos aponta para os seguintes níveis: 50 a 70% para álcool; 79% cocaína; 34 a 78% maconha e 53 a 72% nicotina. Não é incomum, pacientes em tratamento de DQ, relatos de desestrutura do núcleo e vínculos familiares em detrimento do comportamento de uso e abuso, por parte de um membro familiar.
Diehl et al (2011) aponta que a cocaína é a droga ilícita que mais incita o paciente para busca de tratamento, por ser a que mais impacta, sobretudo, nas relações familiares. Isto posto, Diehl et al (2011, p. salientam que: A dependência química não trata simplesmente de um dado fisiológico, já que é preciso reconhecer um conjunto de interações sociais e agenciamentos complexos que facilitam e estimulam o abuso, a recorrência e a continuidade da relação do individuo com uma substância. No cenário de internação, os profissionais de enfermagem são incumbidos de tarefas gerais no que tange ao tratamento destes pacientes, com ações que vão desde a contenção física durante as crises, aos cuidados de controle da medicação (VIEIRA; CALDANA; e CORRADI-WEBSTER, 2013).
Nesse sentido, Henriques et al (2013) afirma que atuação do enfermeiro consiste em intervenções de alívio físico e psicológico, diante dos sintomas advindos do processo de desintoxicação. Além, de estar atento as possibilidades de involução e dificuldades subjetivas a cada sujeito, para que possa atuar de forma consistente no favorecimento de adesão ao tratamento e eficácia. Para compreender a dinâmica comportamental do paciente DQ, o profissional de enfermagem precisa indubitavelmente conhecer as consequências psíquicas, que envolve aspectos cognitivos e emocionais advindos do abuso de substâncias químicas. Nesse sentido, Gouvea; Silva e Lima (2011) destacam as alterações cognitivas no contexto de déficits na memória, aprendizagem, atenção, linguagem e funções executivas em pacientes usuários de cocaína e crack, salientando que tais prejuízos interferem diretamente na capacidade de recuperação e controle de recaídas desses sujeitos.
As condutas de práticas essenciais acerca do acolhimento e cuidado, voltadas para os pacientes em tratamento por DQ, na perspectiva de Aguiar et al (2016) devem ser fomentadas constantemente, através do exercício de educação permanente, de modo a capacitar e qualificar os profissionais de enfermagem nas especificidades deste quadro de tratamento, incluindo articulações para qualificar o diálogo, e a compreensão holística do quadro social e psicológico que aferem a saúde mental desses pacientes. A capacitação e preparação do profissional de enfermagem para atuação na área psiquiátrica é de suma importância, segundo Vieira (2017), sobretudo, para lidar com os conflitos que naturalmente ocorrem nesta conjuntura. Nesse sentido, a autora destaca os episódios de agressão física, que provoca sentimentos de insegurança, podendo inclusive progredir para um processo de adoecimento do profissional que incluem lesões físicas leves ou severas e doenças psíquicas como, por exemplo, o transtorno de estresse pós-traumático.
Diante do exposto, Gouvea; Silva e Lima (2011) reforçam a compreensão de que a internação não é um tratamento, mas não obstante, atua como uma etapa essencial no enfrentamento da condição de DQ, por promover condições para abstinência. De modo que, os profissionais de enfermagem se caracterizam como os mais próximos aos pacientes tanto nessa etapa, quanto nas seguintes que configuram o tratamento propriamente dito e sua atuação deve, sobretudo, acolher, ouvir as queixas ministrar medicações, motivar para continuação do tratamento, promover educação acerca do autocuidado e possibilitar ações de socialização como forma de qualificar o tratamento e estimular na prevenção de recaídas. D. de L. A importância da educação permanente para a capacitação dos profissionais de enfermagem em saúde mental.
trabalho de conclusão de curso], Anais do VII Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão. Universidade Federal do Pampa, 2016. Cognitive therapy on substance abuse. New York: Gulford, 1993. DIEHL et al. Dependência Química: prevenção, tratamento e políticas públicas [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Artmed, 2011. III Levantamento nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira. Org. BASTOS, F. I. P. Como elaborar projetos de pesquisa. a. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GOUVEIA, M. HENRIQUES, J. A dos S. Cuidado a pessoas com dependência química em hospital geral na ótica da equipe de enfermagem. Rev. Enferm UFSM, v. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clinicas e diretrizes diagnósticas. Trad.
CAETANO, D]. Porto Alegre: Artmed, 1993. M. Aspectos da dinâmica familiar com dependência química. Estudos de Psicologia. V. n. n. p. RANGÉ, B. et al. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Eixo Políticas e Fundamentos. Disponível em: http://www. aberta. senad. gov. Percepção dos profissionais de enfermagem acerca da assistência prestada ao dependente químico nos centros de atenção psicossocial em álcool e outras drogas (CAPS ad). Rev. Cient. Sena Aires, v. n. e OLIVEIRA, E. N. Caracterização das internações de dependentes químicos em Unidade de Internação Psiquiátrica do Hospital Geral. Ciência e Saúde Coletiva, v. n. Soc. v. n. p. VIEIRA, G.
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