Educação para as relações étnico raciais
Tipo de documento:Artigo acadêmico
Área de estudo:Pedagogia
Assim, este artigo procura não só fundamentar a necessidade de um outro olhar como trata do caminho que o país tem trilhado através da legislação e de como o professor pode utilizar de uma abordagem afro em sala de aula. Na construção do tema, foram utilizados autores relacionados à pedagogia e estudos étnicos, entre eles, Ki- Zerbo (2010), Paula (2016), Santomé (1995), Lima (2005) e outros. Além do trabalho com conceitos e temas da área, e de possíveis soluções, foram apresentadas análises de obras que caracterizam o preconceito vivido no Brasil, já que para encarar a discriminação é preciso primeiro reconhecer que ela existe no país. Por fim, são sugeridas maneiras práticas com que a comunidade escolar pode trabalhar os assuntos. Sendo sugeridas finalidades e objetivos a serem alcançados, além de maneiras de abordar os temas das africanidades.
O que se trata aqui vai além dos conteúdos que são abordados, e da análise periférica do discurso, ou seja, observando apenas o que se fala. Mas da própria fundamentação que permeia o pensar pedagógico, que tem por base o aporte teórico eurocêntrico. Isso significa que o próprio modo de analisar a realidade dos pesquisadores e pedagogos, ainda que estes se esforcem pela transformação de paradigmas, está construído no substrato dessa mecânica de operação do saber colonizador. Assim, a importância da construção de uma pedagogia das relações étnico-raciais faz-se presente numa construção de saber que se liga à desconstrução do modelo tradicional que foi ensinado. Para facilitar a compreensão desta transformação, Paula (2016, p.
aponta que O afrocentrismo e [SIC] um conjunto de teorias e práticas que fundadas na experiência de um povo - o povo negro de origem africana (afrodescendente), busca destituir este sistema de violência e subordinação do outro (eurocentrismo), rumo à construção de uma sociedade baseada nos princípios de respeito a pluralidade e de emancipação humana. Essa abordagem ajuda a compor a noção de africanismo, mas outra ideia central trazida por autores como Aimé Césaire, Frantz Fanon e Abdias do Nascimento é a de Panafricanismo. Esse conceito abarca a concepção que se tem de negritude como um instrumento de força político-ideológica nos diversos agrupamentos de luta pela emancipação dos povos da África. Para Nascimento (2002), trata-se de trabalhar a diáspora africana, inclusive na questão da escravização, e seus efeitos no imaginário racista nos diversos setores sociais.
Assim, deve-se levar em consideração a maneira tradicional que os assuntos têm sido tratados na escola de maneira a reproduzir estereótipos e preconceitos, para possibilitar uma postura político-pedagógica de valorização da diversidade. Essa violência simbólica é muito difundida na sociedade brasileira que ao sair tardiamente do regime escravocrata e importar uma constituição de princípios igualitários, terminou por expressar seu preconceito de maneira mais discreta. Assim, esse conceito é atribuído por Pierre Bourdieau (1970) ao perceber as relações de opressão que se expressavam na sociedade francesa. Gestos e atitudes individuais configuram um conjunto de símbolos com significados depreciativos àquilo que não se encaixa no padrão social, sendo utilizados para manter o controle das classes hegemônicas, não só através da força.
Esse tipo de violência pode ser percebido nas imagens que foram analisadas por Lima (2005) e serão apresentadas aqui, nelas será possível perceber a composição ilustrativa do negro ora fragilizado e submisso, ora com aspecto não humano, ora com feições de bobo. As figuras são de histórias infanto-juvenis e ajudam a perceber o caráter racista na construção do imaginário escolar. Com ilustrações de Paula Regis Junqueira. Fonte: Fonte: Luiz Paulo Lima apud Lima (2005) Na Figura 2, a criança negra em posição de fragilidade faz contraste com o poder do homem branco que porta a arma. Apesar da intenção de informar sobre o sofrimento dos povos negros quando da colonização, fica evidente a exploração unilateral desse tema.
E o problema não é contar essa história, mas apenas falar dessa parte e negligenciar a complexidade das culturas negras que vieram da África, na maioria de imagens como essa. Falta contar sobre a diáspora, suas diferentes manifestações de cultura, que mudam de acordo com o grupo e seus modos de vida não relacionados ao colonizador ou sua visão. Para Castells (2000), a noção de identidade representa a fonte de significação de um povo e sua experiência. Essa fonte é que vai ser os alicerces em que o indivíduo agregará valor ao longo de sua vida. Ela será responsável pela construção social do indivíduo – ou seja, a que grupo social ele se considera pertencente –, e pela construção cognitiva, que se relaciona ao perfilm psicológico e visão de mundo que o indivíduo terá.
Essas noções não são excludentes entre si, mas complementares. Enquanto que, para Mathias Le Bossé (2004), a identificação está atrelada primeiro a um sentido passageiro, que nomeia coisas e pessoas. Segue o dispositivo na íntegra do art. A, que afirma “nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena” (BRASIL, 1996). O caput do art. A apresenta uma norma geral da inclusão do ensino da história e cultura dos povos afro-brasileiros e indígena no currículo escolar, o parágrafo primeiro é responsável por detalhar como deve ser abordado o conteúdo programático § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
(BRASIL, 1996) Deve-se tratar do tema, de acordo com o parágrafo primeiro, no sentido de apresentar a importância dos povos negros e indígenas na construção da identidade nacional. Para isso, o ideal é que a própria gestão promova eventos para seus funcionários acerca da temática. No auxílio a essas atividades, existem diversos grupos sociais que levam seus trabalhos para as escolas como, por exemplo, o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê, que trabalha com capacitação de professores e o envolvimento de alunos. Para este trabalho é preciso entender que o processo de ensino perpassa também relações éticas, diversidade, identidade, cultura, sexualidade e outros. Mas isso não significa que se deve abordar os assuntos de maneira que se descaracterizem suas particularidades.
Outro fator importante é o contato com as culturas negras “pois uma coisa é dizer, de longe, que se respeita o outro, e outra coisa é mostrar esse respeito na convivência humana” (GOMES, 2005, p. Assim, é importante que fique claro que o fazer pedagógico em sala de aula, começa na postura individual dos vários agentes da educação. Cada um tem o dever de levar os conhecimentos que adquire sobre a temática para a comunidade escolar. Mas para que isso aconteça, é preciso que a escola esteja aberta ao diálogo e promova debates e eventos sobre o tema, inclusive com pais e moradores da região em que se insere a instituição. CONSIDERAÇÕES FINAIS É com satisfação que chegamos ao fim dessa pesquisa que buscou contribuir com o entendimento da pedagogia nas relações étnico-raciais.
Longe da pretensão de esgotar o debate, sabe-se que estudar as abordagens pedagógicas é conhecer a própria história das sociedades. Essa batalha só tem continuidade enquanto permanece acesa a chama da história, para lembrar a seus decendentes o seu papel de transformação. A pesquisa traz o começo de um estudo que pode ser aprofundado acerca das lutas e conquistas desses povos e, na pedagogia, como isso pode ser tratado em sala e no âmbito escolar. Além de leis que podem ser pensadas para garantir o acesso dos povos negros a esse conhecimento. REFERÊNCIAS BOSSÉ, M. L. Disponível em: <http://www. planalto. gov. br/ccivil_03/LEIS/l9394. htm >. Disponível em: <https://www. revistas. usp. br/diversitas/article/view/113889/111745>. Acesso em: 07 mai 2018. Superando o racismo na escola.
Brasília: MEC/SECAD, p. GOMES, Nilma Lino. Educação e relações raciais: Refletindo sobre algumas estratégias de atuação. Superando o racismo na escola. As culturas negadas e silenciadas no currículo. IN: SILVA, TT da. org. Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Ed. scielo. br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S2176-94512010000300015&lng=en&nrm=iso>. acesso em 09 Mai 2018.
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