AUTISMO E VIVÊNCIA FAMILIAR: UMA REFLEXÃO NA ÓTICA DA PSICANÁLISE
Tipo de documento:Artigo acadêmico
Área de estudo:Psicologia
De modo que, foi possível identificar que o tema autismo ainda é pouco explorado na literatura científica, sobretudo, quando o assunto se relaciona com as implicações na dinâmica familiar. De maneira que, além da discussão sobre as características do transtorno, foi possível fazer apontamentos acerca da família e como elas se organizam sistemicamente, e ainda de que forma os pais se impactam diante do diagnóstico de TEA. Assim, esse artigo se apoia em uma revisão bibliográfica, a partir da analise de material elaborado mais recentemente no contexto da pesquisa científica nacional. Sendo consubstanciado por analises no campo da psicanálise, mais propriamente diante dos conceitos de Freud e Winnicott sobre função materna, bebê imaginário, ideal e real, luto do bebê imaginário.
Se configurando assim, como material salutar para ampliar o conhecimento e promover reflexões, na sociedade em geral, e especialmente, à comunidade psicanalítica. Family. Psychoanalysis. INTRODUÇÃO Os transtornos mentais, atualmente podem ser caracterizados em mais de 20 tipos de categorias diferentes, e se configuram como um dos temas mais relevantes de estudo e pesquisa, por afetar mais da metade da população mundial. De modo que, o Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um dos transtornos de mais recente discussão dentro do campo científico, sendo, portanto, notório a carência de conteúdo de pesquisa elaborado no viés de sua compreensão, apontamentos estatísticos e discussão. Assim, o autismo não se caracteriza apenas como pouco discutido em meio acadêmico, mas também escassamente explorado em meio à sociedade em geral, causando assim, desconhecimento que consequentemente acarreta em estigma e preconceito.
Características para inclusão: trabalhos científicos publicados no intervalo dos últimos 05 anos; artigos publicados em revistas científicas, disponíveis na íntegra e para acesso público com download gratuito em língua portuguesa; artigos relacionados com a discussão acerca do entendimento do portador do espectro autista e a importância da família em seu processo de desenvolvimento. E para exclusão foram escolhidos os seguintes critérios: publicações em línguas estrangeiras; trabalhos que não estavam do período de publicação estabelecido; artigos duplicados. Dentro dos critérios, buscou-se material de interesse na base de dados dos Periódico Eletrônico de Psicologia (PePSIC); Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) E PubMed no Sistema online de busca e análise de literatura médica (MEDLINE).
A coleta de dados foi iniciada e finalizada no decorrer do mês de janeiro de 2020. Nesse processo foram selecionados 6 artigos que contribuíram na produção deste trabalho, a primeira leitura foi seguida de fichamento dos textos a fim de, compor as ideias da estrutura do trabalho. MEDLINE Autismo no Brasil, desafios familiares e estratégia de superação: revisão sistemática. GOMES et al. MED LLINE Contribuições da noção de pulsão invocante à clínica do autismo e da psicose. LIMA, T. M. e RELVA, I. C. PINTO, R. N. M. Contudo, não há pesquisa com dados oficiais que delimite índices de transtornos mentais entre esse público, apenas uma estimativa de que entre 10% a 20% sofram com algum tipo de transtorno mental (EBERT, LORENZINI e SILVA, 2015).
Nesse aspecto, Gomes et al (2015) apresentam dados em pesquisas mundiais que apontam a presença de TEA em um a cada 88 pessoas, sendo na sua maioria homens, e que no Brasil a estimativa seja de cerca de meio milhão de pessoas com autismo. De maneira, a complementar tais informações, Zanon, Backes e Bosa (2017) realizaram um estudo, concluindo que crianças brasileira tem diagnóstico de autismo geralmente por volta dos cinco anos de idade, sendo que, há um intervalo de pelo menos três anos entre os primeiros sinais e o diagnóstico. No Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM 5, o autismo é descrito com um transtorno do neurodesenvolvimento, dentro de um espectro que envolve também o transtorno de Asperger; o transtorno desintegrativo da infância; o transtorno de Rett; e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação (AMERCIAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
O autismo se qualifica como uma síndrome que segundo Mello (2004, p. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex. sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex. Então, diante dessa premissa o que dizer sobre o desenvolvimento do autista, tendo em vista, que uma das características principais do transtorno, se dá no campo das relações sociais. Nesse sentido, Silva, Gaiato e Reveles (2012) salientam que identificar o autismo severo não é difícil e que, não obstante, os traços mais sutis é que desprendem mais atenção.
De modo que, para além do comportamento, “entender a fundo os sentimentos e percepções dos portadores desse funcionamento mental é o primeiro passo para que possamos ajudá-los’ (SILVA, GAIATO e REVELES, 2012, p. Diante desse aspecto, deve-se considerar que cada sujeito se desenvolve de forma consideravelmente subjetiva. Portanto, as manifestações do autismo também vão variar observando as particularidades de cada sujeito. Quando por meio, do estatuto da mulher casada, na lei nº. o código civil passou por alteração, onde a redação do texto ressaltava que o homem ainda era chefe da sociedade conjugal, todavia, agora exercendo função colaborativa com a esposa, em detrimento do interesse comum do casal e filhos (LUZ, 2009). Por último, e na mais atual das reformulações jurídicas por meio, do código civil de 2002, na base da lei nº.
“o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. Dessa forma, nota se uma evolução interpretativa para a legislação brasileira, onde atualmente impera legalmente o princípio bilateral das partes, no que concerne a todos os direitos e deveres inerentes ao sistema familiar. Luto: a perda do bebê imaginário A chegada de um novo membro na família é uma virada de ciclo, incontestavelmente carregada de significados e expectativas. Um filho traz promessas de renovação, de mudanças e, sobretudo, de legado, no sentido de que a família está se perpetuando. Assim, Andrade (2015) discorre acerca das fantasias psíquicas dos pais, que giram em torno desse bebê, onde o nome, os aspectos físicos, emocionais e comportamentais são idealizados ainda na fase pré-natal.
Nesse sentido, a autora supracitada afirma que, Coexistem três bebês imaginários na mente dos pais: um bebê fantasiado, um bebê imaginário e o bebê real propriamente dito. O bebê fantasiado está presente na mente dos pais durante toda a vida, muito antes da tomada de consciência do projeto parental. Dinâmica familiar: Função paterna e função materna Acerca da relação da mãe com o bebê, e o modo com esta se adapta a uma nova perspectiva de mundo diante das necessidades da criança, se caracteriza segundo Winnicott pelo exercício de três funções maternas, que são elas: a apresentação do objeto, o holding, e o handling (NASIO, 1995). Vale salientar que essas funções são exercidas de maneira simultâneas.
Assim, segundo Nasio (1995) a apresentação do objeto se retrata diante do momento, no qual o seio bom ou a mamadeira é entregue ao bebê, como gesto de que a criança tenha uma representação de onipotência pelo poder de ser saciado, em contrapartida, a mãe nessa relação de dependência, se mostra sempre disponível permitindo ao bebê a experiência de amor e ódio, sem que isso seja angustiante ou ameaçador. No contexto do holding, está em evidencia à relação de proteção física e psíquica, que busca uma relação de estabilidade, para que a criança se desenvolva e integre no espaço e no tempo de maneira simplificada. A função handling diz respeito a relação de cuidados manipulativos como banhar, trocar e que por sua vez, permite que aos poucos a criança constitua sua personalização (NASIO, 1995).
Por isso, no trabalho psicanalítico com crianças, em especial com aquelas que demonstram uma maneira particularmente radical de laço com o outro, as denominadas autistas, a acolhida e a restituição narcísica de seus pais representam elementos fundamentais do tratamento (MERLLETI, 2018, p. Sendo assim, podemos concluir que naturalmente, existe uma construção psíquica no imaginário dos pais acerca do modo como serão seus filhos, e que diante do impacto de um diagnóstico de transtorno, síndromes ou deficiências, que por sua vez, acometerá de maneira holística o desenvolvimento dessa criança, é comum que os pais se vejam perdidos em seus contextos de identificação, relacionais e de formação de vínculos com seus filhos. E que dentro dessa dinâmica, a atuação da psicanálise rompe barreiras, promovendo uma ressignificação diante desse luto pelo filho idealizado, fomentando novas maneiras de relação com o filho real.
Autismo no contexto familiar Angústia e dúvidas são elementos inerentes ao contexto familiar do autista, uma vez que, de acordo com Mello (2004, p. “a pessoa portadora de autismo, geralmente, tem uma aparência harmoniosa e ao mesmo tempo um perfil irregular de desenvolvimento, com bom funcionamento em algumas áreas enquanto outras se encontram bastante comprometidas”. Por fim, a superfície da água volta de novo à sua calma, mas a pedra, essa, continua bem lá no fundo. Diante do diagnóstico de autismo, Ebert, Lorenzini e Silva (2015) salientam que geralmente, quem primeiramente percebe os primeiros sinais na criança é a mãe, padrões de comportamento repetitivo principalmente no brincar; alterações de humor; e traços de cognição diferentes no processo de aprendizagem são alguns desses sinais, sendo, portanto, a família um referencial importante para o diagnóstico precoce e tratamento mais eficaz.
Perante a rotina de cuidados com uma criança TEA, Gomes et al (2015) enfatiza que sentimentos de desvalia pela perda do filho idealizado, são comuns aos genitores. E que a dificuldade de lidar com as particularidades dos traços comportamentais da criança, acaba desencadeando no sistema familiar um retraimento em seu convívio social e atividades de lazer. Um dos sintomas que mais causam angústia nos pais de autistas é o comportamento de difícil contato, onde o toque, a escuta e o olhar são sempre buscas não correspondidas. Uma vez que toda linguagem e comunicação passam inexoravelmente por uma elaboração e representação consideravelmente subjetivada daquele sujeito em especial. CONSIDERAÇÕES FINAIS O autismo é ainda um campo pouco estudado, embora sua manifestação provavelmente remonte há muito mais tempo na história da humanidade.
Talvez, essa consideração se deva ao fato de que apenas a partir de meados do século passado é que se passou a pensar nos traços autísticos, na perspectiva psicológica e científica. Diante desta pesquisa, foi possível identificar particularidades do universo autista tanto pela ótica clinica, quanto pela percepção subjetivada das famílias diante de suas complexas experiências vivências com pessoas, no geral filhos, portadores do espectro autista. Dentre os diversos apontamentos relevantes, destaque para a percepção psicanalítica acerca do modo como as famílias, sobretudo, os pais elaboram inconscientemente suas expectativas num processo de formulação do filho ideal, imaginário, e a forma como são bruscamente quebradas essas perspectivas diante do impacto diagnóstico que revela um filho real, alheio aos padrões sociais neurotípicos de normalidade.
ANDRADE, F. M. R. R. O luto do filho idealizado: pais da criança com Síndrome de Down. São Paulo: Saraiva, 2008. CAETANO, L. M; YAEGASHI, S. F. R. p. EBERT, M; LORENZINI, E. e SILVA, E. F. Mães de crianças com transtorno autístico: percepções e trajetórias. GIL, A. C. Método e técnicas de pesquisa social. ed. São Paulo: Atlas, 2008. br/criancas/brasil/2697-ie-ibge-educa/jovens/materias-especiais/20786-perfil-das-criancas-brasileiras. html. Acesso em: 28 Jan 2020. LIMA, T. M. LUZ, V. P. Família brasileira. In: Manual de Direito de Família. ed. n. p. NASIO, J. D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. e RELVA, I. C. Sintomatologia psicopatológica e suporte social em pais de crianças portadoras de perturbação do espectro do autismo.
Análises Psicológicas, v. n. B. B; GAIATO, M. B e REVELES, L. T. Mundo singular – entenda o autismo.
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