A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COM UMA ABORDAGEM LITERÁRIA DO CONTO A CARTOMANTE
Tipo de documento:TCC
Área de estudo:Literatura
BANCA EXAMINADORA __________________________________ Profa. Maria de la Merced de Lemos Urtubia Orientadora - Universidade Estácio de Sá __________________________________ Prof. Membro 1 - Universidade Estácio de Sá __________________________________ Prof. Membro 2 - Universidade Estácio de Sá Aprovado em, _____ de ______________ de 20___. RESUMO Esta pesquisa aborda a violência contra o gênero feminino na realidade e na Literatura, mostrando que a mulher que sofre esse problema social passa por muitos sofrimentos que podem resultar em feminicídio. This is a bibliographical research, based on authors who address the theme. Keywords: Violence. Feminicide. Literature. Reading. Adélia Prado 21 2. Ana Maria Machado 22 2. Cora Coralina 22 2. Conceição Evaristo 23 2. Hylda Hilst 23 2. Nesse sentido, a Literatura pode levar o leitor a refletir a respeito deste tema e entender que, tanto homens como mulheres têm seu papel na sociedade e igual importância.
Entretanto, nem todas as pessoas são “esclarecidas” quanto aos seus direitos e deveres, o que faz com que exista uma parte da sociedade formada, principalmente por homens machistas que não aceitam a evolução da mulher, pois na contemporaneidade, elas ganharam muito nos vários âmbitos do mercado de trabalho e uma parte delas, fazem simultaneamente, papel de pai e mãe de seus filhos, em uma sociedade onde muitas mulheres são abandonadas com filhos sob sua responsabilidade de educar. Além disso, será abordada a tipificação do homem possessivo, que não aceita que sua parceira não mais o queira, o que pode gerar violência doméstica e consequentemente, o feminicídio. Para tratar dessa situação, utilizo uma abordagem que discorre sobre os motivos que podem transformar a violência em feminicídio, além de mostrar que a Literatura vem denunciando esse cenário ao longo dos anos, dando amostras de uma sociedade machista, que muitas vezes é validado por mães e pais que criam homens machistas, tratando-os diferentemente das filhas, de maneira que ao filho homem é dado uma liberdade que a filha moça não possui.
A literatura funciona como recurso importante para debater uma variedade de temas sociais, por meio de uma visão crítica que seu leitor pode adotar ao longo da leitura. No século XIX, com as transformações proveniente da industrialização e urbanização que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa, surgiram ideias civilizadoras provocadas por grupos sociais, com idealizações para a educação e a religião, como táticas de poder, com vistas a criar conduta social individual, aceita por uma coletividade. É desse modo que o sistema patriarcal ganhou legitimidade na trajetória histórica ao longo da religião cristã, que pode responsabilizada em grande proporção, através de práticas sociais que aceitam o papel social da mulher naturalmente, limitando sua liberdade de ação e expressão, bem como seu espaço de atuação na própria casa e favorecendo o exercício do poder masculino, desfavorecendo o feminino: O mundo sempre pertenceu aos machos.
quando duas categorias humanas se acham presentes, cada uma delas quer impor à outra sua soberania; quando ambas estão em estado de sustentar a reivindicação, cria-se entre elas, seja na hostilidade, seja na amizade, sempre na tensão, uma relação de reciprocidade. Se uma delas é privilegiada, ela domina a outra e tudo faz para mantê-la na opressão. Compreende-se, pois, que o homem tenha tido vontade de dominar a mulher (BEAUVOIR, 2009, p. No entanto, a história ao longo desses anos, mostra que a situação da mulher melhorou muito pouco, tem sido gradual e está em curso. A violência contra a mulher é um problema social que vem ocorrendo em um movimento contínuo e precisa ser extirpado. No ano de 1995, realizou-se na cidade de Beijing (Pequim), na China, a IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, promovido pelas Organizações das Nações Unidas - ONU.
Esse encontro foi um marco para promover a agenda da igualdade de gênero. Essa conferência teve como consequência, um acordo internacional, com vistas a promover a igualdade e eliminar a discriminação, com a criação de um documento denominado “Declaração e Plataforma de Ação de Pequim”, com doze temas prioritários a ser trabalhado, sendo um modelo a ser seguido pelos governos em busca da igualdade entre homens e mulheres. São violências como xingamentos, empurrões e surras que podem causar lesões graves. Mesmo sendo violentadas, muitas mulheres toleram por depender economicamente do homem. Segundo Engel (2016), existem políticas públicas para superação das desigualdades de gênero e enfrentamento da violência contra as mulheres em casos de violência no âmbito familiar ou comunitário.
A tolerância do Estado constitui-se um dos obstáculos principais para garantir os direitos humanos e da liberdade das mulheres e meninas. As mulheres ao redor do mundo são afetadas em todas as fases de suas vidas em determinados contextos de vida mundial e nacional. Essa lei é um avanço e uma conquista na luta pela preservação da vida das mulheres, mas ainda há falhas para controlar a violência e o feminicídio. É preciso avançar mais, pois mesmo com a lei, ameaças e outros tipos de violência ainda são frequentes contra a vida da mulher, e em alguns casos o feminicídio. Segundo Granja (2008), para tentar solucionar esse problema, é importante entender o fenômeno da violência na esfera relacional, na qual há a necessidade de se cuidar do trio homem, mulher e contexto social.
Em suas palavras a autora diz: “é preciso sim cuidar de cada um dos vértices dessa relação triangular, que envolve homens, mulheres e um meio sociocultural pulsante” (GRANJA, 2008, p. Entretanto, as políticas públicas e a sociedade não se movem para solucionar essa questão, mesmo com as leis que elas mesmo criam, mas que não dão conta de fazer com que se cumpram de modo a evitar a violência e o feminicídio contra o gênero feminino. Esse desfecho não ocorreria se não houvesse conivência institucional e social que relegam as mulheres às discriminações e violências que acabam por levá-las para o caminho da morte, deixando o agressor ou assassino na impunidade, uma vez que as leis parecem ser fortes, mas no momento da aplicação existem brechas que acabam por deixá-las muito brandas.
Essa situação se perpetua na sociedade contemporânea e o poder público é omisso, compactuando com a perpetuação do feminicídio ou genocídio contra a discriminação de gênero. A Violência Contra as Mulheres em Meio à Pandemia A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) que vem assolando o mundo inteiro e que causa a doença COVID-19, alterou a rotina da maioria da população mundial. Com o isolamento social imposto pelos governadores, as mulheres têm de conviver 24 horas por dia com seus agressores, que na maioria dos casos são seus parceiros. Com o avanço da transmissão da doença nos diversos países e a ocorrência de transmissão comunitária, medidas de contenção social têm sido propostas em diversos países, incluindo o Brasil.
O isolamento social devido à pandemia trouxe consequências desastrosas para mulheres e meninas, cada uma dessas consequências acaba por vir acompanhadas de agravamentos de violências de natureza física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, com duros contornos da violência baseada no gênero. Esse contexto permite perceber que há a ausência de instituições responsáveis por dar respostas às violências de gênero que vem sendo sentida na sociedade. Cada vez mais, não existe uma política pública capaz de conter e enfrentar as violências existentes no seio da família nos períodos de normalidade, muito menos ainda em tempos de pandemia. Para dar continuidade, faremos uma breve história sobre a evolução da violência doméstica e suas desastrosas consequências.
Violência contra Personagens da Literatura Brasileira Desde a década de 70 do século XX, a literatura brasileira vem tratando de homicídio de mulheres de um modo diferente, através de várias escritoras que questionam as várias formas de violência de gênero presentes no cotidiano, denunciando o feminicídio, referentes a relacionamentos afetivos conturbados e mal resolvidos que têm como consequência a violência sexual. Contextualização de Obras Literárias com Marcas de Violência contra Personagens Femininas Como a Literatura possui contexto histórico, a tendência é que essa situação Influencie as obras literárias. Pode-se encontrar essa discriminação, opressão e poder do homem sobre a mulher, chegando ao ponto da construção de personagens femininas que sofrem violência de todos os tipos, e que podem resultar em feminicídio.
Exemplo disso, são personagens como Raquel, personagem criada por Lygia Fagundes Telles, em seu conto “Venha ver o pôr-do-sol”; Capitu, por Machado de Assis, no livro “Dom Casmurro”; Macabéa, de Clarice Lispector; Diadorim, de Guimarães Rosa; Rita, também de Machado de Assis, no conto “A cartomante” entre outras. Quando as mulheres se opõem à dominação masculina e buscam sua própria independência, assumindo-se feministas, elas podem ser desrespeitadas pela sociedade e por seus companheiros, por exemplo. Nesse último caso, são fartos os relatos e notícias em que as mulheres são vítimas de agressões físicas e simbólicas no próprio espaço familiar. Macabéa é uma personagem que mostra a mulher como ser oprimido, uma mulher órfã que ficou entregue à sorte.
Ela é uma personagem que reflete a miséria e sofre inferiorização de todos que a rodeiam, inclusive do namorado Olímpico. É marginalizada pela sociedade que a via como no trecho do romance: “Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver. Essas escritoras representam um marco de a literatura abrir espaço para as mulheres escritoras, pois antes somente homens escreviam sobre as mulheres sob o ponto de vista preconceituoso da sociedade que via na mulher como incapaz de escrever obras de valor literário. Em seguida, trata do empoderamento no imaginários do leitor e a respeito dos desfechos punitivos previsíveis contra personagens femininas na Literatura.
Escritoras Femininas Como mencionado anteriormente, embora mulheres escritoras tenham começado a se inserir no mundo das letras, colocando em destaque os papéis de homem e mulher na sociedade, essas profissionais ganham evidência somente quando surgem escritoras como Clarice Lispector, Rachel de Queiroz e Cecília Meireles, em um primeiro momento. Posteriormente, como Adélia Prado, Ana Maria Machado, Cora Coralina, Conceição Evaristo, Hylda Hillst, Ketty Valêncio, Lygia Bojunga, Lygia Fagundes Telles, Lya Luft, entre outras. As três primeiras, escreveram inicialmente, seguindo princípios e padrões que eram impostos socialmente, mas em uma personalidade feminina com um estilo particular de observar o mundo em suas obras. Esses dois movimentos narrativos são importantes para entendermos o quanto essa violência provoca distúrbios emocionais nas vítimas (GOMES, 2014, p.
No conto A língua do P, a escritora mostra a força bruta de homens que estupram mulheres, encurralando-as em lugares desertos, onde elas não conseguem pedir socorro. O pior que com testemunhas, também homens que a tudo assistem, sem nada fazer para defender as mulheres. Raquel de Queiroz Conforme Galvão (1998), as personagens femininas protagonistas criadas por Raquel de Queiroz possuem uma essência de chefes de família, administrando e sendo provedoras de suas famílias. No romance intitulado “O Quinze”, a autora constrói uma figura feminina discorda da educação existente, fazendo surgir uma visão de mulher guerreira através de Maria Moura, que buscando romper com os padrões da cultura ocidental em que a mulher era submissa, ela almeja a liberdade.
No final do poema, a mulher não consegue identificar a si própria, tampouco seu espaço, suas ações são neutralizadas em uma situação em que ela está sujeita a um proprietário. O que há de inovador em Cecília Meireles, foi conseguir entrar para o rol de escritoras, como uma das primeiras mulheres brasileiras da literatura brasileira (SILVA, 2007). Adélia Prado Adélia Prado construiu uma poesia inovadora, chamando a atenção da crítica brasileira. Em seus textos, as mulheres buscam seus papeis na tradição patriarcal excludente que busca uma mulher perfeita, idealizada, vista como um ser demoníaco por enganar o homem, levando-o ao abismo como fez Eva no Éden, mas ao mesmo tempo quer uma mulher, uma mulher real, inserida no meio social.
A personagem feminina da escritora ora pode ser chamada de “santidade”, ora “loucura” (SILVA, 2003). disse D. Cristóvão. Só eu não disse nada, Nem antes, nem depois (PRADO, 2013, p. A escritora retrata uma época em que havia outro tipo de violência contra a mulher, a impossibilidade de escolher o marido. Ela era uma posse do pai que a trocava por um dote. A autora faz o leitor refletir sobre a mulher contemporânea, criando e recriando em seus versos, como diz em seu verso: “recria tua vida, sempre, sempre’. Em seus textos a autora fala de Goiás, de doces, da mulher e do povo simples, fazendo com que o leitor crie imagens visuais, olfativas e sonoras, poia possui uma lírica bastante visual e imagética, possibilitando que a cada estrofe a mulher simples e guerreira seja retratada, mostrando uma mulher dentro dos padrões que a sociedade espera, uma mulher do lar, em outras palavras, uma mulher adequada para o espaço doméstico e bem comportada, dentro dos padrões tradicionais de uma sociedade que impõe regras rígidas às pessoas do gênero feminino (FERREIRA, 2014).
Conceição Evaristo Conceição Evaristo possui uma escrita direcionada por uma linhagem ancestral, considerando a figura feminina a matriz, cujos traços fortes são provenientes de um berço cultural, das lutas e das forma de viver, sempre reforçado em sua escrita. Ela revisita a história da literatura brasileira, resgata a voz da autoria feminina que foi silenciada ao longo dos tempos. Estabelece um diálogo permeado entre textos e visão crítica literária, levando em conta a representação da mulher negra, construindo sua identidade com a associação entre gênero, etnia e memórias, pois de acordo com a autora: Escrever pode ser uma espécie de vingança, às vezes fico pensando um pouco sobre isso. No caso de mulheres prostitutas e indignas, elas não têm valor de mercado e não pertencem a ninguém, uma vez que são de muitos, não possuem moralidade sexual.
A escritora com isso, mostra como é o cenário em que uma cultura patriarcal não cumpre as orientações da Declaração dos Direitos Humanos. Lygia Bojunga Lygia Bojunga ao escrever “A bolsa amarela” apresenta a história da protagonista-narradora Raquel, uma menina questionadora, com imaginação e de personalidade marcante. Essa menina não aceita os papeis impostos socialmente para seu gênero e idade, entrando em conflito com sua família patriarcal. Tinha desejos reprimidos como ser adulta, ter nascido menino e ser escritora e usou o simbolismo de guardá-los dentro de uma bolsa amarela, por não concordar com certas determinações às quais estava exposta. Sua literatura propõe uma descolonização da cultura patriarcal que regulamenta o corpo feminino como uma propriedade masculina. Por essa ótica, a regulação sexual é imposta ao corpo feminino na tentativa de discipliná-lo, de padronizá-lo (GOMES, 2018, p.
A autora resgata alguns temas concernentes à autoria feminina no Brasil em sua obra As parceiras, na qual mostra a loucura da mulher que desobedece ao que está imposto pela sociedade patriarcal, um espaço opressor de violência contra a mulher, que passam por melancolias e tristezas devido ao abuso de gênero, isolamento para fugir do espaço familiar, maternidade interrompida pela violência e muitas outras situações sofrimento. Esses são temas que mostram a naturalização da submissão feminina, mostrando traumas e transtornos na vida da mulher. Contudo, a autora desqualifica esses valores patriarcais ao mostrar a violência doméstica, em que “o palco familiar passa a ser um espaço fictício para o discurso do centro a 17 partir das propostas de mudanças feitas pelas personagens da diferença” (GOMES, 2000, p.
Sob esses aspectos a mudança no ponto de vista dos movimentos feministas de uma visão extremamente focada no bem-estar para uma visão que defende a condição de agente ativa da mulher constitui uma ampliação crucial às preocupações anteriores, sem significar uma negação a essas preocupações. A carência relativa de bem-estar das mulheres por certo estava, e está, presente no mundo em que vivemos e tem importância visível para a justiça social, além disso, o papel limitado da condição de agente ativa das mulheres afeta a vida de todas as pessoas – homens e mulheres, crianças e adultos (MAGESTE et al, 2008, p. Ao longo das leituras há a construção imaginária do leitor de um processo de empoderamento feminino que funciona como um mecanismo usado para combater a desigualdade social, a discriminação de gênero, a violência contra a mulher que chega ao feminicídio.
Esse empoderamento vem ocorrendo ao longo dos anos, à medida que surgem trabalhos escritos que tratam desse problema que ainda precisa passar por processos sociais que envolvam a conscientização política, jurídica, e mesmo, literária. Essa conscientização pode ocorrer com uma formação de empoderamento feminino coletivo, considerando que o empoderamento individual da mulher é o início do processo que não ocorre instantaneamente, mas precisa de um tempo de maturação ancorado nas lutas discursivas e atitudinais das mulheres. O que se pode observar na Literatura, são mulheres inseridas em casamentos fracassados, fazendo com que elas procurem a felicidade nos braços de outro homem que delas se aproximam e acabam por cometer o adultério, tão combatido pela sociedade, pelas leis e pelos valores religiosos.
Rita e Camilo se entregam à facilidade de estarem juntos, ela empoderada com sua beleza seduz Camilo e este, por encontrar espaço a seduz também. Se havia tempo para eles estarem juntos, faltava a presença de Vilela, que o conto não mostra com clareza. Essa ausência do marido, fez com que Rita se aventurasse nos braços do amante que o próprio esposo colocou dentro de casa. Outras personagens femininas da Literatura passam pelo mesmo ciclo, falta de atenção do marido, tédio ao ficar sozinha mesmo tendo um companheiro, caem na rotina e passam a buscar aventuras amorosas. Nesse sentido, as personagens são construídas e tragadas pelas mesmas tramas que as criaram e que acabam por culpabilizar a felicidade por elas almejadas.
Diante do exposto, o empoderamento construído pelo leitor não condiz com a realidade, pois o que se vê na literatura são situações da vida real, as mulheres são perseguidas por maridos, que de uma forma intimista, são implacáveis em suas atitudes de controle, vigilância e punição de mulheres que desobedecem as regras impostas pelo padrão patriarcal. Segundo Gomes (2018), há uma contradição nos valores que mostram a desigualdade de gênero, mesclado de idealização e punição como sinais de controle sexual, por existir uma rede de valores morais que dão continuidade à violência sexual à qual a mulher está exposta, e que resultam em violência e feminicídio em diferentes contextos sociais. A CONSTRUÇÃO DO FEMINICÍDIO CONTRA RITA O conto “A Cartomante” de Machado de Assis é a narrativa de um triângulo amoroso entre Vilela, sua esposa Rita e Camilo amigo dele.
A narrativa constrói a trama por meio de aspectos psicológicos, relativas às contradições humanas, com a criação de personagens imprevisíveis. Esse recurso usado pelo autor evidencia que o desfecho será fatal. Como de fato isso aconteceu com a crescente acusação anônima e preocupação vivenciada por Camilo, junto com a preocupação de Rita com relação ao amor deste. Há m triângulo amoroso, com adultério entre uma esposa e o falso amigo de seu marido. Vileta e Rita e casam e Camilo se juntou ao casal, conhecendo-a por meio das cartas que Vilela lhe escrevia. Através dessas cartas ele foi construindo uma imagem de Rita que possui grande beleza, sendo descrita pelo narrador como uma dama graciosa de gestos vivos, olhos cálidos, bonita, o que pode ter atraído Camilo.
No entanto, havia um prenúncio de que tudo encaminharia para um provável final trágico, ou no mínimo, desconcertante, pois Camilo recebe uma ameaça em carta anônima de alguém que sabe o segredo do romance entre ele e Rita. No texto não aparece quem é ou autor da cara anônima, mas ela pode ser uma metáfora do olhar da sociedade sobre o casal de amantes. Nessa parte da história se inicia um conflito moral que incomodou o sossego dos amantes. Dessa forma, Camilo diminuiu suas idas à casa de Vilela e Rita por medo, para tentar evitar a desconfiança do amigo que ele traía. No entanto, Vilela percebe e isso contribuiu para a condenação dos traidores. O medo tomou conta dele, pensou em se armar, porém desiste da ideia.
Caminha preocupado e para perto da casa da cartomante por acaso e apesar de ter censurado Rita por ter ido à cartomante, resolve consultá-la também. A cartomante o tranquiliza e ele vai feliz para a casa de Vilela e o encontra transfigurado, e este, leva-o até onde está o cadáver de Rita. Camilo recebe dois tiros de Vilela. O conto não deixa nenhum vestígio de que Rita fosse maltratada por Vilela, o fato de o narrador dizer que ele confiava e estimava Rita e Camilo. Acaba por desproteger a mulher. Isso porque as leis são criadas, mas não se criam os mecanismos de proteção para quem denuncia. Além disso, falta uma mudança na sociedade, principalmente na educação de homens e mulheres.
Existe ainda uma ironia de que em casa, o homem de um modo geral, é educado pela mulher ou pelo casal. Segundo Prado (2017), as leis existem, mas os feminicídios provenientes de companheiros das mulheres parecem ser tolerados pelo Estado e por grande parte da sociedade. Nesse sentido, o que se pode perceber nos autores pesquisados que violências de todas as naturezas vem sendo praticadas contra as mulheres há vários anos e ainda perduram, sendo um problema relacionados a regras sociais fundadas em regras construídas em uma sociedade que carrega consigo uma cultura que vem desde os primórdios da vida neste Planeta, pois vem de episódios bíblicos, literários e sociais. O mesmo ocorreu com os objetivos específicos que se cumpriram, porque foi realizado um breve histórico sobre a violência contra a mulher, mostrando que a violência sempre existiu na vida social da humanidade.
Também, o estudo realizado identificou várias situações de violência contra o gênero feminino na Literatura Brasileira, mostrando essa situação da mulher vem sendo abordada nas obras literárias. Além disso, o estudo mostrou como o leitor constrói o empoderamento feminino em seu imaginário, através de uma leitura que acompanha toda a trama da narrativa e que vai resultar em desfechos punitivos em função de uma imposição de regras para a mulher que limita suas ações e ao se empoderar, ela subverte as normas e esse poder se apaga, juntamente com seu sofrimento ou com a sua morte. Ademais, a leitura do conto A cartomante de Machado de Assis permitiu ver que a violência contra Rita se construiu por meio de suas ações de empoderamento imaginário, no qual ela agia como uma mulher atraente e confiante em se entregar ao amor do amigo, formando um triângulo amoroso que subvertia uma cultura patriarcal que poderia puni-la por suas atitudes, e provavelmente, a culpa por sua morte e pela morte de seu amante seria unicamente dela.
Tese de Doutorado em Estudos Literários BOJUNGA NUNES, Lygia. A bolsa amarela. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2011. BEAUVOIR, Simone de. São Paulo: Siciliano, 1993. ENGEL, Cíntia Liar. A violência contra a mulher. Brasília: IPEA, 2016. EVARISTO, Conceição. Crônicas da antiga corte: literatura e memória em Machado de Assis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. p 185-214. GALVÃO, Walnice Nogueira. A donzela-guerreira: um estudo de gênero. p. GRANJA, E. M. dos S. Entre crimes e castigos: matriz de (im)possibilidades na atenção integral aos homens autores de violência de gênero. S. Um olhar sobre a família em A Bolsa Amarela: entre o texto e a sala de aula. Campina Grande: UFCG, 2007. Dissertação de Mestrado em Linguagem e Ensino MAGESTE, Gizelle de Souza et al.
Empoderamento de mulheres: uma proposta de análise para as organizações. SEN, A. K. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, Companhia das Letras, 2000. SILVA, Caline Dantas da; AZEVEDO, Leandro Rodrigues de Souza. ago. Belo Horizonte, 2003. SILVA, Jacicarla Souza da. Vozes femininas da poesia latino-americana: Cecília e as poetisas uruguaias. Assis: UNESP, 2007. N. São Luis: UFMA, 2015.
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