A psicomotricidade relacional como ferramenta para aumento da interação social em crianças autistas

Tipo de documento:Artigo acadêmico

Área de estudo:Psicologia

Documento 1

O problema da pesquisa é necessidade de saber quais são os benefícios da Psicomotricidade Relacional para o desenvolvimento da criança com o transtorno do espectro autista. A pesquisa é relevante porque muito se discute sobre a psicomotricidade, movimento corporal e seus benefícios, mas existem poucas publicações a Psicomotricidade Relacional. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica embasada em autores que abordam teorias que se relacionam ao tema tratado. PALAVRAS-CHAVE: Psicomotricidade Relacional. Transtorno do Espectro Autista. A pesquisa é relevante porque muito se discute sobre a psicomotricidade, movimento corporal e seus benefícios, mas existem poucas publicações a Psicomotricidade Relacional. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica embasada em autores que abordam teorias que se relacionam ao tema tratado. CONCEITOS DE PSICOMOTRICIDADE E SUAS CONTRIBUIÇÕES A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) considera que a Psicomotricidade se configura em um campo de intervenção pedagógica com bastante influência na vida do ser humano, favorecendo o conhecimento de si, como sendo único e integral, facilitando desse modo o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos.

psicomotricidade é a ciência que tem como objetivo de estudo o homem em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo” (SBP, 2015, sp). A psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmonioso. Para Fonseca (2008) a Psicomotricidade, na teoria de Wallon, considera a motricidade uma forma privilegiada para enriquecer e ampliar as possibilidades expressivas, afetivas e cognitivas dos indivíduos, possibilitando a flexibilidade e a plasticidade do movimento corporal. Para Wallon (1995), a criança demonstra sua organização motora em forma de agitação orgânica, também uma hipertonicidade global, provocando uma relação difusa e desorganizada em relação ao meio ambiente. Com o tempo, a criança vai realizando a ação motriz que regula o surgimento e desenvolvimento das formações mentais inter-relacionadas ao processo de evolução da criança, resultando na maturação, afetividade e cognição.

Nessa perspectiva, vão surgindo a expressividade da criança por meio de gestos e palavras que facilitam e organizam a autonomia. Nesse ponto, pode-se enfatizar que movimento, pensamento e linguagem são uma unidade inseparável. Por isso, um amplo desenvolvimento motor na infância acaba qualificando o comportamento motor do adulto e até mesmo influenciando a sua vida social (HAETINGER; HAETINGER, 2012, p. As habilidades motoras são essenciais para a vida inteira, razão pela qual, faz-se necessário estimular a criança para que ela desenvolva bem sua motricidade. O uso da prática psicomotora favorece a autonomia dos educandos, possibilitando a vivência de situações para socialização e movimento corporal por meio de atividades lúdicas, musicais, teatrais, plásticas, dança e outras formas de atividade física e as histórias infantis que possibilitem o desenvolvimento da imaginação e da fantasia que são essenciais para desenvolver capacidades psicomotoras em interação com o meio.

Por meio dessas atividades as crianças aprendem regras e posturas corporais adequadas para um corpo sadio. Por isso, a educação psicomotora deve ser uma das bases da Educação Infantil e das séries iniciais.   O movimento simbólico se diferencia do técnico por ser realizado com uma intenção representativa ou imaginária. Para Vygotski (1998), há jogo quando está presente o componente imaginário, o faz-de-conta, relacionado com alguma situação, alguma vivência. Com o movimento simbólico a criança vai construindo o conhecimento do mundo. Isso seguramente acontece porque, de acordo com Negrine (2002), o ato de representar ou simbolizar algo é uma forma de: (1) expressar-se corporalmente como se fosse, o que contempla a motricidade; (2) pensar como se fosse, o que aciona mecanismos de pensamento; (3) falar como se fosse, o que aciona mecanismos de linguagem.

Então, toda essa representação de papéis a partir do movimento simbólico leva a criança a agir com processos mentais superiores, como a fala, o pensamento, a memória e a percepção, porque trabalha com níveis de abstração que o movimento técnico não faz, fatos esses que diferenciam o movimento simbólico. A síndrome Asperger aparece entre os quatro e cinco anos de idade, tendo como características principais, o contato perturbado em crianças inteligentes, com interesses específicos, comportamento rígido, déficit na socialização, dificuldades na linguagem e na comunicação, prática de atividades lúdicas estereotipadas, e dificuldade para aceitar o apresentado por outras pessoas. Apesar desses aspectos, o indivíduo com essa síndrome possui um desenvolvimento cognitivo e intelectual normal e pouca defasagem na aquisição da fala.

Entretanto, o modo com que esse sujeito se comunica é peculiar, ele possui um padrão diferente, tem-se a impressão que a criança usa uma linguagem muito formal, sem o uso de gírias ou vícios, dando preferência por palavras consideradas difíceis e rebuscadas. A falta de flexibilidade nesse modo de falar dificulta a socialização, uma vez que seu modo de falar cansa as outras crianças (TEIXEIRA, 2018). Uma característica fundamental da síndrome de Asperger é a pouca habilidade social, o que leva a inadequações comportamentais e a dificuldades no entendimento das relações humanas. Têm muita dificuldade em fazer amigos e, frequentemente, não parecem incomodar-se ao menos quando pequenos, com seu isolamento, parecendo, pelo contrário, que preferem estar sós.

SCHWARTZMAN, 1994, p. Gauderer (1993) avalia que a comunicação verbal ou não-verbal da criança com autismo pode ser limitada ou ausente, e quando conseguem se comunicar, revertem pronomes, usa uma estrutura gramatical imatura, é incapaz de nomear objetos, utilização de sons pouco claros, melodia sonora anormal e dificuldade na abstração. Conforme Lear (2004), o autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico cujas características principais são dificuldades nas relações sociais e na comunicação, pouco interesse em ou nenhum nas atividades, comportamentos repetitivos e estereotipados e possui um diagnóstico por observação de um conjunto de comportamentos, considerando que há diferentes graus de comprometimento, sendo possível ao longo da observação, ele apresentar comportamentos próximos ao que se pode esperar de um indivíduo de sua idade.

Figura 1 – Tipos de Comprometimento de Indivíduo com TEA Fonte: Bruni et al (2013) O TEA abarca alguns diagnósticos que podem ser variados dependendo da área de menor ou maior dificuldade do indivíduo afetado, as áreas de interação social, comunicação e comportamental (BRUNI et al, 2013). Essas crianças já começam sua vida escolar com diagnóstico, e as estratégias individualizadas vão surgindo naturalmente. Muitas vezes, elas apresentam atraso mental e, com isso, não conseguem acompanhar a demanda pedagógica como as outras crianças. Para essas crianças serão necessários acompanhamentos educacionais especializados e individualizados (SILVA, 2012a, p. Diante do exposto, é imprescindível que o professor participe de formações continuadas voltadas para a inclusão de estudantes com deficiências, principalmente para lidar com o autismo, pois este profissional é um dos principais responsáveis para orientá-los na construção do conhecimento, valores e normas sociais.

Para saber se o indivíduo é autista, observa-se algumas características muito frequentes, tais como atraso no desenvolvimento da linguagem, acompanhado pela ausência de socialização ou interações sociais fora do comum, como puxar as pessoas pela mão, sem ao menos olhar para elas; formas estranhas de brincadeiras como pegar brinquedos, mas não brincar com eles, mas nunca brincar com eles e modo de comunicação descontextualizadas, podem conhecer o alfabeto, mas não conseguir responder ao próprio nome e não é caso de surdez (PAPIM; SANCHES, 2013). O retraimento social e as estereotipias seriam formas de fugir dessa sobrecarga (BOSA, 2007, p. Para Silva (2012a), o autista é prejudicado na capacidade de compreender os sentidos dos acontecimentos ao seu redor, desse modo ele fica quase sem recursos para interpretar as situações comunicação que surgem, mostrando que “algumas falhas ou problemas na evolução da linguagem constituem os primeiros sinais de que o desenvolvimento de uma criança não está conforme o esperado e podem sugerir um funcionamento autístico”.

SILVA, 2012a, p. Ainda Silva (2012a) mostra que a repetição se torna repertório do autista até por volta dos três anos de idade. Alguns conseguem autistas comunicam bem o que quer, no entanto tem dificuldade para entender o que o outro quer comunicar. Define-se dessa forma, como um método de trabalho que proporciona um espaço de legitimação dos desejos e dos sentimentos no qual o indivíduo pode se mostrar na sua inteireza, com seu medos, desejos, fantasias e ambivalências, na relação consigo mesmo, com o outro e com o meio, potencializando o desenvolvimento global, a aprendizagem, o equilíbrio da personalidade, facilitando as relações afetivas e sociais (VIEIRA, 2005, p. A PR trabalha a comunicação não verbal através do jogo espontâneo, com a participação do corpo participa em todas as suas dimensões representativas inserido na rede de inter-relações, onde se incluem conteúdos biológicos, psicológicos, somáticos, vivenciais, históricos e sociais, fazendo compreender e não somente interpretar, os conflitos intrapsíquicos e suas repercussões psicossomáticas, facilitando a capacidade do ser humano para redimensionar suas relações para melhorar suas condições de vida e bem-estar pessoal, familiar, físico, social e profissional.

A PR ajuda a criança com TEA a conseguir aptidões relacionadas aos déficits que ela apresenta, para melhorar o desenvolvimento no sentido de se compreender corporalmente e interagir com os outros de forma de modo seguro e confiante. Essa estratégia psicomotora estimula as áreas da cognição, socialização, comunicação, autonomia, comportamento, competências educacionais e jogo simbólico (CORDEIRO; SILVA, 2018). De acordo com Gusi (2010), o uso da PR apoia o autista aprende a se relacionar com ele mesmo para depois relacionar-se com o outro. A prática da PR possui o diferencial da participação ativa da criança na atividade proposta em grupo. O psicomotricista relacional participa corporalmente como parceiro simbólico no jogo espontâneo aplicado ao educando. Esse profissional em seu papel precisa estar disponível para entrar na brincadeira corporal, atuando nos papéis projetados nele pelas crianças.

Ele pode representar, por exemplo, bruxa, fada, elefante, jacaré, super-herói entre outros personagens. A vivência simbólica possibilita elaborar os medos e fantasias inconscientes das crianças. Primeiro, ele precisa saber a história pessoal deste, suas emoções e sentimentos, pois esse conhecimento determina como vai ser a contribuição do profissional para o desenvolvimento da personalidade do educando e orientar àqueles que trabalham na educação do estudante em intervenção da PR (SILVA, 2012b). Teixeira (2018) ainda mostra outras estratégias para realizar treinamentos que podem ser trabalhados paralelos com a PR, os métodos Treatment and Education of Autistic and Related Communication-handicapped Children – TEACH (Tratamento e Educação de Crianças com Autismo e Dificuldades de Comunicação; Picture Exchange Communication – PCS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) e Floortime.

O método TEACH é muito utilizada como recurso de aprendizagem de crianças com autismo e busca ensinar habilidades usando pistas visuais tais como, cartões ilustrados ou figuras que mostram hábitos como o de se vestir, escovar dentes, pentear os cabelos, entre outros por meio de informações divididas em pequenos passos. O PECS usa cartões com símbolos também para aprender habilidades de comunicação e consiste em a criança perguntar ou responder através do uso de cartões, incentivando que ele mantenha uma conversação. Já o Floortime estimula o desenvolvimento emocional e relacional da criança, sendo um método que busca compreender seus sentimentos, relação com os cuidadores e o modo com ela se relaciona com seus órgãos de sentido (TEIXEIRA, 2018).

Bertazzo (2014) defende que trabalhar o corpo possibilita despertar e conectar o sujeito em sua integralidade, por isso desenvolver a consciência sobre a psicomotricidade é fundamental para a manutenção de um equilíbrio dinâmico na vida do ser. Através da psicomotricidade pode-se criar outras formas pedagógicas para reconhecer, fazendo com que a empatia do corpo, favorece o ensino-aprendizagem de pessoas com dificuldades para a prática da interação social e linguística. Para Alves (2020), os estímulos que permitem ao sujeito a criação de consciência e percepção de si no entrelaçamento e interdependência do movimento, espaço/forma, dinâmica, tempo/ritmo, sendo parâmetros para o sujeito conhecer e experimentar suas potencialidades e limitações. Razão pela qual, a Psicomotricidade favorece a compreensão do corpo como um elemento relacional próprio do indivíduo com o outro e com o ambiente, unindo motricidade e psiquismo.

O movimento humano é sempre um movimento situado; ele é sempre uma relação significativa entre a situação e a ação, é sobretudo a concretização de uma presença dinâmica no mundo, que caracteriza e dimensiona a experiência pessoal (FONSECA, 2009, p. Foi possível perceber através dos teóricos pesquisados que a Psicomotricidade Relacional, funciona como motricidade da relação do indivíduo com seu corpo, com o ambiente e com as pessoas com as quais convive, enfatizando o movimento do corpo na relação afetiva, que favorece a percepção corporal do sujeito, fazendo com que seu ser se relacionar com o outro com segurança e conforto, possibilitando que ele se expresse e seja compreendido pelo outro. No tocante às crianças com TEA, a PR a qualidade afetiva da psicomotricidade relacional favorece a interação social que é de extrema importância, uma vez que crianças com esse transtorno podem através dessa relação de afeto, construir a condição de se ver e de se conectar com o mundo em seu entorno.

Por isso, os benefícios da intervenção da PR com crianças que apresentam autismo, ajudando que ela entenda e seja entendida por todos a sua volta: pais, familiares, rede de apoio, educadores, ambientes sociais e escolares. A realização desse estudo foi muito importante, porque deixou evidente que a consciência corporal influencia todas as dimensões que configuram o ser humano, principalmente no que se refere as práticas de interação social e de comunicação, seja verbal ou não-verbal. Por isso, a escola precisa construir uma proposta pedagógica que considere trabalhar o movimento corporal na educação infantil como um viés de direito à educação que pode deixar o sujeito preparado para exercer a cidadania e possibilitar corrigir as dificuldades de alguns educandos, durante o processo de aplicação da proposta.

DSM-V. Porto Alegre: Artes Médicas, 2014. BOSA C. A. As relações entre autismo, comportamento social e função executiva. A. Contribuição da psicomotricidade relacional no desenvolvimento das crianças com transtorno do espectro autista. Fac. Sant’Ana em Revista. Ponta Grossa. In: Psicomotricidade. Educação especial e inclusão social. Rio de Janeiro: Wak, 2009. CUNHA, E. Autismo e inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família. II Simpósio Nacional de Educação; XXI Semana de Pedagogia: Cascavel, 2010. HAETINGER, Max Gunther; HAETINGER, Daniela. Desenvolvimento moto. rIn: Movimento. Curitiba: IESDE Brasil, 2012. MELLO, A. M. Psicomotricidade, Educação Física e Jogos Infantis. ed. São Paulo: IBRASA, 1989. Coimbra: Instituto Politécnico de Coimbra, 2015. SILVA, A. B. B. Mundo singular: entenda o autismo. Acesso em 14 de fevereiro de 2020.

TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo. ed. Rio de Janeiro: Bestseller, 2018.

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