Sentido da colonização - Caio Prado Junior

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Religião

Documento 1

Tanto pode haver motivos internos para essa mudança, quanto motivos externos, assim como ambos simultaneamente. Para exemplificar essa ideia, Caio Prado alude a história de Portugal, país que durante largo período de sua história manteve sua atenção voltada para dentro da península, condicionado que estava pelas disputas territoriais travadas contra os povos árabes, situação que só se alterou depois de concluído o processo de reconquista1. A partir do século XV, o reino de Portugal se concentra nas atividades marítimas, mudando o rumo de sua história. Voltando-se agora para o oceano, Portugal se torna um país pioneiro na exploração do além-mar e consequentemente uma grande potência colonizadora. Portanto, essa análise ampla da história de Portugal permite, deixando de lado os “pormenores e incidentes mais ou menos complexos”, compreender o sentido de sua existência no tempo, podendo de fato explica-la.

É desse novo equilíbrio que surge as primeiras empreitadas comerciais que serão responsáveis pela expansão marítima europeia. O primeiro país a se lançar ao mar em buscas de novas rotas e transações comerciais foi Portugal, melhor localizado geograficamente. Em busca de mercados onde não haveriam concorrentes, os portugueses começaram pelas costas ocidentais da África, descobrindo as ilhas de Cabo Verde, Madeira e Açores, rumando para o sul africano. Decidem então tentar chegar à Ásia contornando o continente africano, para alcançarem a fonte das tão cobiçadas especiarias, no que ficou conhecido como o périplo africano. Seguindo outra rota, os espanhóis avançam pelo mar, logo depois dos portugueses, buscando chegar no Oriente navegando no rumo ocidental. A ocupação efetiva só veio a ocorrer nas Américas, segundo caio Prado, por força de circunstâncias adversas, pois nenhum povo europeu, voluntariamente, estava disposto a “suportar sangrias na sua população, que no séc.

XVI ainda não se refizera de todo das tremendas devastações da peste”. Nesse ponto, o autor faz uma distinção entre a forma de entender a colonização no início do século XVI e como ela foi praticada posteriormente pelos europeus. Uma colonização baseada exclusivamente na fundação de feitorias e recorrendo a um número reduzido de soldados e negociadores que tinham como função manter uma comercialização com os povos estrangeiros era como os povos europeus realizavam suas atividades em terras distantes, por exemplo, os italianos no mediterrâneo, ou os portugueses na África e na Índia. A outra forma praticada posteriormente foi a colonização a partir do povoamento. Caio Prado busca então fazer uma outra distinção quanto as áreas da América destinadas a colonização europeia: as regiões da zona temperada e as regiões tropicais e subtropicais.

Com isso, ele defende que o clima foi um fator influenciador para a imigração durante o período colonial, mais do que os próprios recursos de determinadas regiões. Na América do Norte, como já mencionado, o que vinha sendo explorado eram os pouco atrativos gêneros de extração: madeira, pele e pesca, pois a agricultura ainda não era estimulada. As primeiras levas de imigrantes europeus vieram para a América do Norte, sobretudo, por conta dos conflitos político-religiosos, o que fará com que puritanos, quakers, huguenotes, morávios, schwenkfelders, inspiracionistas e menonitas fossem buscar reconstruir suas vidas nas terras do novo mundo, inclusive no Brasil, como registra a chegada de huguenotes no Rio de Janeiro. Mas o que determinou a preferência dessas populações, segundo o autor, pela América do Norte foi a ocorrência do clima temperado, semelhante às condições climáticas europeias.

Porém, segundo Caio Prado, não havia necessariamente uma inadaptabilidade do europeu com relação às terras invadidas, mas uma falta de predisposição, que provavelmente foi corrigida nas primeiras gerações subsequentes de colonizadores, que passaram a suportar melhor a temperatura dos trópicos depois de um processo de adaptação. No entanto, a “inadaptabilidade” pode ter ocorrido nos primeiros momentos da colonização portuguesa, segundo o autor. A “natureza hostil e amesquinhadora do homem” impôs complicações de imediato ao colono. Porém, o mesmo ocorria no hemisfério norte. Citando um escritor norte-americano, Caio Prado observa que a colonização inglesa da América realizou-se à custa de um difícil processo de seleção dos primeiros colonizadores (yankees) que também tiveram de lidar com a adaptação.

Caio Prado justifica esse dado, em parte, pelo tamanho da população ibérica. Em meados do século XVI, os portugueses empregavam mão-de-obra escrava em seus próprios campos, sejam escravos mouros, sejam, posteriormente, escravos africanos. Segundo o autor, em 1550 a população da capital Lisboa era composta em 10% por escravizados. Assim, essa condição teria impossibilitado um êxodo da população ibérica para a América. Antes dos negros escravizados, tanto portugueses como espanhóis empregaram mão-de-obra indígena em trabalhos forçados, o que não durou muito. Concluindo, o autor afirma que o sentido da colonização brasileira ainda estará presente na formação do Brasil contemporâneo, ou seja, mesmo no século XIX, temos que ter em mente que o caráter subserviente fará parte das relações socioeconômicas do Brasil.

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