Análise do poema

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Física

Documento 1

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, o que fui de coração e parentesco, o que fui de serões de meia- província, o que fui de amarem-me e eu ser menino o que fui- ai meu Deus!, o que só hoje sei que fui… A que distância!. Nem o acho) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é a humidade no corredor do fim da nossa casa Pondo grelado nas paredes… O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), O que eu sou hoje é terem vendido a casa.

É terem morrido todos É estar eu sobrevivente a mim- mesmo como um fósforo frio… No tempo em que eu festejavam os meus anos… Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim… Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui… A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, o aparador com muitas coisas- doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado-, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam os meus anos… Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje já não faço anos.

Este heterônimo viajado ao oriente, viagem que ficou registada na obra “Opiário”, trabalhando em seguida no Reino Unido. Em 1926 voltou para Lisboa, desempregado, submerso num pessimismo decadentista , após a sua chegada Álvaro de Campos terá escrito o poema “Tabacaria”, em 1928. O alter ego Álvaro terá falecido juntamente com o seu criador em 1935. O poema em análise é de temática sentimental e triste, remetendo o poeta para a memória da sua infância, onde recordar transmite melancolia e dor pelos seus familiares já não estarem junto dele. O poeta consegue transmitir a sua dor e saudade através das figuras de estilo utilizadas em toda a extensão poética, tais como: ● Anáfora,​ que pode ser identificada através da repetição do mesmo vocábulo ou frase, no início ou meio do verso, tal se pode confirmar na segunda estrofe, quinto e sexto verso, “​Quando vim a​ ter e ​ speranças,​ já não sabia ter e ​ speranças​/ Q ​ uando vim a​ olhar para a ​vida​, perdera o sentido da ​vida.

Nem o acho). O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!” Na quarta estrofe o autor escreve sobre a sua dor, sobre a morte e a perda dos seus entes queridos, reforçando também o quanto se sente sozinho através da metáfora utilizada no último verso, “O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa/ Pondo grelado nas paredes. O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),/ O que sou hoje é terem vendido a casa,/É terem morrido todos,/É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio Na quinta e sexta estrofe é possível interpretar o desejo do Eu-lírico, de querer voltar a estar naquela casa com a sua família, “No tempo em que festejavam os meus anos.

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!/ Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,/ Por uma viagem metafísica e carnal,/Com uma dualidade de eu para mim. Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!” “Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui… / A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,/ O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,/ As tias velhas, os primos diferentes, e tudo por minha causa,/ No tempo em que festejavam o dias dos meus anos…” Nos primeiros três versos da sétima estrofe o autor expressa a sua dor na lembrança, querendo-se impedir de recordar tais tempos, “Pára, meu coração!/ Não penses! Deixa o pensar na cabeça! Ó meu Deus, meus Deus, meu Deus!(.

Em termos de ritmo, o poema “Aniversário”, por Álvaro de Campos, quase que pode ser interpretado como uma prosa devido à ausência de rimas. Devido à ausência de rimas é necessário uma atenção redobrada na métrica e sonância existente no poema apresentado. O saber ler corretamente este texto, acentuando as sílabas ajuda-nos na interpretação da entoação transmitida pelo autor, havendo assim uma análise emocional inerente à leitura do poema. Em suma, o poema estudado neste trabalho, o poema “Aniversário”, escrito por Álvaro de Campos (heterônimo do poeta português Fernando Pessoa) produzido em Outubro de 1929, é uma auto-reflexão do autor sobre a sua infância perdida, conseguindo transmitir a saudade e dor através do seus versos. Neste poema é possível identificar vários recursos estilísticos e recorrer à “melodia” produzida pela métrica do mesmo para uma melhor interpretação, contudo não é possível reconhecer rimas na sua composição.

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