Futebol, Guerra da Argélia e as tensões envolvendo a formação das seleções francesa e argelina de futebol no século XXI

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Estatística

Documento 1

O caso argelino, por sua vez, talvez seja um dos mais emblemáticos exemplos dessas guerras por independência, com o conflito armado durando entre os anos de 1954 e 1962. Podemos, porém, nos debruçar em campos não tão explorados sobre o conflito. A problemática futebolística surge então, como um exemplo: qual fora o papel do futebol em meio aos acontecimentos do período? E posteriormente, como se deu a relação entre os jogadores descendentes de argelinos mas que nascem em território francês? Como os franceses brancos os enxergam? São eles tidos como legítimos representantes da Équipe de France? Antes de focarmos o que envolve o futebol, se faz necessário traçar um panorama geral da história argelina em breves linhas, bem como evidenciar onde se inicia a relação entra França e Argélia, não deixando de lado elementos internacionais que também tiveram efeito sobre o caso aqui analisado.

A região da atual Argélia foi parte integrante do Império Otomano a partir do século XVI. Anteriormente a isso, ainda na Idade Antiga, fora uma região que mantinha contato com os cartagineses. Em 1875 fora finalizado um acordo entre as principais potências europeias no sentido de uma divisão entre eles dos territórios do continente africano, sem a menor preocupação em manter grupos étnicos rivais em territórios distintos ou grupos companheiros sob mesma fronteira. As novas fronteiras fruta da partilha foram traçadas a mão e sem o menor cuidado quanto a seus efeitos, o que importava era a divisão por puramente questões econômicas. O final do século XIX foi palco de um crescente descontentamento popular e a propagação de ideias independentistas, o que resultou em uma tomada de atitude já esperada: repressão por meio de leis mas também de violência de forma direta.

A união aduaneira – controle comercial da territorialidade – e o Código dos indígenas – impunha penas duras aos nativos que desafiassem a lei ou as autoridades francesas – tiveram como um de seus desdobramentos um reforço do sentimento nacionalista (MEIHY, 2013). Os ideais de libertação permeavam o solo argelino. Eles voltavam agora com treinamento de guerra para travar uma luta armada em busca de autonomia, num quadro entre outros territórios africanos também começavam a atuar de forma prática visando se verem livres das amarras da exploração colonial, caso do Marrocos, por exemplo. O ano de 1954 foi um ponto decisivo na corrida por independência. Nesse ano surgiu a FLN, a Front de Libération Nationale ou Frente de Libertação Nacional. Ela foi constituída de uma série de pequenos partidos e foi a principal força de combate as exércitos coloniais.

Com a perda da Indochina ainda recente, não era uma possibilidade abrir mão da Argélia. Uma ideia ousada, mas que começara a ser desenvolvida. Entre os convocados para fazer parte da “seleção argelina” estavam Mustapha Zitouni, Rachid Mekhloufi, Abdelaziz Bentifour e Mohamed Maouche, jogadores importantes em seus clubes e até mesmo na seleção francesa, caso de Zitouni e Mekhloufi. Então, logo pós a rodada de final de semana do campeonato francês, no dia 12 de abril de 1958, os jogadores partiram em direção a Tunís, a capital da Tunísia e que estava servindo de base para a sede provisória da República Argelina. O grupo de 11 se dividiram em dois grupos: o primeiro cruzou as fronteiras do país pela Suíça, outros seguiram pela Itália.

Segundo Maouche, o combinado é que fosse adotada uma cautela, que ninguém viajasse no mesmo vagão que outro jogador. Onde quer que jogassem, sempre levavam a mensagem das atrocidades cometidas pelas tropas francesas contra os cidadãos da Argélia, buscando o clamor internacional para a causa independentista. Seu objetivo fora alcançado, ainda que a proibição da FIFA tenha diminuído o tamanho da expressão do movimento futebolístico. Com o fim da guerra em 1962, após muito derramamento de sangue e atrocidades cometidas, a equipe fora desfeita e seus jogadores voltaram para seus clubes na França ou então decidiram encerrar suas carreiras e voltar para o agora país livre da Argélia. Seja como for, esses jogadores utilizaram do prestígio que tinham para buscar uma melhor situação para seus países, chegando ameaçar suas carreiras e até mesmo compensações financeiras maiores para lutarem, sem armas de fogo, em prol da Argélia.

Os anos se passaram, mas as questões envolvendo franceses e argelinos ainda continuam muito presentes, seja em Paris, seja em Argel. Os altos e baixos da seleção nesses interregno de tempo que o documentário abrange são sempre vistos como palco para a discussão da imigração. Quando se está em uma boa fase, com vitórias, o que possibilitou foi a união entre as raças, a mistura. É vestida uma máscara que visa esconder os problemas e preconceitos da sociedade francesa e continuar na tônica de que este é um país integrado, unido. Os momentos de derrotas e dificuldade são marcados por críticas a mistura, críticas a jogadores de origem argelina, questionamentos quanto a sua falta de vontade em jogar ou até mesmo o seu patriotismo.

O que nos momentos bons é visto como o grande diferencial, torna-se a maior fraqueza dos bleus – como são chamados os jogadores franceses. A suposta harmonia branco-preto-árabe não passa de uma ilusão futebolística. Talvez com a vitória na Copa do mundo ou mesmo na Eurocopa faça com que as pessoas se esqueçam por alguns instantes essa diferenciação, as logo tudo volta a realidade crua e nua vivenciada diariamente. O jogador de pais argelinos que nasceu em solo francês, como o caso de Karin Benzema, sofre sim com preconceitos e é mais difícil sua afirmação no selecionado francês. Mas o que dizer dos jogadores que tem pais argelinos, nasceram em solo francês, mas que decidem jogar pela Argélia? Uma questão que não pode ser deixada de lado é a concorrência, menor na seleção africana que na europeia.

Mas seria somente esse fator? Nitidamente que não, outros mais saltam a nossas vistas. Casbah-films. h 01min) FANON, Frantz. Os condenados da terra. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. For French-Algerians and Algerian-French, No Place to Truly Call Home. Disponível em: https://www. nytimes. com/2015/08/16/world/africa/france-algeria-immigration-discrimination-racism. html. r7. com/internacional/politica-no-futebol-leva-franca-a-rejeitar-seus-craques-com-origem-muculmana-10012015. Acesso em: 30 jun. THE LOCAL. Immigration in France in ten stats that matter. jhtm. Acesso em: 30 jun.

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