Artigo: Duas leituras comunitaristas sobre a modernidade

Tipo de documento:Revisão Textual

Área de estudo:Filosofia

Documento 1

Por fim, articulamos uma relação entre as principais críticas dos filósofos em relação à modernidade, bem como as suas respectivas propostas. Palavras-chave: Emotivismo; Identidade; Modernidade; Moralidade; Self. Abstract: This paper aims to provide an approximation between the thought of Charles Taylor and Alasdair MacIntyre about modernity. In this task, we present the taylorian exam in relation to the constitution and displacement of the modern self, especially on the book As Fontes do Self (2013). Shortly after, we discuss how MacIntyre in Depois da Virtude (2001) understands emotivism as a philosophical doctrine, punctuating the criticisms that the Scottish author refer to the modern self. Para essa tarefa, apresentamos o diagnóstico tayloriano a respeito da formação do self moderno e as problemáticas do ideal de autenticidade. Posteriormente, discutimos as pretensões filosófico-morais do Emotivismo levantadas por MacIntyre e as críticas que o autor direciona ao eu emotivista.

Por fim, articulamos uma aproximação dos autores em relação aos seus respectivos exames da modernidade. Self Moderno e o Ideal de Autenticidade A questão da identidade é uma das temáticas centrais na obra do filósofo canadense Charles Taylor. Para discuti-la nas sociedades hodiernas, em As fontes do self (2013), o autor elabora um estudo acerca da modernidade e como a questão do self atravessa esse período. Segundo o filósofo, reformadores, utilitaristas e naturalistas – mesmo em suas tentativas de afastamento das avaliações qualitativas – acabam conferindo diferenciações valorativas, uma vez que “em todos os casos, mantém-se alguma distinção entre a vida superior e admirável e a vida inferior de indolência, irracionalidade, escravidão ou alienação” (TAYLOR, 2013, p. Taylor, porém, julga sua própria crítica insuficiente, visto que seu argumento ad hominem não elimina a possibilidade de que as configurações morais sejam descartáveis ou opcionais.

Para resposta mais profunda, torna-se vital a compreensão das próprias implicações do “desencanto” em relação às configurações tradicionais. Conforme Taylor (2013), na medida em que solapou as configurações que forneciam horizontes morais às comunidades, a cultura moderna potencializou, paralelamente, um problema de sentido. Vale ressaltar que Taylor não pretende, com esse diagnóstico, defender uma retomada dos horizontes morais das sociedades tradicionais marcadas por uma hierarquia social estática, como a sociedade grega antiga. Guerreiros e soldados se destacavam dos demais cidadãos por colocarem em risco suas próprias vidas, abdicando de suas vidas particulares em prol da pública. Logicamente, a honra se firma por meio da desigualdade, uma vez que a condição fundamental para que ela tenha sentido é que apenas alguns indivíduos a possuam (TAYLOR, 2000).

De forma oposta, na modernidade surge a noção de dignidade fundamentada em princípios igualitários e universalistas, postulando que todos os seres humanos compartilham de uma dignidade. A segunda mudança central em relação à identidade, por sua vez, tem como origem uma concepção de self interior. Entres os pensadores que contribuíram para o desenvolvimento dessa noção, Taylor (2000) destaca Santo Agostinho, Jean-Jacques Rousseau e Herder. A vida de uma linguagem e de uma cultura é uma vida cujo locus é mais amplo que o indivíduo. Isso ocorre na comunidade. O indivíduo possui sua cultura, e, por conseguinte, sua identidade ao participar dessa vida mais ampla” (TAYLOR, 2005, p. Quando a dimensão cultural da formação da identidade é excluída, uma de suas implicações diretas é a desvalorização da dimensão pública.

É nessa direção que Taylor (2005) utiliza o conceito hegeliano de alienação, para referir-se ao esvaziamento da experiência pública e, consequentemente, ao triunfo da experiência privada como locus mais significativo da vida humana. Como consequência direta, “a característica mais marcante da linguagem moral contemporânea é ser muito utilizada para expressar discordâncias; e a característica mais marcante dos debates que expressam essas discordâncias é o seu caráter interminável” (MACINTYRE, 2001, p. Discussões sobre conflitos de guerra, direito ao aborto, intervenção em clínicas médicas ilustram como cada proponente coloca em questão seus argumentos conflitantes e excludentes entre si. Nessas discussões, o consenso parece algo inalcançável. MacIntyre (2001) atribui três características para essa tensão contemporânea, a saber: (a) incomensurabilidade conceitual dos argumentos; (b) pretensão de racionalidade/impessoalidade; e (c) diversidade histórica de argumentos.

Esses elementos, segundo MacIntyre, mostram que: As discordâncias morais contemporâneas de certo tipo não podem ser resolvidas, porque não se pode resolver nenhuma discordância moral desse tipo em era nenhuma, no passado, no presente ou futuro. Como toda elocução moral nada mais é do que uma expressão de preferências, estaríamos impossibilitados de definir quais sentimentos e atitudes são meramente arbitrários e quais são válidos e seguros, mesmo diante de expressões morais evidentemente incompatíveis. Isto é considerado por MacIntyre um problema sério porque nos impede de distinguir interações sociais manipulativas das interações não manipulativas, distinção que usamos com freqüência, em nosso discurso ético, para separar as emoções que o caso em pauta suscita em nós dos critérios que serenamente usamos para aprovar ou desaprovar seu encaminhamento (OLIVEIRA, 2005, p.

O eu emotivista, portanto, nega qualquer possibilidade de justificação racional para a moralidade em qualquer época, local ou circunstância. MacIntyre (2001) entende que a apelação argumentativa para critérios de racionalidade tende a mascarar, em geral, as preferências pessoais daquele que julga estar agindo de modo impessoal e “neutro”. Contudo, ao contrário dos emotivistas, ele não nega que padrões morais objetivos existem, muito menos abdica de uma análise histórica e sociológica acerca da moralidade. Para mostrar como a ótica emotivista seria aplicada ao mundo social, MacIntyre (2001) utiliza como suporte as obras Ou, ou, de Søren Kierkegaard; Retrato de uma senhora, de Henry James; e O Sobrinho de Rameau, de Denis Diderot. Delas, MacIntyre busca os personagens que incorporam o emotivismo no mundo social.

As três figuras centrais da análise são o esteta, o administrador-burocrata e o terapeuta. De forma geral, MacIntyre conceitua os personagens como “os representantes morais de sua cultura, e o são devido ao modo como as idéias e as teorias morais e metafísicas assumem, por intermédio deles, uma existência incorporada no mundo social” (MACINYRE, 2001, p. Os personagens, com certa frequência, são confundidos com os indivíduos e seus papeis sociais, assim como os papeis sociais são confundidos com as crenças morais, apesar de suas diferenças. Moral e Identidade Moderna: Aproximações entre MacIntyre e Taylor Uma primeira aproximação entre os autores pode ser feita da seguinte maneira. Tanto o eu emotivista como o self interiorizado creem na possibilidade de definir suas identidades isoladamente.

Não obstante, ressaltam a soberania moral do indivíduo frente a comunidade, de modo que “não só devo moldar minha vida de acordo com as exigências da conformidade externa como sequer posso encontrar fora de mim o modelo pelo qual viver. Só o posso encontrar dentro de mim” (TAYLOR, 2000, p. A compreensão de um indivíduo liberto, apesar de considerado por muitos a conquista primordial da modernidade, representou uma ruptura das hierarquias sociais tradicionais que davam sentido à vida dos sujeitos. Correlata a tal visão, para Taylor (2013, p. “trata-se do horizonte dentro do qual sou capaz de tomar uma posição”. A dimensão social da qual o indivíduo faz parte, portanto, fornece o horizonte inicial que situa os sujeitos moralmente. De modo antagônico, o eu moderno percebe somente ele mesmo como ponto de partida e horizonte em relação à vida.

Certamente, essa postura atribui uma nova dimensão para a linguagem moral. Não obstante, até mesmo os projetos ulteriores de criar um novo status teleológico para a teoria moral, como o utilitarismo, falharam. O emotivismo, nessa direção, surge como resposta às tentativas racionais e seculares de justificação moral, além de contestar a possibilidade de uma vida guiada a determinado fim. De tal modo: Esta concepção de uma vida humana inteira como objeto primordial de avaliação objetiva e impessoal, de um tipo de avaliação que proporciona o conteúdo para se julgar as ações ou projetos particulares de um determinado indivíduo, é algo que deixa de ser praticamente disponível no progresso – se é que podemos chamá-lo assim – rumo à modernidade (MACINTYRE, 2001, p. A partir desse panorama, ambos os filósofos veem a necessidade de retomada da concepção de telos.

O cerne da proposta tayloriana passa necessariamente pela defesa das configurações morais, que fornecem critérios qualitativos fortes aos indivíduos enquanto agentes morais (TAYLOR, 2013). Os bens externos são, portanto, objetos de uma concorrência em que deve haver tanto vencedores quanto derrotados. Os bens internos são, de fato, consequência da competição pela excelência, mas é característica deles que sua conquista seja boa para toda a comunidade que participa da prática (MACINTYRE, 2001, p. Como existe uma diversidade de práticas que nem sempre são compatíveis, MacIntyre julga necessário a compreensão da vida enquanto unidade narrativa. Conforme Carvalho (2007, p. “essa concepção do bem humano como tal fornece o telos para o agir individual e coletivo no interior das comunidades, ordenando as diferentes práticas, proporcionando o eixo para a narrativa histórica própria de cada um de nós e que dá unidade a nossas vidas.

Durante a análise, aproximamos concepções centrais para o entendimento da modernidade a partir dos dois pensadores. Inicialmente, o self interiorizado e o eu emotivista aparecem como os indivíduos tipicamente modernos, que veem na comunidade cultural um obstáculo ao exercício da liberdade. Taylor e MacIntyre, ao contrário, concebem a comunidade como ponto de partida moral significativo. As relações sociais, nesse sentido, fornecem um horizonte que permite aos indivíduos elaborarem suas identidades. Contudo, quando ambos os comunitaristas analisam as sociedades tradicionais, eles não ignoram as hierarquias sociais existentes na época. Mais do que interligados, seus respectivos diagnósticos são imprescindíveis para o enfrentamento dos problemas que se colocam a nossa época. Referências CARVALHO, Helder Buenos Aires. Comunidade moral e política na ética das virtudes de Alasdair MacIntyre.

ethic@-An international Journal for Moral Philosophy, v. n. São Paulo: Realizações Editora, 2011. As Fontes do Self: A Construção da Identidade Moderna. Trad. De Adail Ubirajara Sobral e Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Loyola, 2013.

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