A MOEDA DESCENTRALIZADA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: O CASO DA BITCOIN P2P DIGITAL CURRENCY

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Saúde coletiva

Documento 1

Orientador: Prof. Dr. Roberto Meurer FLORIANÓPOLIS, 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 ao acadêmico Pedro Bueno de Almeida na disciplina CNM 5420 – Monografia, pela apresentação deste trabalho. Banca Examinadora: ------------------------------------------------Prof. Dr. O avanço tecnológico na área de computação e da internet nas últimas décadas criou um novo ambiente de geração de conhecimento e relações sociais. A ausência de fronteiras no mundo virtual tem permitido o desenvolvimento de redes de comunicação que abrange uma grande magnitude de pessoas em diversos países. Neste ambiente virtual e tecnológico que a computação e o aprimoramento das redes têm possibilitado que surge a Bitcoin P2P Digital Currency, uma moeda descentralizada de qualquer origem estatal, funcionando inteiramente através das trocas de informações entre computadores pela internet.

A pesquisa abordou as deficiências e eficiências que a utilização da Bitcoin possibilita para as relações econômicas do mundo, além de discutir o desenvolvimento da qual tem até o momento se mostrado a moeda virtual tour de force em comparação com as outras experiências de moedas virtuais que já existiram. Palavras-chave: Moeda Descentralizada; Avanço Tecnológico; Redes de Comunicação; Bitcoin. This study addressed the deficiencies and efficiencies that the use of the Bitcoin enables for economic relations in the world, and discusses the development of which has so far proved to be the Virtual Currency tour de force in comparison with others experiments of virtual coins that already existed. Keywords: Decentralized Currency; Technological Progress; Network Communications; Bitcoin. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.

Tema e Problema de Pesquisa. Padrão-ouro. Visão Austríaca. Moeda privada na América do Norte. PARTE II: O VIRTUAL. A internet. REFERÊNCIAS. INTRODUÇÃO 1. Tema e Problema de Pesquisa O dinheiro como meio de troca, reserva de valor e unidade de conta está presente desde muito tempo nas relações comerciais da sociedade, onde o poder econômico foi usado muitas vezes como forma de coerção e domínio de uma população, seja estampando a face do príncipe nas moedas ou recolhendo tributos (ROTHBARD, 2006). A ideia de que o Estado é o detentor do poder legítimo de emitir moeda e controlar as relações de troca é algo que foi culturalmente criado, parecendo muitas vezes um fato natural, digno, pro hominem. Este trabalho tem a intenção de demonstrar, como uma moeda descentralizada funcionaria na sociedade contemporânea.

 Discutir conceitos sobre o avanço tecnológico e ampliação da internet que possibilitaram a digitalização dos mercados financeiros.  Discutir temas relacionados com a criação de comunidades e fóruns que possibilitam a criação de softwares livres e de código aberto.  Analisar o uso da moeda Bitcoin P2P Digital Currency em seu contexto de impacto econômico, funcionalidade e utilidade como uma forma alternativa de moeda para transações financeiras. Justificativa O processo de digitalização dos mercados financeiros que aconteceu no fim do século XX possibilitou uma expansão muito maior do processo de globalização (HALL, 2011). A quase totalidade das transações econômicas agora são feitas eletronicamente, tanto operações entre agentes como políticas monetárias. PARTE I: A MOEDA 3.

Visão Clássica A análise sobre uma moeda digital não se resume somente ao horizonte teórico das últimas décadas do nosso mundo contemporâneo. É preciso voltar à origem das ideias e pensamentos que embasam o mundo atual, a fim de evidenciarmos os processos-chave que nos fazem interagir na economia do jeito que fazemos hoje. A moeda de qualquer país possui uma evolução histórica que muitas vezes passa despercebida em meio às incontáveis transações que perpetuam o sistema financeiro mundial. A moeda sempre teve a mesma razão para existir, seja na simplicidade da antiguidade ou na complexidade dos mercados financeiros atuais. Ao voltarmos à Grécia Antiga, encontramos os primeiros questionamentos sobre o funcionamento da moeda na economia e das relações humanas da sociedade.

Para Platão, o homem deveria ir contra as limitações impostas pela natureza a fim de conseguir superar as suas dificuldades e atingir um patamar sem limites. Já para os aristotélicos, o homem é uma mera criatura como outra qualquer, não sendo eterno ou especial, mas sim mais um fator 8 advindo da ordem natural em que se deu o mundo. Onde a lei natural aristotélica já praticava o exercício de ver o mundo de um ponto de vista lógico, usando princípios morais da natureza humana para elaborar teorias e motivos que levam o homem a ser o que é (SHIELDS, 2012). Os Gregos viviam nas chamadas polis, que poderiam ser consideradas pequenas cidades-Estado, e remonta àquela época o início de um processo de democracia. C. e 262 a.

C. na Grécia. continent of Europe” (ROTHBARD, 2006, p. Alguns pensadores da época possuíam certas noções de liberdade política e laissez-faire relativamente muito mais avançadas que os outros continentes sequer tiveram por muito tempo. “I take no action yet the people transform themselves, I favor quiescence and the people right themselves, I take no action and the people enrich themselves (. ” (ROTHBARD, 2006, p. palavras de Lao Tzu, fundador da corrente de pensamento Taoísta, o qual preconizava que o governo e as instituições funcionavam em um sentido que prejudicava as relações sociais dos indivíduos, reduzindo a felicidade e o livre arbítrio. Com uma visão radical, Lao Tzu defendia que todas as instituições de controle deveriam de fato ser abolidas e o Estado deveria adotar uma política de controle mínimo sobre a população.

Do ponto de vista do valor, as argilas, ou as moedas da antiga Lídia, o papel-dinheiro atual, ou as moedas virtuais, nada mais são do que uma convenção mútua de confiabilidade entre os indivíduos que determinam se a moeda utilizada possui valor ou não (FERGUSON, 2008, p. As pessoas utilizariam meros pedaços metálicos sem valores de uso precisos em troca de produtos e serviços reais em uma economia? Este é um dos fatores que envolvem o “mistério” por trás das moedas, algo que vai além das simples características físicas do objeto de troca. O ouro, a prata, o dólar ou qualquer outro meio de troca utilizado somente adquire a função de dinheiro – não por causa de uma mudança física em suas características – mas sim por causa de uma convenção social que adota estes objetos como representações de valor.

Este “mistério” da moeda com o passar dos séculos tem se tornado cada vez maior, principalmente devido ao fim do padrão-ouro e o aumento da digitalização dos mercados financeiros (WHITE, 1999, p. O economista austríaco Carl Menger, elaborou uma explicação de como as moedas emergem espontaneamente e são adotadas pela população em geral sem que alguém tenha que de fato criá-las. A transição do meio de troca das mercadorias commodities para as moedas se deu por causa das propriedades físicas dos metais e suas características que promoviam facilidade nas transações. O exemplo mengeriano de trocas e da convenção social convergiu para a adoção de bens que facilitavam cada vez mais as relações comerciais, surgindo então o uso das moedas metálicas como dinheiro.

O avanço para mecanismos mais complexos de cunhagem vieram com o tempo, como uma forma de aumentar a autenticação das moedas, evitando assim a princípio a manipulação fraudulenta em seu conteúdo metálico. A cunhagem das moedas sempre esteve vinculada ao monopólio estatal que desde o início das primeiras relações comerciais monetárias esteve presente controlando o fluxo de dinheiro. Porém, segundo White (1999), não existem sinais de que a cunhagem devesse ser um monopólio natural. As reformas de aviltamento monetário eram normalmente realizadas como uma forma do Estado gerar riquezas para subsidiar guerras e as despesas com o exército. A forte desvalorização monetária gradativa durante séculos levou a um forte processo inflacionário. A região da Itália não possuía grandes reservas de metais preciosos, dessa forma o ouro e a prata vinham para Roma de outras regiões, normalmente através dos saques e o domínio de outros povos.

Porém, com a estagnação da expansão romana, começou a ocorrer a falta de metais em seu território, fator que somado à constante desvalorização das moedas, é um dos motivos apontados para o declínio do Império Romano. O fim da expansão romana levou à escassez de mão-de-obra, onde conjuntamente com a consolidação do cristianismo e o constante avanço dos povos bárbaros sobre seu domínio, acabou resultando em uma modificação nas relações de trabalho do império. A moeda pode ser encarada como símbolo que demonstrava tanto fatores sociais como políticos de uma era. Como identificado por Carlan (2012, p. a moeda era definida "como um monumento oficial a serviço do Estado. A humanidade possuía a necessidade de se identificar através de símbolos e as moedas serviram para essa função com plenitude.

Durante momentos onde a troca de informações era limitada, a estampa das moedas era a forma mais promissora de propaganda. C. e a instauração da Tetrarquia, que dividia o império em quatro regiões administradas por imperadores distintos, é que houve a volta da estabilidade política. Porém, com a nomeação de Constantino em 306 D. C. como Augustus e imperador da Tetrarquia referente à Bretanha, Gália e Espanha, novamente houve a disputa interna pelo poder. Com a transformação do colonato em regime feudal, as relações tanto econômicas quanto sociais 7 “O Édito de Milão (313 d. C. também referenciado como Édito da Tolerância, declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente do Cristianismo” (ÉDITO DE MILÃO, 2013).

ficaram restringidas aos limites do feudo. Pouco era comercializado, prevalecendo a simples troca de subsistência entre as pessoas de cada feudo. Talvez uma das cidades medievais que mereça mais destaque em seu desenvolvimento foi a cidade italiana de Veneza. Com seu canal aberto para o mar Adriático, em uma localização que servia de entrada para a Europa, a cidade se tornou um verdadeiro centro comercial e onde ocorreu imensos avanços em relação à financeirização do comércio. Como destacado por Richard Sennett (2010), em seu livro “Carne e Pedra”, a cidade de Veneza era mantida majoritariamente pelas atividades comerciais e principalmente pelos estrangeiros que frequentavam-na. Dessa forma, existia uma grande variedade de etnias na região, onde todos precisavam um do outro para realizar seus negócios.

Um dos exemplos clássicos é a grande população de judeus que residia em Veneza e era de extrema importância para a vitalidade das operações financeiras. Além das altas taxas de impostos pagos pelos judeus, segundo as palavras de um cidadão venezience influente: “judeus são mais necessários que os banqueiros, que, aliás, não passam sem eles” (SENNETT, 2010, p. Outro fator a ser considerado neste período foi o avanço do conhecimento científico e principalmente da matemática, que possibilitou novas formas de cálculos e consequentemente afetou as relações econômicas do período. Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci, aprimorou os cálculos utilizando algarismos indianos e árabes como concepção numérica, tornando os cálculos mais rápidos do que utilizando o antigo modelo com caracteres romanos.

“Pogrom é um ataque violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar atos em massa de violência, espontânea ou premeditada, contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa, porém é aplicável a outros casos, a envolver países e povos do mundo inteiro” (POGROM, 2012). Por estes motivos, como destacado por McLuhan (2002): O homem abandonou o mundo da tribo pela “sociedade aberta”, trocando um ouvido por um olho através da tecnologia da escrita. O alfabeto, particularmente, habilitou-o a romper o círculo mágico e encantado, sonoro, do mundo tribal. Em tempos mais recentes, graças à palavra impressa e à passagem da moeda metálica para o papel-moeda, um processo similar fez com que a economia mudasse de uma sociedade fechada para uma sociedade aberta, do mercantilismo e do protecionismo econômico do comércio nacional para o mercado aberto ideal do livre câmbio (MCLUHAN, 2002, p.

Desde seu nascimento, a moeda foi um objeto quase que inteiramente de responsabilidade do Estado, que utilizava-a como bem entendesse. Mas a validade do uso de uma moeda nacional para as negociações somente começou a ser uma preocupação maior com o avanço do comércio. Foi dessa forma que os teóricos da época, os quais podem ser definidos com os primeiros a desempenhar a função de economistas, como Adam Smith, Cantillon, Hume, Ricardo, Thornton, Mill, Cairnes, Goschen e Bagehot forneceram a base teórica para o desenvolvimento do conhecimento que 19 daria início a criação do padrão-ouro como uma forma de controlar os níveis de inflação e deflação dos países (BORDO; SCHWARTZ, 1984). Como teorizado por David Hume em seu ensaio “Of the Balance of Trade”, o padrãoouro tinha o objetivo de equilibrar o balanço de pagamentos das principais economias do mundo.

Através do comprometimento de manter o cambio fixo à determinada quantidade de ouro, os países realizavam políticas monetárias de exportação ou importação de ouro caso houvesse um déficit ou superávit no balanço de pagamentos. A oferta monetária de cada país era definida pela quantidade de reservas em ouro que este possuísse, desse modo se um país fosse deficitário no seu balanço de pagamentos, este deveria exportar ouro para os países que fossem superavitários. Dessa forma, esta exportação de ouro diminuiria a sua oferta interna de moeda, forçando uma contração da base monetária, o que consequentemente levaria a uma queda nos preços, aumentando a competitividade das mercadorias desse país em relação às demais economias mundiais.

Pois, se ocorresse a valorização do dólar, existiria a perda de competitividade, porém como não existe mais restrição externa devido a não mais conversibilidade de dólar em ouro, o déficit em conta corrente pode aumentar indefinidamente e ser financiado com os próprios títulos norte-americanos (SERRANO, 2002). Durante o desenrolar da década de 1960 e 1970 foram fortes as pressões externas pelas demais economias mundiais para a criação de uma moeda verdadeiramente internacional, mas isto era algo inaceitável no momento para os Estados Unidos, pois abrir mão do dólar como moeda internacional ocasionaria a perda da liberdade do balanço de pagamentos norteamericano e incorreria no enfraquecimento do dólar e do seu próprio poder político mundialmente.

De acordo com Serrano (2002), a transição para o dólar flexível levou a desestabilizações na esfera geopolítica mundial na década de 1970, ocasionando a forte especulação no preço das commodities que resultou nos choques do petróleo. Somente no fim da década e início dos anos de 1980 que os Estado Unidos voltam a recuperar gradativamente o poder do sistema monetário internacional. Os demais países começam a partir desse momento a não mais questionar o poder hegemônico monetário americano e passam a aceitar o dólar-flexível como o novo padrão financeiro internacional. Muitos autores descrevem que o abandono do padrão-ouro não foi devido a sua ineficácia, mas porque ele era eficaz demais na regulação e no controle das ações governamentais.

Apontando que a transição e abandono deste antigo modelo econômico foi resultado de uma motivação muito mais ideológica e política do que de fato científica. Friedrich Hayek, que foi um defensor do antigo padrão-ouro, foi mais além em relação às liberdades monetárias do livre mercado e do fim do monopólio do Estado sobre a emissão de moeda. Em seu livro de “Denationalisation of Money”, Hayek expõe um modelo onde instituições privadas poderiam emitir suas próprias moedas em um ambiente de concorrência, onde cada instituição estaria competindo pela maior estabilidade possível de sua moeda. Hayek sempre viu a inflação como um grande problema, por atrapalhar o sistema de livre mercado. Além disso, Hayek se posiciona contra o conceito da moeda de curso forçado, legal tender, ou seja, onde a moeda utilizada em determinado país é imposta por lei, alegando que isto funciona como um instrumento que força as pessoas a terem que aceitar esta moeda como meio de pagamento, indo contra princípios de contratos livres e voluntários entre os indivíduos.

Murray Rothbard, também membro da Escola Austríaca, questionou fortemente o modelo de moedas privadas de Hayek, afirmando que não existiria razão econômica para que estas novas moedas fossem aceitas. Rothbard destaca que diferentemente das outras mercadorias, o dinheiro somente é desejado com a finalidade de ser trocado por outras coisas, funcionando como um meio de troca. Dessa forma se todos os indivíduos tivessem a habilidade de criar moedas privadas dentro da lógica desenvolvida por Hayek, não existiria motivo para estas moedas serem aceitas, pois ninguém irá aceitar uma moeda que não tenha antes funcionado como dinheiro e tenha sido amplamente utilizada pela sociedade. Isto, segundo Rothbard, seria uma das falhas de Hayek na elaboração de seu modelo, negligenciando o teorema de regressão, regression theorem, desenvolvido por Von Mises em 1912.

Mas como ressaltado por Milton Friedman (1985), existe a necessidade de haver um governo para ditar as regras do jogo e assegurar o cumprimento destas por todos os participantes da sociedade. A liberdade de um indivíduo pode afetar a liberdade de outro, dessa forma é necessário estabelecer limitações para manter a ordem social e estas limitações devem ser executadas por um árbitro comum e imparcial, que no caso é representado pelo poder da justiça do Estado. Como o autor destaca: “Por mais atraente que possa o anarquismo parecer como filosofia, ele não é praticável num mundo de homens imperfeitos” (FRIEDMAN, 1985, p. Ao contrário dos argumentos expostos por Hayek, Friedman defende que o governo deve ser utilizado para manter o sistema monetário estável e assegurar uma economia livre, possuindo responsabilidades sobre as políticas monetárias e fiscais de um país.

Porém, a possibilidade de controlar o dinheiro proporciona o poder de alterar a economia e isto leva a questão de como deve ser realizada a concentração e dispersão do poder. Os pensadores liberais utilizaram de exemplo todos os preceitos negativos do socialismo desenvolvido durante o século XX para demonstrar o quão próspera em questões de liberdade e desenvolvimento econômico uma sociedade baseada no Estado mínimo poderia oferecer. Eugen von Böhm-Bawerk em seu livro “Teoria da Exploração do Socialismo Comunismo” demonstra que qualquer renda que não é fruto do trabalho, aluguel ou lucro, está em risco de ser uma injustiça econômica. Friedrich Hayek em “O Caminho da Servidão” também explorou questões sobre como uma sociedade regida pela centralização do poder levaria a um governo tirânico e à sujeição dos indivíduos.

Moeda privada na América do Norte Apesar de esquecida no desenrolar histórico do desenvolvimento das Américas, o modelo de uma moeda privada, emitida por bancos e sem o controle estatal, vingou por muitos anos nos Estados Unidos durante o período denominado de Free Banking na época pré-Guerra de Secessão. Na região da Nova Inglaterra, mais precisamente na cidade de Boston, o Suffolk Bank foi criado com a intenção de trocar notas de bancos menores por notas emitidas por eles, concebendo uma das primeiras moedas privadas da história a funcionar com eficácia. All banks were able to continue to redeem their bills at the Suffolk Bank” (TRIVOLI, 1979, p. Durante 35 anos, entre 1823 a 1858, o Suffolk Bank conseguiu manter a estabilidade monetária da região de Boston ao mesmo tempo em que foi um banco altamente rentável.

Em 1858 com a ascensão do Bank for Mutual Redemption, um banco concorrente, a situação operacional do Suffolk Bank começou a ficar complicada. Além disso, grande parte do poder político do Estado migrou para outras regiões do país, diminuindo a importância de Boston 12 Tradução nossa: “Em Connecticut, nos anos após a crise de 1837 nenhuma falência bancária ocorreu, nem houve suspensão de pagamentos em espécie. Todos os bancos foram capazes de continuar a resgatar suas contas no Suffolk Bank. Os cupons representavam valores de Dólares Canadenses e podiam ser trocados por produtos do supermercado. Como o supermercado esperava que os cupons fossem gastos pelo seu valor de face, eles operavam com a hipótese de que os produtos trocados pelos cupons estariam então sendo vendidos pelo seu preço líquido, o seu valor bruto menos o desconto que os cupons possibilitavam.

Invés de simplesmente oferecer o desconto, o uso de cupons permitia extrair o excedente dos consumidores conforme os diferentes preços de reserva, além de que o desconto somente seria concebido quando os cupons fossem efetivamente gastos, como nem todos os cupons eram de fato utilizados isso ainda fornecia uma vantagem para o supermercado. A rede Steinberg de supermercados, a terceira maior do Canadá na época, começou o sistema de cupons em março de 1983, dando um desconto de 5% nas compras para quem os utilizasse. Dois dias depois a maior concorrente Provigo, baixou o preço de todos os seus produtos em 6% para forçar a concorrência. Seus cupons eram aceitos em várias transações do cotidiano, servindo até mesmo para situações casuais como pagar uma corrida de taxi.

A experiência canadense com cupons demonstrou que a adoção pelo público de uma moeda privada sem a legitimação do governo pode acontecer de maneira natural. O mais interessante destacado por Eichenbaum e Wallace (1985) é que no Canadá emitir moedas privadas ou qualquer tipo de nota representativa de valor sem o consentimento do Estado é contra a lei, porém estas evidências empíricas mostram que aparentemente existe uma 13 Valores fornecidos pelo website “Trading Economics”. Disponível em: <http://www. tradingeconomics. Neste mesmo período, conjuntamente com o avanço da computação, a internet também começou a dar seus primeiros passos. Claro que naquele momento a internet não era nada se comparado com os padrões atuais, tudo começou com uma mensagem enviada pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) para o Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI) através da primeira conexão backbone na década de 1960.

A partir disso, muitas foram as formas de conexão desenvolvidas nos anos posteriores, chegando a criação da ARPANET em 1969, que seria o primeiro sistema onde várias redes podiam se juntar, formando uma grande rede interconectada. A ampliação de acesso à internet começou na década de 1980 quando a agência americana, National Science Foundation (NSF), desenvolveu a NSFNET, que tinha o objetivo de interligar setores de pesquisa e educacionais como uma forma de estimular a troca de conhecimento. Foi no início dos anos de 1980 que o protocolo TCP/IP, que é uma forma de padronização dos códigos de comunicação, se popularizou, facilitando a conexão entre computadores de diversas partes do mundo. A maior facilidade em resolver cálculos complexos e a maior quantidade de informação disponível aos indivíduos marcou a mudança de como os seres humanos se comportavam em relação à certeza sobre as coisas.

A visão sobre o computador como um “cérebro pensante”, sempre correto, transformou a sociedade, ampliando possibilidades e diminuindo outras. A computação tem possibilitado o desenvolvimento tanto das ciências quanto de novas tecnologias e até certo ponto do bem estar dos seres humanos. Como apontado por Benkler (2006), o avanço da informática permitiu a descentralização e distribuição de funções de uma maneira muito mais abrangente em comparação com os sistemas industriais do século passado: What characterizes the networked information economy is that decentralized individual action – specifically, new and important cooperative and coordinate action carried out through radically distributed, nonmarket mechanisms that do not depend on proprietary strategies – plays a much 31 greater role than it did, or could have, in the industrial information economy (BENKLER, 2006, p.

O declínio do preço dos computadores e meios de comunicação permitiu a utilização dessas tecnologias por uma fração significativa da população mundial, possibilitando a transição da era industrial para a era da informação. As compensações entre contas realizadas por um pedaço de papel ou através de uma transação eletrônica possuem em si o mesmo modelo econômico, somente o método que se tornou mais rápido. Além disso, transações entre contas e entre bancos sem a necessidade da transação física já era realizada 14 Tradução nossa: “O que caracteriza a economia da informação em rede é que a ação individual descentralizada - mais especificamente, a nova e importante ação cooperativa e coordenada realizada através de mecanismos não mercantis radicalmente distribuídos, que não dependem de estratégias privadas - desempenham um papel muito maior do que faziam, ou poderiam fazer, na economia de informação industrial.

” 32 desde que o telégrafo se tornou popular. A verdadeira mudança que a computação e a digitalização dos mercados trouxeram como novo foi a grande redução nos custos das transações. A evolução para o sistema financeiro eletrônico chegou a um patamar onde a maior parte do dinheiro nacional (ex: Dólar, Real, Euro, etc. Alguns autores já apontam que os bancos centrais estão olhando para a questão do dinheiro eletrônico com uma visão precavida, pois existem hipóteses de que o uso massivo de dinheiro eletrônico e a utilização de moedas virtuais, que será tratada nas seções posteriores 15 A quantidade total de M0 (dinheiro/moeda) fora do sistema bancário privado, acrescido do montante dos depósitos à vista, cheques de viagem e outros depósitos.

deste trabalho, implicariam na perda do controle sobre políticas monetárias e poderiam levar a alterações nas taxas de câmbio internacionais (BERENTSEN, 1997). Se as pessoas de fato adotassem formas alternativas como meio de pagamento, mecanismos à parte do sistema bancário, os bancos perderiam competitividade no mercado e pressionariam os bancos centrais a abaixar os valores dos depósitos compulsórios a fim de manter o sistema competitivo. Comunidades e Fóruns Foi dentro deste ambiente virtual criado pela junção entre a computação e a internet que novas formas de organizações sociais começaram a emergir. A possibilidade de se comunicar com pessoas ao redor do mundo e trocar informações levaram ao estabelecimento de uma “comunidade virtual”, comunidade esta que não possui fronteiras geográficas ou políticas, diferentemente do conceito original de comunidade referenciado por uma cidade, bairro ou vila.

Outro software surgido dentro deste ambiente virtual, que além de causar polêmica gerou uma mudança nos moldes de como a indústria fonográfica atuava no mercado de música mundialmente, foi o Napster. Ao criar um ambiente onde os usuários podiam transferir arquivos de música no formato MP3 entre outros usuários de forma descentralizada através de conexões peer-to-peer (P2P), Shawn Fanning e Sean Parker criaram um modelo onde as pessoas podiam facilmente compartilhar qualquer música de qualquer artista através da internet. A não mais necessidade de comprar CDs e a falta de legislação em relação a este novo formato de compartilhamento levou a uma das primeiras batalhas judiciais entre empresas fonográficas e sites de compartilhamento de arquivos.

A revolução digital que a criação deste software gerou, mudou a forma como vários segmentos industriais estavam estabelecidos, levando da obsolescência dos CDs ao surgimento de aparelhos portáteis que tocam músicas de MP3. As empresas tiveram que se reestruturar dentro da nova lógica de mercado, devido ao surgimento de inovações digitais. No Brasil, o Linux nos últimos anos tem recebido grandes atenções, até mesmo do governo federal que vê os programas de código aberto como uma alternativa de baixo custo para a ampliação da informática para as pessoas de baixa renda. Lojas de eletrodomésticos vendem computadores com o sistema Linux instalado, proporcionando um equipamento com um custo reduzido devido a não necessidade de pagamento das licenças de uso de outros sistemas operacionais como o Windows da Microsoft.

Empresas como a Space Exploration Technologies Corporation ou simplesmente SpaceX, criada pelo fundador do PayPal Elon Musk, utiliza no sistema computacional de suas espaçonaves uma versão do Linux. O ambiente virtual da internet seja através de fóruns, salas de chat ou no desenvolvimento de softwares livres, permitiu o desenvolvimento do conhecimento em um ambiente diferente do convencional, normalmente com os usuários operando no anonimato, usando pseudônimos e nicknames para se comunicar, mas que acabam por contribuir de maneira conjunta. Conexão P2P Uma das mudanças mais notáveis nos sistemas de conexões que merece destaque foi a criação do protocolo peer-to-peer (igual-para-igual), informalmente nomeado como P2P. Segundo Engle e Khan (2006) o sistema P2P foi originalmente criado com a intenção de se estabelecer uma conexão que não fosse possível de ser derrubada facilmente devido às falhas em um servidor central.

A ideia era desenvolver uma conexão de larga escala que funcionasse indefinidamente, sendo alimentada por milhares de usuários na rede. A não necessidade de um administrador central possibilita que a rede P2P possa ser facilmente configurada e se mantenha funcionando com eficiência, pois trabalha dentro de uma arquitetura de auto-organização das funções de compartilhamento. Muitos foram os usos adotados através de redes P2P. Após a queda do Napster em 2001, muitos outros sistemas de compartilhamento de arquivos surgiram utilizando o mesmo formato de conexão. Cypherpunks As ideias referente à criação de uma moeda verdadeiramente digital em todos os aspectos do termo, teve sua origem não no meio acadêmico ou governamental, mas através de grupos de ativistas Cypherpunks no início da década de 1980.

Os Cypherpunks eram um grupo de pessoas que viam a criptografia de informações como uma forma de proteger a privacidade dos indivíduos na internet. Eles se comunicavam através de uma lista de emails onde várias pessoas ao redor do mundo colaboravam com ideias e discussões que iam de temas relacionados com engenharia, ciências da computação, criptografia, além de filosofia e política. A criptografia é uma forma de codificar uma mensagem para que ela não possa ser lida facilmente, alterando o seu conteúdo para um valor encriptado, fornecendo assim uma maior privacidade e segurança nas trocas de informações. O avanço da matemática na criptografia 17 Dados fornecidos pelo website Alexa. Timothy May acreditava que a criptografia iria permitir mudanças radicais no comportamento da sociedade, alterando as relações econômicas, mudando as regulamentações e restringindo a habilidade de cobrar impostos por parte dos governos.

Os cypherpunks conseguiram transformar a criptografia em algo que poderia ser utilizado por qualquer pessoa, tirando do governo qualquer chance de monopólio deste conhecimento. Alguns softwares que possibilitavam a criptografia foram desenvolvidos de acordo com o princípio dos softwares livres, divulgando toda a mecânica por trás do sistema e possibilitando a sua modificação. Philip Zimmermann, criador do programa PGP (Pretty Good Privacy), afirma que o direito de privacidade é uma lei inerente aos direitos da constituição de um país verdadeiramente democrático, logo a comunicação de forma privada, seja qual for o motivo, precisa ser respeitada. Há duzentos anos, a conversa entre as pessoas eram inerentemente privadas, não existia tecnologia que conseguisse captar áudio. Foi através do ambiente livre de discussão, proporcionado pelo ambiente virtual da internet, que a teoria de uma moeda digital criptográfica surgiu.

A primeira referência se deu através do modelo de moeda desenvolvido por Wei Dai, um cypherpunk que criou o sistema monetário teórico chamado de b-money. O b-money era um sistema de funcionamento de uma moeda digital, que seria transacionada pela rede seguindo critérios de criptografia. Porém, alguns problemas operacionais não haviam sido completamente resolvidos por Wei Dai. A forma como as moedas seriam gerenciadas ainda era algo muito arriscado, uma vez que o controle de todas as moedas b-money ficaria sob a custódia de alguns poucos servidores na rede. Em um ambiente onde existe a reversão de pagamentos, o custo de uma transação aumenta, uma vez que sempre existirá o risco de uma negociação não dar certo. Como as transações são realizadas por um terceiro, no caso a instituição financeira, o comerciante precisa de todas as informações possíveis que ele conseguir do cliente e do banco intermediador para assegurar que a negociação irá ocorrer, ou seja, tentar diminuir ao máximo o erro devido a informações assimétricas.

Isto seria facilmente resolvido com o uso de moedas físicas na transação, onde o comerciante e o cliente iriam transacionar diretamente um com o outro. Porém, no ambiente virtual da internet, até o surgimento da Bitcoin, não existia nenhum sistema de transação que funcionasse adequadamente sem a intermediação de uma instituição financeira confiável. A necessidade de confiar em um terceiro para a realização de uma transação financeira foi um dos principais motivos para a criação da Bitcoin, que através de elementos matemáticos e computadorizados torna as transações independentes do sistema bancário convencional (NAKAMOTO, 2009). Dessa forma, cada vez que uma transferência ocorre, ela entra na rede e é verificada pelos demais nodes, os quais analisam no histórico se aquela de fato pode ser reconhecida como uma transação legítima, se sim, eles a incorporam na corrente de hash efetivando a transação, caso o contrário a transação é identificada como inválida e não ocorre.

Como mecanismo de segurança, todas as transações realizadas são armazenadas em vários “blocos” dentro da corrente, que são criados a cada dez minutos. Cada bloco precisa ser criptografado com um quebra-cabeça, utilizando o sistema de Hashcash desenvolvido por Adam Back. O Hashcash é um mecanismo que força os computadores a terem que dispensar tempo e energia realizando um quebra-cabeça. O quebra-cabeça consiste em encontrar uma sequência de números aleatórios onde os primeiros dígitos sejam zeros (ex: 0000000000123456789), para isso é necessário que os computadores realizem várias tentativas e erros através de força bruta23 até descobrirem o resultado. indivíduos maliciosos, pois força que seja necessário dispensar energia em processamento de CPU24 superior a todos os blocos já criados para poder modificá-los.

A resolução do quebra-cabeça dos blocos também é o critério primordial para a criação das Bitcoins e o aumento da oferta monetária. Cada computador que acha a solução para o bloco é recompensado com Bitcoins, essa é a forma utilizada para a criação das moedas, uma vez que não existe uma autoridade central emissora. A dificuldade do quebracabeça não é relacionada à quantidade de transações que cada bloco contém, mas sim em relação à quantidade de blocos que estão sendo criados por hora. Dessa forma, a dificuldade em criar moedas está relacionada a uma média-móvel que aumenta ou diminui a dificuldade do quebra-cabeça mantendo assim a quantidade de Bitcoins emitidas a uma taxa controlada positiva e decrescente. Total de Bitcoins emitidas no decorrer dos anos FONTE: Adaptado pelo autor a partir do gráfico criado pelo usuário Theymos em: <https://en.

bitcoin. it/wiki/File:Total_bitcoins_over_time_graph. png>. Acesso em: 10 abr. O máximo que um ataque desse tipo poderia fazer seria possibilitar que o usuário desonesto pegasse de volta os pagamentos que ele mesmo tenha realizado em um período recente, porém ele ganharia muito mais se jogasse conforme as regras. Pois, tendo em vista que ao conseguir uma força de CPU superior a todos os nodes da rede, o usuário desonesto conseguiria criar mais Bitcoins sozinho do que todos os outros usuários da rede juntos, ganhando muito mais do que se tentasse alterar valores de suas próprias transações passadas, mantendo de qualquer forma o sistema funcionando intacto. O sistema eletrônico desenvolvido por Satoshi Nakamoto conseguiu criar um ambiente onde pagamentos podem ser transacionados sem precisar utilizar da confiança em uma instituição financeira.

O primeiro passo foi desenvolver um sistema onde a propriedade das moedas é assinada digitalmente com criptografia e é transferida para o outro usuário. Como forma de evitar gastos duplos ou ataques ao sistema, foi criado um mecanismo que força os computadores a dispensar energia e tempo na resolução de quebra-cabeças, gerando uma corrente composta por blocos protegidos com o histórico das transações de todas as Bitcoins já criadas. O fato de a Bitcoin ter seus processos programados, funcionando de forma automática, distribuída e longe de universos políticos, faz com que ela seja imune a conflitos de interesses e decisões planejadas. Porém isto incorre na metáfora social de que a sociedade está cada vez mais orientada pelos dizeres da tecnologia, “machines as humans and humans as machines”29 (POSTMAN, 1993, p.

Reações e inserção Apesar de fornecer aparatos inovadores, com o anonimato e transações diretas entre agentes via internet, a Bitcoin tem até o presente momento atraído a atenção das pessoas muito mais como uma forma de investimento do que de fato para suprir necessidades de transações. Ao invés de ser usada como moeda, a Bitcoin tem sido alvo de especulações levando a altas valorizações em seu preço. Assim como outras moedas, a Bitcoin é negociada em mercados alternativos de FOREX30, onde investidores negociam Bitcoin contra dólares americanos ou outras moedas nacionais como o Euro ou o Iene. O sistema da Bitcoin pode parecer similar a outros serviços de transferências financeiras online existentes, como o PayPal ou o Amazon Payments, porém a mecânica por trás de seu funcionamento é totalmente diferente devido a sua natureza descentralizante.

O PayPal, por exemplo, não é uma moeda autônoma, o serviço prestado por eles fornece uma forma rápida de efetuar compras ou receber pagamentos pela internet em determinadas moedas nacionais de fato, mas todo o seu sistema é desenvolvido para funcionar como um acquiring bank. Eles realizam o processamento de pagamentos entre vendedores e compradores, o que de fato se mostrou um avanço em relação às transações via internet por oferecer um método mais rápido e prático que a utilização de cheques e boletos bancários. Porém, o sistema de transações é realizado de forma centralizada, ou seja, o PayPal é o responsável pela intermediação e execução dos pagamentos entre os negociadores. Assim toda a mecânica de funcionamento do sistema recai na necessidade de confiança de que o PayPal irá realizar a transação e não incorrerá em problemas de solvência que podem inviabilizar o negócio.

Acesso em: 14 maio 2013. GRÁFICO 4. Cotação da Bitcoin em Dólares Americanos negociados na MtGox entre dezembro de 2010 e maio de 2013. USD/Bitcoin: Dezembro 2010 - Maio 2013 300 Preço em Dólares Americanos 250 200 150 USD/Bitcoin 100 50 13/5/2013 15/4/2013 18/3/2013 18/2/2013 21/1/2013 24/12/2012 26/11/2012 29/10/2012 3/9/2012 1/10/2012 6/8/2012 9/7/2012 11/6/2012 14/5/2012 16/4/2012 19/3/2012 20/2/2012 23/1/2012 26/12/2011 28/11/2011 31/10/2011 5/9/2011 3/10/2011 8/8/2011 11/7/2011 13/6/2011 16/5/2011 18/4/2011 21/3/2011 21/2/2011 24/1/2011 27/12/2010 29/11/2010 1/11/2010 4/10/2010 6/9/2010 9/8/2010 12/7/2010 0 FONTE: Gráfico fornecido por Bitcoin Charts <http://bitcoincharts. com/charts/mtgoxUSD#igWeeklyztgSzm1g10zm2g25>. Em 2011, Paul Krugman postou um artigo no The New York Times fazendo uma crítica em relação às Bitcoins. Krugman afirma que na verdade a Bitcoin não oferece nada de novo, uma vez que na essência métodos de transações eletrônicas alternativos já existem, “My first reaction to Bitcoin was to say, what’s new? We have lots of ways of making payments electronically; in fact, a lot of the conventional monetary system is already virtual, relying on digital accounting rather than green pieces of paper.

”31 (KRUGMAN, 2013). O autor afirma que a economia da Bitcoin tem sofrido fortes deflações, devido à grande valorização da moeda virtual frente ao dólar. Se realizada a comparação dos preços de produtos, em função de Bitcoins, houve uma queda brusca nos preços, devido ao efeito deflacionário. In that respect they can be thought of as a hybrid of a "stock" and a currency, which should (in theory) evolve towards a pure currency in the long run. ”33 (MICK, 2013). Ou seja, o processo evolutivo da Bitcoin, segundo ele, ainda está ocorrendo, para quem sabe no futuro atingir o patamar de uma moeda estável. Apesar de deficiências e contradições no desempenho de suas funções como moeda, a Bitcoin é vista como uma das mais bem desenvolvidas moedas virtuais das últimas décadas.

Principalmente quando analisado as questões operacionais por trás de seu funcionamento. Um caso interessante de ser observado foi o desenrolar do e-gold, o qual era um sistema eletrônico onde se transferia via internet a posse de ouro de uma pessoa para a outra. O e-gold foi criado dentro dos Estados Unidos em 1996 por uma empresa privada de mesmo nome e funcionava como uma espécie de banco, transferindo certificados de ouro entre indivíduos, o que acabava por funcionar como uma moeda virtual. O e-gold se tornou o símbolo da ascensão das moedas virtuais, pois conseguia executar transações de forma eficiente e ainda ser uma empresa rentável. Segundo a tese de Brodbeck (2007), publicado na ESCP de Paris: According to Douglas L. Jackson, founder and chairman of E-gold, the company has about 1.

As operações de e-gold são ditas rentáveis, sem mencionar mais detalhes. ” 51 nacionais ao invés de substituí-las por outra coisa, como foi o caso do e-gold e agora da Bitcoin. Desse modo, sistemas que implicam na mudança do modo como as pessoas irão realizar transações financeiras, talvez mais eficientes que o disponibilizado pelo monopólio estatal, de fato enfrentará restrições políticas para a sua utilização. Muitos são os argumentos do Estado para denegrir a ideia de uma moeda virtual descentralizada. Uma delas é o argumento de que um dinheiro sem vigilância, que incorre em transações anônimas, será amplamente utilizado no comércio ilícito e criminoso. O crescente uso de celulares smartphone permite que qualquer indivíduo possa carregar suas Bitcoins dentro deles e facilmente as transferir para um vendedor, fazendo com que a utilização de moedas virtuais na compra de produtos e serviços fora da internet seja algo relativamente simples e viável.

Pelo fato de possibilitar taxas reduzidas em comparação com sistemas bancários, a Bitcoin tem sido utilizada para a realização de transações internacionais. Uma transação de um continente a outro leva no máximo 10 minutos para ser validada e concretizada sem risco de reversão do pagamento. As taxas aplicadas são de poucos centavos e servem somente para 52 alimentar o sistema, sendo pagas aos usuários que estão fornecendo a energia de seus computadores para criptografar os blocos de transações, nada além disso. Claro que este tipo de transação em alguns países pode ser considerada uma forma de lavagem de dinheiro, uma vez que ela é realizada fora do sistema financeiro oficial, não pagando impostos, taxas e encargos estipulados na lei.

Tendo em vista que para realizar vendas pelo site cada vendedor paga uma taxa de aproximadamente 7,4% do valor de cada item vendido, segundo os cálculos da pesquisa, os administradores do Silk Road ganhariam em média 92 mil dólares 36 A internet normal, também denominada de Surface Web, abrange todas as páginas da internet que são indexadas pelo Google, Bing, Yahoo e demais motores de busca. O eBay é um famoso website norte-americano onde os usuários podem comprar e vender produtos. por mês em comissões, o que representaria uma rentabilidade de 1,1 milhões de dólares por ano. É um tanto estranho conceber este tipo de atividade comercial segundo os preceitos da sociedade atual. Porém, o comércio ciberespacial utilizando da criptografia acaba na essência por representar as características básicas de uma sociedade idealizada por anarcocapitalistas, transcendendo as fronteiras nacionais e possibilitando aos indivíduos realizarem o arranjo econômico que bem quiserem (MAY, 1994).

Nesse aspecto, políticas monetárias realizadas pelo banco central provocarão um choque menor em uma economia onde existem moedas virtuais atuando. O relatório do European Central Bank (2012) aborda a questão da alteração na quantidade de dinheiro como não sendo um problema inicial. Segundo o relatório, a conversão da moeda virtual em moeda nacional e vice versa se daria a uma taxa constante, com agentes desejando trocar moeda nacional pela virtual e outros desejosos em trocar a moeda virtual pela nacional. Desse modo, a quantidade de dinheiro tenderia a se manter constante a princípio. Porém, o relatório destaca que o aumento da usabilidade da moeda virtual poderá de fato ocasionar mudanças na quantidade de dinheiro. Na União Européia existe a discussão de se a Bitcoin poderia se enquadrar dentro do Electronic Money Directive, uma diretiva que tenta estabelecer quais tipos de moedas virtuais podem ser consideradas válidas e seguras.

Na França, os tribunais têm monitorado a questão das moedas virtuais depois que alguns bancos do país interromperam algumas contas que transacionavam Bitcoins, por não saberem ao certo se estas novas moedas tinham amparo legal para serem transacionadas (EUROPEAN CENTRAL BANK, 2012). A forma de criação das Bitcoins, através do processo de “mineração” digital, é algo difícil de enquadrar em leis existentes, uma vez que é um processo novo jamais visto até então. Normalmente, a regulação sobre inovações tecnológicas tem um atraso de alguns anos, pois é necessário ponderar e discutir a amplitude em que determinada nova tecnologia irá afetar a sociedade. O Paypal, por exemplo, somente recebeu uma licença bancária em Luxemburgo em 2007, depois que o serviço já havia se popularizado.

fato do Federal Reserve realizar o controle assíduo da taxa de juros de curto prazo, quase que de maneira automática: If you really carried out the logic concerning the quantity of money, you deprive the Federal Reserve of anything to do. Suppose the Federal Reserve said it was going to increase the quantity of money by 4 percent a year, year after year, week after week, month after month. That would be a purely mechanical project. You could program a computer to do that (FRIEDMAN, 2006). Desse modo, Friedman aponta que a forma que o banco central tem adotado para controlar a quantidade de dinheiro na economia é na verdade uma operação mecânica, algo que um programa de computador poderia realizar caso fosse programado para tal função. ” 40 Tradução nossa: “Eu sempre fui a favor de abolir o Federal Reserve e substituí-lo por um programa de computador que iria manter a quantidade de moeda aumentando a uma taxa constante.

PARTE III: ECONOMIA DESCENTRALIZADA O sistema financeiro mundial está em constante movimento e em plena modificação. Década após década a conjuntura econômica mundial se altera, com países ascendendo hegemonicamente e outros tendo seu poderio econômico enfraquecido. A tecnologia é um fator importante neste universo. A história econômica foi marcada por inúmeros avanços tecnológicos que promoveram o desenvolvimento da economia. O uso de formas monetárias alternativas tem sido amplamente discutas por diversos autores, os quais dão ênfase no uso de moedas locais ou sociais que tem a intenção de fomentar o comércio em regiões distintas. A escassez de moedas nacionais em determinadas regiões, causadas por instabilidades políticas ou crises econômicas, acabam por restringir o potencial produtivo do local.

Dessa forma, a introdução dessas moedas alternativas acaba por 58 possibilitar a volta da saúde econômica do local, aumentando as trocas comerciais que estariam á mercê da liquidez restringida da moeda nacional (BÚRIGO, 2011). Um caso interessante de ser analisado aconteceu na cidade de Worgl na Áustria, onde moedas locais surgiram como um método alternativo para fomentar a economia do local devido ao período de crise que assolava o mundo na década de 1930. A cidade, assim como outras partes da Europa, começou a sofrer com a baixa circulação do dinheiro. A crise econômica no Chipre em março de 2013 mostra um exemplo claro do lado global que a Bitcoin tem adquirido. Os bancos nacionais estavam com problemas de solvência e começaram a bloquear as contas dos cidadãos do país como uma forma de tentar evitar uma saída maciça de capital.

Isso fez com que muitos indivíduos procurassem meios alternativos para guardar as suas riquezas, a Bitcoin foi um deles. “With fears spreading that even insured deposits might not be safe in similar nations hit by banking crises, those looking for a haven 59 to store their wealth have fled to the complicated world of digital cash. ” 41 (COX , 2013). Estes acontecimentos mostram que, apesar de recentes, as moedas virtuais descentralizadas já estão desempenhando funções importantes no sistema financeiro internacional, funcionando como um ambiente de liquidez alternativa às moedas nacionais. Tradução nossa: “Com o medo se espalhando de que até depósitos segurados podem não ser seguros em nações semelhantes atingidas por crises bancárias, aqueles procurando um refúgio para guardar a sua riqueza fugiram para o mundo complexo do dinheiro digital.

” 42 Tradução nossa: “Este é um sinal claro de que as pessoas estão procurando maneiras alternativas de tirar o seu dinheiro do país. Se vamos falar sobre a estabilidade do Euro e se terá ou não controle sobre os capitais não apenas em Chipre, mas em torno da zona do euro, eu acho que há alguma eficácia por trás das Bitcoins como um veículo alternativo de liquidez. ” 60 Apesar de serem interpretadas como arriscadas, devido à alta volatilidade de seu preço e à falta de controle estatal, a Bitcoin fornece um ambiente com ausência de decisões políticas, fator que em momentos de incertezas e crises acaba por atrair capital. O Euro é um bom exemplo, o consenso sobre o uso de uma moeda única nos principais países da Europa mostra a vontade de integração comercial que ronda nas principais economias capitalistas.

A discussão sobre moedas também implica na questão sobre o espaço em que as relações socioeconômicas ocorrem. Por não respeitar fronteiras nacionais, as moedas virtuais 43 As moedas descentralizadas possuem duas conotações que andam juntas no seu significado: de um lado a palavra “descentralizada” significa a utilização de redes P2P, onde de forma arquitetural a conexão é fisicamente descentralizada; porém ao mesmo tempo, a palavra “descentralizada” significa a não centralização do controle sobre a moeda, ou seja, sem um Estado ou Banco Central controlando a oferta monetária. circulam e atuam em vários ambientes diferentes. Pela sua própria natureza globalizante, sua adoção acaba por representar as características de abertura econômica de determinadas regiões.

O sentimento presente em inúmeros fóruns, websites, jornais e chats sobre Bitcoin é a exaltação pela valorização do ativo virtual. A cada nova marca histórica alcançada pela moeda frente ao dólar, a empolgação é visível; e em momentos de quedas abruptas nos preços o pânico se instala. Não é possível afirmar se a humanidade está presenciando a “bolha das tulipas” do século XXI, que entrará para os livros de história como mais uma loucura de massa ao estilo Charles Mackay44, mas o comportamento especulativo sobre a Bitcoin parece indicar algo semelhante. A oferta monetária restringida acaba por ocasionar naturalmente um processo de deflação na Bitcoin. Devido ao fato do código computacional estar projetado para emitir somente 21 milhões de moedas, analisando em uma larga perspectiva de tempo, inevitavelmente a moeda será guiada à deflação.

Tendo em vista os aspectos econômicos em que a maioria das sociedades do mundo está moldada, a flutuação da Bitcoin ainda estará vinculada às moedas nacionais de um jeito ou de outro. Por um lado, a deflação nas Bitcoins, caso essa fosse a única moeda em uso, tenderia a minar a economia no longo prazo devido à tendência de uma diminuição da liquidez, tornando improvável a sua adoção como moeda nacional de um grande país. Por outro lado, a deflação acaba por intensificar a característica de reserva de valor das moedas, aumentando o poder de compra de quem as possuir ao longo do tempo, fazendo com que o seu lado commodity se mantenha presente até o ponto em que ainda atrair o interesse dos indivíduos.

A inovação criada na Bitcoin se mostra relevante o suficiente a ponto de gerar possibilidades de mudanças no modo como o sistema financeiro mundial irá se comportar no futuro. A sua descentralização, ao mesmo tempo em que tira do sistema bancário o monopólio sobre as transações econômicas, possibilita uma maior integração em escala global ao reduzir os custos das transações. É um fenômeno novo, o que torna a sua comparação com outras moedas da história econômica uma tarefa difícil. Algumas questões como a deflação, por exemplo, só fazem sentido dentro de um plano monetário político nacional ou enquanto a Bitcoin for tratada como uma moeda nacional, que não é o caso. O seu funcionamento se dá ao lado das demais moedas, mas com características particulares e independentes.

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