RELAÇÕES FAMILIARES DESESTRUTURADAS E CONSEQÜÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO DOS FILHOS: A VIOLÊNCIA COMO UM FATOR SIGNIFICATIVO

Tipo de documento:TCC

Área de estudo:Gestão de crédito

Documento 1

Assim como uma árvore é afetada pela qualidade do ar, da água e do solo em seu meio ambiente, a saúde emocional da criança é determinada pela qualidade dos relacionamentos íntimos que a cercam. Daniel Goleman) RESUMO A violência familiar é um fenômeno que vem ocorrendo com freqüência nos dias de hoje, tornando-se um acontecimento corriqueiro dentro de famílias que apresentam alguma desestrutura, o que suscita reflexões sobre as conseqüências que pode trazer ao desenvolvimento dos filhos que convivem nessas famílias. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo estudar quais as conseqüências resultantes de uma desestrutura familiar, focando a violência na família, podendo ser ela a violência física, psicológica, sexual ou a negligência. Foi realizada revisão de literatura sobre os conceitos de família, estrutura familiar e violência.

Foram pesquisadas as influências da família sobre seus filhos, tendo como resultado que essa exerce uma grande influência sobre os mesmos, o que significa que a violência também será algo que influenciará de várias maneiras, podendo causar diversas conseqüências. METODOLOGIA. DESENVOLVIMENTO. A FAMÍLIA NA VIDA DO INDIVÍDUO. ALGUMAS CONCEPÇÕES SOBRE A FAMÍLIA. FUNÇÕES E IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA. Violência Física. Violência Psicológica. Violência Sexual. Negligência. Síntese dos Tipos de Violência na Família e suas Conseqüências para Crianças e Adolescentes. Diante disso, o presente trabalho também expõe um capítulo sobre a estrutura familiar e as possíveis conseqüências nos filhos, pois a infância é um período muito importante para o desenvolvimento do ser humano, iniciando aí a estruturação desse indivíduo.

Os relacionamentos e as interações que a criança tem com o meio familiar no qual convive, possibilitarão que o desenvolvimento de sua personalidade seja saudável ou não. Por isso é que se torna importante um estudo mais aprofundado a respeito das características da família desestruturada e as possíveis conseqüências para a criança. Dentre os fatores que caracterizam a desestrutura familiar, a violência desponta como uma preocupação comum para os estudiosos, devido provavelmente à freqüência com que ocorre em nossa sociedade e às conseqüências danosas às crianças submetidas a ela. É importante o conhecimento das conseqüências no desenvolvimento da criança que convive com a violência em seu meio familiar, seja essa violência física, psicológica, sexual ou negligência.

Vivia-se um esquema familiar matriarcal, sem conhecimento da existência do pai (TIBA, 2002). Segundo Gomes (2008), a palavra família deriva do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Na Roma Antiga aqueles pertencentes a um mesmo homem constituíam uma família. Nesse período o senhor da casa, com o pátrio poder, decidia sobre a vida ou a morte, não apenas de seus servos, mas também de sua mulher e filhos: se matava, nada mais fazia do que exercer o seu direito. Conceituar família não é algo fácil, pois o conceito envolve modificações que ocorreram em contextos específicos, inclusos em um processo de evolução histórica. Unidade espiritual constituída pelas gerações descendentes de um mesmo tronco, e, fundada, pois, na consangüinidade.

Sociol. Grupo formado por indivíduos que são ou se consideram consangüíneos uns dos outros, ou por descendentes dum tronco ancestral comum (filiação natural) e estranhos admitidos por adoção. De acordo com Eiguer apud Gomes (2008, p. foi Freud quem deu à família seu lugar de honra, pois antes dele, os médicos demonstravam por ela pouco interesse. No primeiro encontra-se a família “tradicional”, na qual os casamentos eram arranjados pelos pais, servindo, acima de tudo, para assegurar a transmissão de um patrimônio. Nesse momento, a vida sexual e afetiva dos cônjuges não assumia maior importância. A família tradicional tinha origem num único casamento, viviam geralmente no campo, era numerosa, submetia a mulher e os filhos à autoridade do pai. Os pais apenas passavam aos filhos o necessário que precisavam saber para viver e nada mais, o que tornava comum os filhos seguirem a profissão do pai.

Tudo era em nome da conservação da moral da família, dos bons costumes, onde os pais eram os principais responsáveis pela formação de seus filhos, mas recaindo sempre sobre a mulher a maior responsabilidade. A partir dos novos contextos familiares, pode-se afirmar que, como constata Tiba (2002), o mundo mudou. Segundo o autor mencionado, existem casais experimentando novos arranjos familiares, embora a velha divisão de papéis se mantenha: o pai trabalha e por isso não precisa participar da educação das crianças, ficando sob responsabilidade da mãe, que mesmo trabalhando fora, ainda resiste em abandonar o que fez durante tanto tempo, não conseguindo se desligar de seu papel tradicional. Pode-se concluir a partir do exposto, que a família é algo que está em constante transformação.

A cada dia que passa, são perceptíveis novos tipos de família (pais homossexuais, recasamentos, produção independente, etc), nas quais as pessoas que nelas convivem, são transformadas em seu dia-a-dia, tendo que se despir de preconceitos anteriormente estabelecidos, para que possam conviver de maneira harmoniosa, contribuindo assim para a evolução tanto do ser humano, como da família em geral. Funções e Importância da Família De acordo com Osório (2002), pode-se dividir as funções da família em “biológicas”, “psicológicas” e “sociais”. White (2001) relata que se as crianças forem bem educadas na infância, formando um bom caráter, por meio de autocontrole e hábitos corretos, sua influência na sociedade será positiva. Mas se forem deixadas sem orientação, tornando-se, como resultado, egoístas, teimosos e desequilibrados, vivendo à sua própria vontade, sua influência será negativa.

A maior expectativa é de que a família produza os cuidados, proteção, aprendizado, construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclusão social na comunidade e sociedade em que vivem. ROMANELLI, 2000). Vitale (2000) afirma que a família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas, sem dúvida é o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora. Maldonado (2000) relata que, em pessoas muito jovens, a escolha do parceiro tende a se guiar por alguns aspectos, tais como paixão, beleza física, posição social e boa família, sem que haja maturidade na escolha, a qual possa ultrapassar a superficialidade. Pode-se dizer então que relacionamentos na juventude não são iniciados com maturidade, pois as pessoas nessa fase não estão em busca de segurança, mas sim em busca de algo que venha a preencher suas fantasias no momento.

O casamento inevitavelmente causa muitas mudanças na vida do indivíduo. Segundo D’Andrea (2001), a decisão de casar-se é um dos passos mais importantes dos jovens no decorrer de suas vidas. Para o autor supracitado, casar-se representa uma renúncia ao descompromisso da vida de solteiro, uma mudança de status e papéis sociais, uma recanalização dos afetos, bem como uma responsabilidade sexual e social para com um companheiro, com o qual o indivíduo compartilhará todas as importantes decisões futuras. Para Szejer e Stewart (1997), mulheres e homens funcionam de forma diferente, tanto em relação ao psiquismo, quanto fisiologicamente. Para um homem desejar um filho não significa a mesma coisa que para uma mulher. As palavras são as mesmas, mas o contexto que dá sentido a essas palavras é diferente.

Isso se dá em função das próprias diferenças individuais de identidade e de gênero existentes entre eles. De acordo com Szejer e Stewart (1997), o desejo de ter um filho é uma coisa, o projeto de ser pais é outra bem diferente, mas que também pré-existe à concepção do filho. com base no referencial psicanalítico, afirmam que o desejo de ter um filho pode também ser proveniente de determinações inconscientes: O desejo, para os psicanalistas, não pertence apenas à ordem do consciente. Pode-se afirmar – de boa fé – que se deseja um filho e inconscientemente não desejá-lo, por razões que escapam e dizem respeito à história particular de cada um. Pode-se, também, “fazer tudo” para não ter um filho, porque isso não é razoável, não é o momento, a situação não é adequada, e simplesmente fazê-lo porque o desejo inconsciente é mais forte que todas as decisões racionais.

De acordo com Szejer e Stewart (1997), a história anterior ao nascimento do bebê sempre estará presente em sua vida, pois faz parte da história de seus pais, que transmitirão a ele num dado momento, seja contando-a ou escondendo dele. Para os autores, nenhum ser humano nasce e vem ao mundo sem já ter um histórico vivido por seus pais. Uma vez que o bebê identifica o objeto que proporciona alívio e prazer, este passa a exercer uma atração irresistível para o mesmo. De acordo com Rosset (2003), a função materna acontece quando se pega o bebê no colo e se dá aconchego nas horas de tristeza, de dor, ou apenas quando ele só quer colo, quando se protege alguém, se cuida da roupa ou da alimentação, entre muitos outros.

Portanto, a função materna tanto pode ser exercida pela mãe, como por qualquer outra pessoa da família que venha a exercer esses cuidados. Para que possa assumir sua função materna, a mãe deve estar preparada para satisfazer de imediato às necessidades de seu filho, sabendo de tudo o que pode vir a acontecer, para que assim possa contribuir para um desenvolvimento saudável, sem problemas para a formação de sua personalidade. Conforme D’Andrea (2001), o estabelecimento da relação mãe-filho, não depende exclusivamente das características da mãe, mas também do recém-nascido. A partir disso, autores começaram a valorizar a importância da participação do pai na manutenção sadia do aspecto emocional de seu filho. O papel do pai na vida da criança também é de grande importância, embora ele não seja tão requisitado pelo bebê no início de sua vida, quanto à mãe é, pois nessa fase ainda estará apenas satisfazendo sua necessidade básica de sobrevivência, a qual a mãe é a pessoa mais indicada para ajudá-lo.

De acordo com D’Andrea (2001) a importância da existência de um pai ou substituto se dá pelo fato de que, a partir deste, a criança constrói seu modelo de identidade masculina. A função paterna que significa lei, organização, estrutura, palavra, autoridade, está ligada a crescimento, leva à aprendizagem e ensina regras e limites. ROSSET, 2003) Dentro de um conceito psicanalítico, Anton (2000) afirma que o papel paterno consiste em interceptar, em cortar o vínculo narcisista da criança com a mãe, dando origem ao Complexo de Édipo, pois o pai, num certo sentido, representa a libertação e a mãe por sua vez representa o ninho, o aconchego, à volta ao útero. DEL NERO, 2005) É praticamente impossível que a criança não seja influenciada pelo relacionamento conjugal dos pais.

Goleman (1997) afirma que o relacionamento conjugal dos pais influencia as atitudes dos filhos, suas realizações, bem como sua capacidade de se relacionar e de regular as emoções. Em geral, quando os pais se dão bem, a inteligência emocional dos filhos desabrocha, mas os filhos que constantemente presenciam desavenças dos pais correm graves riscos. Pode-se dizer que o que gera vínculos inconscientes não é só o que os pais dizem a seus filhos, mas também o que eles vêem nos pais, pois muitos falam coisas maravilhosas para suas crianças, mas têm péssimas reações na frente delas: são intolerantes, agressivos, parciais e dissimulados, o que com o tempo acaba criando um abismo emocional entre pais e filhos, com pouco afeto, mas muitos atritos e críticas.

CURY, 2003) Cury (2003) afirma ainda que nos dias atuais alguns pais com mais recursos colocam uma televisão e um computador no quarto de seus filhos, enchem-os de atividades, matriculando em cursos de inglês, computação, música, entre outros. Ali, tendo seus pais como instrutores, a criança terá de aprender as lições que a guiarão por toda a vida, como respeito, obediência, reverência e domínio próprio. WHITE, 2001) O mundo social integra o processo de construção da subjetividade, onde esse processo de interiorização é introduzido na consciência pelo processo de socialização. Nesse sentido, a socialização é a ampla e consistente introdução de um indivíduo no mundo objetivo de uma sociedade ou de um setor dela. BERGER E LUCKMANN apud VITALE, 2000) A forma de organização da família é um elemento relevante no modo como ela conduz o processo de socialização de seus filhos, transmitindo-lhes valores, normas e modelos de conduta, orientando-os no sentido de tornarem-se sujeitos de direitos e deveres, tanto dentro da família como fora dela.

ROMANELLI, 2000) Vitale (2000, p. Conforme D’Andrea (2001), a formação da personalidade do sujeito é um resultado da interação da hereditariedade com o meio onde vive, manifestada através do comportamento, cujas características são peculiares a cada pessoa. O que nos mostra que para se entender o desenvolvimento do indivíduo não se pode apenas levar em conta a convivência do mesmo com sua família, mas com todo o ambiente social em que o mesmo está inserido. Martins (2004) corrobora com o autor supracitado, relatando que o desenvolvimento máximo de cada personalidade não pode ser analisado senão pelo reconhecimento da mediação nele exercida pelas relações sociais existentes, o que se traduz pelo fato de que o pleno desenvolvimento da personalidade humana implica necessariamente uma transformação radical das relações sociais.

Autores psicanalistas falam das primeiras relações familiares, especialmente com a mãe, como fundamentais para a formação da personalidade dos filhos e para o desenvolvimento saudável. De acordo com os mesmos, os problemas emocionais se manifestam a partir de desajustes nas primeiras fases do desenvolvimento. Por estrutura familiar pode-se entender a quantidade de pessoas que moram na casa e suas respectivas funções. A estrutura familiar se apresenta de diferentes maneiras, como o fato dos progenitores estarem vivos ou ter havido óbito dos mesmos, divorciados, separados ou dividindo moradia com outros parceiros, dentre outras. BAPTISTA, BAPTISTA e DIAS, 2001) A estrutura de uma família tende a ser muito importante, tanto para o amadurecimento do próprio casal, como para o desenvolvimento dos filhos. Já para Minuchin apud Anton (2000), a estrutura familiar é o conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem.

O autor supracitado afirma ainda que uma família é um sistema que opera por meio de padrões que irão estabelecer como, quando, e com quem se relacionar, sendo que esses padrões reforçam o sistema. Na família desajustada ou disfuncional, de acordo com Anton (2000), ao contrário da família funcional, as regras são rígidas, inflexíveis. Em momentos extremos, torna-se difícil a libertação de seus membros em busca de seu crescimento e o desenvolvimento do seu ciclo de vida. O autor supracitado ressalta ainda que crises freqüentemente são desencadeadas por circunstâncias que envolvem dois ou mais participantes, em que num deles, o desequilíbrio relacional emerge e sua manifestação facilmente faz de uma das partes o “bode expiatório” ou o “vilão da história”.

Nesse tipo de família há a presença de desequilíbrios, que podem ou não ser transformados ao longo do tempo. Costa e Souza (1998) afirmam que na família disfuncional, os pais também são capazes de promover o crescimento de crianças saudáveis, que se encaminham no sentido da autonomia e independência, mas que acabam falhando como marido e esposa, o que acaba acarretando problemas aos filhos que convivem com os conflitos do casal. DEL NERO, 2005) De acordo com Golemam (1997), a tensão de conviver com pais em conflito pode afetar o desenvolvimento do sistema nervoso autônomo da criança, o que, por sua vez, determina a capacidade da criança de enfrentar as situações que surgem. Além de dar aos filhos um tratamento inadequado, os pais em fase de tensão conjugal dão também um mau exemplo de como relacionar-se com os outros, pois crianças que vêem seus pais se tratando com agressividade ou desprezo são mais propensas a exibir este tipo de comportamento no trato com os amigos.

As crianças seguem o exemplo dos pais, vendo que atitudes hostis e defensivas são reações apropriadas a situações de conflito, que com agressividade se consegue o que quer. GOLEMAN, 1997) Maldonado (2000) relata que crianças que presenciam cenas violentas de medo, angústia e insegurança, tendem a isolar-se, passam horas no quarto, quase não falam e outras aumentam a solicitação dos pais ou adoecem. Nesses períodos, pai e mãe perturbados com seus conflitos nem sempre percebem ou atendem as necessidades do filho. Dessa forma, serão resgatados os aspectos considerados importantes, a partir da literatura, na definição de estruturação/desestruturação familiar. D’Andrea (2001) traz a noção de que a estruturação da família se dá desde a formação do casal.

Para a autora supracitada, para que haja uma estruturação familiar, é necessário que o casal seja bem sucedido interiormente, conseguindo vencer as barreiras pessoais e interpessoais, alcançando um grau de ajustamento nas várias esferas da vida em comum, onde possam integrar suas identidades sem perder a individualidade, dividindo funções ou papéis que se complementam. Assim como a estruturação familiar ocorre desde a formação do casal, também perpassa a decisão de se ter um filho. De acordo com Szejer e Stewart (1997) o contexto familiar em que à criança é concebida acarreta decorrências ao desenvolvimento da mesma. Nesses casos, além de presenciar os pais brigando, acabam se tornando o alvo de descarga da tensão familiar. Por meio da revisão de literatura sobre o tema, constata-se que a violência doméstica, a qual muitas vezes acontece em decorrência dos conflitos conjugais, é um fator significativo no que diz respeito à desestruturação familiar e conseqüências psicológicas para a criança e o adolescente, sendo exposta, a seguir.

VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA 2. O Que é a Violência Familiar A violência se constitui atualmente como um dos mais graves problemas de saúde pública. Esse fenômeno é observado no Brasil e em diversos outros países do mundo. Pode ser cometida dentro e fora de casa, por qualquer integrante da família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida. Inclui também as pessoas que estão exercendo a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de sangue. Quanto mais se regressa na história, mais se depara com a falta de proteção jurídica à criança. Day et al (2003) relatam que no Oriente Antigo, o Código de Hamurábi (1728/1686 a. C. Até o final do século XIX e início do século XX, a criança foi vista como um instrumento de poder e de domínio exclusivo da Igreja.

Somente no início do século XX, a medicina, a psiquiatria, o direito e a pedagogia contribuem para a formação de uma nova mentalidade de atendimento à criança, abrindo espaços para uma concepção de reeducação, baseada não somente nas concepções religiosas, mas também científicas. DAY et al. Embora Freud tenha abordado o assunto em 1919, foi com a publicação da obra “Síndrome da Criança Espancada”, de Kempe e colaboradores, em 1962, que o maltrato a infância começou a ser aceito como objeto de investigação, passando a chamar a atenção dos profissionais da saúde e do público em geral para a necessidade de proteção à criança. DAY et al. apud Gomes et al. que em uma família onde toda a estrutura é neurótica, a criança certamente vai herdar este comportamento dos pais e poderá ser um futuro autor de maus-tratos infantis, quando se tornar um adulto.

Outros aspectos também procuram explicar a ocorrência da violência familiar, levando a uma associação com desestrutura familiar (com alternância de parceiros), desajustes psíquicos e o alcoolismo. GOMES et al. Barros (2006) ressalta que a violência doméstica ocorre em todas as classes sociais, influenciadas por aspectos sociais, culturais, psicológicos, religiosos, psiquiátricos, entre outros. Nesse contexto são atendidas crianças vítimas de diferentes tipos de violência: do trânsito, de brigas, conflitos nas comunidades, assaltos e de maus-tratos familiares, sob a forma de fraturas, queimaduras, ocasionando às vezes a morte ou incapacidade, além das seqüelas a longo prazo como estresse, fobias e outras (COSTA e SOUZA, 1998). Del Nero (2005) afirma que, na maior parte das vezes, os pais que praticam violência física com os filhos fingem-se inocentes ou negam suas atitudes fazendo cair a culpa sobre o próprio filho (ele caiu e ficou todo roxo) ou sobre outras pessoas (o irmão o empurrou).

O autor supracitado relata ainda que em se fazendo uma análise psicológica desses pais, observa-se que uma grande parte deles teve uma infância problemática, com carência de cuidados ou carência afetiva, sentimentos de solidão e até maus-tratos também. A mãe geralmente é emocionalmente imatura, narcisista, egocêntrica e egoísta e o fator que a motiva a ter uma criança muitas vezes é o desejo de reparar a sua própria carência. Weber, Viezzer, Brandenburg e Zocche (2002), a partir de um levantamento, por meio de documentos, das denúncias feitas ao Programa SOS Criança de Curitiba, a respeito de crianças e adolescentes, de zero a 18 anos, que haviam sido vítimas de algum tipo de violência, obtiveram os seguintes resultados: as agressões físicas somaram um total de 51%, no qual 38,5% correspondeu à violência física e 12,5% à agressão sem lesão aparente.

Jaffe, Wolfe e Wilson apud Maldonado (2003) fazem uma associação entre violência física e comportamentos agressivos das crianças. Para os mesmos, a família tem uma importante influência na aquisição de modelos agressivos pelas crianças, pois pais que utilizam a punição estão mostrando a seus filhos que essa é a forma de proceder frente ao mundo e que a violência é uma forma apropriada de resolução de conflitos e de relacionamentos entre os indivíduos. Na escola pode ocorrer de crianças reproduzirem comportamentos que fazem parte do seu cotidiano, tendo a violência doméstica como um dos modelos de relacionamento presentes em seu dia-a-dia. Pode-se, portanto formular a hipótese de que crianças que estão na escola e são agressivas apresentam tal quadro em decorrência do modelo mantido em seu lar.

Assim sendo, tais comportamentos agressivos poderão prejudicar as interações da criança com outras pessoas, prejudicando seu desenvolvimento, sua educação e socialização. É a forma mais subjetiva, embora seja muito freqüente a associação com agressões corporais. Deixa profundas marcas no desenvolvimento, podendo comprometer toda a vida mental do indivíduo. DAY et al. Para Azevedo e Guerra (1995) violência psicológica é também designada como tortura psicológica e ocorre quando pais ou responsáveis constantemente depreciam a criança, bloqueando seus esforços de auto-aceitação, causando-lhe grande sofrimento mental. Visto que a família tem grande importância na vida da criança ou adolescente, esse tipo de violência acaba depreciando o relacionamento familiar e também o desenvolvimento dos seus filhos.

Para Barros (2006) a violência sexual é uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual de um adulto ou adolescente mais velho, que se aproveita de uma relação de poder. Inclui a manipulação das partes genitais, mamas e ânus, exploração sexual, voyeurismo, pornografia, exibicionismo e o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência. O autor supracitado afirma que os agressores mais freqüentes que cometem esse tipo de violência são os pais, padrastos, parentes ou pessoas que têm grande proximidade com a criança, podendo ser vizinhos, amigos da família ou outras pessoas que exerçam alguma influência sobre ela ou desfrutem da confiança de seus pais. Conforme Monteiro Filho (2002), pesquisas nos Estados Unidos indicam que: uma criança é sexualmente abusada a cada quatro segundos; uma em cada três garotas e um em cada quatro garotos são abusados sexualmente antes dos 18 anos; 90% das vítimas são abusadas por pessoa que elas conhecem, confiam e amam; somente uma em quatro garotas e um em cada cem garotos têm o abuso sexual sofrido denunciado, 50% das vítimas se tornam abusadores e durante uma vida um pedófilo ativo, em média, abusa de 260 crianças ou adolescentes.

O abuso sexual caracteriza-se por atos, jogos, brincadeiras sexuais entre um adulto e uma criança ou adolescente (menor de 18 anos). Para Monteiro Filho (2002), as conseqüências do abuso sexual para a criança são: sentimento de culpa e vergonha, sentimento de ser má, suja e de pouco valor, perda da confiança em outras pessoas, medo constante de sofrer novo abuso, somatizações freqüentes, depressão. Na vida adulta poderá ocorrer dificuldades de relacionamento social e de conquistas profissionais, impotência sexual e frigidez, depressão e suicídio. Costa e Souza (1998) relatam que pesquisas relacionadas ao abuso sexual contra a criança apontam para uma infinidade de agravos a curto e longo prazo, capazes de causar danos ao seu desenvolvimento físico e mental. Os critérios diagnósticos de transtornos mentais e estresse pós-traumático de crianças violentadas apresentam algumas características, como revivência do trauma, hipervigilância, hiperagressividade e transtornos do sono.

Nos quadros agudos apresentam sentimentos de infelicidade e pânico, regressões a fases anteriores de desenvolvimento do ego, comportamento autodestrutivo, comportamento depressivo. Reichenheim, Hasselmann e Moraes (1999) constatam a possibilidade de que crianças negligenciadas pela família corram maior risco de ser vítimas de acidentes domésticos do que crianças não negligenciadas. De acordo com os autores supracitados, dentre os acidentes domésticos encontram-se as quedas, os envenenamentos, as queimaduras graves ou mesmo os atropelamentos fora de casa, cujas conseqüências podem ser as mais variadas, desde simples escoriações geradas por traumas leves, até a própria morte da criança ou adolescente. Morais e Eidt (1999) afirmam que os pais negligentes são adultos que não se ocupam de seus filhos e que apresentam deficiências importantes em suas funções parentais, sendo que estas deficiências podem ser resultado de três dinâmicas que se entrelaçam: a biológica, a cultural e a contextual.

No primeiro caso, a biológica, trata-se de uma perturbação no attachement biológico entre o adulto e a criança, particularmente entre a mãe e seu filho. Na cultural, o problema situa-se na transmissão transgeracional dos comportamentos e dos modos adequados de cuidar dos filhos, caracterizando a negligência cultural. Síntese dos Tipos de Violência na Família e suas Conseqüências para Crianças e Adolescentes A partir da revisão de literatura, verifica-se que a violência sempre esteve presente ao longo do tempo, nas diferentes civilizações e culturas. É consenso entre os autores, que a violência sofrida apresenta decorrências tanto físicas, quanto sociais e psicológicas para a vítima, conseqüências essas, muitas vezes, interdependentes entre si. Considera-se importante fazer uma síntese dos aspectos mais significativos que os autores trazem sobre o tema, bem como uma síntese das conseqüências para a vítima, apontadas pelos mesmos.

Barros (2006) e Day et al (2003) afirmam que a violência física é a forma mais freqüente dentro das famílias, sendo a mais fácil de ser identificada, pois normalmente deixa marcas na vítima, em conseqüência de empurrões, surras, chutes, mordidas, murros, espancamentos e queimaduras. A família vê a agressão física como uma maneira de disciplinar, de punir e até de ter o respeito dos filhos, mas o que ocorre são os maus tratos, e em conseqüência, prejuízos à saúde física e psicológica da criança. Na Tabela 1, a seguir, são apresentados os quatro tipos de violência: física, psicológica, sexual e negligência – e suas respectivas conseqüências para a criança e o adolescente.

Tipo de violência Conseqüências Físicas Conseqüências Psicológicas e Sociais Física - Equimoses; - Fraturas; - Hematomas; - Invalidez permanente ou temporária; - Lesões internas e externas; - Queimaduras de 1º a 3º grau; - Seqüelas provenientes de lesões abdominais, oculares, de fraturas dos membros superiores, inferiores e/ou crânio; - Morte. Agressividade; - Apatia; - Sustos ou temores; - Autoritarismo; - Dificuldades quanto a confiar nos outros; - Estresse; - Fobias; - Fugas de casa; - Hiperatividade ou depressão; - Medo do agressor; - Parricídio/matricídio; - Quadros de dificuldades escolares; - Sentimentos de raiva; - Tendência autodestrutiva; - Violência doméstica na família que irá constituir futuramente. Psicológica - Afecções da pele; - Chupar o dedo; - Comportamento infantil; - Problemas de saúde; - Problemas de tartamudez; - Urina na roupa ou cama.

Ansiedade elevada; - Apatia; - Aumento significativo na incidência de transtornos psiquiátricos; - Baixo conceito de si; - Cognição distorcida; - Comportamentos extremos de agressividade ou de timidez, destrutivo ou autodestrutivo; - Culpa; - Dificuldade para resolver problemas interpessoais; - Dissociação afetiva; - Fobias agudas; - Ideação suicida; - Isolamento social; - Medo do agressor; - Pensamento ilógico, imagens distorcidas do mundo e dificuldade de perceber a realidade; - Pensamentos invasivos; - Pesadelos repetitivos; - Problemas com o sono; - Problemas de aprendizagem na escola; - Quadros depressivos agudos; - Queixas psicossomáticas; - Raiva; - Redução na compreensão de papéis complexos; - Sensação crônica de perigo e confusão; - Sentimento de estigmatização; - Vergonha. Nenhum ser humano é constituído sem sofrer influência de sua família ou de seus cuidadores, pois a criança está aberta a todos os estímulos que lhes são transmitidos, sejam eles positivos ou negativos.

Tudo é por ela apreendido. Os autores ressaltam a importância de se ter uma família pela qual se é amado, desde as fases iniciais do desenvolvimento. Um adolescente, que desde sua infância conviveu num ambiente sem amor, carinho, compreensão e os cuidados necessários, ou seja, uma família desestruturada, estará mais suscetível às influências externas negativas, “à mercê” de amizades que não serão positivas ao seu desenvolvimento, podendo aí surgir uma personalidade anti-social, comprometendo toda sua estrutura. Em nossos dias é perceptível a falta de estrutura em grande parte das famílias, o que as leva a viverem como podem, e não como deveriam ser. Conclui-se que crianças que passam por algum tipo de violência irão crescer com sua auto-estima baixa, não confiarão nas pessoas, se sentirão confusas com relação a si mesmas, irão refletir o tipo de violência sofrida contra as pessoas que forem conviver, entre muitas outras conseqüências.

Infelizmente a violência faz parte do cotidiano de nossa sociedade, sendo vista como um problema de saúde pública. Pode-se dizer que a possibilidade de que seja contornado é muito pequeno, tendo em vista de que a violência depende da convivência familiar de cada um. Um aspecto a ser refletido sobre o fenômeno da violência, principalmente no âmbito familiar, já que esse é que acaba refletindo na sociedade, é os meios de prevenção e intervenção, com trabalhos de equipes multidisciplinares atuando junto às comunidades, em questões mais estratégicas, informando e criando novas concepções sobre a importância da família na vida do ser humano, do respeito e da compreensão, e nos casos de já ter havido a violência, desenvolver um atendimento terapêutico tanto da vítima, quanto do agressor, o qual muito provavelmente também já foi vítima um dia.

Verifica-se que a estruturação familiar, fundamental ao desenvolvimento psicológico saudável da criança, não significa exigir a perfeição dos pais, que nunca errem para com os filhos, mas que o casal tenha maturidade suficiente para reconhecer e discriminar suas falhas de conduta possibilitando um contínuo aprimoramento nas relações com seus filhos. São Paulo, v. n. out. Disponível em: <http://www. scielo. n. Disponível em: <http://pepsic. bvs-psi. org. br/scielo. br/cgi-bin/PRG_0599. EXE/9420. PDF?NrOcoSis=29110&CdLinPrg=pt>. Acesso em: 13 set. BENETTI, Silvia P. Avaliação e cuidados primários da criança e do adolescente. Porto Alegre: Artmed, 1998. CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes – a educação de nossos sonhos: formando jovens felizes e inteligentes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. Psiquiatr. RS, 25, abril/2003, Porto Alegre.

Disponível em: <http://www. scielo. br/pdf/rprs/v25s1/a03v25s1. In: Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 707-714, mai-jun 2002. Disponível em: <http://www. scielosp. org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2002000300019>. php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902006000200010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 05 out. MALDONADO, Daniela Patrícia Ado. O comportamento agressivo de crianças do sexo masculino na escola e sua relação com a violência doméstica. São Paulo: UFSCar, 2003. A natureza histórico-social da personalidade. In: Caderno CEDES, v. n° 62, Campinas: 2004. Disponível em: <http://www. scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1998000200017>. Acesso em: 06 set. MONTEIRO FILHO, Lauro. Abuso sexual contra crianças e adolescentes. ed. php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/viewFile/4271/2240>. Acesso em: 27 set.

OSÓRIO, Luiz Carlos. Casais e famílias: uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002. Disponível em: http://www. cienciasdasaude. famerp. br/Vol-12-1/08%20-%20id%20102. pdf Acesso em: 06 set. Psicologia Educacional; uma crônica do desenvolvimento humano. São Paulo: McGraw-Hill, 1976. ROMANELLI, Geraldo; VITALE, Maria Amália Faller; SARTI, Cynthia A. A família contemporânea em debate. ed. Esc. Enf. USP. v. n. Quem ama educa!. São Paulo: Gente, 2002. VAGOSTELLO, Lucilena. O risco da negligência: um estudo de caso. In: Psic: Revista da Vetor Editora. WEBER, Lídia Natália D. et al. Famílias que maltratam: uma tentativa de socialização pela violência. In: Psico – USF, v. n° 2, p.

1781 R$ para obter acesso e baixar trabalho pronto

Apenas no StudyBank

Modelo original

Para download