Por que Saussure hoje

Além disso, essa compreensão também possibilita a expansão da análise sincrônica da língua e, consequentemente, constatar as relações dinâmicas e sociais que a Linguagem estabelece entre os indivíduos. Compreender Saussure implica em compreender as dimensões socioculturais de uma língua e romper com teorias engessadas. Palavras-chave: Linguagem, Estruturalismo, Sociolinguística. INTRODUÇÃO Ferdinand de Saussure (1857-1913), nascido em Genebra (Suíça), é reconhecido pela sua significativa contribuição para a Linguística, sendo considerado seu fundador. Estudioso das línguas indo-europeias, tem seu mérito como “Pai da Linguística”. A importância do estudo profundo das contribuições de Saussure fica ainda evidente, também, ao contemplar que a língua possui sua complexidade dada sua natureza de se comportar não como uma substância, mas sim como uma forma.

De acordo com o estudioso, a língua é 31); “é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (clg: 102). Priorizando as relações entre os elementos do mundo, Saussure estabelece sua originalidade ao enfatizar e considerar as amplas conexões sustentadas numa rede de sentido. Compreender a linguagem como um instrumento para entender as relações humanas talvez seja a maior contribuição de Saussure. Além da relação social que a linguagem pode constituir, Saussure ainda estabelece a relação intrínseca a ela, uma vez que defende o dever de consideração de todas as suas partes. Já a fala é um ato individual, sujeito ao mundo do indivíduo. Por exemplo, dentre uma população de uma nação específica, temos o caráter homogêneo a partir do idioma predominantemente falado.

A fala, por sua vez, detém os diversos sentidos compostos pela semântica, mesmo no mesmo idioma. Nesse sentido, na concepção de Saussure, era inócuo o estudo dos sons, das sílabas, das palavras, das frases e dos textos de maneira individual e não analisar toda a estrutura. Fundamentando a Linguística moderna, lançando mão da Semiologia - ciência que estuda os signos - , Saussure desenvolveu sua doutrina tendo como base as dicotomias: sincronia e diacronia, língua e fala, sintagma e paradigma. O “Sintagma” é o par que só adquire valor quando contrastado a outro elemento, precisando ser inserido a algum contexto para de fato ser, representando a hierarquia dos termos. O “Paradigma”, por sua vez, é a oposição da língua, encerrando todas as possibilidades de relações entre os signos (SILVA, 2008).

Toda a teoria de Saussure pode ter seu louvor a partir de uma perspectiva cinética da linguagem. Ora, se considerarmos que a língua sofre metamorfoses contínuas, não há como estabelecer rupturas fixas entre um caráter antigo e atual. Portanto, não se pode atribuir o caráter de “viva” ou “morta” a uma língua, descartando assim a possibilidade de apenas uma realidade envolvendo a língua. Apesar disso, é importante reconhecer que essa concepção assim o é devido à necessidade metodológica, uma vez que Saussure, como já exposto, fazia o reconhecimento da língua como um fato social (FREITAG, LIMA, 2010). Dessa forma, compreender a importância dos estudos antecessores a qualquer objeto estudado demonstra por quê estudar Saussure hoje. Da mesma forma que seus antecessores o incentivaram a romper com a estrutura histórica da linguística, Saussure antecedeu a sociolinguística e demonstrou a necessidade de se romper com essa estrutura homogênea da língua e de se atentar às relações entre a língua e a sociedade, pois é possível conceber que a linguagem se comporta como um mediador entre os indivíduos e o mundo.

É possível identificar esta tendência ao atentar que Saussure é o resultado da construção humana e não um mero reflexo da organização do mundo, sendo a língua, portanto, um fato humano. REFERÊNCIAS: “Por que ainda ler Saussure?” José Luiz Fiorin, Valdir do Nascimento Flores, Leci Borges Barbisan BRONCKART, Jean-Paul.