A política externa do governo Vargas durante a II Guerra Mundial

Tipo de documento:Redação

Área de estudo:Estatística

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Sumário 1. Introdução. Primeiro capítulo Observando o contexto interno e externo. Segundo capítulo A relação Brasil – Alemanha. Terceiro capítulo “O jogo de Barganhas”. O objetivo é demonstrar e explicar, teoricamente e politicamente as ações dos dirigentes dos principais países participantes do período analisado neste trabalho; Alemanha, Brasil e os Estados Unidos. Duroselle mostra nesta citação abaixo, o papel, do trabalho histórico que tem por base conhecer como os complexos jogos dentro do campo das Relações Internacionais: “O exame empírico feito pelo historiador leva-o a constatar repetitiva de certos tipos de acontecimentos ou de certos conjuntos de acontecimento apresentando analogias muito fortes e que são completamente independentes dos níveis técnicos e sociais, dos regimes políticos ou de regiões geográficas”.

Durossele procurou firmar as bases de uma teoria calcada na história, por isso discorre sobre a necessidade de se encontrar algumas “regularidades”, e não leis, dentro da análise nas relações internacionais. O Brasil desejava se industrializar depois que o ciclo agro-exportador do café foi à falência no final da década de 1920. O governo brasileiro adotou uma política de assinar acordos comerciais com EUA e Alemanha procurando angariar fundos para o seu desenvolvimento econômico industrial. Assim como uma indústria decai se a tarifa é removida muito cedo, um país pobre recairá no subdesenvolvimento se a crise termina prematuramente. Não é o ‘choque’ de uma crise mundial que estimula o desenvolvimento na América Latina, mas a proteção por ela propiciada as indústrias nascentes, o incentivo e o abrandamento da interferência estrangeira.

”2 A Segunda Guerra Mundial teve início no continente Europeu oficialmente em setembro de 1939 com a atitude alemã de invasão à Polônia. Porém a Segunda Guerra Mundial já era prevista por grande parte dos governos do mundo quando se processou o armistício para oficializar o fim da Primeira Guerra Mundial em novembro de 1918. A Segunda Guerra Mundial foi de fato, um acontecimento com repercussões dos mais variados tipos e gravidades. Em relação a este sentido mítico atribuído ao Estado Novo, veremos que, pela primeira vez, no Brasil se operaria, com base na figura de Getúlio Vargas, a personificação do Estado. O povo reconhecia em Vargas o Estado encarnado, o Estado dotado de vontades e de virtudes humanas, assim acreditava Francisco Campos, ideólogo do regime: “nós podemos dizer, a esta altura do regime, que o Estado Novo é o Presidente — a realização dos seus intuitos, o desdobramento do seu programa, a projeção da sua vontade — e nele tem o seu mais proveito doutrinador e o defensor mais intransigente e valioso.

O Estado Novo imposto por Vargas no Brasil inspirava-se (em pequena proporção) em certos aspectos com as os regimes totalitários implantados na Alemanha e na Itália. Esta inspiração não deve se analisada como adesão de idéias o comprometimento político. Estes regimes que inspiravam o Estado Novo eram os chamados: Nazismo4 e Fascismo5, o primeiro liderado por Adolf Hitler na Alemanha e o segundo por Benito Mussolini na Itália. O comércio com os EUA correspondia às seguintes necessidades: obtenção de dólares (através de uma balança de pagamentos positiva) para quitar a dívida externa; exportação de café isento de taxas, importação de bens industriais e equipamentos com tarifas bastante reduzidas. Com a Alemanha, o Brasil podia negociar algodão (que estava invendável nos EUA) e receber bens industriais baratos (posto que eram subsidiados) sem o uso de moeda internacional (que ambos faltava).

Os norte-americanos ofereciam dólares; já alemães ofereciam crédito em marcos especiais. Mas esses recursos, de qualquer forma, deviam retornar aos países de origem através das importações efetuadas pelo Brasil. Esses dados permitem enxergar que uma economia periférica( como o Brasil) não cria mas se ajusta aos esquemas de relacionamento econômico propostos pelas potências econômicas. A mudança na orientação diplomática a materializou-se na criação de uma série de instituições ligadas ao governo e voltadas a promover as transformações que se julgavam necessárias. O departamento de Administração do Serviço Público, o Departamento Nacional do Café, o Conselho Nacional do Petróleo e a Superintendência da Moeda e do Crédito são alguns exemplos representativos do desejo de o Estado pós 1930 intervir em diversas esferas.

O desenvolvimento econômico brasileiro para Getúlio Vargas estaria associado a uma forte industrialização, pois o Brasil se encontrava em uma fase de alto índice de crescimento demográfico, necessitando assim absorver mão de obra deslocada da agricultura em crise. Uma análise mais profunda permite o historiador enxergar que existe uma relação casual entre industrialização e desenvolvimento no governo Vargas, o que pôde ser também visto no governo de Juscelino Kubtsichek duas décadas depois. Mais que um projeto nacional que tomaria forma no final dos anos trinta, Vargas detém um a orientação de governo centrada na idéia da implantação da indústria de base (ou pesada), como ponto de partida para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

A importância do comercio exterior para os países subdesenvolvidos deriva do fato de corresponder a uma grande proporção da renda nacional, uma vez que a economia como um todo se orienta para a produção de produtos primários para exportação. Sua análise revela até que ponto o país depende da produção para o mercado externo, tornando-se dessa forma vulnerável a pressões políticas e as flutuações de oferta e demanda. Na ausência de reestruturações capazes de alterar prioridades internas e estimular novos focos de dinamismo, o crescimento de uma economia subdesenvolvida decorre do sucesso de seu comércio exterior. Na década de 30, a América Latina em geral e o Brasil em particular se defrontavam como o problema de diversificar a produção e os mercados consumidores, em contrapartida ao declínio dos preços dos produtos tropicais e a mudança de comportamento econômico por parte dos principais consumidores.

Correlatamente, os Estados Unidos e a Alemanha procuravam tornar a economia brasileira complementar à sua, estimulando-a a produzir o que necessitavam e a comprar o que ofereciam ao mesmo tempo em que se confrontavam para dominar o mercado através do estabelecimento de concessões mútuas com o Brasil e da exclusão dos competidores. Gastos com armamentos, entre 1935 - 1944 de algumas das principais potências beligerantes. EUA 1,5 * 1,5 4,5 20,0 38,0 42,0 Reino Unido 2,5 3,5 6,5 9,0 11,0 11,00 URSS 8,0 5,0 8,5 11,5 14,0 16,0 Alemanha 12,0 6,0 6,0 8,5 13,5 17,0 ( * )Gastos calculados em bilhões de dólares Primeiramente mostraremos o nível de interação da Alemanha com o Brasil no próximo capítulo, e em seguida, no capítulo subseqüente será analisada a política adotada pelo Brasil em face da presente e intensa negociação com o governo de Washington durante a Segunda Guerra Mundial.

Capítulo 2 A Relação Brasil - Alemanha (1933-1942) “O Presidente deseja fortemente continuar em bons termos com a Alemanha. Se o Presidente se vê agora forçado a fazer concessões aos Estados Unidos da América em muitos casos, isso não significa qualquer mudança fundamental em sua política. Está tentando manter a situação de forma tão elástica quanto possível a fim de não dar aos americanos motivos para uma intervenção ilegal na soberania brasileira. A revista Fortune, identificada com a perspectiva do investidor americano, preocupava-se com a coexistência de duas estruturas de comercio no continente e procurava explicar a seus leitores os enigmas do trópico desconhecidos. Em seu número de maio de 139 a revista caracteriza duas situações comerciais: na primeira o Brasil vende café aos Estados Unidos por dólares, troca-os por libras para comprar tecidos [ou pagar juros] na Inglaterra, voltando os dólares aos Estados Unidos quando a Inglaterra importa algodão.

Na segunda, ao vender café para a Alemanha, o Brasil recebe o pagamento em produtos alemães, não entrando na transação dinheiro algum: quando a Alemanha compra café. O Reichsbank lança um crédito até que o Banco do Brasil encontre um importador interressado em mercadorias alemãs. Na década de 30 o comercio exterior na América Latina apresenta todas as armas de uma verdadeira guerra comercial, incluindo desde a imposição de tarifas e quotas de importação até subsídios para exportação, depreciação da moeda e dumping. USA D. Fonte: Sociedade das Nações, Statistiques du Commerce International,1934-1939. Até 1933, estas manifestações de influencia germânica (no Brasil) possuíam um caráter apartidário. Com a ascensão do NSPAD – Partido Nazista, e com a favorável situação do imigrante alemão no Brasil, o III Reich promoveu uma serie de ações de cunho político-ideológico no intuito de proteger o elemento alemão e por em pratica o que foi chamado de Combate Ideológico.

Foi organizada em São Paulo uma ramificação do NSPAD sob direção de von Cossel. Só em pequeno grau eles podem ser realmente atribuídos a verdadeiros inimigos da Alemanha. Se isso for reconhecido, a importância dessa propaganda não será superestimada. Estou me referindo aqui, sobretudo, ao fato de que o próprio Governo Federal e vários governos estaduais, não só permitem que uma campanha seja feito contra a NSDAP, ou contra membros individuais do partido, escolas alemãs, etc. mas até a aprovam. De minhas muitas conversações com o Presidente, com ministros envolvidos no assunto, como militares e chefes de polícia, cheguei a conclusão de que essas coisas não estão acontecendo acidentalmente ou mais ou menos por causa da inércia do Governo ou da Administração.

Os acontecimentos de 10 de novembro de 1937 no Brasil, somados á possibilidade de um governo de influencia integralista, alarmaram os Estado Unidos. Temeram que um regime realmente autoritário pudesse ser criado no maior país da América do Sul, e que, em vista de possibilidades latentes semelhantes em vários outros países sul-americanos, isso pudesse ser contagioso em toda a América do sul. Acreditaram que estaria ameaçado todo o seu ideal político pan-americano de democracia e individualismo. É praticamente certo que o choque do Presidente com os integralistas e a perseguição draconiana a que eles estão submetidos atualmente devam ser atribuídos fortemente a uma influencia direta dos Estados Unidos. Pelo mesmo motivo, os Estados Unidos estão também combatendo outras organizações na América do Sul que consideram similares, como é o caso do NSDAP.

Em uma troca de notas, o Governo dos Estados Unidos expressamente se declarou satisfeito com o contrato de armamentos. Talvez haja também outras razões que eu ainda não encontrei, para a atitude atual do Governo brasileiro com relação ao elemento germânico. De qualquer forma, é certo que, apesar de alguma simpatia pessoal para com o elemento germânico por parte do Presidente e de alguns militares influentes e Ministros, Politicamente ele se opõe a tudo que seja alemão e a todas as atividades alemãs. Eu também acredito que essa atitude não seja apenas temporária, mas devemos contar com ela como permanente. Estou, portanto, muito cético quanto ao êxito de meus atuais esforços para solucionar a controvérsia surgida com a proibição das atividades do NSDAP nos Estados do Sul.

Cada vez mais a proibição das atividades do partido Nazista era mais rigorosa, o que provocou um clima de animosidade entre dirigentes brasileiros e alemães. Para agravar ainda mais a crise diplomática entre os dois paises, o embaixador alemão no Brasil Karl Ritter provocou um incidente diplomático. Ao receber um convite de Osvaldo Aranha para um baile no dia 24 de maio de 1938, por ocasião da visita ao Brasil do ministro das relações exteriores do Chile, José Ramon Guitierrez, Ritter se recusa a ir por ocasião do tipo de política adotada pelo governo brasileiro diante do partido nazista. Osvaldo Aranha agiu com extremo rigor contra o que chamou de “incorrigível” embaixador Ritter. Relatou a Moniz de Aragão (embaixador brasileiro na Alemanha)sua insatisfação com o alemão e ordenou que fosse feito um pedido de substituição tão logo fosse possível.

A Alemanha, por seu lado, ocupava em 1933 cerca de 10% do comércio exterior brasileiro e passa a ocupar em 1938 cerca de 22%. Um dos principais produtos das importações brasileiras em direção a Alemanha é o algodão, sobretudo a partir de 1934, quando os Estados Unidos suspendem as vendas deste produto ao Terceiro Reich. Quadro nº. Evolução do valor do comercio com a Alemanha: (1933-1937) Ano Exportações brasileiras Importações brasileiras 1933 228. Cálculos medidos em milhares de cruzeiros Fonte: Ministérios das Relações Exteriores do Brasil, Boletim, n. se conseguisse uma boa troca. Provavelmente, se não obtivesse mais concessões dos Estados Unidos seria fortemente pressionado a cooperar com a Alemanha. É possível que estivesse esperando pela tão anunciada vitória alemã na Europa para comprometer-se definitivamente com o Reich.

As evidências não estão completamente claras; em seu estilo usual, Vargas, na medida do possível, evitava comprometer-se. Afinal, estavam em jogo a orientação econômica, política e militar do Brasil”. Japão 30. valores expressos em contos de réis. Fonte: Banco do Brasil, Seção de Estatísticas e Estudos Econômicos, in MTIC, Boletim nº 90, fevereiro de 1942, p 166-167. De outro lado, porém, as vitórias das forças germânicas sugeriam um poder irresistível, angariando novos simpatizantes e acirrando as divisões políticas em nosso continente. “Lembremos-nos de que nessa década os nacionalismos autoritários que floresciam na América alimentavam, ao menos, pretensões antiimperialistas. “A análise de uma política externa sob os ângulos estrutural, organizacional e burocrático pode desse modo esclarecer as contradições ou os absurdos de uma determinada política.

Seu aspecto duplo, interno e externo, possui um outro elemento de explicação: existem discursos presidenciais destinados a um público nacional; mas, na cena internacional, são interpretados diferentemente e em função dos interesses do outros países”. Capítulo 3 “O jogo de Barganhas” (1936-1945) “Em qualquer confrontação, cada participante tenta deslocar a batalha para o terreno em que tenha maior probabilidade de sucesso. Se se quer liderar com energia, tem de jogar pesado. A jogada de peso dos Estados unidos é a força, então, se pudermos estabelecer o princípio de que a força comanda o mundo, isso será uma vitória para nós. Hoover preparava as bases de sua política externa para a América Latina. Não foi exatamente bem recebido em todos os países que visitou.

A Argentina e o Uruguai manifestaram pouco entusiasmo. Em Buenos Aires, houve até manifestações contra a presença do presidente americano. Mas quando Hoover chegou ao Rio de Janeiro, em 21 de dezembro de 1928, teve uma recepção das mais calorosas”. O artigo número 8 determinava que “nenhum Estado tem o direito de intervir nos assuntos internos ou externos de outro”, por isso os diplomatas argentinos reclamavam a respeito da resistência do Secretario do Departamento de Estado e chefe da delegação dos EUA, Cordell Hull a cumprir na integralidade este artigo. Para apagar esta má impressão que resultou da conferencia uruguaia, Franklin Delano Roosevelt, após dois dias do encerramento da reunião em Montevidéu fez uma declaração explicita de não-intevenção: “A política definitiva dos Estados Unidos daqui por diante é uma política oposta à intervenção armada”41 Após 1933, é visível que a política da boa vizinhança mudou seu foco de debate nas conferências que se sucederam montevidéu: as discussões não mais centravam no intervencionismo norte-americano, mas sim na solidariedade entre os países do hemisfério.

Para Roosevelt a política externa deveria ter como base à solidariedade hemisférica que se tornou objetivo primordial em seu governo, que na verdade, era um misto de busca por mercados consumidores e mercados para obtenção de matérias primas. Tudo isso passou a pautar as ações do Departamento de Estado americano nos anos que se seguiram até o final da guerra em 1945. Se fosse mantida a tradição das conferências interamericanas, elas deveriam somente acontecer de cinco em cinco anos, ou seja, a próxima só aconteceria em 1938. Nosso ícone da nacionalidade, que no século XIX soube enfrentar diplomaticamente a arrogante Inglaterra, era reconhecido pelo representante da agora grande potência continental. Esse foi só o começo do discurso. Na seqüência, procurou mostras os erros e acertos dos Estados Unidos.

Sugeriu que o Brasil deveria evitasse os equívocos cometidos pelo país norte-americano. Reconheceu também que eles não ajudaram o Brasil da mesma medida em que nós os ajudamos. A expansão nazista dentro da Europa e a queda da França levaram aos norte-americanos a convocarem a Segunda Reunião Extraordinária dos Ministros das Relações Exteriores no ano de 1940, em Cuba. Em Havana foi criada a Comissão Interamericana para a administração Territorial das Colônias e Possessões Européias na América com a meta de evitar que colônias européias no continente americano cedessem os domínios a outros países da Europa. Ao fim dos trabalhos a Declaração de Havana reafirmou a solidariedade continental. Neste momento específico em meados de 1940 já era possível visualizar claramente que a política da “Boa Vizinhança” se difundiu em todos os países americanos, porém de forma desigual entre eles.

O trabalho diplomático norte-americano, apesar de não ter ocorrido sem dificuldades e obstáculos, foi de suma importância para os EUA no momento em que este país mais necessitava da tão aclamada solidariedade hemisférica. Em fevereiro de 1939 Osvaldo Aranha chefia uma missão que vai a Washington negociar com o Departamento de Estado e com o tesouro americano, questões de interesse estratégico para as duas nações. Esta missão ficou conhecida como missão Aranha e não obteve resultados expressivos para o Brasil, já que as questões de ajuda para a industrialização do país e fornecimentos militares foram apenas esboçadas pelos Estados Unidos. Num primeiro momento a negociação foi muito bem utilizada, tanto pelos dirigentes brasileiros quanto pelos dirigentes norte-americanos, contudo a debilidade das negociações causada por um lado pela negação dos norte-americanos aos pedidos de Vargas, por outro, pela inexpressiva capacidade de pressionar que tinham os dirigentes brasileiros fez com que se permutasse o meio da negociação pelo da ameaça.

O receio de uma aliança brasileira com os países do Eixo permitia que aos poucos, as intrincadas negociações com os americanos gerassem a diplomacia brasileira alguns frutos positivos, como por exemplo, financiamentos econômicos e privilégios comerciais durante o decorrer do conflito mundial. O governo americano comandado por Roosevelt mantinha uma política de tolerância com a América Latina, a chamada “política da boa vizinhança”. Em primeiro lugar, apesar de o Brasil ser comandado por um governo autoritário, havia por parte de Vargas, vontade política que fosse divulgada uma mensagem favorável aos Aliados não nos programas do OCIAA; mas sim no próprio discurso oficial, características, aliam também presente no governo de Ávila Camacho. Além disso, os meios de comunicação de uma forma geral também veiculavam espontaneamente informações favoráveis aos Aliados.

Finalmente, deve-se destacar o fato de que o projeto de propaganda política comandado pela OCIAA incluía outros instrumentos além da radiodifusão sonora. Assim, pode-se perceber que a atuação da Divisão de Rádio, apesar de importante, era apenas mais um componente deste extenso plano norte-americano. ”47 Por força direta da Agência americana (OCIAA), O Brasil é influenciado por Washington em diversas áreas culturais como o cinema e as artes. Esta exclusão teve fundamento, observando sob a ótica norte-americana: a Argentina em todos os momentos críticos e principalmente nas conferências Interamericanas não cooperou para o desenvolvimento da política ianque da “Boa Vizinhança”. No campo cultural das relações bilaterais com os americanos, ícones como o já citado Zé Carioca, Carmem Miranda e a Coca-Cola permitirão que o sentimento amistoso entre as duas nacionalidades intensifique cada vez mais no decorrer do conflito mundial.

Se havia por parte do OCIAA a preocupação de construir uma imagem modelar dos Estados Unidos, isso não era feito de forma prepotente. Procurava-se, pelo contrário, atenuar a imagem de vitoriosos com mediação de artistas, músicos e intelectuais. Para fazer valer esse projeto, Nelson Rockfeller teve de, em diversas ocasiões, enfrentar partidários de métodos mais violentos para garantir a ajuda brasileira no esforço de Guerra. O segundo grupo foi liderado por Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra) e Góis Monteiro (Comandante do Estado-Maior) optaram por apoiar um acordo com a Alemanha, tendo em vista um possível acordo para fornecimento de equipamentos militares por parte do governo alemão. As formulações dos militares brasileiros encontravam empecilhos em nossa realidade histórico-cultural, que exigia mecanismos diferentes da cultura germânica.

Getúlio Vargas parecia entender melhor a formação na nação. O presidente brasileiro procurava manter-se, no plano internacional eqüidistante em relação tanto ao imperialismo mercantil dos americanos como ao imperialismo romancista germânico. Este jogo de barganhas não era facilmente entendido pelos membros do estado-maior da Forças Armadas. Tem havido certa confusão ocasionada pelo fato da existência de diversas comissões compradoras do Brasil nos Estados Unidos, às vezes fazendo pedidos e dando recomendações contraditórias. Sugere-se a conveniência de haver apenas um único representante para chefiar todas as comissões compradoras nos Estados Unidos. Tem havido demora, por parte das autoridades brasileiras, na entrega ao Governo americano das encomendas sob a Lei de Empréstimo e Arrendamento (Lend-Lease Bill). Devem as mesmas ser feitas o mais cedo possível, uma vez que o critério adotado é de servir aos pedidos que chegam primeiro.

Quando da visita aos Estados Unidos, durante o ano passado, o General Góes monteiro apresentou a sugestão de que fosse realizada, no Rio de janeiro, uma reunião mista de oficiais dos Estados Maiores dos nossos dois países, a fim de trocarem idéias sobre medidas de colaboração, etc. O governo Vargas manteve a política de neutralidade até onde pode, ou seja, até dezembro de 1941 quando os Estados Unidos entram no conflito após o ataque japonês a sua frota naval estacionada em Pearl Harbor, no Havaí. “Na primeira metade da década de 40 – a guerra – o quadro mudou enormemente. O sistema internacional se polarizou com o conflito, o que, em principio inibia a possibilidade de uma política de neutralidade”. Quando os aviões japoneses bombardearam Pearl Harbor em 1941, Vargas telegrafou a Roosevelt prestando solidariedade aos EUA, mas resistiu a romper a as relações do Brasil Eixo.

Estava claro para ele que os países da América Central e do Caribe tomaram tal atitude não “espontaneamente” e sim “coagidos” pela pressão norte-americana. Além dessas medidas essenciais, determinou-se o seqüestro de navios, sendo, em conseqüência, incorporados ao Patrimônio Nacional três de nacionalidade alemã, onze italianos, cinco dinamarqueses e um finlandês, todos eles batizados com novas denominações caracterizadas pelo sufixo “Lóide”, tais como o Sulóide, Cearálóide, Riolóide, etc. Em represália ao rompimento de relações diplomáticas com o Eixo os países do Eixo, submarinos alemães passam a torpedear navios mercantes brasileiros. Internamente esses fatos farão com que nasça uma forte mobilização de camadas populares, para que o país entre na Segunda Guerra Mundial para lutar no front contra o perigo para as democracias liberais, que se chamava Nazismo.

A tabela abaixo mostra como após o rompimento com os alemães os navios brasileiros começaram a ser atacados no mar. Quadro nº. de 1943 2 (6%) 3 (9%) 14 (42,5%) 14 (42,5%) 33 (100%) Jul. Dez. de 1943 2 (6%) 1 (3%) 11 (32%) 20 (59%) 34 (100%) E os brasileiros tinham muitos motivos para odiar. Como vimos, a posição de “neutralidade” do Governo Vargas diante do conturbado cenário mundial foi mantida como forma de negociar entre os dois países imperialistas, os EUA e a Alemanha, o financiamento da instalação da primeira indústria siderúrgica no país, item indispensável para o projeto político-econômico desenvolvimentista do Estado Novo. A Política de Boa Vizinhança adotada pelos norte-americanos no Brasil tratou de aproximar os interesses de ambos os países, logo, em 1940, o Governo Vargas começava a receber os incentivos para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional.

Mann, com destino à Itália. No período que vai de julho de 1940 a dezembro de 1941 as negociações entre Brasil e Estados Unidos visam uma maior integração do país na política de aproximação com Washington. Desde o começo das negociações para o alinhamento do Brasil com os norte-americanos, quatro questões estiveram nas pautas de negociação entre os dois países: 1) concessão de recursos americanos para a modernização das forças armadas brasileiras , 2) criação da Companhia Siderúrgica Nacional. Por outro lado o Brasil se comprometeria; 3) fornecendo materiais estratégicos e 4) cedendo suas bases militares no Nordeste para o estacionamento de tropas norte-americanas. “A capacidade de negociar com os norte-americanos estava de alguma forma, interligada com as solicitações feitas em prol do” pan-americanismo “.

Na mesa de negociações, os EUA visavam um acordo para a utilização das bases militares brasileiras, principalmente a de Natal, no Rio Grande do Norte, durante a guerra. A proximidade do nordeste brasileiro com o norte da áfrica mostrava a importância estratégica desta região caso o conflito mundial se intensificasse no norte africano. A contra - reivindicação brasileira básica era o envio de ajuda financeira para a compra de armamentos. Todavia os americanos sabiam que militares de alta patente como por exemplo, Gaspar Dutra, tinha simpatias com o Eixo, e por esta razão atrasavam o envio dos armamentos ao Brasil. Vargas apoiaria os Estados Unidos em busca de um ideal de solidariedade entre os países americanos, mas ficaria claro que isso dependeria do fortalecimento das forças armadas brasileiras, pelo vizinho norte-americano.

Esta e outras atitudes frente ao plano das relações internacionais com os Estados Unidos farão com que o país obtenha a posição de “aliado especial”. Tudo isso, dentro de uma perspectiva de “potência associada”, que tornará o Brasil a nação mais contemplada com acordos dentro do âmbito sul-americano com os Estados Unidos dentro da Segunda Guerra Mundial. O Governo Getulista considerava que a construção de uma siderúrgica no Brasil, era de suma importância para o desenvolvimento nacional. Em suas atitudes Vargas deixava claro que, as pretensões americanas no Brasil teriam retrocessos caso Washington não satisfizesse as exigências para a construção da companhia siderúrgica e o reaparelhamento do exército brasileiro. O exercito brasileiro precisava sem dúvida de armas modernas.

“Nos anos seguintes, o banco exerceu um controle cerrado sobre o projeto, já que alguns setores do governo americano temiam que o acordo fortalecesse, no Brasil, os setores nacionalistas que se opunham às políticas americanas”. Aos Estados Unidos não interessava a industrialização brasileira, porém a possibilidade de o Brasil optar pela Alemanha fez com que o governo norte-americano garantisse os empréstimos necessários para a construção da usina de Volta Redonda no estado do Rio de Janeiro. As primeiras iniciativas para a formação de uma força militar brasileira que pudesse ser usada na guerra se deram a partir de 1942. Nem os americanos nem ingleses concordavam com o envio de tropas brasileiras para a guerra. Porém ao desejo de entrar na guerra por parte dos militares brasileiros, esforços de guerra e mobilização interna de camadas populares, fizeram o governo dos EUA considerarem a possibilidade do envio de um efetivo para lutar nas frentes de batalha.

“O espírito americanista que preside as nossas determinações é o da restauração dos valores humanos, é o da liberdade e da justiça. Não esqueci, nem poderei esquecer jamais, o entusiasmo, a chama cívica que ardia na exaltação e nas vozes do nosso povo quando pedia guerra ao agressor. Chegou o momento de transformar em atos os nossos sentimentos de repulsa e indignação. Para tanto nos preparamos, repelindo os ataques traiçoeiros do inimigo e adestrando-nos no uso dos modernos instrumentos de guerra. Estareis tão bem armados e supridos como qualquer dos melhores soldados em luta. ” Para alguns analistas brasileiros, o Brasil se colocaria em uma posição de destaque ao lado do grupo de potências mundiais após 1945 em razão do envio de tropas para lutar na Europa.

“Feito ao balanço do período, pode-se dizer que os ganhos do governo Vargas não se deveram a uma virtualidade espacial do presidente ou de sua equipe governamental, que teriam aberto portas até então fechadas ao país; mas deve-se creditar-lhes a compreensão das oportunidades que se abriram e a possibilidade de explorá-las” 63. Em quanto o Brasil tentava um melhor posicionamento dentro do Bloco aliado, as grandes potências já articulavam para o pós-guerra. A importância da posição estratégica do Brasil dentro da guerra declina muito após a vitória dos aliados no norte africano. Já que não mais seria preciso uma base perto da África para levar as tropas americanas ao campo de guerra. Como já foi visto o fato se concretizou e os Estados Unidos tiveram que sucumbir às vontades do governo brasileiro.

Este risco assumido pelos Estados Unidos é o que Duroselle chama de “risco negativo” onde os dirigentes tomaram a decisão de corrê-lo. Já Getúlio Vargas, no seu jogo de aproveitamento das circunstâncias, apostou no “risco positivo”, ou seja, “aquele que se corre para ganhar uma aposta sobre algo que não se possui mais” 65. Aqueles que determinam a política norte-americana sabiam muito bem que os Estados unidos sairiam da Segunda Guerra como a primeira potência global da história, tanto assim que, durante e depois da guerra, já planejavam cuidadosamente como moldar o mundo do pós-guerra. Tendo em vista estes acontecimentos, a margem de ação brasileira ficará bastante reduzida e Vargas terá que tratar de seus problemas internos que agora serão notados com mais ênfase, já que a euforia da participação brasileira na guerra estava se dissipando.

Um fato que não deve ser esquecido é que estas duas metas não seriam necessariamente finalizadas com apoio americano, esta situação ocorreu também por negociações infrutíferas com o governo de Berlim. O exame da política de Vargas baseia-se na decisão de tomar uma decisão autônoma de ao se alinhar aos EUA: visto que foi a forma mais coerente e viável adotada pelo governo frente às possibilidades reais de ganho durante o conflito Mundial, e, que apesar de Vargas e seus assessores encontrarem-se e pressionados cada vez mais por Washington, não tomaram a via do alinhamento automático mantendo na medida do possível intacta a soberania do Brasil frente às potencias mundiais da época. O historiador Vagner Camilo mostra no parágrafo que se apresenta abaixo, como uma potência pode agir em conjunturas parecidas com “jogo de barganhas” utilizado por Getulio durante o conflito: É importante frisar que, muitas vezes, a capacidade de angariar ganhos destes países, através de suas relações exteriores, é muito grande neste quadro.

A potência predominante em determinada área, para mais rápido e facilmente trazer um pequeno Estado ali situado para o seu bloco de poder, pode comprometer-se a atender determinadas demandas de seu aliado subordinado. Entretanto é importante também ter isso em mente, uma posição excessivamente desafiante ou pouco conciliatória do aliado subordinado, assim percebida pelo governo da potencia dominante, pode resultar o emprego da força militar, o que só causaria malefícios ao governo do país periférico. A partir do final da década de 1930, Getúlio Vargas deixa claro tanto para os alemães quanto para os norte-americanos, que o país só aliará, a nação que ofereça as melhores condições para o desenvolvimento industrial brasileiro. Outra questão que também foi importante, porém com um menor impacto, na tomada de decisão do governo Varguista foi o reaparelhamento das Forças Armadas nacionais.

Conforme a instabilidade aumentava na Europa e a possibilidade da eclosão de um conflito crescia, mais Vargas fazia uso da eqüidistância pragmática (política de Barganhas) que o ajudou bastante no decorrer da guerra. Nesta citação Duroselle mostra como o Estado tem um o poder de decisão em questões internacionais: “Deveria ser uma receita imperativa dos Estados que não se deve jamais ceder nada por nada, e mais precisamente que não se deve abandonar uma coisa por um sentimento. ” 70 A entrada dos norte-americanos na Guerra em dezembro 1941 pressiona Vargas a sair de sua neutralidade tática para tomar uma decisão final de aliar-se entre Alemanha ou EUA. Observando o mapa-múndi, a posição brasileira, e o contexto de guerra, Camilo Alves nota que um erro de timing ou uma posição intolerante do governo Varguista poderia pôr tudo a perder, já que obrigariam os EUA a usarem a força e acabar com a política da boa vizinhança em relação ao Brasil.

No livro “Uma História Diplomatica do Brasil 1531-1945” uma citação mostra bem a condição brasileira que se deu com Brasil durante o período antes e depois da Segunda Guerra Mundial. “A posição brasileira no sistema internacional durante o entre - guerra pode ser considerada como exemplar. Exemplar no sentido de como um país economicamente fraco, militarmente inexistente e geograficamente marginal dos pólos de poder, será atingido, apesar dessas limitações, com toda a força pelas rivalidades do momento. Assim, os clamores vindos da Europa ecoarão também no Brasil”. CPDOC/GV foto 084/2) 3) Franklin Delano Roosevelt (à direita, sentado), 1936. Rio de Janeiro (RJ). CPDOC/ GV foto 035/2) 4) Nelson Rockfeller, Jefferson Caffery, embaixador dos EUA no Brasil, e Góes Monteiro, 1937/1945. S. l. CPDOC/ OA foto 257/2) 9) Getúlio Vargas discursa na III Reunião dos Chanceleres do Rio de Janeiro, 1942.

RJ). CPDOC/ GV foto 131/3) 10) Reunião da Comissão Militar Mista Brasil - Estados Unidos, 1944. S. l. Recorte impresso no Jornal Commércio em 12 de agosto de 1942. Pode-se notar o no alto da página o anúncio da estréia do filme de Charlie Chaplin “ O Grande Ditador” , que foi uma crítica bem humorada no Hitlerismo Alemão. No canto direito podemos ver as críticas tanto do filme de Chaplin, quanto uma reportagem relatando o fantástico sucesso de Zé Carioca no filme “Alô Amigos”. Pôster do filme “Three Caballeros”, produzido em 1945 pelos estúdios Disney e mais conhecido do Brasil como “ Você já foi a Bahia ? ”. Proclamação de Guerra do Chanceler alemão Adolf Hitler contra os poloneses, anunciado pelo Jornal do Commércio em 1º de setembro de 1939.

Notícia de 1º de setembro mostrando a declaração brasileira de guerra em relação à Alemanha e Itália que acontecera um dia antes. Bibliografia Livros ALVES, Vagner Camilo. O Brasil e a Segunda Guerra Mundial: historia de um envolvimento forçado. Rio de Janeiro. Ed. Biblioteca do Exército Editora. págs. Presença dos Estados Unidos no Brasil: Dois séculos de história. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. CHOMSKY, Noam. Que o tio Sam realmente quer: Editora Universidade de Brasília, 152p. DUROSELLE, Jean Baptiste. Todo Império Perecerá - Teoria das Relações Internacionais. Brasília: Ed. LAMARÃO, Sérgio apud OLYMPIO, José. Confiança do Brasil no seu Corpo Expedicionário, discurso de Getúlio Vargas pronunciado em 24 de maio de 1944. A nova política do Brasil.

Rio de Janeiro: 1938-1945. v. Coleção repensando a História. São Paulo: Ed. Contexto, 1991. págs. Sucessos e ilusões: relações internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial. Unb,2005. págs. OLYMPIO, José. Confiança do Brasil no seu Corpo Expedicionário, Discurso de Getúlio Vargas pronunciado em 24 de maio de 1944. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. págs. SEITEFUS, Ricardo. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: Edipurcs, 2000. A FEB por um Soldado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. SILVEIRA, Joel. II Guerra: Momentos Críticos. Rio de Janeiro:Mauad, 1995. Revistas BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Uma política Externa Ambígua. História Viva. São Paulo, Ediouro Segmento-Duetto Editorial Ltda. Edição Especial temática,Grandes Temas:Getúlio Vargas nº 4 ,Dezembro 2005.

Internet CPDOC, Navegando na História; “A Era Vargas – 1o. tempo – dos anos 20 a 1945”. Disponível em: <http//www. cpdoc. fgv.

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